De nada adiantou um time do Ajax com revelações mais estabelecidas, com as experientes Stefanie van der Gragt e Sherida Spitse a lhes guiarem. De nada adiantou o PSV achar que, dessa vez, iria, com uma base mantida em relação ao ano passado. De nada adiantou o Feyenoord surgir como uma boa surpresa, com um time até firme e digno. O Twente continuou muito regular em relação aos seus concorrentes, continuou com jogadoras de mais destaque... e continua dominando o Campeonato Holandês feminino, como tricampeão (2018/19, 2020/21 e, agora, 2021/22) que se tornou. No entanto, a campanha do título ganho nesta sexta-feira - com triunfo sobre o concorrente direto Ajax, 3 a 2 na última rodada, de virada - tem um gosto que as anteriores não tinham: um reconhecimento concreto. Ele vem na forma de convocações para a seleção feminina da Holanda.
Como raramente ocorria nos tempos de Sarina Wiegman, já há mais espaço para jogadoras que atuem na Vrouwen Eredivisie - é, aliás, um fator de certo orgulho para o treinador atual das Leoas Laranjas, Mark Parsons. E o Twente fez por merecer isso. E o exemplo a ser mais citado nem seria Fenna Kalma, melhor jogadora do campeonato, incríveis 33 gols em 24 jogos, mas que só foi chamada por Parsons uma vez, sendo mais relacionada para a seleção sub-23. Em termos da vinculação do time de Enschede com a seleção, o símbolo mais claro é Renate Jansen. A capitã dos Tukkers segue confiabilíssima, titular absoluta da equipe, atacante tão garantida quanto a parceira Kalma (17 gols em 24 jogos). E a experiência dos 31 anos, que a tornam capacitada para ajudar o time em termos táticos (Jansen foi quem mais passes para gol deu em toda a temporada: 12 gols), também a faz presença certa na seleção: Renate segue como uma das convocadas por Mark Parsons no ataque, e deverá estar na Euro feminina que vem aí.
"Fé na Kalma": a atacante (à direita) viveu uma grande temporada - e nem teve muitas chances na seleção principal, ainda (FC Twente Vrouwen/Twitte) |
Assim como várias outras jogadoras do campeão. A goleira Daphne van Domselaar, a lateral direita Kerstin Casparij, a zagueira Caitlyn Dijkstra, a volante Marisa Olislagers, a meio-campista Kayleigh van Dooren: todas foram preponderantes na campanha do título, todas tiveram presença em convocações recentes da seleção, todas têm chances de estarem na Euro. Sem contar jogadoras mais experientes, como Kika van Es, que deixará o Twente com dois títulos holandeses. Foi esta a base que o técnico Robert de Pauw teve, para fazer uma campanha invejavelmente consistente.
Enquanto o PSV escorregava para uma campanha decepcionante, enquanto o Ajax tropeçava quando não podia (com direito até a sofrer goleada para o Feyenoord, no primeiro "Klassieker" da história do futebol feminino - 4 a 1), o Twente empilhava vitórias sobre os frágeis Heerenveen, VV Alkmaar e Excelsior. Sobre ADO Den Haag e Zwolle, que se uniram ao Feyenoord como "melhores do resto". E até sobre os outros dois grandes. A última vez em que o time de Enschede saiu de campo sem ao menos um ponto no Campeonato Holandês das mulheres foi num longínquo 26 de setembro de 2021 (PSV 2 a 1, na quarta rodada). De lá até a 24ª partida, a final, três derrotas e 17 vitórias. Campanha tão dominante que o título foi "oficiosamente" comemorado já na penúltima rodada - 3 a 0 sobre o Feyenoord: afinal, à vantagem de três pontos para o Ajax ainda se acrescentava uma inalcançável superioridade no saldo de gols (+68 a +49).
Mas a atenção dada a jogadoras holandesas que atuassem no campeonato nacional para convocações à seleção não ficou restrita ao Twente. O Ajax também teve muitos nomes despontando para Mark Parsons chamar. Talvez a segunda melhor jogadora da temporada, segunda goleadora da Vrouwen Eredivisie, destaque no título da Copa da Holanda, a atacante Romée Leuchter foi grata revelação do vice-campeão. Nomes já conhecidos das Ajacieden também começaram a vestir laranja: a ala Lisa Doorn e a atacante Chasity Grant tiveram suas chances, para nem falar de Victoria Pelova, vivendo bom momento na carreira. O PSV, num distante 3º lugar, com várias veteranas jogando (uma delas, Desirée van Lunteren, encerrando a carreira) e outras para chegar (Kika van Es, Inessa Kaagman) teve nomes neerlandeses a serem elogiados, na lateral esquerda Janou Levels e na atacante Esmee Brugts. E até o Feyenoord, na primeira temporada da história de seu time feminino, revelou uma defesa firme, com a goleira Jacintha Weimar e a lateral Samantha van Diemen.
Só que todos esses clubes, embora se destacando aqui e ali, foram coadjuvantes. A temporada foi do Twente, de novo. E agora, o prêmio ao tricampeão holandês vai além da salva de prata que Renate Jansen novamente ergueu.
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