A Holanda celebrou a vitória sobre o Peru, em dois tempos distintos. E a partir disso, pôde celebrar Sneijder como ele merecia (ANP) |
Fora toda a festa (mais do que justa) pela última das 134 partidas de Wesley Sneijder pela seleção holandesa, os 90 minutos do amistoso entre Holanda e Peru mostraram dois lados. Ambos bem separados, por sinal. No primeiro tempo, uma Laranja lenta permitiu que a seleção peruana atacasse bastante, fizesse 1 a 0 e desse a impressão de que novamente os holandeses repetiriam os erros crônicos que levaram a seleção ao ponto baixo em que ela está atualmente. No segundo tempo, as mudanças fizeram da Oranje um time mais empolgado, ofensivo e eficiente, que conseguiu dar o brilho que a despedida de "Wes" merecia: uma vitória, por 2 a 1. É algo que dá alguma tranquilidade, antes da estreia pela Liga das Nações da UEFA, domingo, contra a França.
Tal vitória nunca pareceu tão longínqua no começo da partida na Johan Cruyff Arena, de Amsterdã. Jogando com três zagueiros - e para acomodar Sneijder, num incomum 3-4-2-1, com o camisa 10 junto a Ruud Vormer, Memphis Depay como único atacante e as laterais tendo Ryan Babel e Kenny Tete. No papel, tudo certo. Na prática, a Holanda esbarrou num Peru muito bem colocado, defensivamente: defesa próxima ao meio-campo, quatro jogadores na área a proteger o goleiro Pedro Gallese. E na hora de sair para o ataque, a Blanquirroja saía com velocidade suficiente para superar os zagueiros holandeses. Foi assim que, aos seis minutos, Daley Blind perdeu a bola e possibilitou que os peruanos fizessem rápido ataque, só desperdiçado pelo chute errado de Yoshimar Yotún, para fora, sozinho na área.
Foi assim que Jefferson Farfán chegou mais perto do gol, aos 12 minutos: um chute de fora da área, forçando Jasper Cillessen a espalmar a bola para fora. E foi assim, finalmente, que o escanteio da sequência rendeu o gol de Pedro Aquino, no minuto seguinte: superando Blind na marcação, o meio-campista cabeceou firme, sem dar chances de defesa a Cillessen, e protagonizando um momento histórico - afinal, Aquino era o primeiro jogador da seleção do Peru a marcar gols na seleção holandesa (nos encontros anteriores, com dois jogos e um empate, os alvirrubros não haviam marcado gols).
Até então, só Sneijder e Tete tentavam algumas coisas pela Holanda. Mas trabalho a Gallese, a Holanda ainda não dera. Isso só aconteceu a partir da metade final do primeiro tempo - mais precisamente, aos 28 minutos, quando Memphis Depay arriscou sozinho na área, de bate-pronto, mandando a bola longe do gol. Aos 34', Blind passou mais perto: seu arremate mandou a esférica no ferro de sustentação da rede. E aos 36', também de bate-pronto, Sneijder teve a chance de marcar o seu gol - mas a bola também saiu longe. Estava claro: a Holanda precisava melhorar. Nem estava tão mal, mas precisava acelerar o ritmo. O Peru nem brilhava, mas havia sido bem mais eficiente e eficaz até ali.
Eles só estavam se cumprimentando. Mas o toque não deixa de simbolizar uma mudança. Sneijder, agora, é passado; Frenkie de Jong mostrou já em sua estreia que tem grande futuro na seleção (ANP) |
Tudo isso mudaria a partir do segundo tempo. O Peru assustou no primeiro minuto, quase fazendo gol em sequência de dois lances (Cillessen rebateu chute de Carrillo, e Blind falhou na sobra, quase dando o 2 a 0). Mas no minuto seguinte, num desvio na primeira trave, Babel mandou a bola no poste. De mais a mais, haviam duas mudanças no meio-campo. Uma delas, fundamental: Georginio Wijnaldum deu lugar ao estreante Frenkie de Jong, e este começou a mostrar pouco a pouco do que pode ser capaz - não errou nenhum dos 21 passes que deu no campo de defesa peruana, acelerando os ataques da Laranja.
Por falar em passes, Sneijder começou a indicar a melhora. Um de seus tradicionais lançamentos precisos em profundidade deixou Vormer livre na cara do gol, aos 54' - só a conclusão do meio-campista foi ruim, muito acima da meta. Poucos minutos depois, a jogada que simbolizou o crescimento holandês no segundo tempo: Sneijder roubou a bola e passou a De Jong, e este deixou Memphis Depay livre para tocar na saída de Gallese, aos 59', um minuto antes de Sneijder dar lugar a Quincy Promes, aplaudido pela torcida e cumprimentado pelos jogadores.
Memphis Depay simbolizou a mudança de postura da Laranja: lento no primeiro tempo, ofensivo e merecedor da vitória no segundo (AP) |
O melhor é que o substituto do homenageado também manteve o nível técnico no ataque. Junto de um Frenkie de Jong que justificava as expectativas e de um Memphis Depay mais acelerado, Promes ajudou a defesa peruana a ficar encurralada. O gol da virada demorou (só aos 82'), mas foi merecido, até para coroar a melhora de Memphis Depay e para justificar as palavras do técnico Ronald Koeman após o jogo: "No segundo tempo, atuamos como eu quero: com pressão e muita posse de bola".
Também estava justificada a homenagem a Sneijder, que assistiu a um vídeo para ele, ao lado da família, e pôde fazer um discurso a todos os presentes: "Eu sou muito falador, mas agora tenho de dizer que esta homenagem me tocou fundo. Foi um tempo maravilhoso na Laranja. Agradeço a todos os meus colegas e à torcida. Prometo a todos: estarei junto a vocês, torcendo e me divertindo com esses garotos. Continuem apoiando a seleção, precisamos muito de vocês".
Pelo que a Laranja fez hoje, merecerá mais apoio. Só precisa ser mais rápida, desde o começo. A ver o que ocorre contra a França.
Amistoso
Holanda 2x1 Peru
Data: 6 de setembro de 2018
Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Árbitro: Tobias Stieler (Alemanha)
Gols: Pedro Aquino, aos 12'; Memphis Depay, aos 60' e aos 82'
Holanda
Jasper Cillessen; Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Daley Blind; Kenny Tete (Daryl Janmaat), Kevin Strootman (Davy Pröpper), Georginio Wijnaldum (Frenkie de Jong) e Ryan Babel (Tonny Vilhena); Wesley Sneijder (Quincy Promes) e Ruud Vormer (Justin Kluivert); Memphis Depay. Técnico: Ronald Koeman
Peru
Pedro Gallese; Anderson Santamaría (Luis Abram), Cristián Ramos, Luis Advíncula e Miguel Trauco (Luis Sandoval); Yoshimar Yotún (Wilder Cartagena) e Pedro Aquino (Sergio Peña); André Carrillo (Horacio Calcaterra), Christian Cueva e Nilson Loyola; Jefferson Farfán. Técnico: Ricardo Gareca
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