terça-feira, 27 de julho de 2021

Chegou a hora de se superar

A Holanda preferiu terminar a fase de grupos sem medo, mostrando mais uma vez a capacidade de fazer gols. Precisará manter isso, diminuindo as fragilidades para superar o desafio dos Estados Unidos (Pro Shots)

A seleção feminina da Holanda (Países Baixos) tinha mais condições de terminar como líder do grupo F do torneio olímpico de futebol feminino, mesmo antes da última rodada começar. Mas também tinha mais riscos de enfrentar os Estados Unidos, enfraquecidos, mas sempre respeitáveis e perigosos. Entre a liderança e um caminho mais suave no mata-mata dos Jogos Olímpicos, as Leoas preferiram a primeira opção. A goleada por 8 a 2 sobre a China foi mais uma confirmação do poderio ofensivo - e, bem, da fragilidade defensiva também. São dois pontos importantes, diante de uma constatação: chegou a hora da Holanda superar seus limites, para tentar chegar às semifinais olímpicas.

De certa forma, o jogo foi uma repetição do que se viu contra Zâmbia e Brasil, mesmo com duas alterações no time - Merel van Dongen na zaga, no lugar da "pendurada" Stefanie van der Gragt; Lineth Beerensteyn começando no lugar da poupada Vivianne Miedema. O começo foi de força ofensiva, com Shanice van de Sanden personificando isso, graças à sua velocidade e, principalmente, ao primeiro gol, aos 12', após lançamento em profundidade de Jackie Groenen. Os espaços sobravam. E a boa atuação de Groenen e Daniëlle van de Donk no meio-campo só aumentava a capacidade holandesa de construir outra vitória tranquila, diante de uma China que teve até mudança na defesa, ainda no primeiro tempo (Wang Ying), para tentar estancar a sangria.

Todavia, aos poucos, o relaxamento holandês foi tamanho que permitiu à China chegar um pouco mais ao ataque, pelo esforço de Wang Shuang e Wang Shanshan, as únicas duas que traziam mais criatividade a um time ofensivamente fraco. Tanto que o gol do empate, aos 28', veio após troca de passes que envolveu o miolo de zaga, de novo lento em excesso. De quebra, aos 35', Shanshan teve até chance de virar, num chute de média distância. Só que esse período de melhoria chinesa foi encerrado abruptamente pelo bom momento que Beerensteyn viveu no jogo. Se estava discreta no meio do ataque, a atacante consertou isso fazendo dois gols, ainda no primeiro tempo - o 3 a 1, aliás, foi muito bonito.

Miedema nem precisou jogar 90 minutos para fazer história de novo: nunca ninguém fez tantos gols numa só edição dos Jogos Olímpicos (Pim Ras)

A vantagem já permitiu que Sarina Wiegman colocasse mais jogadoras em campo, para poupar outras. Algumas delas foram bem úteis. Primeiro, Kika van Es: a lateral esquerda cruzou com precisão na cabeça de Lieke Martens para o 4 a 1, já no começo do segundo tempo. Depois, Victoria Pelova: novamente entrando bem em campo, novamente marcando um gol. Todavia, o destaque vindo do banco foi uma velha conhecida: Miedema. Nem mesmo vir do banco só aos 17 minutos da etapa complementar evitou que ela se destacasse, com mais dois gols, que a tornaram a recordista de gols numa só edição do torneio olímpico de futebol feminino. Martens também apareceu mais nos 45 minutos finais, fazendo até boas jogadas com a tradicional parceira de ataque. Houve, é verdade, uma falha no segundo gol chinês, de Wang Yanwen - outra troca de passes em meio às zagueiras holandesas.

21 gols na fase de grupos. Uma marca que até surpreendeu Sarina Wiegman ("Eu não esperava, esse tipo de resultado não acontece nos Jogos Olímpicos"). Mas que foi justificada, pelo volume ofensivo holandês - e, principalmente, pelas esplendorosas atuações de Vivianne Miedema. Porém, a defesa deixa preocupações: apenas as laterais têm saído mais contento, com Lynn Wilms e Dominique Janssen aparentemente mais firmes no setor. E o meio-campo sofre também com desarmes adversários. A treinadora também sabe disso: "Às vezes erramos na construção das jogadas, e abrimos espaços para contra-ataques".

Ainda assim, o ânimo para pegar as norte-americanas é visível. Nas palavras de Jackie Groenen ("Elas que venham"), nas de Van de Donk ("Elas não estão tão fortes"), até nas de Sarina Wiegman ("Acredito numa surpresa"). Pois bem, será necessário que esse ânimo signifique uma Holanda com as qualidades ofensivas, sem os defeitos defensivos, com concentração total para superar um Team USA que pode reagir da mediana fase de grupos num piscar de olhos, e que ainda chega como leve favorito, tantos são os talentos ali. Chegou a hora das Leoas Laranjas se superarem em campo, se querem mostrar mesmo que são candidatas a medalha.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - fase de grupos

Holanda 8x2 China

Data: 27 de julho de 2021
Local: Estádio Internacional (Yokohama)
Árbitra: Salima Mukansanga (Ruanda)
Gols: Shanice van de Sanden, aos 12', Lineth Beerensteyn, aos 37' e 45' + 2, Lieke Martens, aos 47' e 70', Vivianne Miedema, aos 65' e 76', e Victoria Pelova, aos 72'; Wang Shanshan, aos 28', e Wang Yanyen, aos 68'

Holanda
Sari van Veenendaal; Lynn Wilms (Victoria Pelova), Merel van Dongen, Aniek Nouwen e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk (Vivianne Miedema) e Jill Roord (Kika van Es); Shanice van de Sanden (Renate Jansen), Lineth Beerensteyn e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

China
Peng Shimeng; Li Mengwen, Lin Yuping, Wang Xiaoxue e Guiping (Wang Ying); Yang Lina e Wang Yan (Wang Yanwen); Xiao Yuyi (Li Jing), Wang Shuang e Zhang Xin; Wang Shanshan. Técnico: Jia Xiuquan

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