sexta-feira, 9 de junho de 2017

Esperanças e desesperanças

Robben (à esquerda) ajudou, Sneijder viveu um dia marcante... e a Holanda cumpriu o esperado: goleou (Reuters)
Após muito tempo, havia relativo prazer em ver uma partida da seleção holandesa. Nada que estivesse enchendo realmente os olhos de torcida e imprensa, mas, ora bolas, pela primeira vez desde 1983 a Laranja vencia dois jogos em sequência por 5 a 0. E ainda que o adversário fosse a seleção de Luxemburgo, extremamente frágil (pior até do que na atuação honrosa tida na derrota por 3 a 1 para os holandeses, em novembro passado), tratava-se de um jogo pelas eliminatórias da Copa de 2018. E nelas, cada ponto conta para evitar que a Oranje outra vez fique ausente de um torneio importante.

E havia razão para ver um certo otimismo. Se a seleção holandesa não ofereceu brilhantismo em De Kuip (longe disso), cumpriu à perfeição o que Dick Advocaat preconizara na entrevista coletiva em que foi apresentado, na terça-feira passada: o importante seria o resultado. Enquanto tiveram mais espaço e motivação, os visitantes luxemburgueses até atacaram vez por outra - como em chutes de Vincent Thill, aos 16', e Christopher Martins, aos 19'. Todavia, quando achava espaço entre as linhas compactadas para atacar, a Holanda atacava. Às vezes, até com alguma "ajuda" do adversário - como aos 9', quando Vincent Janssen ficou livre com a bola após erro na saída, mas não conseguiu passar pelo goleiro Ralph Schön - que fez boa defesa em novo arremate do atacante, aos 14.

Porém, por essa atenção e as boas atuações dos veteranos Arjen Robben e Wesley Sneijder, era fácil supor que o gol aconteceria. Aconteceu aos 21', quando outra falha de Luxemburgo na saída de bola foi aproveitada por Wesley Hoedt (boa e segura atuação), que tabelou com Sneijder antes de lançar em profundidade para o capitão Robben dominar e fazer 1 a 0. O jogo estava praticamente ganho - e a impressão só aumentou aos 34', com o gol que aumentou a bonita festa por Wesley Sneijder, se isolando como recordista de aparições com a camisa laranja - 131, desde 2003 -, finalizando com precisão bela triangulação envolvendo Janssen e Memphis Depay, que ajeitou a bola de calcanhar para o camisa 10 marcar o segundo gol. Nada mais merecido para abrilhantar as homenagens a Sneijder, que teve tudo o que quis: celebração da torcida (até com bandeira estampando seu rosto), saudações variadas (de Edwin van der Sar, antigo detentor do recorde de partidas, a um vídeo com quase todos os técnicos que o comandaram na seleção), a presença da família (a esposa Yolanthe e os filhos).

Com o momentâneo empate entre Suécia e França e a surpreendente vitória de Belarus sobre a Bulgária, ficava a boa impressão de que a sorte poderia sorrir à Laranja - como fechara a cara, na aziaga derrota para os búlgaros em março. Impressão ampliada no segundo tempo, quando Luxemburgo deixou de lado a compactação defensiva e passou a ser apenas o sparring esperado, com uma defesa fraca e, às vezes, até violenta - cinco cartões amarelos no jogo. Aí, foi só esperar os gols. Que vieram - com Georginio Wijnaldum, com Quincy Promes (que segue aproveitando as chances que tem e se fixando no grupo de convocados habituais), com Janssen convertendo pênalti surgido de mais uma bobeada dos visitantes na saída de jogo. Isso, sem contar as várias chances perdidas (enquanto esteve em campo, Robben perdeu duas chances). A goleada por 5 a 0 era até previsível, e ninguém se empolgaria com ela. Mas diante de tudo que a seleção holandesa passou nos últimos meses, era um afago no ego.

Afago que perdeu boa parte da graça com o gol de Ola Toivonen (belíssimo, aliás) que deu a vitória à Suécia contra a França. Gol que levou os suecos à liderança do grupo A, embolando de vez a situação. E aumentando tanto a dificuldade da situação batava quanto a dimensão da obrigação: vencer todos os jogos, se quiser no mínimo uma vaga para a repescagem da qualificação europeia para a Copa. Vaga quase impossível, para alguns. Ainda assim, o capitão Robben mostrou a altivez de sempre à televisão pública holandesa: "Naturalmente, esperávamos por uma vitória francesa. Mas não se pode influir em outros jogos. Positivamente falando, também podemos chegar à liderança do grupo". De fato. 

Será muito difícil, pelo que a seleção da Holanda não mostra. Mas se tampouco a França, suposta favorita da chave, anda jogando bem, e se Suécia e Bulgária serão recebidas em casa para os outros jogos decisivos, também não parece impossível ver a Oranje chegar à Rússia. Torcida e imprensa seguem divididas entre esperanças e desesperanças. Mas sonhar ainda não custa nada.

Eliminatórias para a Copa de 2018 - Europa
Holanda 5x0 Luxemburgo
Data: 9 de junho de 2017
Local: Estádio Feijenoord (De Kuip), em Roterdã
Juiz: Bartosz Frankowski (Polônia)
Gols: Arjen Robben, aos 21'; Wesley Sneijder, aos 34'; Georginio Wijnaldum, aos 62'; Quincy Promes, aos 70'; Vincent Janssen, aos 84'.

Holanda
Jasper Cillessen; Joël Veltman, Stefan de Vrij, Wesley Hoedt e Daley Blind; Georginio Wijnaldum, Kevin Strootman e Wesley Sneijder (Nathan Aké, aos 82'); Arjen Robben (Jeremain Lens, aos 73'), Vincent Janssen e Memphis Depay (Quincy Promes, aos 66'). Técnico: Dick Advocaat

Luxemburgo
Ralph Schön; Laurent Jans,  Maxime Chanot (Ricardo Delgado, aos 26'), Enes Mahmutovic e Kevin Malget; Christopher Martins; Stefano Bensi, Gerson Rodrigues (Florian Bohnert, aos 85'), Vincent Thill (Lars Gerson, aos 54') e Sébastien Thill; David Turpel. Técnico: Luc Holtz

Nenhum comentário:

Postar um comentário