quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Liga Europa: o menor foi o melhor

O AZ era o holandês menos falado na Liga Europa. Pois fez por merecer a classificação justa à segunda fase (Ed van de Pol/AZ.nl)
Há não muito tempo, a Liga Europa era o maior torneio que os clubes da Holanda podiam almejar, na realidade atual do futebol - e ainda assim, bem de longe. Aí, em 2018/19, veio o Ajax, fez o que fez... e turbinou as esperanças europeias dos Países Baixos no ludopédio. E é possível dizer que isso influiu no desempenho dos três clubes que estiveram na fase de grupos da Liga Europa desta temporada: todos eles, em algum momento, sonharam com a ida à segunda fase. 

Todavia, por incrível que possa parecer (mas de modo esperado, em vista do desempenho), o AZ foi o clube a realizar o desejo. Mesmo menos conhecido, o time de Alkmaar mostrou mais capacidade técnica e resistência do que PSV e Feyenoord. E irá ao mata-mata, a partir de fevereiro de 2020. A partir de agora, só fica a dúvida se o sonho neerlandês continuará nos torneios continentais, ou se a inevitável queda começará. Afinal, os Alkmaarders foram duramente derrotados no jogo derradeiro do grupo, e terão um adversário dificílimo no sorteio da segunda-feira, venha da Liga Europa (Sevilla, Basel, Arsenal ou Basaksehir) ou da Liga dos Campeões (Red Bull Salzburg, Internazionale ou Benfica). E é inegável que o Ajax preferia continuar na Liga dos Campeões a ter amargado a decepção que amargou, tendo o "prêmio de consolação" da Liga Europa. 

Mas agora, já foi. É hora de avaliar como foram os três participantes holandeses na segunda competição continental de clubes - o Utrecht caiu para o Zrinjski Mostar-BOS, ainda na segunda fase preliminar:

AZ

Primeiro o talento; depois, se necessário, a garra. Pode-se descrever assim a trajetória do AZ nesta Liga Europa. Afinal de contas, desde que o caminho começou, na segunda fase preliminar, ficou claro que o time de Alkmaar tinha talento - principalmente no trio de ataque, com Calvin Stengs, Myron Boadu e Oussama Idrissi cada vez mais entrosados. Assim, o BK Häcken sueco e o Mariupol ucraniano foram superados com relativa facilidade. Mas na hora dos play-offs por um lugar na fase de grupos, a dureza contra o Royal Antwerp, da Bélgica, foi grande. Para começo de conversa, a partir dali, os Alkmaarders tiveram de mandar o jogo em Haia, após a queda de parte da cobertura do AFAS Stadion. Além do mais, o ataque fazia muitos gols, mas também perdia outros tantos. Depois, com o 1 a 1 na ida, tiveram de decidir em Antuérpia. E perdiam a vaga, com o 1 a 0 do Antwerp, mesmo com um homem a mais. Aí entrou a garra: no minuto final, de tanto martelar, Stengs empatou. E na prorrogação, o time deslanchou rumo aos 4 a 1 que os pôs nos grupos da Liga Europa.

O sorteio parecia difícil: com o Manchester United como favorito destacado do grupo L, restaria aproveitar as chances e ganhar cada ponto necessário contra Astana-CAZ e Partizan-SER. Aí, o AZ se valeu de uma equipe embalada nesta fase inicial da temporada. Já não era só o trio de ataque: era o meio-campo firme, com Teun Koopmeiners como destaque, e uma zaga segura, com o goleiro Marco Bizot brilhando. Contra o Astana, nem houve tantos problemas: foram duas goleadas contra o time do Cazaquistão - 6 a 0 em Haia, na terceira rodada, 5 a 0 no Cazaquistão, na quarta. Ao receber o Manchester United em Haia, com os Diabos Vermelhos em crise, um 0 a 0 que poderia ter sido vitória, na segunda rodada. Mas foi contra o Partizan que o AZ mostrou por quê mereceu tanto a classificação. Estreando fora de casa, em Belgrado, ia melhor e fizera 1 a 0 com Stengs. Aí, Jonas Svensson foi expulso, e Natcho virou para o time sérvio, diante de um adversário obviamente fechado na defesa. Mas bastou um contra-ataque, para Boadu garantir um ponto valioso: 2 a 2. 

Na quinta rodada, em Haia, a vaga na segunda fase foi até mais emocionante. Com a defesa fragilizada no decorrer da partida (Pantelis Hatzidiakos sofreu séria lesão no joelho, que o tirou do resto da temporada), o Partizan fez 2 a 0 no primeiro tempo, e pareceu passar à frente na disputa da vaga. Para piorar, já na reta final da partida, Boadu foi expulso. Parecia que o AZ teria de buscar a classificação na última rodada, em Old Trafford, contra o United. Aí, de repente, Ferdy Druijf foi o herói: aos 87' e aos 90' + 3, fez os dois gols que levaram a um eletrizante 2 a 2. Eletrizante e justo: mesmo sendo o menor holandês nos grupos, o AZ foi o melhor do país na Liga Europa.

Do começo promissor ao fim lamentável: que decepção foi o PSV na Liga Europa (AFP)
PSV

Quem viu e quem vê os Boeren... está certo que a eliminação na segunda fase preliminar da Liga dos Campeões já era uma relativa decepção, mas a Liga Europa era acessível à equipe de Eindhoven, mesmo que ela tivesse perdido nomes que fariam (e fazem) falta: Angeliño, Hirving Lozano, Luuk de Jong. Ainda assim, até para chegar aos grupos houve dificuldades. Principalmente na terceira fase preliminar da LE: contra o Haugesund, da Noruega, o gol só veio na ida, com o 1 a 0 de Steven Bergwijn - na volta, um angustiante 0 a 0, com direito a bola na trave do time norueguês no fim (um gol do Haugesund levaria à prorrogação no Philips Stadion).

