segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Tempo ganho

A Holanda já não tinha do que reclamar na Liga das Nações. Ganhou mais um motivo para comemorar, após o tardio empate contra a Alemanha (ANP)
Mesmo depois da vitória categórica sobre a França, era importante que a seleção da Holanda não perdesse de vista sua real perspectiva na Liga das Nações da UEFA. Por mais que a reação tivesse sido comprovada, por mais que a classificação às semifinais fosse possível, não ser rebaixada em seu grupo (e isso a Laranja não seria) já era um desempenho digno. A atuação ruim, em boa parte do jogo contra a Alemanha, deixava claras as limitações holandesas. Só que a equipe fez um gol, a cinco minutos do fim. Apostou no "abafa" puro e simples. E deu certo: a Laranja conseguiu chegar às semifinais do torneio europeu de amistosos.

Pelo que se viu durante 85 minutos da partida na Veltins Arena, alcançar o lugar entre os quatro semifinalistas seria bem difícil. Por problemas físicos de Denzel Dumfries e Steven Bergwijn (o atacante chegou até a sentir dores no tornozelo), Ronald Koeman preferiu poupar os dois, levando Kenny Tete a ser o lateral direito titular, com Quincy Promes indo para o ataque. Já no primeiro minuto de jogo, já dava para notar que os cansaços físico e mental tornavam a Holanda um time pior: Joshua Kimmich lançou, e Thilo Kehrer chutou por cima da meta defendida por Jasper Cillessen, perto do gol.

Para tentar diminuir o ritmo do jogo em seu início, a Laranja preferia trocar passes quando tinha a bola nos pés. Era a única solução para evitar que a Alemanha fosse eficiente e veloz, em seu esquema com três zagueiros, apostando na velocidade pelos lados - tanto o direito, com Kimmich e Kehrer, quanto o esquerdo, com Serge Gnabry e Nico Schulz. Bastou um lançamento alto de Kimmich, bem desviado por Gnabry, para Timo Werner ter espaço e arriscar um chute forte, no canto direito de Cillessen (que talvez pudesse estar melhor posicionado). Era o 1 a 0 de que a Alemanha precisava. Em vantagem, a Mannschaft fez da defesa holandesa o que quis, com rápidas trocas de passes. 

Promes não conseguia acompanhar Toni Kroos, e o meio-campista tinha espaço para desenvolver jogadas com Gnabry e Schulz, sobrecarregando Tete. Com boa marcação, nem Frenkie de Jong nem Georginio Wijnaldum tinham espaço para arriscar qualquer coisa. De quebra, a lentidão holandesa na defesa era visível, conforme Virgil van Dijk reconheceu: "Não deu certo para nós, não conseguíamos marcar por pressão. Nos gols deles, sempre estávamos um passinho atrás". Foi exatamente assim no gol de Leroy Sané, aos 20 minutos: o atacante saiu facilmente da marcação de Matthijs de Ligt, e nem mesmo o atraso no domínio da bola o impediu de finalizar no canto esquerdo de Cillessen - ainda com desvio em Tete.

A Alemanha abriu o placar rapidamente, com Werner. E comandou o jogo tranquilamente, por 85 minutos. Depois disso... (AFP)
Só mesmo por acaso a Holanda quase conseguiu marcar - aos 34', um cruzamento de Daley Blind foi afastado por Niklas Süle, mas o zagueiro mandou a bola acidentalmente no travessão ao interceptar a jogada. De resto, a Alemanha mandou. Poderia ter feito 2 a 0 antes mesmo de fazê-lo, aos 11', num chute de Werner que desviou em Van Dijk. Ou depois, aos 30', num arremate de Gnabry que Cillessen pegou. Ou aos 37', em finalização de Sané que desviou em De Ligt. Ou aos 40', num cabeceio de Gnabry para fora. Não importava: os alemães impunham seu ritmo, como havia muito não faziam. O desgaste holandês ficou claro na lesão muscular de Ryan Babel, que o tirou do jogo antes mesmo do final do primeiro tempo.

Javairô Dilrosun estreou pela seleção holandesa, veio o intervalo, começou o segundo tempo... e nada mudava. A Alemanha mantinha a vantagem sem grandes problemas, e a Holanda parecia cansada. As entradas de Thomas Müller e Marco Reus, nos germânicos, e de Luuk de Jong e Tonny Vilhena, nos visitantes, pareciam dar um ar de amistoso na acepção da palavra. Parecia não haver muita coisa mais para mudar o rumo da partida. Nas raras tentativas de gol, o time da casa parecia até mais perto de fazer 3 a 0.

Até que, aos 33 minutos do segundo tempo, Memphis Depay tentou o que vinha tentando desde o começo: jogadas individuais. Daquela vez, quase deu certo: o camisa 10 passou por três jogadores, chegou à grande área pela esquerda e forçou Manuel Neuer a fazer uma boa defesa. Era um despertar. Aos poucos, a Holanda começava a apelar para os cruzamentos e bolas altas, tentando aproveitar a qualidade de Luuk de Jong no jogo aéreo. Mas parecia infrutífero.

