quarta-feira, 3 de maio de 2017

Como não amar?

Jogadores aplaudiram a torcida ao fim do jogo. O Ajax mereceu muitos aplausos mais (ANP/Pro Shots)

O tremendo sofrimento passado para conseguir superar o Schalke 04 e chegar onde chegou - isto é, nas semifinais da Liga Europa - fazia crer que o Ajax, aparentemente, já conseguira ir longe demais. Recuperar um pouco do respeito, com a primeira semifinal continental em 20 anos, já servia para massagear o ego dos Ajacieden. Seria demais superar o Lyon, com um time tão talentoso quanto é o holandês, e uma geração tão promissora (Corentin Tolisso, Lucas Tousart, Maxwel Cornet, Nabil Fekir) quanto a que se vê na Amsterdam Arena - quase Johan Cruyff Arena -, em que pesasse a ausência de Alexandre Lacazette, começando o jogo no banco por causa de uma lesão. 

Pois é: foi demais. Nem pareceu que seria: mais acelerados pelas laterais nos primeiros 15 minutos de jogo, os Gones conseguiam criar mais chances quando tinham a bola nos pés. Além do mais, com uma defesa inicialmente bem postada, a equipe lionesa continha facilmente as tíbias tentativas dos Godenzonen, mesmo que ela tentasse trocar passes e manter a posse. Já parecia claro para quem lotou a Amsterdam Arena: o Lyon não ofereceria as mesmas facilidades que o Schalke 04 oferecera no jogo de ida das quartas. Mais do que isso: o OL parecia até mais próximo do primeiro gol. Era necessário ter sorte. Aos 25', o Ajax teve, com a cobrança perfeita de falta por Hakim Ziyech, o desvio providencial de Bertrand Traoré, e o gol que abriu o caminho para o 4 a 1 que foi demais.

E foi demais principalmente porque, após abrir o placar, o Ajax impôs seu estilo, como se o Lyon não fosse um time mais experimentado nas lides europeias. A defesa do Ajax passou a dar menos espaços para os jogadores lioneses - principalmente, pelo crescimento visível dos dois laterais em campo e, principalmente, pelas ótimas atuações de Matthijs de Ligt e André Onana. Após as falhas na estreia pela seleção holandesa, De Ligt está voltando a apresentar um nível técnico dos mais promissores - e dos mais invejáveis para alguém com 17 anos (o mais jovem jogador holandês a ter atuado numa semifinal de torneio continental). Onana assusta às vezes nas saídas de gol, mas é suficientemente ágil para fazer defesas salvadoras - como em chutes de Cornet, no primeiro tempo, e Fekir, no segundo.

Com a defesa cuidando bem de suas tarefas, o ataque precisava aproveitar suas chances, para não dar ao Lyon as esperanças que o Schalke 04 teve no jogo de volta. Kasper Dolberg fez isso muito bem, aos 34': num átimo, Mouctar Diakhabi demorou para voltar após má reposição de bola do goleiro Anthony Lopes, e o atacante dinamarquês pegou a bola para o chute cruzado do 2 a 0, seu 5º gol pela Liga Europa. Mas Amin Younes falhou, ao perder chance valiosa para o terceiro gol, aos 44', arrematando para grande defesa de Lopes. Pelo menos, o alemão compensou isso da melhor maneira possível: fazendo 3 a 0, logo no início do segundo tempo (48', mais precisamente), em chute que não daria em gol, não fosse a atenção de um dos auxiliares, que notou a bola passando da linha.

Aí se viu o mais prazeroso: um Ajax destemido, sabendo o que desejava - atacar mais, criar mais chances, para se aproximar bastante da final em Estocolmo. Atacou tanto que o Lyon começou a chegar, lembrando que também é ótimo time. E coroou essas tentativas com o gol de Mathieu Valbuena, em belo chute no ângulo direito de Onana, aos 65'. Susto? Sim. Mas durou pouco, com o segundo gol de Traoré, fecho apropriado para belíssima troca de passes, aos 71'.

Younes insinuante nos dribles; Traoré com dois gols decisivos; Ziyech com três passes para gol. Só podia dar em goleada (ANP/Pro Shots)
Porém, mais do que a goleada empolgante ("Poderia ter sido 8 a 3, ou 7 a 4", reconheceu Peter Bosz), mais do que o clima alegremente incendiário entre os torcedores (no fim do jogo, já se gritava "Wij gaan naar Stockholm" - "Vamos a Estocolmo"), o que agradou foi ver um Ajax destemido, um Ajax ofensivo, um Ajax que parece ter se lembrado: é um time grande, um gigante europeu. Tudo isso expresso em declarações como as do capitão Davy Klaassen após o jogo, à emissora de tevê RTL: "Não vamos deixar escapar. Foi até bom ter passado pelo que passamos contra o Schalke, pois aprendemos a lição. Será idiotice se permitirmos [a virada do Lyon]". 

Até por isso, as reações simpáticas à goleada. Na Holanda e fora dela. Como não amar quando o Ajax se porta como Ajax?

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