sábado, 24 de julho de 2021

Fazendo e desfazendo

Contra o Brasil, a seleção feminina da Holanda provou que tem um ataque digno de respeito. E também uma defesa que sofreu ainda mais (Sam Robles/CBF)

No torneio olímpico de futebol feminino, a seleção da Holanda (Países Baixos) chegou para o esperado confronto contra o Brasil sabendo: tinha um cenário parecido com o da Seleção. Forças inquestionáveis no ataque, desconfianças pesadas na defesa. E o empolgante empate por 3 a 3 em Miyagi só reforçou essa impressão. Ainda mais em relação às Leoas Laranjas. Porque o que a parte da frente do time fez, a parte de trás desfez. E a parte da frente nem produziu tanto em relação às brasileiras, que impressionaram positivamente no segundo tempo - e até saíram de campo com uma melhor sensação.

Na parte da frente, sem surpresas: Vivianne Miedema continuou muito eficaz, esbanjando capacidade para ser o principal destaque neerlandês neste torneio olímpico. A começar pela belíssima jogada com que abriu o placar, logo aos três minutos: um drible direto em Érika, e a finalização precisa (Daniëlle van de Donk já levantou o braço antes mesmo da finalização: sabia que a bola entraria...). Ainda teve a "ajuda" da falha de Bárbara, no cabeceio que rendeu o segundo gol. Mas não só: com a bola nos pés, Miedema seguiu com movimentação constante, com toques técnicos, novamente sendo o nome do jogo vestindo laranja.

Porém, de certa forma, a camisa 9 foi a única atacante a aproveitar plenamente as fragilidades da defesa brasileira - principalmente nas laterais, com Bruna Benites ainda improvisada na direita e Tamires dando certos espaços na esquerda. Shanice van de Sanden foi apontada por quem acompanhou o jogo nos Países Baixos como a pior da equipe: apenas correu com a bola, sem criar jogadas, sem ser efetiva nos momentos de contra-ataque. Lieke Martens até fez o que pôde, teve pelo menos uma boa chance de gol (aos 23'), mas também não aproveitou os espaços que Bruna Benites deu. No meio-campo, só Van de Donk teve alguma preponderância: Jackie Groenen se preocupou mais em ditar o ritmo do jogo (e mesmo assim, com dificuldades pelas boas atuações de Andressinha e Angelina), e Jill Roord não teve espaço para ajudar.o ataque como fez contra Zâmbia.

Miedema segue sendo celebrada. Com toda a justiça: mais dois gols, e novamente a melhor das Leoas Laranjas em campo (ANP)

Se o meio-campo holandês foi bloqueado com sucesso pelas brasileiras - ainda mais após as boas alterações de Pia Sundhage no intervalo -, claro que a defesa sofreria. Sofreu: os únicos nomes a saírem a contento foram Sari van Veenendaal (fez o que pôde, e não teve culpa nos gols) e Lynn Wilms (escalada na direita, a jovem agradou: fez o passe para o primeiro gol, e até que trabalhou bem para conter Andressinha e Marta). Se as laterais foram a fonte das dores de cabeça contra Zâmbia, agora o miolo de zaga deu problemas com suas desatenções. Se Stefanie van der Gragt foi bem na etapa inicial, tirando muitos cruzamentos de cabeça, falhou logo após o segundo gol de Miedema, ao cometer a falta em Ludmila, que virou pênalti, convertido por Marta para o 2 a 2. E Aniek Nouwen também foi vítima da atacante: recuou curto demais para Van Veenendaal, sem se tocar da rapidez da brasileira, que foi esperta para o 3 a 2. Dominique Janssen também teve lá suas dificuldades, pela esquerda. Mas pelo menos, compensou na bela cobrança de falta com que empatou o jogo, 

Um ponto que deu algum alívio à Holanda. Mas que aumentou o alerta. Só restou a Sarina Wiegman esta frase, após o jogo: "Melhor que as falhas tenham ocorrido agora do que em fases posteriores". Agora, é enfrentar a China. Quem sabe poupando nomes como Miedema, que saiu com leves dores na virilha. Tentando vencer. Mais importante, tentando se fortalecer para o jogo dificílimo que se avizinha nas quartas de final, seja contra Suécia ou contra Estados Unidos. Porque, até agora, na Holanda, o que o ataque faz, a defesa desfaz.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - fase de grupos

Holanda 3x3 Brasil

Data: 24 de julho de 2021
Local: Miyagi Stadium (Miyagi)
Árbitra: Kate Jacewicz (Austrália)
Gols: Vivianne Miedema, aos 3' e aos 60', e Dominique Janssen, aos 79'; Debinha, aos 17', Marta, aos 65', e Ludmila, aos 68'

Holanda
Sari van Veenendaal; Lynn Wilms, Stefanie van der Gragt, Aniek Nouwen e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Jill Roord; Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema (Victoria Pelova) e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Brasil
Bárbara; Bruna Benites, Érika, Rafaelle e Tamires; Duda (Ludmila), Formiga (Angelina), Andressinha e Marta (Geyse); Bia Zaneratto (Andressa Alves) e Debinha. Técnica: Pia Sundhage

Nenhum comentário:

Postar um comentário