O Emmen demorou a engrenar na segunda divisão, após cair na temporada passada. Mas quando engrenou, embalou até o retorno rápido à Eredivisie (Pro Shots) |
Fundado em 1925 como clube amador, profissionalizado em 1985, o Emmen tivera o ponto alto de sua história no seu primeiro acesso à divisão de elite do futebol da Holanda (Países Baixos), em 2018. E justificou isso, mantendo-se dignamente na divisão de elite por dois anos. Mesmo em 2020/21, o esforço para ficar na Eredivisie foi notável: de lanterna sem vitórias até a 23ª rodada, os Emmenaren reagiram até conseguirem a "segunda chance" de permanência na repescagem. Nela, só foram rebaixados para o NAC Breda, nos pênaltis. Foi um trauma, que poderia ter impactado nesta temporada 2021/22 - até em termos financeiros. Que nada: o Emmen nem conseguiu "sentir falta" da Eredivisie. Porque já está de volta a ela. E numa maneira bem mais nobre que a repescagem: como campeão da Eerste Divisie, no primeiro título de sua história longa no futebol amador e ainda recente no profissional.
De certa forma, o bate-e-volta do Emmen após uma temporada começou já durante a queda. Treinador ali desde 2016, considerado o grande responsável em campo pela fase de sucesso do clube, Dick Lukkien recebeu respaldo mesmo durante a queda ("99% dos clubes teriam me demitido numa situação assim"). Continuou desenvolvendo o trabalho pacientemente - não, o Emmen não foi daqueles clubes que esteve nas primeiras posições desde o começo da segunda divisão, sofrendo nas primeiras rodadas. E teve a compensação na reta final: uma equipe absolutamente regular, que rendeu o título. E fez Lukkien retomar o status que teve nas participações na Eredivisie: um técnico, talvez, tarimbado o suficiente para ter uma chance num clube médio do futebol holandês. E o clube sabe disso, como o diretor técnico Michel Jansen reconheceu à revista Voetbal International, sem preocupações (ainda): "Claro que pensamos numa situação da saída de Dick, mas só nos prepararemos se recebermos uma proposta de um clube. Ainda não aconteceu".
Mas de nada adiantaria o trabalho regular (no melhor sentido) de Dick Lukkien se não houvesse jogadores capazes de render em campo. Aí também ajudou o entrosamento. Porque muitos nomes do time-base das aparições na primeira divisão seguiram no clube mesmo na Eerste Divisie. Mesmo cogitado como provável saída, o zagueiro peruano Miguel Araujo ficou em Emmen. Perturbado por lesões na temporada passada, o meio-campista Lucas Bernadou enfim teve forma e sequência de jogos para se tornar nome certo entre os titulares. Em torno deles, o clube aproveitou a experiência que as participações na Eredivisie lhe deram para ter eficiência notável nas contratações. Do Go Ahead Eagles, promovido no ano passado, veio o lateral Jeroen Veldmate; da Dinamarca, foi repatriado outro lateral, Lorenzo Burnet, com passagens por NEC e Excelsior; caso semelhante foi o meio-campo Peter van Ooijen, de volta da Alemanha após trajetória no VVV-Venlo; o atacante Reda Kharchouch surgiu do Sparta Rotterdam, e o meia Jari Vlak, do Volendam; e o Heracles Almelo cedeu dois nomes titulares, o goleiro Michael Brouwer e o meio-campo Teun Bijleveld.
