quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Ainda é só o começo

Nas primeiras datas FIFA após a eliminação precoce na Euro, a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) terá uma saída cheia de homenagens a Sherida Spitse. E um começo ainda tranquilo para o novo ciclo (Stan Oosterhof/Soccrates/Getty Images) 

Só o fato de ser a primeira convocação (e serem as primeiras partidas) sob o comando do novo técnico, Arjan Veurink, já atrairia mais atenção para a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) nestas datas FIFA. A insinuação de tempos de mais renovação, após a má campanha na Euro de mulheres - que indicou inevitáveis fins de ciclo -, também atrairia alguma ansiedade pelo que as Leoas Laranjas podem fazer neste novo ciclo. E de fato, a renovação já começou. Só que ainda é só um início, pelo que se verá nos amistosos contra Polônia (na próxima sexta, 24, às 13h de Brasília, na cidade polonesa de Gdansk) e Canadá (na terça, dia 28, às 16h45 de Brasília, em Nijmegen). 

Até porque a maior atração entre os dois amistosos - na verdade, em apenas um deles, ao pé da letra - é uma despedida. Pois é: antes mesmo da convocação sair, na quarta-feira, 15, os perfis oficiais da seleção feminina neerlandesa divulgaram um vídeo em que Sherida Spitse oficializava o fim de sua história como jogadora pelas Leoas Laranjas, após 19 anos e 247 jogos (sempre vale lembrar: nenhum outro profissional europeu de futebol, homem ou mulher, jogou tanto por uma seleção). A meio-campista/zagueira se integrará à delegação apenas para a partida contra as canadenses, mas foi o principal tema das declarações surgidas na apresentação das 24 convocadas ao centro de treinamentos da federação, na cidade de Zeist - eram 26, mas Daphne van Domselaar (problema leve no joelho) e Chasity Grant (contusão sofrida no domingo passado) foram cortadas. E todas, declarações elogiosas.

Começou com o próprio Arjan Veurink: "Após quase 20 anos de seleção com ela, vai ficar um buraco (...) Ela merece uma saída pela porta da frente, com pódio e tudo". O técnico, inclusive, teve de se defender, na entrevista coletiva, das suspeitas de que suas conversas particulares com Spitse teriam um "leve empurrão" para que ela decidisse parar de jogar pela Holanda: "Ela mesma tomou a decisão. Tivemos boas conversas, sempre foram abertas e honestas. Vimos o curto e o longo prazo, e ela decidiu parar com base nisso". Tudo esclarecido, a homenagem seguiu com Jackie Groenen, cotada para ser uma das líderes da nova geração que terá espaço na seleção: "Vou sentir falta dela, das brincadeiras dela, é um ícone. Aproveitei todos esses anos com ela, e aprendi muito. Não sei se conseguirei preencher a lacuna que ela deixará". Kerstin Casparij acrescentou as suas loas, ao site Sportnieuws: "Quando eu comecei na seleção, ela já era famosa. Ela definiu os padrões". E a própria Spitse, entrevistada pelo site oficial das seleções holandesas, foi previsível sobre seu maior momento nesses 19 anos: "2017. Nunca nada será tão bonito quanto este ano. Fomos campeãs europeias, e meu filho Jens nasceu".

O técnico Arjan Veurink já mudou algumas coisas em sua estreia nas Leoas Laranjas. E mudará ainda mais (Divulgação/KNVB Media)

