Em geral, os play-offs pós-temporada do Campeonato Holandês trazem aos clubes que os disputam (no caso, do 5º ao 8º colocados da Eredivisie) um ar de esperança. Afinal, é uma perspectiva de participação num torneio europeu, ainda que seja o mais modesto de todos, dando vaga na segunda fase preliminar da Conference League. De mais a mais, o Feyenoord chegou à Conference atual exatamente por meio desta repescagem, e agora, vive a típica ansiedade antes de uma final, como a que disputará contra a Roma, daqui a uma semana, para decidirem o primeiro campeão da história da competição. Ou seja: vale a pena.
No caso dos quatro que seguirão sua temporada a partir desta quinta, com os jogos de ida na primeira fase da repescagem, vale a pena mesmo. Porque todos eles, coincidentemente, tiveram algum momento de decepção ao longo das 34 rodadas regulares da liga. E terão na possibilidade de alcançar a Conference uma grande chance de melhorarem a impressão que deixaram nas respectivas torcidas. Seja por desempenho aquém do esperado, por incertezas ou pela oportunidade aberta de consolidar uma reação, o fato é que estes play-offs terão um destacado ar de "salvação da lavoura" para AZ, Vitesse, Utrecht e Heerenveen.
AZ x Heerenveen
Jogo de ida: 19 de maio, às 13h45 de Brasília, em Heerenveen
Jogo de volta: 22 de maio, às 9h30 de Brasília, em Alkmaar
O AZ está um pouco desacostumado a se arriscar em play-offs. Terá de contar com Pavlidis e Karlsson (foto) para não se decepcionar mais (Pro Shots) |
AZ (5º colocado na temporada regular)
Um time que não perdeu do campeão Ajax na temporada (venceu por 2 a 1 no turno, em plena Johan Cruyff Arena, e empatou por 2 a 2 no returno). Um time que até sonhou em ocupar a terceira colocação, ao vencer o Feyenoord - 2 a 1, na 24ª rodada. Um time que está tão acostumado a ir diretamente às competições europeias, nos últimos anos, que estranha ao ter de disputar a repescagem pela Conference League. Mas é isso que aconteceu com o AZ. Em grande parte, por causa de uma reta final ruim no campeonato: o time de Alkmaar só venceu uma vez nas últimas cinco rodadas, sendo vítima da ascensão irresistível do Twente. Por isso, mesmo que a posição seja relativamente cômoda (sempre terá a vantagem de definir em casa), o AZ entra com cautela.
Até porque, diante de temporadas em que desafiou os três grandes e até sonhou com o título, ter de disputar a vaga na Conference League via repescagem é uma relativa decepção. E há preocupação com certos problemas que a equipe tem: os torcedores Alkmaarders desconfiam, por exemplo, da inconstância do goleiro Peter Vindahl, que pode ir muito bem numa partida e muito mal na seguinte. E após a péssima surpresa na última rodada da liga - derrota em casa para o RKC Waalwijk (3 a 1) -, o técnico Pascal Jansen estranhou: "Meu time foi irreconhecível". Pelo menos, sobram nomes capazes de devolverem a confiança rapidamente. Para citar só dois, Vangelis Pavlidis e Jesper Karlsson, destaques no ataque. Mas há o entrosamento absoluto do meio-campo, um Owen Wijndal que voltou a ser confiável na lateral esquerda... enfim, o AZ tem plenas condições de ainda consertar o que saiu errado.
Van Hooijdonk chegou ao Heerenveen em janeiro. Demorou um pouco a engrenar. Mas quando engrenou, simbolizou a reação do time rumo aos play-offs (ANP) |
Heerenveen (8º colocado na temporada regular)
Dos quatro clubes que disputarão a vaga na Conference League, o Heerenveen é o mais motivado. Também, pudera. Por muito tempo, o Fean rondou a metade de baixo da tabela - não nas últimas posições, mas sem brilhar. Perdeu os dois Veerman que tanto se destacavam nas temporadas recentes pelo clube - Joey Veerman para o PSV, Henk Veerman para o Utrecht. Para tentar aprumar as coisas, houve até demissão de técnico: Johnny Jansen deixou o clube em janeiro. O dinamarquês Ole Tobiasen foi contratado às pressas, para conduzir as coisas até o fim da temporada (era quando o Heerenveen pretendia fazer a troca de técnicos, originalmente). O trabalho de Tobiasen começou pessimamente: nenhuma vitória nos primeiros seis jogos - quatro derrotas e dois empates. Em certo momento do Campeonato Holandês, a equipe da Frísia temeu levemente o rebaixamento. Aí as mudanças se aprofundaram.
Se jogar com quatro zagueiros não resolvia as coisas, Tobiasen resolveu colocar mais um defensor para aumentar o número de marcadores na área - e a defesa teve mais segurança. No meio-campo, Thom Haye começou a assumir destaque na criação de jogadas, com bons lançamentos e cruzamentos. E no ataque, se negavam fogo nas primeiras partidas após chegarem ao clube, Sydney van Hooijdonk e Amin Sarr começaram a se entrosar - principalmente Van Hooijdonk, emprestado pelo Bologna para tentar ser destaque em seis meses. Pois começou a ser, decidindo até jogos diretos contra concorrentes pelo lugar na repescagem (caso dos 3 a 1 no Groningen, pela 29ª rodada). Os times acima na tabela tropeçavam: Groningen, NEC, Go Ahead Eagles... e o Heerenveen alcançou a 8ª posição, a duas rodadas do fim. Mesmo goleado pelo Ajax na penúltima rodada - 5 a 0, o jogo do título -, o time se recompôs com mais uma vitória contra adversário direto (3 a 1 no Go Ahead Eagles), na última rodada, para apagar os temores do miolo da temporada. Agora, o Heerenveen tem chances de voltar a um torneio europeu. Seria a concretização de uma notável recuperação. E a definição de um bom clima para a chegada de Kees van Wonderen, o técnico a partir da próxima temporada.
