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Com o novo auxiliar Davids a seu lado, Van Gaal já teve de dar mais satisfações sobre escolhas polêmicas. Tudo para seguir os testes rumo à Copa (Jeroen Meuwsen/BSR Agency/Getty Images) |
Desde que os trabalhos da seleção masculina da Holanda começaram em 2022, o técnico Louis van Gaal ressalta: sem muito tempo para treinos, cada data FIFA da fase inicial do ano servirá para testes, testes e mais testes. Tudo para que a Laranja tenha um time titular bem treinado (e alternativas táticas) quando chegar o 21 de novembro - agora se sabe, o dia da estreia na Copa do Mundo, contra Senegal, no grupo A, abrindo o torneio na prática. E neste ciclo de junho, os testes serão até mais exigentes do que já foram os razoáveis amistosos contra Dinamarca (vitória por 4 a 2) e Alemanha (empate em 1 a 1). Afinal, vêm aí quatro rodadas de Liga das Nações. Por mais que o peso seja menor, enfrentar Bélgica (a estreia, nesta sexta, em Bruxelas), Polônia (dia 11, em Roterdã) e País de Gales (dia 8, em Cardiff, e dia 14, em Roterdã), em jogos oficiais, já aumenta um pouco a intensidade dos testes.
Por isso, também já começam ponderações mais incisivas sobre algumas escolhas de Van Gaal na lista dos 26 convocados. O técnico até ganhou muitos pontos com a opinião pública pela coragem ao expor o tratamento por que passa contra um câncer na próstata - a primeira fase do tratamento já se encerrou ("Preciso lidar com muita coisa, mas felizmente tenho energia para isso", definiu o treinador na coletiva da segunda passada). No entanto, pela primeira vez desde seu retorno à Oranje, Louis teve de explicar mais suas escolhas. Principalmente aquela que deixou de fora da convocação Georginio Wijnaldum, um dos jogadores mais importantes da seleção masculina nos últimos anos.
Van Gaal tinha seus motivos, e os explicou a seu modo: aberta e seriamente. "Wijnaldum não entregou desempenho. A seleção não é um centro de reabilitação, eu preciso dos melhores aqui, de gente que esteja bem em seu clube. E ele não andou no seu melhor, por todos os problemas no PSG". Inclusive, o técnico indicou que o meio-campista já não andava bem há um certo tempo. "Nas eliminatórias [da Copa], eu estive em seis jogos, ele jogou em cinco e foi substituído em três. (...) Já nas partidas anteriores, eu não o escalei, mas eu ainda o chamei. Já era uma tentativa de alertá-lo". E mesmo exigente, fez questão de deixar a porta aberta: "Se ele vai à Copa? Não sei, não sei se ele vai melhorar a forma. Se ele melhorar, eu o convoco imediatamente, e ele vai jogar comigo, porque gosto muito do estilo dele".
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Wijnaldum (no amistoso contra a Alemanha, em março) ficou de fora da convocação, desta vez. E se não melhorar, a vaga na Copa pode correr riscos (David Streubel/Getty Images) |
De fato, Van Gaal tinha um ponto: Wijnaldum ficou do lado das contratações do Paris Saint-Germain que decepcionam até aqui, mais ficou na reserva do que jogou, e já mostrou certa lentidão nos amistosos do começo do ano. Ainda assim, sua ausência calou fundo. E foi criticada. A revista Voetbal International trouxe um artigo do jornalista, apontando incoerências do treinador da seleção - Van Gaal gosta de trabalhar levando em conta o que chama de totalemens principe, o princípio do homem total, abordando a pessoa além do jogador: "Após uma temporada difícil no Paris Saint-Germain, Wijnaldum precisava de uma abordagem calorosa. Um técnico que demonstrasse confiança, porque sabe que esse jogador de alto nível será importante no futuro da seleção. Van Gaal não fez isso: ele afastou o jogador". E durante os treinos no centro da federação, na cidade de Zeist, Memphis Depay opinou com franqueza: "Eu o teria chamado. Acho que ele [Wijnaldum] mostrou muito aqui. Convocar é uma coisa e ser titular é outra, mas acho que Wijnaldum cabe na seleção. Não tenho dúvidas de que ele voltará".
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Pois é: cinco anos depois, mesmo com uma passagem apagada pelo Monterrey, Vincent Janssen está de volta à seleção (Azael Rodriguez/Getty Images) |
A ausência de Wijnaldum até eclipsou outra polêmica escolha de Van Gaal. Afinal de contas, está de volta à seleção, após cinco anos, um atacante cujo desempenho é discutível: Vincent Janssen. Jogando pelo Monterrey-MEX, Janssen se alterna entre reserva e titularidade - e mesmo titular, raramente faz gols: no Clausura mexicano deste ano, foram só três gols em 18 jogos pelos Rayados. O holandês sequer foi relacionado para o grupo do Monterrey que disputou o Mundial de Clubes, no começo do ano. E de resto, ainda ecoa sua passagem desastrosa pelo Tottenham, quando fracassou em dar sequência ao fulgurante começo no AZ. Ainda assim, querendo um atacante de área na seleção ("Memphis Depay e Bergwijn voltam demais para buscar jogo, e não quero isso"), Van Gaal decidiu apostar em Janssen. Com base nas observações de um nome da comissão técnica que o convocou bastante quando treinou a seleção, entre 2016 e 2017 - não Edgar Davids, estreando como auxiliar técnico da seleção, mas Danny Blind. "Blind foi o responsável [pela sugestão]. Ele o convocou, e então Janssen fez muitos gols. Temos uma lista de 40 a 50 nomes a observar, Danny está acompanhando, Malen está machucado, e eu tinha espaço para um novo atacante".
