A Holanda mudou para tentar conter os Estados Unidos. Mas um erro pôs tudo a perder. Tudo bem: o vice-campeonato merece aplausos (FIFA/Getty Images) |
Era possível a Holanda ganhar dos Estados Unidos, na final da Copa do Mundo feminina? Até era... desde que as Leoas Laranjas tivessem uma atuação perfeita, daquelas inesquecíveis, diante de uma seleção tão favorita quanto eram as norte-americanas, com seus três títulos mundiais (incluindo o da Copa passada, em 2015). Pelo menos na defesa, tudo deu certo. Mas estava faltando o ataque holandês funcionar. Uma hora, a fechada zaga holandesa fraquejou. E o caminho se abriu para o 2 a 0 do merecido título da equipe de Jill Ellis. Se serve de consolo (minúsculo), a Holanda tentou o que podia, com as armas que tinha.
Sarina Wiegman foi inesperadamente ousada na escalação. Sabedora de que seria caminho certo para a derrota dar espaço para a pressão quase irrespirável dos Estados Unidos no começo do jogo, a técnica da Holanda se preocupou em fechar a defesa: colocou Anouk Dekker (1,82m, mais alta do que Merel van Dongen, de 1,70m) no miolo de zaga, ao lado de Stefanie van der Gragt (1,78m), para inibir o jogo aéreo adversário. De quebra, Dominique Bloodworth foi deslocada para a lateral esquerda, para perseguir um dos grandes nomes ofensivos das norte-americanas - e da Copa: Megan Rapinoe.
Tudo começou bem. Ou quase. Afinal de contas, quase tudo que a Holanda fez nos primeiros 45 minutos foi se defender dos avanços dos Estados Unidos. Dekker e Van der Gragt mostravam precisão ao afastarem as bolas da área, de cabeça. Nas laterais, Desiree van Lunteren agia corretamente na direita, enquanto Bloodworth conseguia neutralizar Rapinoe, após alguma dificuldade para se readaptar.
Mas nenhuma dessas se destacava tanto quanto Sari van Veenendaal. Entre tantas goleiras de atuação elogiável na Copa do Mundo, a camisa 1 das Leoas Laranjas começou a despontar em Lyon. Saía bem do gol nos cruzamentos - como o de Tobin Heath, aos 17'. E estava sempre atenta nos chutes de longe, como provou em três grandes defesas, aos 28' (afastando um arremate de Samantha Mewis, meio no reflexo), aos 38' (pegando com dificuldades a bola, após desvio de Alex Morgan na pequena área) e aos 40' (em chute colocado da própria Morgan). Fez por merecer o prêmio que ganhou, como a melhor goleira da Copa.
Van Veenendaal fez o que pôde, talvez mais do que todas as outras holandesas em campo. Mereceu o prêmio de melhor goleira da Copa (FIFA/Getty Images) |
Com todo esse esforço, a Holanda conseguiu conter os habituais começos sufocantes das norte-americanas. E passou o primeiro tempo sem sofrer gols. O problema foi na hora da bola ir para o meio-campo: Jackie Groenen perseguia as meio-campistas adversárias sem conseguir desarmá-las, Sherida Spitse não conseguia controlar o ritmo (afinal, não tinha a bola nos pés), só raramente Daniëlle van de Donk tinha espaço para avançar, Lieke Martens estava completamente sem ritmo. Mas as mudanças táticas que Sarina Wiegman pensara também ajudavam no desempenho de dois nomes: Vivianne Miedema mostrava capacidade inesperada para auxiliar na criação de jogadas, e Lineth Beerensteyn perturbava mais a marcação. Mas de chutes a gol, só a falta batida por Spitse para fora, aos 43'.
Entretanto, a Holanda se aguentava na defesa. A seleção dos Estados Unidos começava a se cansar de tanto tentar atacar, de tanto cruzar bolas à área, sem que viessem as finalizações. A zaga holandesa seguia precisa nas antecipações. Se não houvessem erros, a prorrogação era uma possibilidade - ou quem sabe, até, viesse a chance que Miedema e Beerensteyn tanto esperavam para marcarem o gol. Até que, aos 58', Heath cruzou da direita, Morgan tentou finalizar, mas Van der Gragt afastou a bola para escanteio com o pé alto. Tão alto que atingiu a atacante norte-americana - após o jogo, a zagueira holandesa reconheceu: "Eu não vi a chegada dela e fui com o pé para tentar acertar a bola, mas não acertei. Talvez ela tenha caído fácil demais, mas eu a acertei. Não peguei forte nela [Morgan], mas houve o contato".
Era um erro. Que foi punido: com a ajuda do VAR, a juíza francesa Stéphanie Frappart apitou o pênalti, convertido por Megan Rapinoe para o 1 a 0 dos Estados Unidos. Grosso modo, o jogo estava resolvido. A Holanda teria de avançar mais, deixar os cuidados defensivos que vinham dando certo - e isso abriu o espaço que as norte-americanas tanto desejavam para chegar a mais gols. Com isso, a Oranje até trouxe perigo uma vez, aos 65', quando Miedema fez excelente jogada, driblando três jogadoras, mas ficou com o ângulo bloqueado pelo chute e foi enfim desarmada por Becky Sauerbrunn. Mas os Estados Unidos chegavam com mais perigo, e encaminharam o título com o gol de Rose Lavelle, aos 69', em boa jogada individual da meio-campista, concluída com um chute forte no canto esquerdo de Van Veenendaal. Houve chance para mais, mas elas pararam nas boas atuações defensivas (Van der Gragt e Van Veenendaal à frente). Foi assim aos 71', quando Spitse evitou a finalização de Rapinoe. Ou aos 76', quando Van Veenendaal evitou o gol de Crystal Dunn.
E os Estados Unidos ganharam. Porque as jogadoras holandesas fizeram o possível, quase sem erros, por 58 minutos. Até que erraram. E aí, as agora tetracampeãs mundiais do futebol feminino não perdoam. Tudo bem: a Holanda fez o que pôde.
(FIFA/Getty Images) |
Estados Unidos 2x0 Holanda
Data: 7 de julho de 2019
Local: Groupama Stadium/Parc OL (Lyon)
Árbitra: Stéphanie Frappart (França)
Gols: Megan Rapinoe, aos 61', e Rose Lavelle, aos 69'
Estados Unidos
Alyssa Naeher; Kelley O'Hara (Ali Krieger), Abby Dahlkemper, Becky Sauerbrunn e Crystal Dunn; Samantha Mewis, Julie Ertz e Rose Lavelle; Tobin Heath (Carli Lloyd), Alex Morgan e Megan Rapinoe (Christen Press). Técnica: Jill Ellis
Holanda
Alyssa Naeher; Kelley O'Hara (Ali Krieger), Abby Dahlkemper, Becky Sauerbrunn e Crystal Dunn; Samantha Mewis, Julie Ertz e Rose Lavelle; Tobin Heath (Carli Lloyd), Alex Morgan e Megan Rapinoe (Christen Press). Técnica: Jill Ellis
Holanda
Sari van Veenendaal; Desiree van Lunteren, Anouk Dekker (Shanice van de Sanden), Stefanie van der Gragt e Dominique Bloodworth; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Sherida Spitse; Lineth Beerensteyn, Vivianne Miedema e Lieke Martens (Jill Roord). Técnica: Sarina Wiegman
Foi uma bela saga das Leoas! Agora, a curto prazo, tentar uma medalha olímpica em 2020 e, a longo prazo, renovar a seleção com investimentos nas categorias de base, aproveitando o aumento de interesse com essa ótima participação na Copa.
ResponderExcluir