segunda-feira, 23 de maio de 2022

O Feyenoord campeão da Copa da UEFA 2001/02: um conto de fadas

O Feyenoord que foi em busca do sonho realizado, ganhando a Copa da UEFA 2001/02 com final em De Kuip. Em pé: Kalou, Rzasa, Van Hooijdonk, Tomasson, Van Persie e Zoetebier. Agachados: Gyan, Ono, Bosvelt, Paauwe e Van Wonderen (Martin Rose/Bongarts/Getty Images)

Ganhar um título é sempre bom. Ganhar um título em casa é ainda melhor. E quando, no caso europeu, a coincidência permite que uma conquista continental seja ganha com o jogo único da final no próprio estádio, a alegria da torcida fica próxima do êxtase. O Feyenoord é um dos poucos clubes europeus a poder ostentar esse luxo. Afinal de contas, no último título de torneio europeu ganho por um clube da Holanda (Países Baixos), há 20 anos, o Stadionclub venceu a final da Copa da UEFA 2001/02 exatamente em De Kuip, superando o Borussia Dortmund. Um verdadeiro conto de fadas - que nem a tristeza de uma morte dias antes da final perturbou.

O time: a chegada que turbinou a base entrosada

Quando a temporada 2001/02 começou, o Feyenoord vivia uma fase de relativo sucesso. O crédito com a fanática torcida ainda estava em alta, pelo título holandês na temporada 1998/99. Vindo para o lugar de Leo Beenhakker em 2000, o técnico Bert van Marwijk já tinha um ano de trabalho, e uma base entrosada no time que era escalado. Os zagueiros Kees van Wonderen e Patrick Paauwe, os laterais Tomasz Rzasa (polonês) e Christian Gyan (ganês), os volantes Shinji Ono (japonês) e Paul Bosvelt, o meio-campo Bonaventure Kalou (marfinense), o atacante Jon Dahl Tomasson (dinamarquês): todos esses citados já estavam no Feyenoord havia pelo menos dois anos. Bastava para boas campanhas: terceiro lugar na Eredivisie conquistada pelo PSV em 2000/01, o Stadionclub tinha garantido um lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões.

O Feyenoord já tinha uma base entrosada dos anos recentes, mas a vinda de Van Hooijdonk foi o diferencial necessário para o sucesso em 2001/02 (Adam Davy/Empics/Getty Images)

Mas uma contratação antes de 2001/02 fez a diferença entre um time bom e um time capaz de ser campeão. E não foi a do goleiro Edwin Zoetebier, voltando ao Feyenoord após um ano passado no Vitesse, para ocupar lacuna importante (afinal, Jerzy Dudek rumara para o Liverpool). A vinda decisiva para aquele time seria negociada junto ao Benfica. Lá, o atacante Pierre van Hooijdonk declarara o desejo de voltar à Holanda (Países Baixos), sentindo-se desprestigiado pela nova diretoria. A diretoria do Stadionclub soube, negociou, e na reta final da janela de transferências daquela temporada, Van Hooijdonk acertava a chegada a De Kuip.

Ela teria muito sucesso. Mas ninguém sabia disso ainda.

O começo: uma Champions esquecível e algumas mudanças

Ninguém sabia disso, a princípio, porque a participação do Feyenoord na Liga dos Campeões 2001/02 foi esquecível. Também, pudera: no grupo H estava o Bayern de Munique, campeão europeu na temporada anterior, e um Sparta Praga que se revelaria digno - com nomes que surgiam fulgurantes, como um goleiro chamado Petr Cech, 19 anos de idade na época. O Feyenoord tentaria disputar o posto de surpresa com o Spartak Moscou - e já começaria tropeçando contra o time russo, com um 2 a 2 na estreia. Na segunda rodada, ficaram ainda mais claras as dificuldades para passar da fase de grupos: na Tchéquia, o Sparta Praga fez 4 a 0 no Feyenoord. 

Mas a terceira rodada indicou que dias melhores poderiam vir: em De Kuip, tanto Van Hooijdonk quanto Jon Dahl Tomasson marcaram gols, e o Feyenoord conseguiu empatar com o Bayern (2 a 2). Derrotas seguidas eliminaram o clube neerlandês da Champions de cara - 2 a 0 para o Sparta Praga na 4ª rodada, 3 a 1 para o Bayern na 5ª rodada -, mas a última rodada abria caminho para a "vaga de consolação" nas oitavas de final (na época, eram as oitavas) da Copa da UEFA. Num jogo direto, em De Kuip, Feyenoord e Spartak Moscou decidiram os dois últimos lugares do grupo. O vencedor ocuparia a terceira colocação e "cairia" para a Copa da UEFA. Ainda no primeiro tempo, o placar foi decidido: Van Hooijdonk fez 1 a 0 aos 5', o russo Vladimir Beschastnykh empatou para o Spartak aos 14', mas o sueco Johan Elmander fez, logo aos 18', o 2 a 1 que seria o placar final - e que possibilitaria ao Feyenoord continuar com a temporada europeia.

