Falar em Heerenveen é ter imediatamente na memória esta imagem: a bandeira da Frísia denota bem como o clube centenário está ligado à sua província |
A começar pelo uniforme, que traz nele a bandeira da Frísia: não só as cores azul e branca, mas também as folhas de lírio (as pomperbladen, como são chamadas na região), flor comum na Frísia, costumeiramente confundidas com corações. É para curiosidades como essas que o Heerenveen é o merecedor do primeiro texto de uma seção deste Espreme a Laranja, para apresentar rapidamente os pontos mais importantes da história do Fean, no dia de celebração dos 100 jier - 100 anos, em frísio - do "Ûs Hearrenfean", o "nosso Heerenveen". No dialeto frísio, como a torcida gosta.
A torcida do Heerenveen enche a boca para dizer: Abe Lenstra, um dos melhores jogadores holandeses pré-Cruyff, era só do Heerenveen (Reprodução) |
Um craque
Poderiam ser nomes como Klaas-Jan Huntelaar, Ruud van Nistelrooy ou Hakim Ziyech, que despontaram na Frísia antes de viverem as grandes fases de suas carreiras em outros clubes. Poderia ser Afonso Alves, que viveu o melhor momento de sua trajetória nos campos vestindo a camisa alviazul com as folhas de lírio, indo até à Seleção Brasileira campeã da Copa América em 2007. Poderiam ser o goleiro Hans Vonk ou o atacante Jeffrey Talan, símbolos do momento mais marcante desses 100 anos (a ida à Liga dos Campeões, em 2000/01). No entanto, diante de um clube tão apegado à sua província quanto o Heerenveen, é até previsível imaginar que o mais importante jogador de sua história tenha nascido e crescido ali, futebolística e geograficamente: o atacante Abe Lenstra (1920-1985).
Justiça seja feita: não é só por ter saído de e do Heerenveen que Lenstra é o mais notável jogador a ter vestido aquele alviazul. É por seu talento: atacante veloz, habilidoso pelas pontas, ele foi um dos melhores jogadores que a Holanda revelou, antes de Johan Cruyff. E só não teve reconhecimento maior na Europa (como teve um contemporâneo e amigo, Faas Wilkes) porque raramente quis deixar seu Heerenveen. O Ajax o quis; reza a lenda que a Internazionale até lhe estendeu um cheque em branco para comprá-lo; mas Abe Lenstra sempre se manteve apegado ao clube. Prova disso foram os 18 anos passados ali, entre 1936 e 1954, tendo sido até "jogador-treinador" entre 1946 e 1947 - e destaque nos títulos regionais do norte da Holanda, entre 1941/42 e 1949/50, num futebol ainda amador. Ou então, por ser um dos raros destaques da seleção holandesa de então: foram 47 jogos e 33 gols, entre 1940 e 1959.
Na reta final da carreira, Lenstra até se mudou de cidade, indo para Enschede. Entre 1954 e 1960, jogando pelo SC Enschede, um dos originadores do Twente atual; entre 1960 e 1963, parou no Enschedese Boys, justamente o outro. Depois de parar, morou em Almelo, vizinha a Enschede. Mas quando sofreu um AVC, em 1977, Lenstra voltou à sua Heerenveen. Lá foi homenageado antes e após sua morte, em 1985, aos 64 anos. E continua sendo. Por fatos como o estádio do Heerenveen, que leva seu nome. E pelo apelido carinhoso como a torcida sempre o chama: "Ûs Abe". Nosso Abe.
Um técnico
Aqui, não há muito questionamento. Quando Foppe de Haan chegou ao Heerenveen, o clube até tivera uma participação na primeira divisão, em 1990/91, mas estava novamente na divisão de acesso, querendo subir para ficar. E De Haan recebeu respaldo para comandar o time, sem muita pressão, a partir de 1992. De parte a parte, não houve razões para arrependimento. Do lado do Heerenveen, a sonhada promoção para a Eredivisie veio em 1992/93 - desde então, o clube nem passou perto de cair. Foppe de Haan teve importância decisiva na construção dos "alicerces" que fizeram o Fean deixar de ser um clube pequeno para virar médio na Holanda.
