Frank de Boer já comanda os treinos com os convocados da seleção holandesa masculina. Muita gente acha que ela deveria ser mais jovem... (ANP) |
A seleção masculina da Holanda (Países Baixos, como queiram) deveria boicotar a Copa de 2022.
Pelo menos é a ideia defendida por alguns deputados e algumas organizações em defesa dos direitos humanos, em razão de matéria publicada pelo jornal inglês The Guardian, em fevereiro, sobre os maus tratos e as mortes que operários migrantes no Catar têm sofrido, durante as obras de preparação para os estádios, no país-sede do Mundial. Porém, a federação holandesa já afastou a possibilidade de pensar na ideia, com uma nota publicada no domingo passado. E a Laranja começará mesmo seu caminho nas eliminatórias da Copa, nesta quarta-feira, com uma tarefa difícil: enfrentar a Turquia, em Istambul, às 14 horas de Brasília, logo na primeira rodada. Na segunda rodada, no próximo sábado, a Letônia será a adversária na Johan Cruyff Arena (num estádio que estará aberto a 5 mil pessoas, em teste dos Países Baixos para ver se os jogos já podem voltar a receber um público diminuto); e na terça, dia 30, a Oranje enfrentará Gibraltar.
No mesmo dia da estreia nas eliminatórias da Copa adulta, porém, torcedores e imprensa de futebol deixarão o olhar atento também para um jogo que ocorrerá na mesma quarta, às 17h de Brasília, em Budapeste, a capital da Hungria. Lá, a seleção sub-21 da Holanda marcará seu retorno a uma Euro de jovens, enfrentando a Romênia, no primeiro jogo da fase de grupos, reservada para estas datas FIFA de março - se avançar ao mata-mata da Euro sub-21, a "Laranja Jovem" só voltará a jogar em junho, na Eslovênia. E a "Jong Oranje" merece atenção: tanto pela ansiedade natural de um retorno ao principal torneio das seleções europeias para jovens (desde 2013 não estava nele), quanto pela impressão de que o técnico Erwin van de Looi tem à disposição uma geração muito promissora, na qual muitos nomes já poderiam estar - alguns até já estiveram - nas convocações de Frank de Boer.
Mas a Laranja dos adultos também merece sua atenção. Quando nada, porque a própria Euro que ela disputará já está batendo à porta. Além do mais, embora a relação de 24 convocados tenha sido relativamente semelhante às anteriores, ela trouxe algumas novidades - e algumas discussões. Problemas, mesmo, só um: na zaga. Ainda em recuperação do ligamento cruzado anterior rompido no joelho direito, Virgil van Dijk era ausência sabida - e deverá fazer falta na Euro também. Até aí, tudo bem: Stefan de Vrij faria parceria com Matthijs de Ligt. Porém, De Vrij testou positivo para o coronavírus na semana passada, e se tornou mais uma ausência na convocação de Frank de Boer. Restou apenas uma alternativa entre os titulares: repetir na seleção a zaga que se conhece do tempo do Ajax, com De Ligt reencontrando Daley Blind, recuperado de problemas musculares. Outro problema surgiu na lateral esquerda: com Nathan Aké lesionado, novamente ficará a dúvida entre Patrick van Aanholt e Owen Wijndal - nenhum dos dois, defensivamente forte. Como está melhor no AZ, Wijndal deverá ser titular, como já fora nas últimas rodadas na Liga das Nações.
Stekelenburg (à direita) voltara ao Ajax para ser reserva. Mas Onana foi suspenso, ele pegou ritmo no Ajax, agradou... e o veterano retornou à seleção (ANP) |
Stekelenburg, a volta do que já parecia passado
E a defesa também trouxe a novidade mais debatida da convocação. Mais precisamente, no gol (houve outra, é verdade: Jeremiah St. Juste, zagueiro estreante na seleção, atuando pelo Mainz-ALE). Certo, Jasper Cillessen, enfim recuperando algum ritmo de jogo no Valencia, e Tim Krul eram nomes previsíveis, como devem ser na Euro. Porém, o terceiro goleiro relacionado chamou atenção. Habitual escolhido, Marco Bizot continua bem no AZ, recuperando-se de um começo inconstante de temporada e tendo atuações que justificam o apelido de "Muro" que a torcida do clube de Alkmaar lhe dá. Porém, no Ajax, a suspensão de André Onana - um ano, por doping - fez com que Maarten Stekelenburg, 38 anos (faz 39 em setembro), tivesse de cumprir o papel pelo qual voltara a Amsterdã: se comprovar uma opção experiente e segura no gol. Stekelenburg comprovou isso, nas partidas que já fez.
