quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Decepção de novo

O de quase sempre para o Ajax: queda de forma em momentos decisivos da temporada, falta de alternativas táticas quando necessárias, mais uma decepção, cartão vermelho na Liga dos Campeões (ANP)

Quando o Ajax caiu para o Twente, sábado passado, na 11ª rodada do Campeonato Holandês, voltou a péssima sensação com que a torcida dos Amsterdammers já se acostuma: em dezembro, justamente na reta decisiva da primeira metade da temporada, a equipe ia fraquejar? Dias antes de um jogo decisivo, que poderia devolver a equipe às oitavas de final da Liga dos Campeões? Sim, ia. As ausências pesaram, novamente os Ajacieden tiveram seríssimas dificuldades contra um time que lhes impede de jogar como gostam (com velocidade, troca de passes, constantes chances de ataque)... e pela terceira temporada seguida, veio a eliminação na Liga dos Campeões, em plena Johan Cruyff Arena - e pela segunda temporada seguida, na fase de grupos.

A rigor, já no primeiro tempo ficou claro como o Ajax teria dificuldades para sobrepujar a Atalanta. Não era culpa de um ou outro jogador - até porque a principal novidade, Brian Brobbey, titular pela primeira vez na equipe profissional (no lugar do lesionado Lassina Traoré), fazia o que podia, tentando segurar a bola para poder fazer jogadas com quem viesse dos lados (Noussair Mazraoui ou Antony - Dusan Tadic apareceu pouco). Se havia algo a ser culpado, era a "filosofia tática" do Ajax. Que tem como seu "pecado original" jamais conseguir encontrar espaços para atacar quando o adversário está bem fechado.

E a Atalanta estava bem fechada. Com os constantes recuos de Marten de Roon e Remo Freuler para a defesa, eram até cinco jogadores impedindo espaços para chutes de fora, ou mesmo para jogadas do Ajax pelo lado. O máximo que se fazia eram cruzamentos - constantemente repelidos por Berat Djimsiti (fez isso aos 15') e Cristian Romero (aos 24', o argentino tirou bola na pequena área). De quebra, mesmo que nem precisasse da vitória, o time italiano tinha espaços para contra-atacar. E mesmo que não trouxesse perigo nem chutasse a gol, até que a Dea assustava mais. Fez isso aos 19', numa triangulação: Alejandro "Papu" Gómez lançou, Duván Zapata (outra atuação útil) ajeitou, De Roon finalizou para fora. 

Estreando entre os titulares do Ajax, Brobbey fez o que podia, mesmo sem muito espaço. E deu azar, precisando sair no intervalo (ANP)

Para piorar o perigo da armadilha em que o Ajax caía, Brobbey sofreu com um lance inesperado, ainda antes do intervalo: aos 42', num choque triplo, foi atingido involuntariamente por Nicolás Tagliafico e caiu grogue no chão. O jovem e corpulento atacante até se recompôs. Até teve uma finalização, a única do Ajax no primeiro tempo: nos acréscimos, completou cruzamento de Antony, para a defesa do goleiro Pierluigi Gollini. Mas não voltaria para o segundo tempo, substituído por Quincy Promes. No começo da etapa complementar, até que deu certo: o Ajax teve mais a presença de Tadic no ataque, mostrou mais volúpia com a bola nos pés. Mas o espaço continuou faltando.

E faltava por várias razões: a gradual queda de Promes em campo, a má atuação de Ryan Gravenberch, a falta de espaços que a Atalanta deixava para que Davy Klaassen se adiantasse ou fizesse lançamentos em profundidade, a incapacidade do Ajax em trazer perigo nas raras bolas aéreas, a dificuldade dos atacantes de ficarem com a bola nos pés. Houve apenas uma situação em que "a jogada do Ajax encaixou": aos 75', quando Promes passou a Antony, este deu a Jurgen Ekkelenkamp, e ele ajeitou de calcanhar para Klaassen finalizar, exigindo boa defesa de Gollini. Mas foi só. De resto, a Atalanta não só continuava tranquila, como voltava a ter espaços para contra-atacar. Aí, ajudava bastante Matteo Pessina, retendo a bola na frente e servindo de ajuda para "Papu" Gómez e Zapata.

A rigor, quando Gravenberch levou o cartão vermelho (aos 79', por acertar o rosto de "Papu" Gómez, levou o segundo amarelo), já ficava cada vez mais claro que outra decepção viria para o Ajax na Liga dos Campeões. Mas Luis Muriel, substituto de Zapata, estava à espreita para tentar o gol que consolidaria a atuação segura da Atalanta. Era só haver um espaço para aproveitar a chance. E ele veio aos 85', no passe em profundidade de Remo Freuler, após ganhar dividida de Ekkelenkamp. Muriel fez o que sabe: chegar à área, driblar o goleiro, fazer o gol. 

O gol que deu a todos que acompanham o Ajax a certeza de que seus erros crônicos, seu apego por vezes exagerado a uma filosofia de jogo, as infelicidades desta temporada (lesões, falta de forma física) o condenariam à Liga Europa. Mais do que isso: a certeza de que, de fato, a falta de competência rendia uma punição merecida ao time de Amsterdã. Chances para marcar gols contra Liverpool e Atalanta, houve. Mas o time não as aproveitou. Só ganhou as duas do Midtjylland. De resto, no duro, foi só mais um capítulo no museu de grandes decepções que o Ajax vive. De novo.

Liga dos Campeões - fase de grupos - Grupo D

Ajax 0x1 Atalanta

Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Data: 9 de dezembro de 2020
Árbitro: Carlos del Cerro Grande (Espanha)
Gols: Luis Muriel, aos 85'

Ajax
André Onana; Noussair Mazraoui, Perr Schuurs, Lisandro Martínez (Jurriën Timber) (Edson Álvarez) e Nicolás Tagliafico (Klaas-Jan Huntelaar); Ryan Gravenberch, Zakaria Labyad (Jurgen Ekkelenkamp) e Davy Klaassen; Antony, Brian Brobbey (Quincy Promes) e Dusan Tadic. Técnico: Erik ten Hag

Atalanta
Pierluigi Gollini; Rafael Tolói, Cristián Romero e Berat Djmsiti; Hans Hateboer, Marten de Roon, Remo Freuler e Robin Gosens (José Luis Palomino); Alejandro "Papu" Gómez e Matteo Pessina; Duván Zapata (Luis Muriel). Técnico: Gian Piero Gasperini

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