Nos 12 anos em que treinou o clube da Frísia, ele se notabilizou por ser um técnico que conseguia manter pulso firme sem autoritarismos. Se não era taticamente inventivo, conseguia cativar grupos, manter bons ambientes. Até por isso, levou o Heerenveen além, treinando o time no vice-campeonato holandês em 1999/2000 - e na Liga dos Campeões que se seguiu. Também por isso, De Haan só saiu do clube em 2004 porque fora contratado para treinar a seleção sub-21 da Holanda - na qual também teve êxito, treinando a Jong Oranje bicampeã europeia da categoria (2006 e 2007) e quadrifinalista no torneio olímpico de futebol masculino, em Pequim-2008.
Depois, já às vésperas dos 70 anos, Foppe diminuiu o ritmo da carreira. Ainda assim, de um modo ou de outro, o futebol holandês sempre buscou seus respeitosos serviços quando necessário. Inclusive no futebol feminino: quando Sarina Wiegman foi promovida à treinadora da seleção, em 2017, ele foi chamado para ser auxiliar de Sarina - e discretamente, foi considerado pela própria como fundamental no trabalho que levou ao histórico título da Euro 2017 pelas Leoas Laranjas. No masculino, quando o Heerenveen passava por algumas dificuldades em 2015, Foppe aceitou voltar só para conduzir o time mais calmamente até o fim da temporada 2015/16. Conseguiu, aumentando ainda mais a gratidão da torcida. Que até hoje, se alegra ao ver Foppe de Haan, frequentemente, nas tribunas do Abe Lenstra, assistindo aos jogos do Heerenveen que ajudou a erguer no futebol do país.
Aqui, não há muito questionamento. Quando Foppe de Haan chegou ao Heerenveen, o clube até tivera uma participação na primeira divisão, em 1990/91, mas estava novamente na divisão de acesso, querendo subir para ficar. E De Haan recebeu respaldo para comandar o time, sem muita pressão, a partir de 1992. De parte a parte, não houve razões para arrependimento. Do lado do Heerenveen, a sonhada promoção para a Eredivisie veio em 1992/93 - desde então, o clube nem passou perto de cair. Foppe de Haan teve importância decisiva na construção dos "alicerces" que fizeram o Fean deixar de ser um clube pequeno para virar médio na Holanda.
Nos 12 anos em que treinou o clube da Frísia, ele se notabilizou por ser um técnico que conseguia manter pulso firme sem autoritarismos. Se não era taticamente inventivo, conseguia cativar grupos, manter bons ambientes. Até por isso, levou o Heerenveen além, treinando o time no vice-campeonato holandês em 1999/2000 - e na Liga dos Campeões que se seguiu. Também por isso, De Haan só saiu do clube em 2004 porque fora contratado para treinar a seleção sub-21 da Holanda - na qual também teve êxito, treinando a Jong Oranje bicampeã europeia da categoria (2006 e 2007) e quadrifinalista no torneio olímpico de futebol masculino, em Pequim-2008.
Depois, já às vésperas dos 70 anos, Foppe diminuiu o ritmo da carreira. Ainda assim, de um modo ou de outro, o futebol holandês sempre buscou seus respeitosos serviços quando necessário. Inclusive no futebol feminino: quando Sarina Wiegman foi promovida à treinadora da seleção, em 2017, ele foi chamado para ser auxiliar de Sarina - e discretamente, foi considerado pela própria como fundamental no trabalho que levou ao histórico título da Euro 2017 pelas Leoas Laranjas. No masculino, quando o Heerenveen passava por algumas dificuldades em 2015, Foppe aceitou voltar só para conduzir o time mais calmamente até o fim da temporada 2015/16. Conseguiu, aumentando ainda mais a gratidão da torcida. Que até hoje, se alegra ao ver Foppe de Haan, frequentemente, nas tribunas do Abe Lenstra, assistindo aos jogos do Heerenveen que ajudou a erguer no futebol do país.
Riemer van der Velde foi decisivo na estruturação do Fean - e mesmo após passar 23 anos presidindo o clube, ainda teve a ajuda pedida pela torcida (Pics United) |
Um dirigente
Desde 1970, quando foi promovido à segunda divisão, o Heerenveen seguiu regular, apenas à espera de uma estrutura maior que o permitisse sonhar em dar o salto definitivo. O nome fundamental para isso acontecer se tornou presidente do clube em 1983, vindo da direção de uma empresa de atacados: Riemer van der Velde. Em seu período (23 anos!) à frente do clube, o Heerenveen deu o salto decisivo em sua história.Sob a presidência de Riemer, o Fean subiu pela primeira vez para a primeira divisão, em 1989/90.
