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A seleção da Holanda quer seguir as atuações promissoras que se viram dela no começo da Liga das Nações. Seria uma "homenagem" a Johan Neeskens, mais um ícone que faz falta (Stefan Koops/Eye4images/NurPhoto/Getty Images) |
Que a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) é competitiva, a Eurocopa recente já deixou claro. O objetivo nesta nova fase do trabalho é ser competitiva e jogar de modo mais ousado, que contente mais a torcida. As duas primeiras atuações na Liga das Nações indicaram um bom caminho: tanto no 5 a 2 contra a Bósnia quanto no empate em 2 a 2 com a Alemanha, o desempenho da Laranja foi satisfatório, em que pesem erros defensivos aqui e ali. É este caminho que o time nacional neerlandês quer seguir na 3ª e 4ª rodadas da Liga das Nações, nestas datas FIFA, ambas fora de casa: contra a Hungria (nesta sexta-feira, 11, em Budapeste, às 15h45 de Brasília) e contra a Alemanha (na segunda, 11, também às 15h45, em Munique).
De todo modo, todo o contexto atual ficou em segundo plano, pelo triste fato ocorrido na segunda-feira passada: a repentina morte de Johan Neeskens (1951-2024), um dos grandes símbolos do antológico time vice-campeão mundial em 1974 e 1978, que colocou o Reino dos Países Baixos no mapa do futebol mundial. O assunto dominou o futebol no país, até mais do que a apresentação dos 24 convocados - a tal ponto que o técnico Ronald Koeman começou a entrevista coletiva falando sobre ele. E falando com profundidade e emoção sobre a memória que "Nees" deixou e a falta que o ex-meia já faz: "Quando eu era garotinho, ele era o meu ídolo. Gostava muito do jeito dele jogar, como o espírito de luta dele. Além do mais, ele era um especialista em cobranças de pênaltis". Nada mais justo, para um dos melhores jogadores que já vestiu laranja, homenageado no minuto de silêncio feito por todos no gramado do centro de treinamento da federação holandesa, na cidade de Zeist, ainda na segunda.
Mas a vida precisava - e precisa - seguir. Até porque há outras questões a serem resolvidas pelo técnico da Laranja. Uma delas, envolvendo um atacante que se tornou inesperadamente relacionado com o futebol brasileiro: Memphis Depay, de chegada badalada ao Corinthians, paulatinamente virando titular para tentar ajudar o clube do Parque São Jorge a se livrar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Transferência tão incomum para um jogador holandês que causa a divisão da opinião de quem acompanhe futebol por lá sobre Memphis. Para alguns, sua ida para o Brasil - e o bom desempenho de atacantes como Joshua Zirkzee e Brian Brobbey pela Laranja nas datas FIFA de setembro - trazem dúvidas se o camisa 94 corintiano não será passado na Oranje como agora são Daley Blind (oficialmente) e Georginio Wijnaldum (provavelmente). Para outros, por mais promissores que os jovens atacantes sejam, ainda não se pode prescindir do segundo maior goleador da história da seleção neerlandesa, aos 30 anos de idade.
Ronald Koeman parece estar no segundo grupo. Se confessou completo desconhecimento do Campeonato Brasileiro quando a notícia se confirmou, na coletiva da segunda passada o técnico foi receptivo quanto às chances de Memphis voltar à seleção, embora siga sem prestar tanta atenção na Série A: "Eu vi o primeiro tempo do jogo do Corinthians [as partidas corintianas em casa no Campeonato Brasileiro são exibidas nos Países Baixos pela ESPN] no sábado passado. Já era tarde [o 2 a 2 contra o Internacional começou à meia-noite de domingo passado, no horário de Amsterdã]. então eu fui dormir. Mas foi um jogo ótimo. Memphis continua no meu radar, mas ele precisa estar em forma e ter mais ritmo de jogo".
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Memphis Depay ainda não voltou à seleção da Holanda. Ainda... (Ettore Chiereguini/AGIF) |
Se Depay ainda é uma incógnita, outros problemas parecem mais perto de solução, embora sejam pesados. Como o impacto do calendário lotado na forma dos jogadores: mesmo sem perder tantos jogadores, a convocação teve a defecção de Teun Koopmeiners, com lesão muscular sofrida na partida passada da Juventus pelo Campeonato Italiano. Joey Veerman, outro meia, sequer foi incluído, vindo de outro problema muscular. E até mesmo nomes em forma foram poupados por Koeman desta vez: "Schouten virou pai durante a Euro, foram muitos jogos em sequência. Ele estava sem condições, me explicou isso". Claro, o treinador entrou no tiroteio entre clubes e seleções sobre o calendário - alfinetando o lado clubístico, embora a Liga das Nações também não seja dos torneios mais prestigiosos para a opinião pública: "Eu fiquei contente por alguns [jogadores] dizerem que não aceitam mais isso. Se não for assim, nada acontecerá. Só existem jogos e mais jogos. Agora inventaram o Mundial de Clubes. É tudo por dinheiro".
Pelo menos, se faltam Koopmeiners e Veerman, há opções de alta qualidade no meio-campo holandês, como Tijjani Reijnders (já considerado titular absoluto da Laranja), Ryan Gravenberch (em plena recuperação de seu status, com o ótimo começo de temporada que faz no Liverpool) ou mesmo Mats Wieffer, de volta após uma lesão tirá-lo da Eurocopa ("Todos os meio-campistas aqui estão bem, preciso mostrar meu valor", reconheceu Wieffer à emissora NOS) - isso, sem contar Frenkie de Jong, começando a voltar aos campos pelo Barcelona. Na defesa, se não há o machucado Nathan Aké, há Micky van de Ven, também elogiado pelo bom começo no Tottenham ("Prefiro jogar na zaga, como jogo no Tottenham, mas posso jogar na lateral esquerda, sem problemas", tranquilizou o veloz defensor). Há Stefan de Vrij, veterano ainda presente e confiável, que pode ocupar o lugar de um Matthijs de Ligt pressionado por erros nas primeiras rodadas da Liga das Nações. E no já citado ataque da Laranja, há uma disputa de posição: escolher Brian Brobbey, que foi bem contra a Alemanha mas anda inconstante no Ajax? E Joshua Zirkzee, voltará a ter chances após bom momento contra a Bósnia?
Seja quem for o escolhido, o fato é que a Holanda deseja exibir contra Hungria e Alemanha atuações boas, como foram as de setembro. Certamente será a melhor homenagem a Johan Neeskens, que tanta falta já faz.
Os 24 convocados da Holanda (Países Baixos) para as datas FIFA
Goleiros: Bart Verbruggen (Brighton-ING), Mark Flekken (Brentford-ING) e Nick Olij (Sparta Rotterdam)
Defensores: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Lutsharel Geertruida (RB Leipzig-ALE), Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Matthijs de Ligt (Manchester United-ING), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA), Jorrel Hato (Ajax), Ian Maatsen (Aston Villa-ING) e Micky van de Ven (Tottenham-ING)
Meio-campistas: Tijjani Reijnders (Milan-ITA), Quinten Timber (Feyenoord), Ryan Gravenberch (Liverpool-ING), Justin Kluivert (Bournemouth-ING), Xavi Simons (RB Leipzig-ALE), Mats Wieffer (Brighton-ING) e Guus Til (PSV)
Atacantes: Joshua Zirkzee (Manchester United-ING), Brian Brobbey (Ajax), Cody Gakpo (Liverpool-ING), Donyell Malen (Borussia Dortmund-ALE) e Jeremie Frimpong (Bayer Leverkusen-ALE)