O Feyenoord esteve na Liga dos Campeões apenas de passagem, sem ser páreo para Bayern de Munique e Sparta Praga - mas venceu jogo direto contra o Spartak Moscou, assegurando a ida à Copa da UEFA (Tom Shaw/Allsport)

Para tanto, quando chegou a terceira fase da Copa da UEFA, ainda no fim de 2001 (mais precisamente, em novembro), Bert van Marwijk consolidou uma base no time que escalava, descartando mais nomes. Paulatinamente, perderiam espaço gente como o lateral direito australiano Brett Emerton e o zagueiro veterano Ulrich van Gobbel - este, desgastado pelo gol contra cometido para o Bayern de Munique. Nomes como os atacantes Euzebiusz "Ebi" Smolarek (polonês) e Leonardo (brasileiro, carioca, vindo de torneios de favela diretamente para Roterdã) seriam mais fixos na reserva, entrando esporadicamente. Alguns jovens seriam testados: uns não aprovariam, como o zagueiro Civard Sprockel (19 anos), já outros agarrariam a chance para decolar, como um tal Robin van Persie que voltará a ser falado. E assim (re)começou o caminho do Feyenoord, rumo a De Kuip.

O começo: conseguindo o possível

Na terceira fase da Copa da UEFA, coube ao Feyenoord enfrentar o Freiburg-ALE. E as dificuldades já começaram por ali. No jogo de ida (22 de novembro de 2001, em Roterdã), Shinji Ono só fez o gol da vitória por 1 a 0 a oito minutos do fim; na volta (6 de novembro de 2001, em Friburgo), o time alemão contou com o seu destaque - o atacante georgiano Levan Kobiashvili -, chegou a abrir 2 a 0 e ficar perto da vaga, mas Van Hooijdonk fez o gol fora de casa que já daria a vaga, mesmo com derrota. E coube ao brasileiro Leonardo, que substituiu Smolarek, fazer o gol do 2 a 2 que levou o Feyenoord às oitavas de final da competição europeia.

2001 terminou, 2002 chegou, com ele as oitavas de final da Copa da UEFA, e o adversário do Feyenoord seria ainda mais exigente: o Rangers. No time escocês, treinado então por Ally McCoist, sobrava experiência: Bert Konterman e Arthur Numan na defesa, o argentino Claudio Caniggia e o norueguês Tore Andre Flo no ataque - todos eles com Copas do Mundo no currículo (sem contar mais um holandês, Ronald de Boer, que só estaria no jogo de volta). Na primeira partida, em Glasgow, Bert van Marwijk escalou um novato de 18 anos na zaga, Glenn Loovens, para fazer a dupla da defesa com Kees van Wonderen. No decorrer do jogo, o técnico Feyenoorder ainda deu a primeira partida da carreira de Robin van Persie, 18-para-19 anos, numa competição europeia (Van Persie substituiu Bonaventure Kalou, aos 58'). Quase deu certo: Shinji Ono fez 1 a 0, e o Rangers só empatou no fim, com Barry Ferguson. Ainda assim, o 1 a 1 era bem útil ao time de Roterdã.

Passar pelo Rangers nas quartas de final foi o primeiro sinal de que aquele Feyenoord estava destinado a coisas grandes - e que Shinji Ono (correndo no meio) era figura importante no time (Lawrence Griffiths/Getty Images)

Que mostrou no jogo de volta: tinha tanta experiência, tanta capacidade, quanto o respeitável Rangers. Ou até mais. Porque, se o time azul escocês saiu na frente em De Kuip - Barry Ferguson fez 1 a 0, aos 26' -, ali Pierre van Hooijdonk começou a sinalizar que seria o melhor jogador daquela Copa da UEFA. O atacante virou o jogo com dois gols, ainda no primeiro tempo, fazendo a torcida iniciar um coro que seria marca daquela campanha no fervilhante estádio: "Put your hands up for Pi-Air" ("Erga suas mãos por Pi-Air", em português - um trocadilho do nome Pierre com a excelente capacidade do holandês no jogo aéreo). Logo no primeiro minuto da etapa final, Bonaventure Kalou fez 3 a 1. E aí, a capacidade do Feyenoord aguentar dramas foi posta à prova. Porque o zagueiro Patrick Paauwe foi expulso aos 53', ao cometer pênalti que Ferguson converteria, diminuindo para 3 a 2. 