Atacante que chegará só depois do jogo contra a Bélgica: a convocação era tão inesperada que Janssen marcara seu casamento para o dia 3 de junho, e manteve a cerimônia mesmo depois de ser chamado. A surpresa chegou até mesmo no México: o comentarista Heloi Doroh falou que ele "é o jogador mais sortudo de toda a Holanda", e o diário Noticias Pamboleras foi curto e grosso na manchete: "Não dá para acreditar". Na Holanda, o ex-jogador Kenneth Perez, comentarista da ESPN holandesa, assoprou e mordeu: "Acredito que ele deve ter um plano magistral para Janssen. Se fosse Frank de Boer fazendo isso...". Em coluna no jornal Algemeen Dagblad, o antológico Willem van Hanegem também evocou o contestado antecessor de Van Gaal para completar a frase e criticar a convocação do atacante: "Se Frank de Boer tivesse feito isso, o país seria pequeno para tanta crítica". A pressão fica para Janssen, sete gols em 17 jogos pela seleção entre 2016 e 2017.
Diante dessas duas convocações, outras experiências até foram eclipsadas. Como outro retorno: desde 2017 o zagueiro Bruno Martins Indi estava fora da Laranja, mas foi incluído nesta lista. De certa forma, uma lembrança de Van Gaal ao bom desempenho e ao bom entendimento que teve com Bruno na Copa de 2014 - e um prêmio às boas atuações pelo AZ, na temporada: "Ele melhorou na construção de jogadas, e tem experiência em Copas. Agora, tem a chance de mostrar isso na seleção. Veremos todos se ele agarra essa chance". Chance que também terá uma novidade: o estreante volante Jerdy Schouten, também reconhecido pela boa temporada que fez no Bologna-ITA, com eficiência nos desarmes - opção válida para Marten de Roon, também machucado.
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Van Dijk chegou, mas só joga contra a Bélgica - e depois irá para as férias (ANP) |
Além das lesões, Van Gaal ainda lida com o cansaço pós-temporada dos jogadores. Que o diga Virgil van Dijk: vindo de uma final de Liga dos Campeões (sem contar a temporada inglesa), o capitão da seleção somente jogará na estreia contra a Bélgica, e depois será desligado da delegação para ter férias antecipadas: "Ele jogou 60 partidas na temporada. De todos os que jogam na Premier League, ele foi quem atuou mais. Claro que ele está nas últimas. Nós conhecemos Virgil: se você deixar, ele quer jogar tudo, mas é óbvio que é melhor ele ser liberado mais cedo".
Fora essas lesões, fora as convocações controversas, a Holanda ainda lida com as alternâncias de esquemas táticos - o 4-3-3 pode ser preferido de imprensa, torcida e até de jogadores, mas Van Gaal já deixou claro: apostará no 5-3-2, com três zagueiros, para tentar ir longe na Copa. Lida também com a falta de confiabilidade em algumas posições. O gol, por exemplo. Mark Flekken ainda tem de se estabelecer como titular, mesmo vindo de boa temporada no Freiburg-ALE; Jasper Cillessen sofreu demais com lesões no Valencia-ESP; e Tim Krul, falhando aqui e ali, amargou o rebaixamento do Norwich City em que joga no Campeonato Inglês.
Mas os testes seguem. E seguirão, como Van Gaal indicou: "Precisamos fazer o máximo possível no tempo disponível. Enfatizo: todo mundo está no meu radar, mesmo jogadores que não foram convocados". No entanto, o caráter mais competitivo da Liga das Nações aumentará a intensidade desses testes. E aumentará a pressão sobre a seleção da Holanda. Até porque ela já precisará chegar pronta para começar a Copa do Mundo no 21 de novembro que virá.
Os convocados da Holanda
GOLEIROS: Mark Flekken (Freiburg-ALE), Jasper Cillessen (Valencia-ESP) e Tim Krul (Norwich City-ING)
LATERAIS: Denzel Dumfries (Internazionale-ITA), Hans Hateboer (Atalanta-ITA), Daley Blind (Ajax) e Tyrell Malacia (Feyenoord)
ZAGUEIROS: Virgil van Dijk (Liverpool-ING), Jurriën Timber (Ajax), Matthijs de Ligt (Juventus-ITA), Stefan de Vrij (Internazionale-ITA), Nathan Aké (Manchester City-ING), Jordan Teze (PSV) e Bruno Martins Indi (AZ)
MEIO-CAMPISTAS: Frenkie de Jong (Barcelona-ESP), Steven Berghuis (Ajax), Davy Klaassen (Ajax), Teun Koopmeiners (Atalanta-ITA), Guus Til (Feyenoord) e Jerdy Schouten (Bologna-ITA)
ATACANTES: Memphis Depay (Barcelona-ESP), Steven Bergwijn (Tottenham-ING), Cody Gakpo (PSV), Noa Lang (Club Brugge-BEL), Wout Weghorst (Burnley-ING) e Vincent Janssen (Monterrey-MEX)
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