domingo, 14 de novembro de 2021

Quem confia?

Mesmo jogando mal, a Holanda conseguia aproveitar a ajuda do destino, e garantia lugar na Copa. Mas as falhas tiveram punição cruel contra Montenegro. E a tensão aumentou (ANP)

O destino estava ajudando. Antes mesmo da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) entrar em campo pelas eliminatórias da Copa de 2022, a Noruega - principal concorrente por vaga no Mundial - apenas empatara com a Letônia (0 a 0). Se ganhasse de Montenegro, a Laranja garantiria um lugar no torneio. Mesmo jogando mal, o time holandês conseguia isso. Todavia, os erros causaram o pior efeito possível, na pior hora possível: nos dez minutos finais, os montenegrinos empataram. E a Oranje fracassou ao tentar antecipar sua tarefa. Terá mesmo de decidir um lugar na Copa contra os noruegueses, na próxima terça, sem público em De Kuip. De certa forma, escolheu passar pelo drama.

A bem da verdade, tal escolha já estava delineada desde que a partida em Podgorica começou. Porque os neerlandeses tinham seríssimas dificuldades em criar jogadas contra um time da casa muito bem compactado: compensava ausências como as de Stevan Jovetic e Adam Marusic com cinco na defesa e quatro no meio-campo, fechando espaço para tabelas. De quebra, alguns nomes tinham má atuação - principalmente pelo lado direito, onde Denzel Dumfries deixava muitos espaços, e Donyell Malen não conseguia ser rápido nas tabelas. Restava a Virgil van Dijk e Stefan de Vrij, a dupla de zaga, trocarem passes - e quando erravam, Montenegro estava a postos para assustar. Como aos 17': Van Dijk e o goleiro Justin Bijlow se desacertaram, e Vladimir Jovovic chutou na rede pelo lado de fora.

A Oranje só se aliviou porque, aos 25', Marko Jankovic derrubou Davy Klaassen exatamente na linha de entrada da área. Como fora na vitória holandesa sobre os montenegrinos (4 a 0 em Eindhoven), Memphis Depay abriu o placar chutando da marca da cal. E aí, a Holanda pôde respirar um pouco mais - quase Arnaut Danjuma (de atuação esforçada, pelo menos) fez 2 a 0, aos 36', chutando rente à trave. Mas mesmo em vantagem, os visitantes continuavam com lentidão exagerada. E os anfitriões alertavam, como em perigoso chute de Jankovic que Bijlow espalmou, aos 39'.

Se a Holanda queria ficar um pouco mais tranquila, precisava de um gol. Ele veio, num dos raros momentos em que o time circulou a bola com velocidade: aos 54', Danjuma inverteu a jogada, Dumfries cruzou, Memphis finalizou de letra para o 2 a 0 (seu 37º gol pela seleção masculina, igualando Dennis Bergkamp e Arjen Robben como o quarto maior goleador da história dela). Aí, e só aí, a Holanda experimentou alguma tranquilidade. Saíram nomes como Frenkie de Jong, com dores leves no tornozelo, e Georginio Wijnaldum, também sem forma total após o mal estar do meio de semana. Em três minutos, já na reta final, Steven Bergwijn (76') e Denzel Dumfries (78') chutaram para  Stefan Savic bloquear, além de Stefan de Vrij cabecear para fora. Mesmo lenta, a Holanda já parecia até se sentir na Copa. Poucas coisas poderiam dar errado.

Memphis Depay fez o possível: com dois gols, avançou na lista de goleadores históricos da seleção. O que não quer dizer que sua atuação foi perfeita (Getty Images)

Mas deram. Porque, mesmo na frente do placar, a  Holanda seguia lenta e preciosista demais, sem intensidade. Porque tanto Teun Koopmeiners quanto Ryan Gravenberch, substitutos respectivos de Wijnaldum e De Jong no ataque, deixavam espaços. E porque Montenegro foi ao ataque com algumas alterações, acelerando o jogo. Isso começou a ser visto aos 82', quando Ilija Vukovic (um reserva que entrara) escapou da marcação de Koopmeiners, driblou Bijlow e diminuiu a vantagem. Impacto que pesou para os holandeses. Eles precisariam se cuidar mais. Não o fizeram. Aos 86', o castigo: cruzamento da esquerda, após mais uma falha defensiva de Dumfries. Desatenção e lentidão de Daley Blind na área. E Nikola Vujnovic, outro avante vindo da reserva, o superou e cabeceou, para o empate.

A soma de todas as falhas holandesas tinha um duro castigo. Tão repentino que Louis van Gaal assumia "não poder explicar" o que acontecera nos últimos dez minutos. Se a pressão antes destas rodadas das eliminatórias era tranquila, ela se tornara subitamente recheada de desconfianças. Certo: falando friamente, a situação da Holanda ainda tem boas possibilidades. Em De Kuip, na terça, bastará a vitória sobre a Noruega para estar na Copa. Nem mesmo o empate é ruim: para tomar a primeira posição do grupo G, neste caso, a Turquia precisaria reverter uma desvantagem de 13 gols no saldo (+23 da Holanda contra +10), ao pegar Montenegro.

Mas depois de uma queda tão repentina, depois de tanta inconstância... quem confia na Holanda?

Eliminatórias para a Copa de 2022 - Europa
Montenegro 2x2 Holanda
Data: 13 de novembro de 2021
Local: Gradski Stadion/Podgoricom (Podgorica)
Juiz: Carlos del Cerro Grande (Espanha)
Gols: Memphis Depay, aos 25' e aos 54', Ilija Vukotic, aos 82', e Nikola Vujnovic, aos 86'

Montenegro
Matija Sarkic; Marko Vukcevic, Igor Vujacic, Stefan Savic, Zarko Tomasevic (Milos Raickovic) e Risto Radunovic; Vladimir Jovovic (Nikola Vujnovic), Marko Jankovic (Drasko Bozovic), Milutin Osmajic e Sead Haksabanovic (Ilija Vukotic); Uros Djurdjevic (Fatos Beciraj). Técnico: Miodrag Radulovic

Holanda
Justin Bijlow; Denzel Dumfries, Stefan de Vrij (Matthijs de Ligt), Virgil van Dijk e Daley Blind; Georginio Wijnaldum (Teun Koopmeiners), Frenkie de Jong (Ryan Gravenberch) e Davy Klaassen; Donyell Malen (Steven Bergwijn), Memphis Depay e Arnaut Danjuma (Noa Lang). Técnico: Louis van Gaal


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