A ponto de Frank de Boer decidir deixar Bizot de lado, na reta final rumo à Euro, e trazer o veterano de volta, quatro anos depois de sua última convocação para a Laranja. A Bizot, restou a preocupação de se ver fora da Euro, após três anos de frequentes chamadas à seleção - e até uma atuação, no amistoso contra a Espanha, no ano passado. Preocupação que ele expressou após a vitória do AZ no fim de semana passado, à emissora NOS, informando que já tinha sido avisado: "O próprio Frank [de Boer] me ligou. Ele me disse que gostaria de chamar Stekelenburg. Lógico que é chato, mas tenho de aceitar e fazer meu trabalho". E o convocado da vez, embora chegue atrás de Cillessen e Krul na hierarquia, tem a seu favor a experiência de duas Copas e duas Euros pela seleção - uma de cada, como titular. Até por isso, o reabilitado Stekelenburg falou esperançoso em voltar a ser o titular, após a convocação: "Não estou voltando à seleção para tirar férias".
Weghorst, a ausência que traz alguma pressão
Se a defesa trouxe uma novidade, o ataque trouxe um problema para Frank de Boer, na convocação. Não, não é Ryan Babel: nem adiantam as reclamações de torcedores e as críticas da imprensa, porque o atacante de 34 anos vai à Euro. Babel agrada os técnicos pela experiência, pela disposição em jogar onde lhe pedem, pela imagem que tem no grupo (Frank de Boer falou no ano passado: "Numa convocação, você precisa de 16 jogadores que podem ser titulares e seis que aceitem seu papel e se esforcem para manter o resto ligado. Babel é um desses jogadores"). O problema foi Frank ter escolhido Luuk de Jong como um dos atacantes reservas, em detrimento de Wout Weghorst.
Após ter "acordado" e ser decisivo na reta final da Liga Europa passada, que terminou com mais um título do Sevilla em que joga (e pelo qual fez gol na final, inclusive), Luuk voltou a perder espaço no time espanhol, ficando no banco por jogos a fio. Já Weghorst só não é o melhor atacante do Campeonato Alemão porque tem um nome chamado Erling Haaland e outro chamado Robert Lewandowski à sua frente. De resto, o jogador do Wolfsburg tem 16 gols, é a principal referência ofensiva dos Lobos, colocou mais vezes a bola na casinha do que qualquer outro convocado da seleção - Donyell Malen, quem mais fez gols, fica nos 15 marcados pelo PSV no Holandês.
O próprio Weghorst já nem disfarça mais sua insatisfação: na rodada passada da Bundesliga, após marcar na vitória do Wolfsburg, lamentou ("Estou decepcionado e não tenho vontade de falar sobre isso"). Por outro lado, se Luuk de Jong não é lá dos mais técnicos, Weghorst também é mais um "homem-gol" para as horas em que for necessário. Além do mais, é justo dizer que o atacante do Wolfsburg tem sido deixado de lado desde os tempos de Ronald Koeman - ao contrário de De Jong, convocado regularmente há muito tempo. A coerência que talvez esteja faltando a De Boer no gol, onde trocou Bizot por Stekelenburg, está presente na continuação de Luuk de Jong como opção a Memphis Depay e Donyell Malen, os outros titulares.
Os 23 convocados da seleção sub-21 para a Euro da categoria: nomes como Stengs e Gravenberch já fizeram a transição. Outros poderiam tê-la feito... (KNVB Media) |
Qual Euro? Sub-21 ou adulta?
Todavia, é outro atacante, Calvin Stengs, o símbolo de mais um tema que tem sido discutido nessas datas FIFA: jogadores que disputarão a Euro sub-21, mas que poderiam ser convocados para a seleção adulta - e os critérios para tanto. Nomes como Stengs, o supracitado Wijndal e Ryan Gravenberch foram nomes frequentes na Laranja Jovem durante as eliminatórias da Euro, mas já receberam chances de Frank de Boer, já agradaram, e já parecem destinados à Euro adulta.
Mais nomes poderiam ser parte dessa lista, segundo quem acompanha as seleções holandesas. Como Teun Koopmeiners e Myron Boadu, que ficaram na Euro sub-21 desta vez. Na apresentação para o torneio continental, Koopmeiners (destaque do AZ nesta temporada) reconheceu, à revista Voetbal International: "Eu gostaria de estar na seleção adulta. Mas tivemos uma conversa com Frank de Boer, ela foi muito boa, e entendemos bem as razões".
Ainda assim, a seleção sub-21 da Holanda merecerá tanto destaque quanto a principal terá, em seu caminho para tentar voltar a uma Copa do Mundo. Com muita gente esperando que os jovens da Jong Oranje envelheçam rapidamente, para poderem ajudar a adulta a conseguir essa meta.
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