O Feyenoord aguentou. Superou o Rangers. Fez o que se esperava diante de adversários acessíveis: se classificou, indo às quartas de final da Copa da UEFA. Que representariam o primeiro capítulo realmente inesquecível daquela história.

Quartas de final: o sonho fica mais perto eliminando um rival direto

O começo deste texto dizia que conquistar um torneio europeu com a final em casa era um dos sonhos mais deliciosos que um clube do Velho Continente poderia sonhar. Mas a trajetória do Feyenoord na Copa da UEFA 2001/02 tem um tempero adicional. Ele foi colocado nas quartas de final daquela campanha. Qual seria o adversário do Stadionclub? O PSV. Pois é: quis o sorteio que um clássico holandês definisse um semifinalista. Campeão holandês de então, também vindo da Liga dos Campeões daquela temporada, o time de Eindhoven tinha experiência apenas no lateral esquerdo Jan Heintze, campeão europeu com os Boeren em 1987/88. Mas havia muita gente que seria relativamente conhecida no time que o belga Eric Gerets treinava: André Ooijer na zaga, Wilfred Bouma e Mark van Bommel como volantes, Jan Vennegoor of Hesselink e Mateja Kezman como atacantes... todos, abaixo dos 25 anos.

A experiência do Feyenoord contra a juventude do PSV renderiam duas partidas inesquecíveis - ainda mais na Holanda - naquelas quartas de final. Na ida (14 de março de 2002, em Eindhoven), surpresa no Philips Stadion. O time dominante no primeiro tempo foi o Feyenoord: a pressão acuou a defesa do PSV, Van Persie acertou uma bola na trave... e no minuto final da etapa inicial, Van Hooijdonk aproveitou rebote do goleiro Ronald Waterreus para fazer seu quarto gol naquela Copa da UEFA. Logo que o segundo tempo começou, porém, Mateja Kezman deu o troco na mesma moeda: em dois minutos, empatou. E o 1 a 1 fazia esperar por outro jogo empolgante na volta.

 Foi exatamente o que se viu no dia 21 de março de 2002, em Roterdã. De Kuip foi o cenário de um daqueles clássicos tensos. O placar sem gols, por boa parte do tempo, só aumentava ainda mais o nervosismo dos torcedores, fossem eles Eindhovenaren ou Rotterdammers. Até que, aos 76', Van Bommel fez o seu melhor: chute de fora da área, preciso, no ângulo esquerdo de Zoetebier, fazendo 1 a 0 para o PSV. Parecia o fim para o Feyenoord, que só teria 14 minutos, mais os acréscimos, para tentar o empate ou até uma virada. Aí, talvez, o primeiro sinal real de como Van Hooijdonk estava "iluminado" - e como o Stadionclub talvez tivesse a chamada "sorte de campeão". Exatamente no último minuto, crizamento de Brett Emerton, da direita. "Pi-Air" cabeceou, e a bola fez um arco, até parar no canto esquerdo de Waterreus. 1 a 1: o Feyenoord estava salvo, de modo "milagroso", como expôs o narrador. E após a prorrogação, o classificado daquele encontro holandês seria definido nos pênaltis.

Cobranças bem feitas, de parte a parte. Mas o georgiano Giorgi Gakhokidze errou a dele, a terceira na série do PSV: Zoetebier pegou. Os experientes jogadores do Feyenoord foram perfeitos na série, que Van Hooijdonk finalizou. 5 a 4 nas cobranças, Stadionclub semifinalista da Copa da UEFA, De Kuip explodia em alegria.


Semifinal: o Feyenoord estava pronto. Azar da Inter

Superar o rival nacional PSV rumo às semifinais foi o impulso necessário e decisivo para o grupo do Feyenoord saber que poderia, sim, sonhar com a decisão daquela Copa da UEFA em De Kuip. A experiência estava ali: em Van Wonderen (33 anos) na zaga, em Bosvelt (32 anos) no meio-campo, em Van Hooijdonk (32-para-33 anos) no ataque. A juventude, também: Van Persie, 18 anos, já era titular do Stadionclub, e Johan Elmander, 20 anos, continuava entrando aqui e ali mesmo na reserva. Aos 22, Shinji Ono era incansável no meio-campo. E impressionava: falando sobre os 20 anos daquele título à revista Voetbal International, o técnico Bert van Marwijk opinou que Ono "poderia ter sido um craque, se não tivesse de voltar sempre ao Japão". Essa mescla bem feita de experiência e juventude, mais a fase esplendorosa de Van Hooijdonk (bem ajudado por Tomasson), já serviriam para o Feyenoord ser levado muito a sério nas semifinais. 