Vitesse x Utrecht
Jogo de ida: 19 de maio, às 16h de Brasília, em Utrecht
Jogo de volta: 22 de maio, às 13h de Brasília, em Arnhem
Openda já merece respeito pela temporada que fez. Merecerá ainda mais, se continuar liderando tecnicamente o Vitesse (Pro Shots) |
Vitesse (6º colocado na temporada regular)
O time de Arnhem poderia estar num fim de temporada bem mais movimentado. Afinal de contas, não só esteve na Conference League desta temporada, sua primeira aparição em torneios continentais, como até sonhou em ir às quartas de final - levava a decisão das oitavas contra a Roma para a prorrogação, até tomar o empate romanista a dois minutos do fim (a equipe italiana foi às quartas, com a vitória por 1 a 0 na ida). Bastou essa eliminação acontecer para a equipe aurinegra perder o fôlego na reta final do Campeonato Holandês. A desvantagem para o Feyenoord, terceiro colocado, já era grande demais para ser descontada. Twente e AZ também abriram vantagem no returno - o Vites teve apenas o 10º desempenho nas 17 rodadas finais. A partir da 28ª rodada, a equipe ficou estabilizada na 6ª colocação, sem perdê-la nem correr mais risco de ficar fora da repescagem. Se houve fato, foi negativo: a perda de dois titulares - o goleiro Jeroen Houwen e o ala esquerdo Maximilian Wittek, ambos machucados.
O que não quer dizer que o Vitesse chegue para as partidas finais desgastado. Talvez só haja preocupações no gol, posição em que o alemão Markus Schubert tem inconstâncias. De resto, a zaga é segura: Danilho Doekhi mostra firmeza na marcação (tanta firmeza que se despedirá do Vites nestes play-offs, com transferência garantida para o Union Berlin alemão), e Riechedly Bazoer segue mostrando segurança na saída de bola. No meio-campo, o eslovaco Matus Bero mostra qualidade na criação de jogadas, e Million Manhoef ocupa bem a lacuna aberta pela lesão de Wittek. Mas é no ataque o lugar do maior destaque do Vitesse nesta temporada, de longe: com velocidade e boa finalização, o belga Loïs Openda brilhou pelo clube em várias partidas - como em duas vitórias por 2 a 1, sobre Go Ahead Eagles (30ª rodada) e Fortuna Sittard (33ª rodada), sem contar o empate com o Ajax na rodada derradeira. É em Openda que o Vitesse mais aposta, para manter a regularidade e voltar à Conference League. Afinal, o time gostou da experiência...
Chegar à Conference League pode animar um pouco mais a temporada apenas razoável do Utrecht - e ser um fecho digno para a carreira de Willem Janssen (Pro Shots) |
Utrecht (7º colocado na temporada regular)
É possível escrever que o Utrecht mescla duas características de outros dois concorrentes ao lugar na Conference League. Como o Heerenveen, os Utregs viveram um momento ruim na temporada - não muito ruim (o time nunca ficou abaixo da 7ª posição na tabela), mas a frustração de expectativas levou à demissão do técnico René Hake, após a 27ª rodada. Enquanto não se definia o treinador para a próxima temporada, Rick Kruys foi escolhido como interino para tentar conduzir o trabalho sem turbulências. Tendo Dick Advocaat como um "conselheiro de luxo", Kruys quase fracassou. O fracasso ficou pela demora para vencer: nas sete rodadas em que treinou a equipe, só uma vitória. O "quase" ficou por conta dos tropeços de quem vinha atrás na tabela: o Groningen decaiu, as equipes que vinham abaixo tinham pontuação muito menor, e o Utrecht manteve a sétima colocação sem ameaças durante as rodadas derradeiras, mesmo com o excesso de empates (quatro nas últimas sete rodadas).
Enquanto não chega a hora de Henk Fräser assumir a equipe, após a saída antecipada do Sparta Rotterdam, Rick Kruys seguirá para os play-offs com uma base, pelo menos, bem entrosada. É verdade que algumas perdas prejudicam os Utregs. No gol, Fabian de Keijzer está fora da temporada, com uma lesão muscular. Pior ainda é o caso de Bart Ramselaar: um raro destaque técnico da equipe, sonhando com uma transferência ao fim da temporada, o meio-campo viu os planos se esboroarem com um rompimento de ligamento cruzado anterior no joelho. Mas há quem compense isso. Na defesa, o zagueiro e capitão Willem Janssen viverá os últimos jogos de sua carreira tentando impulsionar o time, como o líder animado que se fez respeitar para a torcida. Mais à frente, há Quinten Timber, volante que aparece promissor. Bem como Adam Maher e Simon Gustafson, bons criadores de jogadas. E o ataque tem velocidade (Mimoun Mahi, Othman Boussaid, Moussa Sylla), habilidade (Sander van de Streek) e boa finalização (Anastasios Douvikas). Caberá ao time deixar a falta de resultados para trás.
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