sexta-feira, 24 de março de 2023

Estava (quase) no roteiro

Bastaram 21 minutos terríveis defensivos para a Holanda se ver perdida contra a França, nas eliminatórias da Euro. Era previsível, mas não precisava de tanto (Pro Shots)

É um fato: a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) é inferior à da França, em condições normais. Com a Laranja tendo cinco desfalques em razão de infecção alimentar - dois dos desfalques, Matthijs de Ligt e Cody Gakpo, prováveis titulares -, mais Denzel Dumfries suspenso, então, era óbvio cravar os franceses como favoritos para a primeira partida das eliminatórias da Euro 2024. Nem mesmo nos Países Baixos se apostava numa vitória da própria seleção no Stade de France. E foi exatamente o que aconteceu nesta sexta-feira. Só que a goleada sofrida por 4 a 0 talvez tenha sido uma pancada mais dolorosa do que se esperava.

E foi mais dolorosa por causa de alguns problemas. O primeiro deles é quase crônico em relação à Holanda: a pouca intensidade. Nos primeiros minutos, só restou aos jogadores, pressionados pela França, trocarem passes no campo de defesa. Situação em que erros seriam punidos. Coube a um jogador em posição crucial - Kenneth Taylor, substituindo o lesionado Frenkie de Jong - errar, ao permitir o roubo de bola por Randal Kolo Muani, perto da área. Com Kylian Mbappé e Antoine Griezmann à disposição, livres. O resultado: passe para Mbappé, ele cruzou, Griezmann completou, França 1 a 0. Se fosse só isso, já seria difícil: a Holanda receberia mais espaço para avançar, continuaria com a bola, mas qualquer erro deixaria campo livre para os contra-ataques de uma França veloz por natureza (como se não bastasse a habilidade aos azuis). 

Nem foi necessário isso acontecer: uma falta na direita, bola cobrada para a área, má saída de gol de Jasper Cillessen - voltando ao gol da seleção -, e Dayot Upamecano fez o 2 a 0 "sem querer". Mas "sem querer" também era gol. E mesmo que Georginio Wijnaldum tenha tido uma chance, aos 20', "furando" na hora da finalização, o minuto seguinte trouxe a tentativa seguinte dos franceses: passe em profundidade de Aurélien Tchouaméni (dominando o meio-campo, como sempre), com Mbappé livre para fazer o que melhor sabe - chegar com a bola, em velocidade, à área, e fazer o terceiro gol da França. Com apenas 21 minutos. Desde 1919 a Laranja não tomava tantos gols em tão pouco tempo numa só partida. Ficava clara, por exemplo, a falta que De Jong fazia no meio-campo.

Weghorst substituiu Taylor ainda no primeiro tempo: com a falha no primeiro gol da França, o meio-campo acabou pagando pelas falhas do meio e da defesa (Pro Shots)

É justo reconhecer que houve pontos positivos aqui e ali. No meio, se não pôde fazer muita coisa, pelo menos Xavi Simons tentou criar jogadas - como no cruzamento aos 33', perdido por Memphis Depay. Na defesa, Nathan Aké se mostrou bastante seguro: evitou um gol de Kingsley Coman com carrinho perfeito na pequena área, aos 36'. Lutsharel Geertruida, que estreava na seleção, pelo menos não tinha erros que pudessem ser atribuídos a ele. E Ronald Koeman, pelo menos, tentou mexer no que não dava certo, trocando Taylor por Wout Weghorst já aos 33 minutos de jogo, deixando o atacante como uma referência que pudesse reter mais a bola no ataque.

Desde então, no segundo tempo, a Holanda conteve seus danos. Tomou contra-ataques, de vez em quando, é verdade. Mas até evoluiu, passou a circular mais perto da área da França. Teve até chances, com as entradas de Donyell Malen (que acelerou mais o ataque) e Daley Blind (que ajudou mais na marcação). Porém, Memphis Depay foi centro de duas jogadas que exemplificaram as falhas da Holanda no jogo. Primeiro, na defesa: uma bola perdida por ele foi aproveitada por Kylian Mbappé para virar o quarto gol francês. Depois, no ataque: mesmo tendo boa chance para um gol que a Holanda fez por merecer, no pênalti surgido nos acréscimos, sua cobrança foi fraca demais para perturbar Mike Maignan, que defendeu e ainda teve agilidade para evitar o rebote.

Claro, é só o começo para esta nova fase. Claro, a Holanda não é pior do que Irlanda e Grécia, outras adversárias nas eliminatórias da Euro. Claro, é bem provável que contra Gibraltar, na segunda-feira, venha uma vitória fácil. Mas a Holanda precisará melhorar, ser mais dinâmica em campo, se não quiser sofrer na qualificação. A sorte é que ainda há tempo para isso. Com até uma chance de título, via Nations League, no meio do caminho.

Eliminatórias da Euro 2024
França x Holanda
Data: 24 de março de 2023
Local: Stade de France (Saint-Dénis)
Juiz: Maurizio Mariani (Itália)
Gols: Antoine Griezmann, aos 2', Dayot Upamecano, aos 8', Kylian Mbappé, aos 21' e aos 88'

França
Mike Maignan; Jules Koundé, Ibrahima Konaté, Dayot Upamecano e Théo Hernández; Antoine Griezmann (Youssouf Fofana, aos 77'), Aurélien Tchouameni (Eduardo Camavinga, aos 76') e Adrien Rabiot (Khéphrén Thuram, aos 89'); Kingsley Coman (Moussa Diaby, aos 67'), Randal Kolo Muani (Olivier Giroud, aos 77') e Kylian Mbappé. Técnico: Didier Deschamps

Holanda
Jasper Cillessen; Jurriën Timber, Lutsharel Geertruida (Tyrell Malacia, aos 87'), Virgil van Dijk e Nathan Aké; Marten de Roon (Daley Blind, aos 67'), Georginio Wijnaldum e Kenneth Taylor (Wout Weghorst, aos 33'); Steven Berghuis (Donyell Malen, aos 68'), Memphis Depay e Xavi Simons (Davy Klaassen, aos 68'). Técnico: Ronald Koeman

Nenhum comentário:

Postar um comentário