Ainda sob sua presidência, subiu de novo (para não cair mais desde então, vale lembrar), em 1992/93. Com ele no comando segurando as pontas fora de campo para Foppe de Haan formar o time dentro - sem contar os bons jogadores -, o Heerenveen chegou à Liga dos Campeões, em 2000/01. E mesmo após deixar a presidência, Van der Velde ainda tem o respaldo da torcida. A tal ponto que, quando os adeptos exigiram mudanças na gestão de Robert Veenstra, em 2013, ele foi o condutor escolhido por eles para monitorar o balanço de uma auditoria, que deu a medida da crise interna vivida então.
Desde 1970, quando foi promovido à segunda divisão, o Heerenveen seguiu regular, apenas à espera de uma estrutura maior que o permitisse sonhar em dar o salto definitivo. O nome fundamental para isso acontecer se tornou presidente do clube em 1983, vindo da direção de uma empresa de atacados: Riemer van der Velde. Em seu período (23 anos!) à frente do clube, o Heerenveen deu o salto decisivo em sua história.Sob a presidência de Riemer, o Fean subiu pela primeira vez para a primeira divisão, em 1989/90.
Ainda sob sua presidência, subiu de novo (para não cair mais desde então, vale lembrar), em 1992/93. Com ele no comando segurando as pontas fora de campo para Foppe de Haan formar o time dentro - sem contar os bons jogadores -, o Heerenveen chegou à Liga dos Campeões, em 2000/01. E mesmo após deixar a presidência, Van der Velde ainda tem o respaldo da torcida. A tal ponto que, quando os adeptos exigiram mudanças na gestão de Robert Veenstra, em 2013, ele foi o condutor escolhido por eles para monitorar o balanço de uma auditoria, que deu a medida da crise interna vivida então.
Sim, você não está vendo errado: o Heerenveen jogou a Liga dos Campeões - e foi a fase de grupos, em 2000/01 (Reprodução) |
Um momento
Seria até óbvio citar o único título da história do Heerenveen: a Copa da Holanda, na temporada 2008/09, ganha de modo dramático: na decisão por pênaltis contra o Twente, após 2 a 2 em 120 minutos de jogo, o goleiro sul-africano Hans Vonk se consolidou como o grande nome da posição na história do clube, ao pegar uma cobrança e ajudar na vitória por 5 a 4. Todavia, se ainda hoje imaginar o Heerenveen disputando a fase de grupos da Liga dos Campeões é algo muito difícil, no começo do milênio era ainda mais. E no entanto, o clube conseguiu: em 2000/01, esteve na Champions League, sua primeira - e única, até agora - experiência no mais importante torneio continental.
Em 1999/2000, Foppe de Haan tinha um time seguro atrás, com nomes como o citado Hans Vonk e o zagueiro e capitão Johan Hansma. Mais à frente, o finlandês Mika Nurmela ajudava na criação das jogadas, para que Anthony Lurling fosse ao ataque, onde já estava Jeffrey Talan. Na Eredivisie, com uma equipe simples, mas embalada, vieram resultados como uma vitória por 1 a 0 sobre o PSV, futuro campeão holandês daquela temporada, em plena Eindhoven. Ou então, um 3 a 0 categórico no Feyenoord, campeão de 1998/99. Sim, o time terminou longe do PSV na tabela, 16 pontos atrás. Mas se valendo de um Feyenoord inconstante, de um Ajax sem muito rumo e de uma ótima reta final (nas últimas sete rodadas, cinco vitórias e dois empates), o Fean conseguiu o vice-campeonato neerlandês.
Claro, seria difícil pensar em classificação no grupo C: além do Valencia, vice-campeão da Champions na temporada anterior (e seria novamente em 2000/01), os adversários do Heerenveen seriam um Olympiacos mais experiente e um Lyon também no caminho para dominar o futebol francês naquela década. Previsivelmente, o clube holandês terminou na lanterna, com quatro pontos. Ainda assim, teve boas memórias daquela experiência única. Como a vitória sobre o Olympiacos, por 1 a 0. Ou o empate com o Valencia, já classificado para a segunda fase, fora de casa: 1 a 1. Valeu.