E o adversário era bem mais conhecido, em nomes e em técnica. Também perseguindo um título italiano que não ganhava havia 13 anos - e que perderia na última rodada -, a Internazionale vinha com Francesco Toldo no gol; Javier Zanetti, Iván Córdoba e Marco Materazzi na defesa; Clarence Seedorf, Emre Belozoglu e Sérgio Conceição no meio; no ataque, Mohamed Kallon, Nicola Ventola, Christian Vieri... e Ronaldo, na fase final da recuperação da gravíssima lesão no joelho que tivera em 2000, ainda entrando no decorrer dos jogos. 

Van Marwijk notou, na semifinal contra a Internazionale: o time experiente que tinha em mãos estava preparado para o título (Christof Koepsel/Bongarts/Getty Images)

Pois o Feyenoord não ligou para nada disso. Nos vestiários de San Siro, para a partida de ida (4 de abril de 2002), Van Hooijdonk lembrou o resto do time: só havia aquelas duas partidas da semifinal separando a equipe da sonhada final em De Kuip. Era a hora de se mostrar merecedor de respeito. E o Feyenoord mostrou. Passou sufoco no primeiro tempo, é verdade: Ventola chegou a ter um gol anulado por impedimento, enquanto Van Hooijdonk perdeu chance incrível na pequena área. Todavia, no segundo tempo, a sorte ajudou: Van Hooijdonk (como ele aparece nesta campanha...) cruzou, Iván Córdoba tentou desviar para fora... e cometeu gol contra. O 1 a 0 seria seguro até o fim. E os torcedores do Feyenoord que lotaram a parte visitante do Giuseppe Meazza saíram de Milão cada vez mais otimistas.

O otimismo seria confirmado no jogo de volta, em De Kuip, dali a uma semana. A Inter foi a Roterdã com o que tinha de melhor: fora no jogo de ida, Toldo e Zanetti seriam titulares - como Ronaldo, que só entrara aos 75' no primeiro jogo. Mas diante de "Het Legioen", a torcida cada vez mais ensandecida (houve mosaico e papel picado antes do jogo), o Feyenoord impôs sua pressão e sua eficiência logo no primeiro tempo. Para não perder o costume, Van Hooijdonk fez 1 a 0, de cabeça, aos 17' - seu sexto gol naquela Copa da UEFA. Mais um contra-ataque, puxado por Christian Gyan, aos 34': Toldo rebateu o chute do ganês, mas Tomasson estava a postos para fazer 2 a 0. E por muito tempo o Feyenoord segurou a vantagem em De Kuip. Tomou um susto no fim: Cristiano Zanetti diminuiu aos 84', e num pênalti aos 90', Kallon aumentou o medo, fazendo 2 a 2. Mas era só.

O Feyenoord conseguira. Realizaria o sonho de jogar a final da Copa da UEFA em De Kuip (a não ser por Brett Emerton: o australiano levara um cartão amarelo e estaria suspenso). A celebração da torcida rendia cenas cada vez mais alegres e emocionantes. Mas elas ganhariam um tom de tristeza, antes da decisão contra o Borussia Dortmund.


No título, um final feliz cheio de dor

O motivo do trauma ia além do futebol. Político polêmico na Holanda - ao mesmo tempo em que criticava fortemente a influência muçulmana no país, era homossexual assumido e militante -, Wilhelmus "Pim" Fortuyn fora um dos candidatos mais votados nas eleições municipais neerlandesas de 2002, iniciando uma trajetória potente em termos nacionais. Trajetória que teve um fim abrupto: em 6 de maio de 2002, dois dias antes da final da Copa da UEFA, Fortuyn foi assassinado em Roterdã, por um militante de extrema-esquerda. Desacostumada a crimes políticos, a Holanda parou e se abalou profundamente. Na entrevista coletiva pré-final, Bert van Marwijk chegou a comentar a possibilidade de adiar aquela decisão, tal era o clima nos Países Baixos. Mas a UEFA negou - e nem os próprios jogadores do Feyenoord queriam isso, a bem da verdade. A final sonhada seria mesmo em 8 de maio.

