Se fosse só pela Liga das Nações, as datas FIFA atuais já seriam decisivas para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Afinal de contas, líder em seu grupo na Liga A, a Laranja terá pela frente as duas principais adversárias a tentarem impedir que ela volte às semifinais, como fez em 2019: a Polônia - nesta quinta, às 15h45 de Brasília, em Varsóvia - e a Bélgica - no próximo domingo, também às 15h45 do horário brasileiro, em Amsterdã. Mas essas partidas são até o de menos. Afinal de contas, há uma Copa do Mundo já batendo à porta. E esta será praticamente a última semana para muita coisa (testar os novos convocados, treinar esquemas táticos, avaliar os titulares habituais) antes da integração definitiva dos holandeses, dia 14 de novembro, só uma semana antes da estreia na Copa, contra Senegal.
Na entrevista coletiva da apresentação da delegação, na segunda-feira, o técnico Louis van Gaal repetiu isso, como já disse em diversas outras ocasiões: "Não podemos fazer diferente. Não temos tempo de preparação. Temos de resolver tudo nesta semana". E não se trata somente de trabalhos no centro de treinamentos da federação, na cidade de Zeist: "Os jogadores precisarão fazer de tudo. Experimentar roupas, passar por testes neurológicos, gravarem propagandas [por exemplo, para a rede de supermercados Albert Heijn]... tudo tem de ser feito nesta semana, porque durante a Copa do Mundo não se poderá fazer isso".
Se serve de consolo para Van Gaal, vários dos convocados já estão lá e estarão, salvo acidente, no Catar. E todos estão se comportando bem, segundo o técnico (“Acho esse grupo melhor que o de 2014. São mais velhos, jogam em grandes ligas (...) Eles têm compromissos além do futebol, mas fazem tudo no seu tempo”). Contudo, a ausência de Georginio Wijnaldum, fora da Copa pela fratura na tíbia que sofreu, incomoda um bocado - trata-se de um dos jogadores mais importantes da Laranja nos anos recentes. Além disso, alguns jogadores importantes, como Virgil van Dijk e Matthijs de Ligt, viveram momentos preocupantes neste começo de temporada. E Van Gaal se lembrou de um momento que causou turbulências: a janela de transferências. Ao ser indagado sobre conversas que teve com jogadores que ficaram em seus clubes, como Cody Gakpo e Jurriën Timber (muito se disse que os teria aconselhado a ficar na Holanda), o técnico confirmou: “Falei com eles, é verdade, mas sempre terminei a conversa dizendo que era um conselho, e que eles deviam seguir seus instintos e tomarem a decisão sozinhos”.
É bem verdade, também, que Van Gaal viu dois dos destaques de sua equipe, Memphis Depay e Frenkie de Jong, ficarem em segundo plano no Barcelona ao lá permanecerem. Mas Van Gaal amenizou: “Os únicos [a terem problemas] são Memphis e Frenkie, mas eles também jogam regularmente, então é impossível dizer que a janela de transferências terminou mal. Eu ficaria mais feliz se eles jogassem com mais regularidade [no Barcelona], mas Frenkie já jogou 90 minutos em algumas partidas, então tudo bem”. Tudo bem também para o próprio Memphis Depay, que prometeu manter a disputa por titularidade: “Na temporada passada, fui artilheiro do time com Aubameyang, não é como se eu não tivesse mostrado nada. Eu não vou fugir porque a concorrência aumentou. Eu adoro concorrência”.
Se é assim, então, os problemas da Laranja foram para temas secundários. Por exemplo, o que se fará com os goleiros. Sem nenhum titular absoluto na posição, Van Gaal chamou quatro nomes - incluindo dois estreantes, Remko Pasveer (38-para-39 anos, bem no Ajax) e Andries Noppert (começou a crescer no Go Ahead Eagles, segue bem no Heerenveen - Van Gaal até lembrou dos pedidos galhofeiros da torcida do Go Ahead Eagles pela convocação, agora real: “Eu achei que era piada, mas comecei a acompanhar melhor”).
Van Gaal justificou: “Queria ver Pasveer e Noppert, porque ser goleiro é uma posição específica é importante. Por isso foram convocados”. A partir disso, o técnico expôs sua intenção: preparar goleiros para disputas de pênaltis, sempre possíveis numa Copa do Mundo. Várias hipóteses são cogitadas, a partir de conversas de Van Gaal com o treinador de goleiros Frans Hoek. Por exemplo, levar mais um nome da posição entre os 26 convocados, além dos três obrigatórios: “Sempre quis isso, porque goleiro é uma posição especial”.
Ou então, chamar Justin Bijlow (Feyenoord), ausência contestada aqui e ali na convocação, e Kjell Scherpen (Vitesse), somente para ambos se juntarem aos quatro goleiros convocados e testarem especificamente pênaltis (“Testa-se o tempo de reação, o caminho da bola e a relação entre essas duas coisas. Leva-se em conta o alcance, a altura do goleiro. Se você é mais alto, é mais difícil: a envergadura é maior mas o tempo de reação é menor”). Até mesmo um ex-técnico de vôlei - Peter Murphy, que comandou a seleção masculina da Holanda, ex-diretor da federação da modalidade no país, até incluído no Hall da Fama da FIVB neste ano - foi convidado por Van Gaal para preparar os atletas rumo aos pênaltis que já eliminaram a Holanda nas Copas de 1998 e 2014. Afinal, o treinador quer se cercar de todos os cuidados: “Sempre achei que você pode treinar pênaltis. Claro que o momento e a pressão são imprevisíveis, mas você pode automatizar as cobranças. Isso traz confiança”.
Há ainda as possibilidades que restam, numa convocação que deve ficar aberta até o último instante - por exemplo, mesmo com Kenneth Taylor convocado para sua posição, Ryan Gravenberch mantém as esperanças de ir à Copa (“Devo manter a cabeça erguida, que a chance virá”, falou com esperança à emissora NOS). Há o teste vindouro contra a Polônia - esperado por Van Gaal para seu esquema com três zagueiros (“Agora Lewandowski jogará, e acho que ele é o melhor atacante do mundo. É um teste para valer, porque em todos os jogos sob meu comando, acho que tomamos gols demais”).
Tudo para Van Gaal ter subsídios que o levem a fazer a escolha dos convocados, no mês que vem. Porque é hora de decisão. Literalmente.
Os convocados da Holanda
Goleiros: Jasper Cillessen (NEC), Mark Flekken (Freiburg-ALE), Andries Noppert (Heerenveen) e Remko Pasveer (Ajax)
Laterais: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Devyne Rensch (Ajax), Daley Blind (Ajax) e Tyrell Malacia (Manchester United-ING)
Zagueiros: Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA), Matthijs de Ligt (Bayern de Munique-ALE), Jurriën Timber (Ajax) e Nathan Aké (Manchester City-ING)
Meio-campistas: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Teun Koopmeiners (Atalanta-ITA), Steven Berghuis (Ajax), Davy Klaassen (Ajax), Marten de Roon (Atalanta-ITA) e Kenneth Taylor (Ajax)
Atacantes: Memphis Depay (Barcelona-ESP), Steven Bergwijn (Ajax), Cody Gakpo (PSV), Wout Weghorst (Besiktas-TUR) e Vincent Janssen (Royal Antwerp-BEL)
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