Um rival
Se o Heerenveen ainda tem apego à Frísia onde está, nada mais esperado de seu rival também estar próximo: o Cambuur, de Leeuwarden, cidade próxima a Heerenveen. Está certo que, há algum tempo, o clube alviazul está em posição superior aos Leeuwarders, que já não jogam a primeira divisão desde 2015/16. Ainda assim, quando ele ocorre, o "dérbi da Frísia" é garantia de casa cheia, em Leeuwarden e Heerenveen.
E mesmo com toda a rivalidade, o Cambuur fez questão de dar os seus parabéns ao rival pelo centenário. Mas deixou o alerta: "Até o próximo dérbi da Frísia". Quando será? Poderia ser em 2020/21, já que o clube auriazul liderava a segunda divisão. Mas a pandemia não deixou.
Seria até óbvio citar o único título da história do Heerenveen: a Copa da Holanda, na temporada 2008/09, ganha de modo dramático: na decisão por pênaltis contra o Twente, após 2 a 2 em 120 minutos de jogo, o goleiro sul-africano Hans Vonk se consolidou como o grande nome da posição na história do clube, ao pegar uma cobrança e ajudar na vitória por 5 a 4. Todavia, se ainda hoje imaginar o Heerenveen disputando a fase de grupos da Liga dos Campeões é algo muito difícil, no começo do milênio era ainda mais. E no entanto, o clube conseguiu: em 2000/01, esteve na Champions League, sua primeira - e única, até agora - experiência no mais importante torneio continental.
Em 1999/2000, Foppe de Haan tinha um time seguro atrás, com nomes como o citado Hans Vonk e o zagueiro e capitão Johan Hansma. Mais à frente, o finlandês Mika Nurmela ajudava na criação das jogadas, para que Anthony Lurling fosse ao ataque, onde já estava Jeffrey Talan. Na Eredivisie, com uma equipe simples, mas embalada, vieram resultados como uma vitória por 1 a 0 sobre o PSV, futuro campeão holandês daquela temporada, em plena Eindhoven. Ou então, um 3 a 0 categórico no Feyenoord, campeão de 1998/99. Sim, o time terminou longe do PSV na tabela, 16 pontos atrás. Mas se valendo de um Feyenoord inconstante, de um Ajax sem muito rumo e de uma ótima reta final (nas últimas sete rodadas, cinco vitórias e dois empates), o Fean conseguiu o vice-campeonato neerlandês.
Claro, seria difícil pensar em classificação no grupo C: além do Valencia, vice-campeão da Champions na temporada anterior (e seria novamente em 2000/01), os adversários do Heerenveen seriam um Olympiacos mais experiente e um Lyon também no caminho para dominar o futebol francês naquela década. Previsivelmente, o clube holandês terminou na lanterna, com quatro pontos. Ainda assim, teve boas memórias daquela experiência única. Como a vitória sobre o Olympiacos, por 1 a 0. Ou o empate com o Valencia, já classificado para a segunda fase, fora de casa: 1 a 1. Valeu.
Um rival
Se o Heerenveen ainda tem apego à Frísia onde está, nada mais esperado de seu rival também estar próximo: o Cambuur, de Leeuwarden, cidade próxima a Heerenveen. Está certo que, há algum tempo, o clube alviazul está em posição superior aos Leeuwarders, que já não jogam a primeira divisão desde 2015/16. Ainda assim, quando ele ocorre, o "dérbi da Frísia" é garantia de casa cheia, em Leeuwarden e Heerenveen.
E mesmo com toda a rivalidade, o Cambuur fez questão de dar os seus parabéns ao rival pelo centenário. Mas deixou o alerta: "Até o próximo dérbi da Frísia". Quando será? Poderia ser em 2020/21, já que o clube auriazul liderava a segunda divisão. Mas a pandemia não deixou.
💯 Proficiat met het jubileum en tot snel bij de volgende Friese Derby, @scHeerenveen! #CambuurKomtEraan #GasGevuh pic.twitter.com/ZgDbU4SYzF
— SC Cambuur (@SCCambuurLwd) July 20, 2020
Gosto da matérias mas pelo celular não tá legal pra ler, pois a versão mobile não tá funcionando mais como antes. Espero que ajeite
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