sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

Dando tempo ao tempo, Utrecht decola

Se Haller caiu nos últimos jogos, Boymans assumiu o destaque no ascendente Utrecht (Gerrit van Keulen/VI Images)
Desde o início do returno, ficou claro que a disputa do título holandês é coisa entre PSV e Ajax. Entretanto, a queda de desempenho do Feyenoord só deu mais graça a uma disputa que já estava aquecida durante o primeiro turno: as quatro posições que levam à Nacompetitie (play-off de fim de temporada) por uma vaga na terceira fase preliminar da Liga Europa. Do AZ, 3º lugar, ao NEC, 8º, são quatro pontos de distância (AZ com 40; NEC, 36). Sem dúvida, ainda ocorrerá muita coisa até a decisão dos clubes que estarão entre o quarto e o sétimo lugar; indo, portanto, para os play-offs após a temporada regular.

Nessa disputa interessante, vários clubes tiveram seu destaque. O Heracles sonhou até com título, num certo momento; o Zwolle já foi mais promissor; o NEC teve seu destaque; o Groningen sonhou com grandes coisas; o Vitesse chegou a brilhar no aspecto técnico; sem contar o AZ, que já é a grande história desta Eredivisie (sete vitórias seguidas no returno - de 12º a 3º lugar em sete rodadas, sem escalas!). Mas, com o olhar concentrado para a zona dos play-offs por Liga Europa, o time destacado agora é o Utrecht.

Aproveitando a irregularidade dos adversários, bastaram duas vitórias seguidas para os Utregs alcançarem a quarta posição, com 38 pontos. Talvez, enfim, tenha chegado o momento esperado para que a equipe decole e se firme nos play-offs – quem sabe, até desafiando adversários melhores, como AZ e Heracles. Pelo menos era essa a intenção que levou à contratação inicial da temporada: o técnico Erik ten Hag.

Até porque Ten Hag já teve a oportunidade de comandar jogadores como Ribéry e Schweinsteiger. “Como assim?”, perguntará o leitor. De fato, é uma meia-verdade: Ten Hag treinou Tobias Schweinsteiger e Steeven Ribéry, os respectivos irmãos menos conhecidos de Bastian e Franck. O que não quer dizer que o treinador holandês de 46 anos seja menos capacitado. Afinal, antes do Utrecht, passou dois anos treinando a equipe B do Bayern Munique. Ou seja: manteve contato muito próximo com Josep “Pep” Guardiola.

E foi exatamente por isso que Ten Hag foi contratado pelo Utrecht, antes da temporada começar: pela esperança de que ele tivesse aprendido um pouco com aquele que é considerado, entre outros, o técnico mais avançado taticamente no futebol mundial. Trabalhando com a estrutura dos bávaros, pelo menos o holandês cumpriu bem sua obrigação: nos dois anos de seu trabalho, o Kleine Bayern alcançou o título da liga regional da Bavária (Regionalliga 2013/14), sendo vice-campeão em 2014/15. Houve até a chance de acesso à 3.Liga (terceira divisão alemã) quando a Regionalliga foi vencida, mas o time ficou nos play-offs, eliminado pelo Fortuna Köln nos gols fora de casa.

De fato, era bom que o desempenho do time do estádio Galgenwaard melhorasse em campo. Afinal de contas, Rob Alflen fora demitido tão logo a temporada passada terminou, justamente por causa do estilo de jogo insípido visto nos jogos – e, claro, por uma melancólica 11ª colocação. Não que o Utrecht seja time que sonhe com o título: é um frequentador costumeiro do meio de tabela. Mas, geralmente, na parte de cima, não na parte de baixo dessa região.

Contudo, é óbvio que de nada adianta um técnico de métodos táticos promissores caso a equipe não corresponda em campo. Foi o que aconteceu com a equipe alvirrubra em grande parte do primeiro turno. Só havia um jogador a carregar o desempenho do time: Sébastien “Seb” Haller. Atacante titular da seleção francesa sub-21, Haller já se destacara na metade final da Eredivisie 2014/15, a ponto de o Utrecht tê-lo comprado em definitivo do Auxerre, que o cedera por empréstimo. Pois bem: Haller começou o atual campeonato com tudo, marcando quatro gols nos três primeiros jogos do time pelo Campeonato Holandês. E até hoje ocupa lugar de destaque na lista de goleadores: tem 12 gols.

Só que os resultados desses três primeiros jogos da temporada em que Haller marcou não foram nada agradáveis para o time de Ten Hag: uma derrota (na estreia, para o Feyenoord) e dois empates (com Heerenveen e ADO Den Haag). Mesmo que o treinador tenha definido rapidamente o esquema tático básico num 4-4-2 “losango”, os jogadores não rendiam. Fora Haller, apenas o goleiro Robbin Ruiter e o meio-campo Bart Ramselaar mereciam alguma menção. De resto, o que se via em campo era o mesmo marasmo do campeonato passado.

Até que o fim do turno mostrou algumas boas mudanças. No meio-campo, cresceram de produção Yassin Ayoub e Nacer Barazite: passaram a criar jogadas com mais velocidade e até a ajudar mais Haller nas finalizações. Resultado: invencibilidade entre a 13ª e a 17ª rodadas (quatro vitórias, um empate), incluindo aí triunfo inquestionável sobre o Ajax (1 a 0, em casa, na 16ª rodada). E contra o AZ, na partida derradeira da primeira metade da temporada, apareceu mais um jogador para ajudar o Utrecht a subir de produção. Com grave lesão no tornozelo, o atacante Ruud Boymans estava em recuperação, mas foi relacionado pela primeira vez contra os Alkmaarders. Pois bem: Boymans entrou na partida aos 33 minutos do segundo tempo, com o Utrecht perdendo por 1 a 0. O substituto empatou aos 37; e aos 41, Haller virou o jogo. O empate do AZ veio nos acréscimos, mas nem isso tirou a boa impressão que o retorno causou. Tanto que Boymans já fez cinco gols em sete jogos.

No início do segundo turno, mais duas vitórias, totalizando uma invencibilidade de sete partidas. Ela poderia ter sido impactada pela má sequência imediatamente posterior, de três derrotas (Roda JC, Twente e PSV, entre a 21ª e a 23ª rodadas). Mas bastaram duas vitórias – e a irregularidade dos adversários, excetuando-se o AZ – para que o Utrecht alcançasse a quarta posição. De quebra, o time está nas semifinais da Copa da Holanda, em que enfrentará o VVSB, clube amador. Pela campanha na KNVB Beker, motivos para otimismo não faltam: afinal, a equipe eliminou o PSV nas quartas de final, em plena Eindhoven, no começo do mês, tendo atuação elogiada: 3 a 1 contra um PSV titular, com Luuk de Jong, Jeffrey Bruma e cia.

Ainda há certa irregularidade. Mas a diretoria do Utrecht apostou num projeto, e deu tempo ao tempo. Com a reação dos jogadores, agora os frutos estão sendo colhidos. A próxima partida é contra um Feyenoord abalado pela má sequência, em casa. Mais uma chance para se firmar nas primeiras posições.

(Coluna originalmente publicada na Trivela.com, em 26 de fevereiro de 2016)

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