Aí, aparentemente, o PSV se estabilizou. O alemão Timo Baumgartl virou um razoável parceiro para Nick Viergever, Mohamed Ihattaren provou ser uma revelação no meio-campo, Donyell Malen decolou na temporada, Bergwijn seguiu como o destaque, Kostas Mitroglou e Ritsu Doan foram reforços promissores... e os Boeren passaram com facilidade pelos play-offs, pespegando duas vitórias fáceis no Apollon Limassol (3 a 0 em Eindhoven, 4 a 0 no Chipre) e indo ao grupo C. Mais do que isso: a chave parecia cômoda, com o Sporting-POR sendo o único adversário mais árduo. E o começo foi o melhor possível: um 3 a 2 no Sporting, goleada no Rosenborg norueguês (4 a 1), e a segunda fase já começava a se aproximar. Foi quando começaram os problemas. Sorte do LASK Linz. Na terceira rodada do grupo, em Eindhoven, o time da Áustria viu o PSV falhar nas finalizações, perdendo muitos gols (foram três bolas na trave!), e levou um ponto para Linz com o 0 a 0. 

No meio tempo para a quarta rodada, os Boeren ficaram sem Malen e Bergwijn, ambos lesionados. Restou colocar Bruma e Cody Gakpo para jogarem. Parecia que não haveria problemas, com Schwaab fazendo 1 a 0 em Linz, de pênalti. Contudo, no segundo tempo, a defesa se esfarelou diante do LASK: em quatro minutos (dos 56' aos 60'), dois gols, a virada do time austríaco para 2 a 1, e logo uma goleada - 4 a 1. Diminuíam as chances de classificação, começava uma crise que ainda vitima o PSV. Só uma vitória diante do Sporting, em Lisboa, diminuiria o alarido. Veio uma goleada ainda pior: 4 a 0 dos Leões no estádio José Alvalade, com uma atuação defensiva risível. PSV eliminado (perderia para o LASK Linz no confronto direto, primeiro critério de desempate). Só restou cumprir tabela na última rodada, contra o Rosenborg, em Eindhoven, com mais uma decepção: empate em 1 a 1. A expectativa foi a mãe da decepção.

O Feyenoord foi eliminado, como se esperava. Mas não se entregou sem luta (feyenoord.nl)
Feyenoord

Até que o Stadionclub impressionou positivamente em seu caminho rumo à fase de grupos. Na terceira fase preliminar, diante do Dinamo Tbilisi, da Geórgia, uma ótima atuação na ida (4 a 0, mesmo que a vitória só tenha virado goleada quando o Dinamo ficou com um homem a menos), e o empate suficiente na volta (1 a 1, com alguns sustos defensivos). Nos play-offs, então, ficou ainda melhor: superioridade inquestionável diante do Hapoel Beer Sheva, de Israel: 3 a 0 tanto na ida em De Kuip, quanto na volta, em Berseba. O time que tinha Jaap Stam no banco e tantos no campo - Steven Berghuis, Luciano Narsingh, Sam Larsson, Orkun Kökcü, o retornado Leroy Fer, Jens Toornstra, Nicolai Jorgensen - parecia poder sonhar mais.

O sonho já diminuiu de intensidade ao ver os adversários no grupo G, com Rangers e Porto destacados como favoritos. Diminuiu ainda mais com a péssima estreia: em Glasgow, o Rangers fez 1 a 0 no Stadionclub, diante de uma defesa frágil, e poderia ter feito mais gols. Todavia, das trevas se fez a luz: contra o Porto, muito mais capacitado, a defesa teve sorte, o ataque foi eficiente, Rick Karsdorp se livrou das lesões por um dia para jogar uma das grandes partidas de sua carreira... e o Feyenoord realimentou suas chances de classificação, com um 2 a 0. Porém, a subida precedeu a queda: em Berna, contra o Young Boys suíço, outra vez os defensores Feyenoorders foram de uma ingenuidade irritante. Cometeram dois pênaltis, entregando o 2 a 0 na mão do time aurinegro helvético, ainda no primeiro tempo, com o português Edgar Miguel Ié como bode expiatório. A fragilidade defensiva foi um dos fatores que causaram a demissão posterior de Jaap Stam.

Veio Dick Advocaat, de habitual cuidado defensivo em seus trabalhos. E até que o Feyenoord pôde continuar sonhando. Na quarta rodada, contra o Young Boys, Berghuis abriu o placar de pênalti, mas Marvin Spielmann empatou para os visitantes suíços em Roterdã. Tudo bem, era um ponto. Ruim foi contra o Rangers, também em De Kuip: num primeiro tempo primoroso, o Feyenoord fez 1 a 0 na equipe escocesa e poderia ter marcado mais, mas amargou grande atuação de Alfredo Morelos - o colombiano fez dois gols e virou para 2 a 1 -, restando a Toornstra marcar um gol para outro empate. Se servia de consolo, uma vitória contra o Porto (somada a uma vitória do Rangers sobre o Young Boys) levaria o Feyenoord à segunda fase. E a inconstância apareceu de novo. Em três minutos, os Rotterdammers levaram 2 a 0 do time português no Estádio do Dragão; também em três minutos, empataram, tudo no primeiro tempo; mas as falhas da defesa levaram à derrota por 3 a 2, e à eliminação. Se serve de consolo, poderia ter sido mais vexatório. Pelo menos, o Feyenoord lutou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário