Passeio de bicicleta até o treino, tranquilidade, sorrisos: mesmo antes de jogos importantes, há quanto tempo não se via a seleção da Holanda assim? (Pim Ras Fotografie) |
Bem disse o jornalista Freek Jansen, da revista Voetbal International, ao falar sobre o clima na seleção holandesa antes das partidas pela Liga das Nações da UEFA, contra França (nesta sexta, em Roterdã) e Alemanha (na próxima terça, dia 19, em Gelsenkirchen): "Há um tempo, 'Laranja' era quase um palavrão para os jogadores. Agora, todos querem estar lá, todos gostam de estar lá". Fazia tempo que a Holanda não comovia tanto sua torcida quanto comoveu no 3 a 0 sobre a Alemanha, em outubro. E o clima de otimismo continua alto na Oranje para as últimas datas FIFA deste 2018.
Razões para isso, não faltam. Primeiramente, o técnico Ronald Koeman terá os 24 jogadores convocados à disposição e em forma (ao contrário da França, que viu os cortes de Paul Pogba e Anthony Martial, e da Alemanha, que não terá Marc-Andre ter Stegen, Jérôme Boateng, Julian Draxler e Mark Uth - e tem dúvidas sobre as possibilidades de Marco Reus). Depois, porque só o fato de chegar à fase decisiva no grupo 1 da Liga A ainda em condições de ganhar a vaga na fase final da Nations League já anima uma seleção que andava em baixa. Koeman falou sobre isso, numa das entrevistas coletivas: "Quando veio o sorteio dos grupos, para muitos, estávamos fadados a sermos rebaixados. Parece que há mais em jogo do que o terceiro lugar do grupo...".
Koeman aproveita a calma do centro de treinamentos da Holanda - e vai formando uma equipe entrosada (VI Images) |
De fato. Basta dizer que, mesmo se não se classificar, a Holanda tem grandes chances de se garantir como cabeça-de-chave das eliminatórias da Euro 2020. De quebra, a fase de "reformulação" parece encerrada. Koeman reconheceu: "Os jogadores já sabem o esquema, já sabem como atuar". Comemorou a calma maior oferecida pelo centro de treinamentos da federação, na bucólica Zeist: "Nós pedalamos juntos para os treinos. Todo mundo cresce junto. Isso deixa o time mais forte". Símbolo disso foram as palavras de um dos mais experientes do grupo atual, Georginio Wijnaldum: "Se os resultados não vêm, a sensação naturalmente fica ruim. Agora, a sensação é muito boa. Nota-se que estamos todos do mesmo lado, que não há mais 'grupinhos'".
Para os destaques técnicos, a própria boa fase de cada um amplia a confiança. Envolvido em oito dos últimos dez gols da Laranja, Memphis Depay confirma isso, bem que está dentro de campo (no Lyon) e fora: "Agora mostro o que acho importante, o que me deixa em paz. (...) Ainda quero ser o melhor, isso ainda está na minha cabeça, mas não vem antes de tudo. (...) E as coisas vêm juntas. Meu papel em campo também influencia isso. Não sou mais só o ponta, que joga pelos lados e vem para dentro. Ainda faço isso, mas em combinação com outras coisas. Semana passada [contra o Guingamp, pelo Campeonato Francês], eu joguei como '10', e foi ainda melhor".
Claro, ainda há coisas a resolver. Ronald Koeman, por exemplo, ainda teve de responder a perguntas sobre os porquês da convocação de Kenny Tete para a lateral direita, mesmo que Denzel Dumfries tenha ampliado as boas opiniões sobre ele, com a ótima atuação contra a Alemanha (e a sequência da boa fase no PSV): "Na minha lista de candidatos a lateral direito para a seleção, ele é, talvez, o mais completo. Todos os jogos em que atuou comigo, foi bem".
Dilrosun, o único estreante na convocação da seleção: pode estrear, mas o alarido incomoda seu técnico no Hertha Berlin (ANP) |
E há a indecisão no ataque, ainda sem um nome indiscutível (até por isso, a movimentação maior de Memphis Depay). Indecisão prejudicada pela lesão de Arnaut Danjuma Groeneveld, bem no amistoso contra a Bélgica. Restou chamar um estreante: Javairô Dilrosun, que começou bem a temporada no Hertha Berlin. Só que o húngaro Pál Dardai, técnico do Hertha, criticou a suposta precipitação: "Fico feliz pela convocação dele, mas acho que há festa demais. Se ele tivesse jogado até a pausa de inverno como fez no início, tudo bem. Mas precisa mudar muito e se desenvolver". Enquanto espera pelas perspectivas de estreia, Dilrosun só desconversou: "Continuo fazendo tudo normalmente".
Mas só o fato de Koeman ter falado mais sobre o desequilíbrio técnico no Campeonato Holandês do que propriamente justificado qualquer coisa sobre a seleção já dá uma sensação de que algo mudou na seleção holandesa. E as partidas contra França e Alemanha podem consolidar o que o capitão dos Bleus, Hugo Lloris, já reconheceu: "Acho que Holanda voltou ao mais alto nível". Quaisquer resultados que não sejam duas derrotas comprovarão isso.
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