A seleção feminina da Holanda bem que se esforçou, no Torneio da França. Mas saiu dele como entrou: um time ainda pouco confiável (ANP) |
Ao partir para as datas FIFA deste mês de março, o técnico Mark Parsons deixava claro: vinda de atuações inconstantes nas eliminatórias da Copa de 2023, sem dar confiança à torcida, a seleção feminina da Holanda passaria por muitos testes no Torneio da França - e dele deveria sair com um time relativamente pronto para os próximos jogos: três pela qualificação e, principalmente, a Euro 2022. Bem, após as três partidas que renderam uma segunda posição às Leoas Laranjas, alguns passos foram dados. Mas é impossível dizer que a situação mudou substancialmente. Assim como a desconfiança sobre as Leoas Laranjas continua inalterada...
E continua inalterada, principalmente, por causa dos problemas contínuos do time. As perdas causadas por protocolos anticovid (que tiraram do torneio pelo menos duas titulares absolutas, Dominique Janssen e Jill Roord) impactaram na equipe. Mais precisamente, na defesa. Mais precisamente ainda, nas laterais: nos dois jogos em que a escalação considerada "titular" foi colocada, contra Brasil e França, os lados foram a principal fragilidade neerlandesa. No empate em 1 a 1 contra a Seleção Brasileira, tanto Kerstin Casparij, pela direita, quanto Merel van Dongen, pela direita, tiveram dificuldade para conter Debinha e Geyse, nos contragolpes, ou Kerolin e Ary Borges, nos avanços pelas pontas. A mesma coisa se viu na derrota por 3 a 1 contra a França, no jogo final. Pelo menos, na esquerda, onde Van Dongen novamente foi presa fácil para uma atacante rápida - no caso, Kadidiatou Diani. Além disso, no miolo de zaga, se Stefanie van der Gragt foi inegavelmente esforçada, Aniek Nouwen voltou a mostrar lentidão e desatenção.
Lentidão e desatenção que vieram, por sinal, desde o meio-campo. Afinal de contas, o poder de marcação do setor esteve prejudicado pela falta de ritmo de Jackie Groenen (jogou mal contra o Brasil, foi um pouco melhor contra a França) e pela maior dificuldade de Sherida Spitse em acompanhar as adversárias. E no ataque, se Vivianne Miedema se esforçou mais contra a marcação adversária, Lieke Martens mostrou outra vez dificuldades para escapar das zagas. Tentando criar jogadas - afinal, tanto Daniëlle van de Donk quanto Jill Roord estavam ausentes -, Victoria Pelova fez o possível, mas não avançou tanto quanto costuma fazer no Ajax.
Então a Holanda passou vergonha? Claro que não. Houve pontos positivos. Se tem mais dificuldades para marcar, Spitse seguiu justificando sua escalação com a liderança natural que impõe ao time e sua capacidade em lançamentos - foi assim que criou a jogada do gol contra o Brasil. Escalada como titular nas duas partidas (afinal, além da cortada Roord, Shanice van de Sanden estava lesionada), Lineth Beerensteyn é a única das 27 convocadas a poder dizer que só saiu ganhando: foi veloz na ponta-direita, fez gols contra as duas adversárias mais respeitadas, mostrou que pode muito bem ser titular.
Van Diemen, Dijkstra, Baijings, Van Dooren, Snoeijs... as convocadas mais novas aproveitaram bem a chance no amistoso contra a Finlândia (KNVB Media) |
E houve, claro, a boa atuação no "jogo-treino de luxo" contra a Finlândia. Na vitória por 3 a 0, com dez reservas tendo a sua chance no time titular, alguns nomes foram plenamente aprovados por Mark Parsons - "aproveitaram sua chance", como o técnico anglo-americano elogiou depois da vitória. Na lateral direita, Samantha van Diemen se mostrou bastante promissora, com dois cruzamentos para dois gols. Caitlin Dijkstra mostrou versatilidade, sabendo se alternar entre meio-campo e defesa - tanto que foi escalada para a lateral direita contra a França, já uma espécie de "promoção" dentro do grupo. Estreando na seleção, Kayleigh van Dooren também mostrou talento e dinamismo na armação. E Katja Snoeijs, tendo mais uma chance no centro do ataque, a aproveitou bem, com dois gols, ganhando importância na disputa para ser a reserva imediata de Miedema.
Tantas novatas indicaram mais duas coisas importantes. A primeira, um cumprimento de promessa de Mark Parsons: dar mais espaço a nomes que jogam no Campeonato Holandês. O próprio técnico reconheceu, alegre: "A distância entre a Eredivisie e os times nacionais ficou menor". A segunda: jogadoras mais experientes já sabem que terão uma nova geração para ajudar nos próximos tempos. Mesmo sem aparecer bem, Lieke Martens reconheceu ao diário De Telegraaf que precisará desenvolver uma nova faceta: "Sempre tento aparecer com meu jogo, mas não sou uma líder por natureza. Mas quando há tantos cortes [na convocação original], é hora de aparecer. Tenho experiência e quero usá-la".
Será importante usá-la nos próximos jogos. Mais do que isso: será importante a Holanda mostrar um pouco mais de intensidade nos importantes compromissos que vêm por aí. Mark Parsons até comentou à ESPN holandesa: "Queria usar este torneio para desenvolver o time e ver diversas jogadoras em ação, e consegui". As jogadoras são só elogios ao ambiente - Van Dongen comentou, ao diário Algemeen Dagblad: "Parsons "trabalha muito, e faz isso por nós (...) Ele acha importante saber como estamos enquanto pessoas, não só como futebolistas". Mas de nada adianta isso sem os resultados virem. Nem uma mudança de postura.
E nada disso veio. A Holanda saiu do Torneio da França na mesma: como um time aparentemente em reconstrução. Que tem um nível técnico razoável, mas que parece abaixo das condições para repetir o que já conseguiu.
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