A Holanda (e mais precisamente, Roterdã) se comoveu com a morte de Pim Fortuyn, um polêmico nome da política. E isso respingou na final da Copa da UEFA (Martin Rose/Bongarts/Getty Images)

E o adversário do Feyenoord estava até mais motivado. Afinal de contas, o Borussia Dortmund vinha de um título alemão ganho havia alguns dias. Queria o título da Copa da UEFA para abrilhantar o fim da carreira do zagueiro Jürgen Kohler, que pararia de jogar ali. O Dortmund tinha um time respeitável. Experiente na defesa - além de Kohler, havia Jens Lehmann no gol e Christian Wörns no miolo de zaga. Nas laterais, dois brasileiros rejuvenesciam o time aurinegro: Evanilson na direita, Dedê na esquerda. No meio, o também experiente Stefan Reuter era ajudado por dois novatos: o tcheco Tomas Rosicky e o brasileiro Ewerthon, vindo do Corinthians. E na frente, a dupla de ataque do Dortmund não só era tão boa quanto a do Feyenoord, mas talvez fosse uma das melhores da Europa: o tcheco Jan Koller e sua força física incrível (2,02m, 100 quilos), e Amoroso vivendo uma grande fase na carreira (o brasiliense despontado no Guarani, já com uma artilharia de Campeonato Italiano na trajetória, fora o principal goleador da Bundesliga daquela temporada).

Contudo, o Feyenoord estava preparado para dar uma alegria à torcida abalada com o falecimento de "Pim" Fortuyn - sem deixar de lotar De Kuip para a final e se empolgar (a clássica foto de um menino torcedor do Feyenoord fazendo gesto obsceno é da decisão). E tinha se preparado para isso. Abriria o placar aproveitando duas falhas decisivas do Borussia Dortmund. No primeiro gol, a marcação por pressão fez Jürgen Kohler errar: Tomasson roubou a bola do zagueiro alemão, foi derrubado na área, o pênalti foi marcado pelo juiz português Vitor Melo Pereira, Kohler foi expulso no ato final de sua carreira. E Pierre van Hooijdonk cobrou com perfeição: 1 a 0 aos 33', sétimo gol de "Pi-Air" na Copa da UEFA. 

Em meio à comoção nacional pela morte de Pim Fortuyn, a torcida do Feyenoord ainda lotou De Kuip naquela final - e esta foto ganhou o mundo desde então (Jasper Juinen/ANP/AFP/Getty Images)

O oitavo viria logo depois. Por outro lance de esperteza de Van Hooijdonk: na preparação para o jogo, vendo vídeos do Borussia Dortmund, o atacante notara que Lehmann costumava deixar descoberto um canto, nas cobranças de falta, enquanto preparava a barreira. Pois aos 40', numa falta, o goleador daquele torneio decidiu antecipar sua cobrança. Ainda desatento, Lehmann pulou, sem alcançar a bola. Feyenoord 2 a 0, graças ao grande símbolo daquela campanha. Celebrado na narração do locutor holandês: "Dit is Pierre van Hooijdonk-toernooi" ("Este é o torneio de Pierre van Hooijdonk"). Não havia dúvida disso. Na Coolsingel, na Stadhuisplein, em todas as praças de Roterdã o atacante era comemorado.

O Borussia Dortmund estava ferido, mas não estava morto. E lembrou disso logo que o segundo tempo começou: num erro da defesa do Feyenoord, Patrick Paauwe derrubou Amoroso na área. Pênalti - e aos 47', o brasileiro diminuiu para 2 a 1. Susto que acabou logo: aos 50', Ono roubou uma bola no meio-campo, lançou, e Tomasson, no último jogo que faria pelo Feyenoord (iria para o Milan na temporada seguinte), apareceu livre para chutar e fazer 3 a 1. O Dortmund ainda buscaria o segundo gol, também rapidamente: aos 58', Jan Koller aproveitou sobra de cruzamento para um belíssimo chute, no ângulo direito de Zoetebier. Mas seria só. O Feyenoord se segurou. E conquistaria o segundo título de Copa da UEFA em sua história, no troféu erguido pelo capitão Paul Bosvelt.


Mas o último título continental de um clube holandês até agora ficaria sem a tradicional festa em Coolsingel, a avenida que leva à prefeitura de Roterdã. Ela seria ocupada, dois dias depois, pelo cortejo fúnebre, nos funerais de "Pim" Fortuyn. Uma dor que ainda impactava a Holanda - principalmente Roterdã. 

Porém, ela tinha um motivo de sorriso, entre as lágrimas. O sorriso causado pelo Feyenoord, que vivera um tremendo conto de fadas. 

Um comentário:

  1. Bela reportagem. O Mauro falou hj do blog e vim conhecer.

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