quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Festa antes, tensão depois

Sneijder terá uma festa no amistoso contra o Peru. Ronald Koeman tem o futuro da seleção holandesa para se preocupar (Pim Ras Fotografie)
O dito popular fala que primeiro vem a obrigação, depois vem a diversão. Entretanto, nas primeiras datas FIFA após a Copa de 2018, a seleção da Holanda viverá cenário diferente. Terá ainda uma oportunidade para espairecer: nesta quinta, no amistoso contra o Peru, em que a Johan Cruyff Arena será o cenário para a 134ª e última vez em que Wesley Sneijder vestirá a camisa laranja. Todavia, o próximo domingo terá um clima diferente: enfrentando logo a França, campeã do mundo, no Stade de France, pela primeira rodada do grupo 1 da liga A, dentro da Liga das Nações da UEFA, a Oranje começará para valer a reconstrução de sua imagem - e sabe que isso será muito difícil. Enquanto domingo não chega, a expectativa holandesa fica mais sobre o festejado da vez.

Ainda jogando, vale lembrar - está no Al-Gharafa, do Catar -, Sneijder foi um incluído extra na convocação regular de 24 jogadores. Muito se pediu até por um jogo especial, que não fosse data FIFA, para uma despedida ainda mais luxuosa. Mas Ronald Koeman justificou, em entrevista coletiva: era a única chance de fazê-lo jogar uma última vez pela seleção holandesa. Para o destaque, tudo bem: embora até quisesse continuar jogando pela Laranja (só anunciou a saída definitiva após Koeman dizer a ele que preferia começar um trabalho novo), o orgulho de defender a equipe nacional foi um dos assuntos mais abordados nas várias entrevistas que o meio-campista deu nesses dias. Ao diário Algemeen Dagblad, descreveu: "Jogar pela seleção não é só mais um fato. Eu tive essa sensação do meu primeiro ao meu último jogo. Cada vez [em que joguei] foi incrível. Cada partida, cada lugar em que estive, foi muito estimado. Não trocaria por dinheiro nenhum".

Claro, Sneijder não falou somente sobre isso. Também comentou suas várias passagens à frente da seleção holandesa, ao mesmo Algemeen Dagblad. Por exemplo, o destaque na partida de volta da repescagem das Eliminatórias da Euro 2004, o 6 a 0 contra a Escócia, quando despontou para o país: "Eu nunca poderia sonhar que fosse 6 a 0. Quando Frank de Boer marcou após um escanteio meu, no meu quarto passe para gol, ele veio correndo e sorrindo para me abraçar. Ele, o grande Frank de Boer. Inesquecível. Aquele jogo mudou minha carreira, no sentido positivo". Ou a marcante Euro 2008: "Entendo que as pessoas sempre falem sobre 2010, mas pessoalmente, acho que joguei melhor na Euro 2008, porque joguei de forma mais completa, em mais lugares".

Ou, claro, o vice-campeonato mundial em 2010, no qual brilhou, destacando aquela partida nas quartas de final, contra o Brasil: "Inicialmente, eu ficaria na entrada da área. Por razões inexplicáveis, corri para perto do gol. Foi justamente quando a bola chegou na minha cabeça: 2 a 1. Naquele dia, o que aconteceu no vestiário foi a lembrança que mais ficou: o intervalo. No primeiro tempo, fomos totalmente superados, o jogo só não estava decidido por causa de Stekelenburg. Mas naquele vestiário, ocorreu algo mágico. Acho que eu pedi a palavra primeiro, os outros falaram, e num certo momento, todos se olharam e começaram a gritar, a se incentivar, a se animar".

O camisa 10 chegou na terça-feira para os treinos com os outros 24 jogadores. E novamente foi ouvido, numa badalada entrevista coletiva, ao lado do treinador da seleção. Koeman, aliás, anunciou que Sneijder não só jogaria, mas seria o capitão contra o Peru. E o jogador comentou sobre a possibilidade de alguém bater o seu recorde: "Eu espero que consigam, e acho que conseguirão. Seria bom para o futebol holandês. [Quem sabe] um jogador que seja titular desde cedo, como Matthijs de Ligt, que poderia alcançar essa marca. Eu apostaria nisso, de coração". O meio-campista ainda deixou em suspenso a possibilidade de ajudar a comissão técnica quando encerrar a carreira: "Acho um fato elogiável. Não falamos concretamente sobre quando isso aconteceria - Ronald sabe que eu quero seguir jogando até quando quiser. Mas foi uma conversa interessante". De qualquer forma, foi confirmada sua continuação na delegação, para dar um apoio moral rumo ao jogo contra a França: "Quero ajudar. Sempre fiz isso, e também acho bacana ver este novo grupo trabalhando".

Sneijder quer ajudar, mesmo fora do campo. Strootman e Luuk de Jong (atrás, à esquerda) podem ser os experientes a ajudarem as boas promessas que são De Ligt (atrás, à esquerda) e Frenkie de Jong (Pim Ras Fotografie)
Ajuda bem vinda. Porque se o clima do amistoso desta quinta é de homenagem, a partida de domingo já terá grande importância, como Ronald Koeman reconheceu: "Há muita gente que ainda não entendeu como funciona a Liga das Nações. Mas não a vejo só como 'amistosa'. Queremos alcançar os resultados, ainda mais do que o normal. Tudo depende dos pontos". E se depende dos pontos, a Laranja sabe que sua tarefa no grupo 1 é dificílima, tendo a França e a Alemanha pela frente, com um time ainda mediano: bom na defesa (Virgil van Dijk está entre os bons zagueiros europeus, Matthijs de Ligt é uma promessa cada vez mais real na posição), deficiente no ataque - a ponto de Koeman cogitar até a convocação de... Klaas-Jan Huntelaar.

Para complicar mais, alguns fatos atrapalham. Alguns vindos de jogadores: cortejado pela federação holandesa, o lateral direito Noussair Mazraoui, do Ajax, preferiu defender a seleção adulta de Marrocos. Outros fatos, do próprio técnico: deixar de fora da convocação Steven Bergwijn, que começou muito bem a temporada no PSV, foi decisão criticada por vários torcedores - e até por gente do futebol, como Mark van Bommel, treinador do atacante nos Boeren. Koeman tentou justificar: "O pessoal franziu a testa, e eu também o faria, se não tivesse uma razão: a seleção holandesa sub-21 terá partidas importantes nesta semana, é a última chance de chegar à Euro da categoria". E mesmo na seleção sub-21, Bergwijn não estará: uma lesão na virilha forçou seu corte.

Enquanto isso, Koeman vai fazendo os últimos ajustes. No gol, já decidiu: mesmo na reserva do Barcelona, Jasper Cillessen ganhou a disputa com Jeroen Zoet e será o titular da seleção. "Cada um jogou duas vezes. Mesmo jogando só de vez em quando, Cillessen também mostrou seu nível técnico. Horrível para Zoet, que também é bom, mas Cillessen está um pouco melhor, tendo em vista o quadro geral". E no meio-campo, como um dos três jogadores, é bem possível que seja vista a estreia do jogador holandês mais badalado deste começo de temporada: Frenkie de Jong. O técnico da seleção se impressionou, indicando onde o escalará: "O desenvolvimento dele está muito acelerado. É um jogador maravilhoso, com uma grande visão de jogo, que pode atuar em vários lugares no meio-campo".

Frenkie de Jong é o futuro. E este começará a ser visto na tensão do domingo. Nesta quinta, a Holanda ainda celebrará o passado recente, que Wesley Sneijder já simboliza, numa grande festa.



Nenhum comentário:

Postar um comentário