sexta-feira, 30 de julho de 2021

Ainda não dá

No futebol feminino olímpico, a Holanda mostrou mais valor diante dos Estados Unidos. Superou as falhas da defesa, com um ataque personificado na fenomenal Miedema. Mas errou na hora decisiva, e foi eliminada pelas experientíssimas americanas (Pim Ras)


A boa participação na fase de grupos do torneio olímpico de futebol feminino animou a Holanda (Países Baixos). A ponto do sonho de poder superar os Estados Unidos nas quartas de final ter motivado até palavras mais otimistas - Lieke Martens dizia que "tinha chegado a hora de tirá-las do torneio". E as Leoas Laranjas até que se esforçaram: se a defesa continuou falhando, o ataque (mais precisamente, Vivianne Miedema) deu problemas ao Team USA. Só que os momentos decisivos do jogo mostraram: as neerlandesas ainda têm o que aprender na hora da pressão. Por isso, estão eliminadas.

Poderiam ter sido eliminadas até durante o tempo normal, a bem da verdade. O que se esperava - até se temia - aconteceu: as norte-americanas começaram mostrando a força e a intensidade habitual em campo, pressionando uma zaga reconhecidamente frágil, deixando as atacantes da Holanda isoladas. Tanto que Tobin Heath até fez um gol anulado, aos 10', e quase marcou de cabeça, aos 14', sendo impedida por Sari van Veenendaal (e a trave). Porém, na primeira vez em que a Holanda escapou da pressão, aos 18', veio o gol. Com Miedema mostrando seu talento habitual: o domínio para cima de Abby Dahlkemper, o giro, o chute preciso no canto.

Seria notável manter uma vantagem no placar. Ainda mais diante do que os Estados Unidos seguiam mostrando no jogo, com os avanços de Samantha Mewis, a experiência de Tobin Heath, e principalmente, a habilidade de Lynn Williams, que renasceu no torneio olímpico. Titular pela primeira vez, coube a ela traduzir a superioridade ampla do Team USA ao fazer o cruzamento para que Mewis empatasse o jogo, aos 28', de cabeça, e marcar ela mesma o gol da virada, aos 31'. Diante de um miolo de zaga totalmente atarantado, com Stefanie van der Gragt dando muitos sustos e Dominique Janssen sendo superada por Williams na esquerda, era possível que houvessem mais gols estadunidenses.

A Holanda perdeu, mas Miedema ganhou: causou problemas à seleção norte-americana, com uma tremenda atuação, totalmente dominante no ataque (Pro Shots)

Não houve. Mais do que isso: houve a sequência da excepcional atuação que Miedema fazia no ataque. Mantinha a posse de bola, era marcada de perto (e superava a marcação), dava dores de cabeça às norte-americanas. Quase marcou antes do intervalo, aos 43', num cabeceio defendido por Alyssa Naeher. E logo no começo do segundo tempo, aos 54, num momento que parecia desanimado em Yokohama, o chute da camisa 9 entrou, após falha de Naeher. Era seu décimo gol em quatro jogos no torneio olímpico. Estava justificada a opinião da maioria holandesa que assistia ao jogo: "Miedema 2, Estados Unidos 2".

E o jogo ficou sério, muito sério. De um lado, Lineth Beerensteyn entrou no lugar de Van de Sanden, e foi enfim uma opção válida para fazer jogadas com Miedema. Do outro, as veteranas vieram a campo nos Estados Unidos, para resolver a parada: Christen Press, Alex Morgan, Megan Rapinoe... e vieram bem, atormentando a defesa laranja - tanto que Press fez mais um gol anulado, aos 63'. O jogo ficou muito igual. Poderia ter sido desempatado na bola do jogo, aos 81', quando Beerensteyn foi puxada por Dahlkemper. Lieke Martens bateu para aproximar os Países Baixos da consagração... mas bateu mal. Naeher pegou.

O drama até seguiu nos nove minutos restantes - e nos 30 minutos da prorrogação. De um lado, já no tempo extra, Miedema começou com duas chances nos dois primeiros minutos, e Martens chegou a um gol anulado. Do outro, mesmo com Aniek Nouwen melhorando na marcação, os espaços da Holanda na defesa eram um convite a ataques perigosos dos Estados Unidos: dois gols anulados no tempo extra (Press aos 109', Morgan aos 111'), e só Nouwen impediu um gol de Rapinoe no fim.

Porém, o pênalti perdido no tempo normal já dera um sinal: nos momentos agudos, a Holanda não teria frieza para fazer o que desejava diante dos Estados Unidos. E o time norte-americano, extremamente calejado em decisões, esperaria até o momento de resolver isso. Foi o que se viu na decisão por pênaltis: Naeher, contestada no gol, se transformou no destaque da partida, pegando as cobranças de Miedema (grande pena para a melhor holandesa em campo, incontestavelmente) e Nouwen. Cobranças perfeitas de Lavelle, Heath, Morgan e Rapinoe.

E Estados Unidos classificados às semifinais, encerrando os cinco anos de Sarina Wiegman no comando da seleção feminina, mergulhando holandesas como Martens, Miedema e Jackie Groenen em lágrimas. Porque a Holanda cresceu no futebol feminino, sim. Mas ainda não dá para superar as grandes seleções.

Jogos Olímpicos - futebol feminino - quartas de final

Holanda 2x2 Estados Unidos - Estados Unidos 4x2 nas cobranças de pênalti

Data: 30 de julho de 2021
Local: Estádio Internacional (Yokohama)
Árbitra: Kate Jacewicz (Austrália)
Gols: Vivianne Miedema aos 18' e 54', Samantha Mewis, aos 28', e Lynn Williams, aos 31'

Holanda
Sari van Veenendaal; Lynn Wilms, Stefanie van der Gragt, Aniek Nouwen e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Jill Roord (Victoria Pelova); Shanice van de Sanden (Lineth Beerensteyn), Vivianne Miedema e Lieke Martens. Técnica: Sarina Wiegman

Estados Unidos
Alyssa Naeher; Kelley O'Hara, Abby Dahlkemper, Becky Sauerbrunn, e Crystal Dunn; Lindsey Horan, Julie Ertz e Samantha "Sam" Mewis (Christen Press); Lynn Williams (Rose Lavelle), Carli Lloyd (Alex Morgan) e Tobin Heath (Megan Rapinoe). Técnico: Vlatko Andonovski 

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