terça-feira, 5 de novembro de 2019

É sempre assim

O Ajax se impunha com brilhantismo contra o Chelsea. Mas vieram duas expulsões em segundos. E novamente o time fraquejou (BSR Agency)

A derrota para o Chelsea, na terceira rodada da Liga dos Campeões, jogou água na fervura das expectativas que o Ajax já começava a viver. Mas nesta terça passada, o ex-jogador (hoje comentarista) Andy van der Meyde precavia: o time de Amsterdã voltara a evoluir, era melhor do que os Blues, poderia vencer em Stamford Bridge. Bem, quase pôde mesmo. Só que um lance desastroso da defesa recolocou o time da casa, que enlouqueceu de vez o que já era um jogo atraente. Mais uma vez, o Ajax jogou uma vitória fora - porque, talvez, não saiba jogar de outra maneira.

A rigor, já no começo se podia esperar que tudo pudesse acontecer, pelo que se viu. Primeiro, pela estocada certeira do Ajax, com a falta cobrada por Quincy Promes logo aos dois minutos, desviada acidental e levemente por Tammy Abraham e ida para balançar as redes, no 1 a 0 dos visitantes. Depois, pela pronta resposta do Chelsea, com o pênalti indiscutível de Joël Veltman (outra vez, o ponto fraco do Ajax) em Christian Pulisic, convertido por Jorginho com a habitual calma e precisão.

E assim seguiu o jogo, com ataques de parte a parte: era Mason Mount perturbando André Onana, era Dusan Tadic arriscando chute perigoso à meta defendida por Kepa. Aí, o Ajax saiu ganhando. Porque, outra vez, Hakim Ziyech fazia uma partida das mais admiráveis, mostrando porque é o destaque dos Amsterdammers há pelo menos dois anos. Outra vez, Quincy Promes se destacava pela velocidade, sempre perturbando a zaga do Chelsea. E numa jogada parecida com o gol anulado de há duas semanas na Johan Cruyff Arena, Promes fez - agora, para valer, desviando de cabeça para o 2 a 1.

Enquanto os Ajacieden puderam atacar, Promes (esquerda) e Ziyech brilharam demais (BSR Agency)
Mas todos os gols ficariam pequenos diante de mais uma prova da assombrosa capacidade de Ziyech na bola parada: sem ângulo, o marroquino fez Kepa se atrapalhar após cobrança - a bola bateu na trave, no rosto do goleiro basco, e era o terceiro gol. Um símbolo de como, pouco a pouco, o Ajax envolvia o Chelsea, crescia em Stamford Bridge, evocava mesmo as atuações primorosas da temporada passada. O gol de Donny van de Beek, logo no começo do segundo tempo, parecia ser o sinal de uma goleada relativamente tranquila, para fazer o Ajax reafirmar sua força.

Ora, mas se fosse assim, tranquilo e sem emoções, não seria o Ajax. O gol de César Azpilicueta, completando à beira da linha, já reanimou mais o Chelsea. E num lance, aos 69', o clima virou em Stamford Bridge. Por mais polêmico que possa ter sido, Gianluca Rocchi acertou: sim, o carrinho de Daley Blind em Tammy Abraham foi desastrado e mereceu o segundo cartão amarelo (logo, a expulsão do zagueiro). E sim, na sequência, Veltman pôs a mão na bola, na área. Foi pênalti, Veltman exagerou na reclamação sobre o vermelho dado a Blind... e também ele foi expulso. Ambos reclamaram sem motivo.

Jorginho acertou um pênalti, de novo, já aos 71'. Erik ten Hag tentou minorar o impacto das perdas defensivas, tirando Ziyech e David Neres para colocar Edson Álvarez e Perr Schuurs. Mas antes que pudessem fazer algo, Reece James deu o 4 a 4 que tornava o jogo palpitante. E a virada poderia até ter sido maior: Azpilicueta fez gol anulado (corretamente) aos 78', Callum Hudson-Odoi quase marcou após erro de Schuurs aos 90', Onana fez defesa milagrosa em chute de Batshuayi aos 90' + 1.

O que não quer dizer que o Ajax ficou na defesa: mesmo com nove homens, seguiu indo ao ataque e até criou chances - com Álvarez, por exemplo. E nem o empate foi um resultado... ruim. Sim, o Ajax perdeu o direito de tropeçar, num grupo embolado pela goleada do Valencia. Mas, com suspensões e tudo, o time de Amsterdã está com o destino nas mãos. Na próxima rodada, pegará um Lille já eliminado. E se ainda assim der errado, na última rodada terá o Valencia pela frente, em Amsterdã, com vantagem no confronto direto. A vaga nas oitavas é provável, ainda. Só não se ache que o Ajax se contentará com essas vantagens: correr riscos está no estilo futebolístico do clube. É sempre assim. E ai de quem tentar fazer diferente.

Liga dos Campeões - fase de grupos

Chelsea 4x4 Ajax

Local: Stamford Bridge (Londres)
Data: 5 de novembro de 2019
Árbitro: Gianluca Rocchi (Itália)
Gols: Tammy Abraham, contra, aos 2', Jorginho, aos 5', Quincy Promes, aos 20', e Kepa Arrizabalaga (contra), aos 35'; Donny van de Beek, aos 55', Jorginho, aos 71', e Reece James, aos 74'

Chelsea
Kepa Arrizabalaga; Fikayo Tomori, Kurt Zouma, César Azpilicueta e Marcos Alonso (Reece James); Mateo Kovacic, Jorginho (Michy Batshuayi) e Willian; Christian Pulisic, Tammy Abraham e Mason Mount (Callum Hudson-Odoi). Técnico: Frank Lampard

Ajax
André Onana; Noussair Mazraoui, Joël Veltman, Daley Blind e Nicolás Tagliafico; Donny van de Beek, Quincy Promes e Lisandro Martínez; Hakim Ziyech (Edson Álvarez), Dusan Tadic e David Neres (Perr Schuurs). Técnico: Erik ten Hag

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