Todos eles foram titulares na campanha do acesso. Bem como o goleador do time: o português Rui Mendes, vindo do time B do Hoffenheim-ALE, 15 gols nesta Eerste Divisie (mesmo longe dos 32 gols do goleador Thijs Dallinga, do Excelsior - que tem a chance de ascender à Eredivisie, via repescagem). E após um começo titubeante, os Emmenaren cresceram a partir da 11ª rodada, quando chegaram à quarta posição. O impulso final rumo ao título surgiu na 20ª rodada: começava ali uma sequência de cinco vitórias seguidas, estabilizando o time na segunda posição, que já daria vaga na Eredivisie. Até houve derrota para o Helmond Sport (2 a 1, em jogo atrasado da 22ª rodada), mas a caminhada do Emmen para o título seguiu impávida. E em outra partida retardada do campeonato - o confronto direto contra o Volendam, goleada por 4 a 1, pela 27ª rodada -, o clube tomou a liderança da segunda divisão para não perder mais. Garantiu o acesso vencendo o Dordrecht (1 a 0, fora de casa, na 35ª rodada). E o título, com o 2 a 0 no Roda JC, na semana seguinte.
Pensando bem, pode ter parecido que o Emmen nem sentiu falta da Eredivisie, já que voltou tão rápido. Talvez isso possa ser dito de outro modo: talvez o Emmen tenha sentido tanta falta do gosto da primeira divisão, que preferiu voltar rapidamente. E o fez com méritos. Como campeão.
Só uma comemoração intensa para extravasar o drama: o Volendam chegou a temer mais um fracasso, mas está de volta à primeira divisão, treze anos depois (Pro Shots) |
Volendam: o "ioiô" subiu de novo
Se o campeão Emmen demorou pouco a retornar à primeira divisão, o caso do Volendam foi mais dramático. Para um clube conhecido nos Países Baixos como "Heen-en-Weer" (traduzindo para o português, seria algo como "clube ioiô", que vai e volta entre primeira e segunda divisões), ficar 13 anos seguidos na Eerste Divisie incomodava. Ainda mais porque a "Outra Laranja" - mais um apelido, em razão da cor do uniforme, semelhante à da seleção nacional - rondava o retorno havia um bom tempo, fracassando numa repescagem aqui, ficando no meio de tabela ali. Basta citar a temporada passada, quando os Volendammers foram aos play-offs de acesso/descenso, mas já caíram na primeira fase, para o NAC Breda. Era demais, para um time que dava respaldo ao técnico Wim Jonk - que fazia trabalho confiável, de fato.
A temporada atual já começou sob a pecha do "é agora ou nunca". E Jonk teve reforços de peso à disposição. Um dos maiores goleadores da história da segunda divisão numa só temporada, Robert Mühren preferiu voltar ao clube em que começou a carreira a ir para a Eredivisie com o Cambuur em que estava. E justificou a volta: 29 gols em 37 jogos, sendo o nome dos gols na campanha do acesso. Teve um bom parceiro de ataque em Daryl van Mieghem, mais veloz na frente, líder de passes para gol (14), também colocando a bola na rede (foram 11 gols). Outro auxílio veio da base da Internazionale - onde Wim Jonk jogou na carreira: do clube italiano vieram o goleiro sérvio Filip Stankovic (filho do ex-jogador Dejan), titular a partir de meados da temporada, e o meio-campista italiano Gaetano Oristanio. Todos se somaram a nomes já conhecidos da torcida, como os meio-campistas Kevin Visser e Francesco Antonucci - este, emprestado pelo Feyenoord.
E o Volendam foi com tudo em boa parte da temporada. A partir da 9ª rodada, tomou a liderança da Eerste Divisie. Por muito tempo, foi o dono dela. Até tomar a goleada para o Emmen, na 27ª rodada, cedendo também a primeira posição. Diante da pressão de clubes como FC Eindhoven, Excelsior e ADO Den Haag; cedendo uma sequência de seis jogos sem vitória - três empates e três derrotas; tudo isso fazia supor que o Volendam fraquejaria de novo na reta final. Mas duas vitórias na 34ª e 35ª rodadas (3 a 1 no time B do Ajax, 2 a 1 no Den Bosch) decretaram o alívio. Após 13 anos, o ioiô voltou a subir. O Volendam está de volta - e espera demorar mais na descida.
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