sábado, 21 de abril de 2018

Copa da Holanda: a consagração contra a consolação

Só esta taça da Copa da Holanda pode manter o sorriso nos rostos de El Ahmadi e Van Bronckhorst, do Feyenoord (os dois em primeiro plano). Ou nos de Van den Brom e Vlaar, do AZ (ANP)
A final da Copa da Holanda costuma ser cenário para motivações e concretizações as mais variadas. Já viu o Zwolle realizar um conto de fadas quase inacreditável, ao conquistar o título mais importante de sua história goleando o Ajax, em 2013/14; já viu momentos inesquecíveis para Groningen e Vitesse, que venceram o primeiro torneio de suas histórias - em 2014/15 e 2016/17, respectivamente; já viu o Feyenoord dar um sinal de que viria um ponto alto em sua história, ao levar a KNVB Beker para casa em 2015/16. E caberá ao Stadionclub tentar ganhá-la pela 13ª vez neste domingo - como sempre, em seu De Kuip. 

Mas ao enfrentar o AZ, o clima é diferente em relação ao que foi há dois anos. Se há um clube otimista, é o de Alkmaar, não o de Roterdã. E o AZ está otimista, antes de mais nada, porque ofensividade e qualidade técnica não lhe faltam para buscar o primeiro título de Copa da Holanda desde 2012/13. Já virou lugar comum dizer que a equipe de John van den Brom é a mais agradável de ser vista na Eredivisie - pelo menos, nesta temporada -, mas este lugar comum se justifica. Tem sido empolgante ver o surgimento de Guus Til e Teun Koopmeiners, cada vez melhores e mais promissores no meio-campo - com Fredrik Midtsjo acrescentando velocidade ao toque de bola de ambos. 

No ataque, é certo dizer que a dupla Alireza Jahanbakhsh e Wout Weghorst é a melhor da posição no futebol holandês, nesta temporada. Basta dizer que, graças a ambos, pela primeira vez o AZ tem dois jogadores com mais de 16 gols na liga desde 1983/84. O iraniano só melhora à medida que os jogos decisivos chegam: no campeonato, ele chegou ao topo da tabela de goleadores, alcançando 18 gols com os três marcados contra o Vitesse durante a semana. Além disso, sua velocidade na direita é a principal opção de jogadas dos Alkmaarders. E se ele precisar cruzar a bola, sem problemas: em geral, lá estará Weghorst, pronto para finalizar (16 gols) ou ajeitar a bola para os meio-campistas. 

De quebra, Weghorst mostra raça, disposição, até capacidade de se dar bem em ambientes adversos. Pelo menos, é isso que o atacante prometeu à revista Voetbal International, durante a semana: "Não significa nada para mim que o Feyenoord vá jogar a final em casa. Pessoalmente, eu me sinto até mais forte no caso de um estádio lotado. São esses jogos que se quer jogar". E o atacante ainda evocou o ponto fraco do AZ na temporada: os tropeços contra os clubes grandes. Na Eredivisie, houve uma derrota para o Ajax, adversário da penúltima rodada; contra o PSV, por duas vezes o clube saiu na frente, e por duas vezes cedeu a vitória; e contra o Feyenoord, duas derrotas, com direito a 4 a 0 em Alkmaar. Weghorst indicou: "O AZ merece uma recompensa saborosa. E cabe a nós, jogadores, buscarmos isso". Completando tal sentimento, vieram as palavras do técnico John van den Brom, na entrevista coletiva: "Queremos muito ganhar essa copa. Queremos provar como somos bons".

Se o time alvirrubro de Alkmaar busca a consagração, até para o ótimo retrospecto na Copa da Holanda (finalista no ano passado, semifinalista em 2015/16 e 2013/14, quadrifinalista em 2014/15...), o Feyenoord busca uma consolação. Por razões variadas - a falta que as transferências fizeram, lesões a perturbarem o time, a falta de qualidade técnica -, o Stadionclub decepcionou a torcida em 2017/18. Se era difícil pensar na repetição da apoteose do ano passado, com o título da Eredivisie após 18 anos, também não precisava haver um desempenho tão apático, exemplificado num longínquo quarto lugar na liga e no fato de ter perdido todos os clássicos para Ajax e PSV, algo inédito na história do clube.

Restou a Copa da Holanda, comum porto seguro para os Feyenoorders - é a 17ª vez que o clube chega à decisão do torneio, recorde junto ao PSV. E Giovanni van Bronckhorst sabe: ou o Feyenoord ganha, ou defender seu trabalho nesta temporada será ainda mais difícil do que já está sendo. Aliás, o técnico reconheceu isso na entrevista coletiva desta sexta: "A [campanha na] liga não foi o que nós esperávamos, teve altos e baixos. Porém, ainda podemos conquistar um título. Já encaramos essa pressão na final de 2016, e no título do ano passado. Mas meu time está acostumado".

De fato, as palavras de Karim El Ahmadi, capitão do Stadionclub, foram bastante otimistas em relação à partida: "Quando se ganha uma vez, sabe-se o sentimento que é. Você quer sempre mais, e é isso que o grupo tem sentido. Estamos em quarto lugar na liga, e se vencermos a copa ainda será uma temporada deficiente, mas nos fará muito bem. E há uma sensação extra ao ter a final em De Kuip". Para tanto, o Feyenoord se cuidou. Por exemplo: Robin van Persie foi poupado na goleada contra o Willem II, exatamente para fazer o papel pelo qual foi contratado - ser a referência, o homem capaz de decidir. Deste modo, começará a final jogando, no meio-campo, como "camisa 10".

Outro exemplo do cuidado do Feyenoord é Steven Berghuis: o menor sinal de lesão sentida no aquecimento contra o Willem II o levou a também ser poupado, enquanto Jens Toornstra atuou. Tudo para também estar em forma na decisão deste domingo - como outros atacantes, Jean-Paul Boëtius e Sam Larsson, ambos ainda voltando de lesão. 

Afinal, o Feyenoord precisa estar pronto para buscar a sua consolação, no título da Copa da Holanda. O mesmo título que o AZ quer, para confirmar a ótima temporada que faz. A ver qual das duas palavras será premiada neste domingo, em De Kuip. 


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