Só que, Spitse à parte, há outros fatores importantes nestas datas FIFA. Arjan Veurink já indicara em sua apresentação o que deseja ver nas jogadoras: "Há muita criatividade neste time, mas precisamos trazer mais intensidade e espírito de luta sem a bola. Isso pode melhorar, sem dúvida". Falando ao diário Trouw, foi ainda mais enfático: "A Holanda precisa ter uma defesa difícil de ser superada. E as jogadoras precisam merecer estar aqui, esta seleção não é de base". Até por isso, já começaram algumas mudanças. Na própria defesa, por exemplo, oferecendo a estreia em convocações a Lieske Carleer, zagueira do Twente ("É uma honra estar aqui", celebrou Carleer na apresentação), e trazendo de volta duas laterais esquerdas havia muito não convocadas, Janou Levels e Marisa Olislagers ("Vou fazer o meu melhor esta semana, tentar agarrar a minha chance", celebrou Olislagers, que já tem até a Euro feminina de 2022 no currículo). A chamada de Levels e Olislagers, inclusive, abre a possibilidade de Esmee Brugts, em grande começo de temporada no Barcelona, poder jogar na sua posição original, a ponta-esquerda, no ataque. Outro nome mais novo que volta é a ponta-de-lança Lotte Keukelaar, badalada desde a chegada ao Real Madrid, como a mais cara transferência que o futebol feminino dos Países Baixos já teve ("Lá eu vou precisar ir ainda melhor do que ia no Ajax, não posso bobear", reconheceu Keukelaar ao diário De Telegraaf).

Mas Veurink, mesmo olhando para a frente, deixa uma porta entreaberta atrás. Não para Renate Jansen, na última temporada da carreira, também anunciando o fim de sua era na seleção ("Fora de campo, ela sempre foi um nome de força, um elo de ligação, sempre tentou unir todo mundo", elogiou Arjan Veurink a atacante que, mesmo na reserva, esteve em todos os momentos das Leoas Laranjas nos últimos 10 anos, com 15 anos de passagem). Mas, talvez, para Daniëlle van de Donk. Após a eliminação na Euro, a meio-campista indicou que tinha sido seu último grande torneio pelos Países Baixos, mas não se opôs a seguir convocada nos momentos posteriores. Arjan Veurink deixou a continuidade de "Daan" nas Leoas Laranjas em suspenso, aproveitando uma dificuldade atual da meio-campista do London City Lionesses: "Nesse momento, ela não está em condições [contundida], e está fazendo de tudo para voltar a campo o mais rápido possível. Logo, está sem condições de pensar bem se ainda quer jogar pela seleção". Se quiser, porém, Veurink já alertou: "Para mim, é importante ter jogadoras em condições de irem à Copa de 2027. Combinamos que, assim que ela estiver em condições, voltamos a conversar".

Mas isso é para depois. Agora, em campo, a seleção feminina da Holanda quer boas atuações contra Polônia e Canadá. Para homenagear Sherida Spitse. E para comprovar o que Jackie Groenen comentou na entrevista coletiva: "Estamos sentindo algo muito novo. É sempre legal sentir a energia de uma nova fase". Que ainda está só no começo. Haverá muitas mudanças nas Leoas Laranjas, ainda.

As 24 convocadas da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA

Goleiras: Lize Kop (Tottenham Hotspur-ING), Daniëlle de Jong (Juventus-ITA) e Regina van Eijk (Ajax)

Defensoras: Kerstin Casparij (Machester City-ING), Lynn Wilms (Aston Villa-ING), Sherida Spitse (Ajax - só se integrará para o jogo contra o Canadá), Ilse van der Zanden (Fiorentina-ITA), Veerle Buurman (Chelsea-ING), Dominique Janssen (Manchester United-ING), Caitlin Dijkstra (Wolfsburg-ALE), Lieske Carleer (Twente), Marisa Olislagers (Brighton-ING) e Janou Levels (Wolfsburg-ALE)

Meio-campistas: Jackie Groenen (Paris Saint Germain-FRA), Victoria Pelova (Arsenal-ING), Wieke Kaptein (Chelsea-ING), Damaris Egurrola Wienke (Lyon-FRA) e Ella Peddemors (Wolfsburg-ALE)

Atacantes: Vivianne Miedema (Manchester City-ING), Lineth Beerensteyn (Wolfsburg-ALE), Esmee Brugts (Barcelona-ESP), Jill Roord (Twente), Romée Leuchter (Paris Saint Germain-FRA) e Lotte Keukelaar (Real Madrid-ESP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário