A Holanda ganhou, jogou até melhor do que se pensava... mas o maior motivo de comemoração foi a volta de Eriksen à seleção da Dinamarca. Abrilhantada com um gol. Não há destaque maior (ANP) |
Antes do amistoso entre Holanda e Dinamarca, neste sábado, em Amsterdã, o jornal Algemeen Dagblad estampou na capa de seu caderno de esportes o que se esperava: "Uma noite agradável". Noite na Europa ou tarde no Brasil, de fato, ela veio. Por muitos motivos. O nível técnico que as duas exibiram em campo; uma seleção holandesa melhor do que se esperava, com intensidade e algumas ótimas atuações; e acima de tudo, o retorno de Christian Eriksen à seleção dinamarquesa, 287 dias depois da dramática parada cardiorrespiratório na Euro 2020 - melhor de tudo, um retorno com gol, um retorno para mostrar que Eriksen continua sendo, como já era, a referência técnica desta seleção danesa. A vitória foi da Laranja, por 4 a 2. Mas todos tiveram razão para comemorar na Johan Cruyff Arena.
O primeiro motivo foi destinado à seleção da casa. Aos poucos, a Oranje exibiu intensidade e fluidez até inesperadas para um time que ainda está se acostumando a atuar com três zagueiros. Com Teun Koopmeiners e Frenkie de Jong avançando (e bloqueando avanços da Dinamarca), com Steven Berghuis sendo um bom "camisa 10" como já vem sendo no Ajax, com Steven Bergwijn justificando a opção de Louis van Gaal por sua escalação ("Ele sempre joga bem comigo", justificou o técnico no pré-jogo), com Daley Blind como opção constante na esquerda, a Holanda dominou plenamente o ataque. Comprovou isso nas primeiras chances - chutes de Bergwijn, aos 11', e Memphis Depay, aos 13', ambos defendidos por Kasper Schmeichel. Na terceira, cabeceio de Bergwijn aos 16', e 1 a 0.
Aí, talvez, apareceu o único defeito mostrado pelos Países Baixos no jogo: a dificuldade da defesa nas jogadas pelo alto. Assim veio o empate dinamarquês, aos 20': Joakim Maehle aproveitou sobra de escanteio, cruzou, o estreante Mark Flekken falhou na saída do gol, e Blind foi facilmente superado por Jannik Vestergaard, que subiu para cabecear e fazer 1 a 1. Poderia ter sido um momento de preocupação. Superada porque a intensidade neerlandesa se manteve no gramado da Johan Cruyff Arena. Assim como a superioridade no ataque: também pelo alto, Nathan Aké subiu para fazer 2 a 1. As velozes trocas de passes e a pressão acuavam a Dinamarca na defesa, e assim Vestergaard derrubou Berghuis na área. Falta leve, mas falta. Na área, um pênalti. Que Memphis Depay converteu aos 38', para marcar seu 39º gol na trajetória pela seleção.
Intensa no primeiro tempo, calma e eficiente no segundo tempo: a Laranja mostrou avanços promissores (ANP) |
E aí veio o momento de maior alegria no jogo. Já bastaria só a volta de Christian Eriksen para vestir a camisa da Dinamarca, substituindo Jesper Lindstrom - além de necessitar melhorar o meio-campo, havia a inegável satisfação de ver o camisa 10 superar de novo as péssimas memórias do ano passado. Satisfação expressada por todos os presentes ao estádio, que aplaudiram Eriksen, de tantas memórias no Ajax em que despontou, há cerca de uma década. E satisfação que ganhou ares apoteóticos, quando Eriksen completou cruzamento aos 48', chutando no ângulo para fazer 3 a 2. Um gol aplaudido até por Louis van Gaal. Um gol que fez o adversário De Ligt "se arrepiar", conforme ele mesmo demonstrou numa entrevista após o jogo. Um gol que deu a certeza expressada por Eriksen: "Eu me sinto de novo um jogador". E lances como o drible e o chute na trave, aos 75', indicam que o meio-campo tem plenas condições de voltar a ser o que era antes daquele traumático 11 de junho de 2021: o melhor jogador da Dinamarca, em termos técnicos. A vida continua.
E o jogo também. Se a alegria de Eriksen foi a alegria de todos quantos acompanharam o jogo, a jogada de seu gol também rendeu alguma preocupação a Van Gaal: "No segundo tempo, nossa queda foi grande demais. (...) Os meio-campistas precisavam fazer alguma coisa, mas não fizeram. Precisam ver onde está o problema. Então, Matthijs [De Ligt] precisava cobrir o espaço, e não o fez bem". Pelo menos, para a Laranja, o susto passou rápido. O ataque voltou a ter o controle do jogo, Berghuis teve boa chance aos 53', Memphis Depay quase marcou belíssimo gol aos 62'... e em que pesasse o perigo maior que a Dinamarca trazia (tendo mais a bola, criando mais chances - como um chute de Andreas Skov Olsen, aos 66'), a Holanda ganhou de vez o controle do jogo, com o belo gol de Bergwijn, num chute colocado para ampliar de novo a vantagem.
A obra ainda está em progresso, como o capitão Van Dijk indicou em entrevista após a partida. Ainda há controvérsias sobre o esquema de jogo - o próprio Van Dijk reconheceu: "Eu prefiro o 4-3-3, mas o técnico tem uma opinião forte, e a partida mostrou por quê". Mas a Holanda teve motivos para ficar otimista com o que vem por aí. E mesmo se não os tivesse, não haveria razão para tristeza, num dia em que Christian Eriksen lembrou que está vivo. Mesmo com derrota, os holandeses comemorariam. Celebram ainda mais com a boa vitória.
Amistoso
Holanda 4x2 Dinamarca
Data: 26 de março de 2022
Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Juiz: Lawrence Visser (Bélgica)
Gols: Steven Bergwijn, aos 16', Jannik Vestergaard, aos 20', Nathan Aké, aos 29', Memphis Depay, aos 38', Christian Eriksen, aos 47', e Steven Bergwijn, aos 71'
Holanda
Mark Flekken; Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Tyrell Malacia, aos 77'); Denzel Dumfries, Teun Koopmeiners, Frenkie de Jong e Daley Blind; Steven Berghuis; Memphis Depay (Arnaut Danjuma, aos 77') e Steven Bergwijn (Donyell Malen, aos 77'). Técnico: Louis van Gaal
Dinamarca
Kasper Schmeichel; Joachim Andersen, Jannik Vestergaard (Jacob Bruun Larsen, aos 77') e Victor Nelsson; Alexander Bah (Rasmus Kristensen, aos 46'), Pierre-Emile Hojbjerg, Thomas Delaney (Christian Norgaard, aos 24') e Joakim Maehle (Philip Billing, aos 88'); Jesper Lindstrom (Christian Eriksen, aos 46') e Jonas Wild (Kasper Dolberg, aos 58'): Yussuf Poulsen (Andreas Skov Olsen, aos 44'). Técnico: Kasper Hjulmand
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