Parecia. Porque, após 85 minutos de superioridade alemã, após escanteio, Vilhena tocou, Luuk de Jong ajeitou com o pé esquerdo e Promes, da entrada da área, chutou colocado, no canto esquerdo de Neuer, para fazer o primeiro gol holandês. A derrota já era honrosa - e seria ainda mais se terminasse daquele jeito. Só que a comissão técnica holandesa pensou diferente: logo que o placar ficou em 2 a 1, os auxiliares fizeram um bilhete querendo mudar o esquema da Laranja para o "abafa". Frenkie de Jong ficaria na defesa, e Van Dijk seria mais um "atacante", ao lado de Luuk de Jong, enquanto Tete e Promes cruzariam mais e mais para a área alemã. Ronald Koeman apelou para o bilhete, como falou à televisão: "Eu recebi o bilhete de Dwight Lodeweges [auxiliar], mas não sabia o que estava escrito lá. Claro que conversei com Dwight e Kees van Wonderen [outro auxiliar] sobre táticas eventuais para o jogo, e que talvez viesse uma pressão no final. Mas com 2 a 0, eu não queria fazer nada, senão seria 4 ou 5 a 0 para a Alemanha. Com 2 a 1... sim".

A Alemanha até mesmo teve uma chance aos 87' (chute de Goretzka, para fora). Mas o que aconteceu? Ao contrário de tantas vezes em que a tática improvisada deu errado, deu certo: no último minuto, Vilhena cruzou. Luuk de Jong escorou. E Virgil van Dijk deu mais uma razão para ser incensado como o melhor zagueiro europeu da atualidade: finalização no canto esquerdo de Neuer, para um 2 a 2 tão injusto quanto emocionante, levando a Holanda a uma semifinal de Liga das Nações que ela não esperava.

Van Dijk: imponente na zaga, no gol, na comemoração (AFP)
Só restou ao time repetir os clichês de resultados conseguidos dramaticamente. Van Dijk começou: "Mostramos caráter. No intervalo, dissemos que precisávamos mostrar algo, precisávamos ter a revanche". Frenkie de Jong continuou: "É uma sensação ótima. No primeiro tempo, não tivemos controle nem resposta ao jogo deles, mas depois conseguimos, e avançamos mais e mais". No entanto, mais do que o resultado, a Holanda deve comemorar o que ganhou. Antes mesmo do jogo contra a Alemanha começar, a Laranja sabia: ganhou com esta Liga das Nações um time e um estilo de jogo confiáveis. Vergonha, já não passaria. Até mesmo a má atuação mostrou o que precisa ser melhorado. E a Holanda terá a chance de comprovar isso na semifinal da Liga das Nações. De qualquer modo, a seleção holandesa ganhou tempo para continuar sua reação.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Alemanha 2x2 Holanda
Local: Veltins Arena (Gelsenkirchen)
Data: 19 de novembro de 2018
Árbitro: Ovidiu Hategan (Romênia)
Gols: Timo Werner, aos 9', e Leroy Sané, aos 20'; Quincy Promes, aos 85', e Virgil van Dijk, aos 90'

Holanda
Jasper Cillessen; Kenny Tete, Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Daley Blind; Marten de Roon, Frenkie de Jong e Georginio Wijnaldum (Tonny Vilhena); Quincy Promes, Ryan Babel (Javairô Dilrosun) (Luuk de Jong) e Memphis Depay. Técnico: Ronald Koeman

Alemanha
Manuel Neuer; Antonio Rüdiger, Mats Hummels e Niklas Süle; Thilo Kehrer, Joshua Kimmich, Toni Kroos, Serge Gnabry (Leon Goretzka) e Nico Schulz; Leroy Sané (Thomas Müller) e Timo Werner (Marco Reus). Técnico: Joachim Löw

3 comentários:

  1. Concordo com sua análise Felipe. Foi realmente de lavar a alma aquele gol nos minutos finais. Koeman mexeu bem no time.Jogamos muito contra a França e era natural um relaxamento diante de uma seleção já eliminada e o próprio cansaço da equipe, depois da batalha que foi o último jogo, quando o time jogou focado e no limite. Acho que os dois gols que tomamos eram defensáveis, mas Cilessen se manteve confiante e passou isso para o time. Agora é esperar o adversário na semi e torcer pelo Ajax na Champions! Obrigado pelo espaço dedicado à celebrar a Laranja!

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  2. Estava assistindo a partida e confesso - pelo desempenho apresentado pela seleção da Holanda até pouco depois dos 70 minutos de partida - que não acreditava numa reação como a que aconteceu. O futebol é fantástico e hoje os Deuses do futebol estiveram vestidos de laranja.

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  3. Essa foi difícil Felipe e chega ser inacreditável! Alemanha dominante em grande parte do jogo, onde chegou a abrir 2 x 0 de vantagem, mas pela grande campanha da Holanda nesta primeira edição de Liga das Nações, o empate em forma de recompensa viera aos 45 do 2º tempo com o incrível gol do zagueiro de Van Dick, o que verdadeiramente nos trouxe um grande alívio. Esperamos agora que com essa parada da Nations League, a qual será decidida no início de junho de 2019, R.Koeman possa manter o mesmo estilo de jogo praticado nos 3x0 contra a Alemanha e nos 2 x 0 recentemente contra a França, e que por hora a Holanda venceu e convenceu, jogou como manda o estilo holandês, envolvendo o adversário e criando assim várias oportunidades de gols.Esta é a Holanda que queremos ver e que esse susto contra os alemães possa seguir de exemplo para uma caminhada que promete muito da Holanda de Koeman com a grande possibilidade de título da Nations League 2018-2019 e a classificação para a Euro 2020 que os holandeses tanto buscam.O que de fato já será um grande resultado de Koeman após um ano no comando da Orange, onde também teremos a volta do respeito ao futebol holandês no cenário internacional.

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