terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Tudo bem, mas tudo errado

A ineficiência defensiva e a velha dificuldade de sair de seu estilo levaram o Ajax a amargar outra decepção na Liga dos Campeões (ANP)
O Ajax já vinha fraquejando nas rodadas recentes do Campeonato Holandês. Ainda assim, estava com a faca e o queijo na mão para se classificar às oitavas de final da Liga dos Campeões. Tinha condições de ganhar do Valencia, em Amsterdã, para tentar sonhar, quem sabe, em repetir o impressionante desempenho da temporada passada. Só que os Ches estavam preparados para, outra vez, mostrarem: os Ajacieden são facilmente vulneráveis, desde que se tenha uma equipe dedicada na defesa e eficiente no ataque. Foi o que o Chelsea já fizera, no 1 a 0 em Amsterdã nesta fase de grupos. E foi o que os valencianistas fizeram, com a vitória por 1 a 0 que frustrou a torcida na Johan Cruyff Arena, ao despachar os Amsterdammers para a segunda fase da Liga Europa.

Desde o começo da partida, ficou claro que seria um jogo de dois lados relativamente destemidos. O Valencia, com um cabeceio de Rodrigo Moreno que mandou a bola perto do gol, antes mesmo do primeiro minuto. E o Ajax, com um chute de Donny van de Beek que foi bloqueado, logo depois. Entretanto, um dos lados destemidos começou a sofrer: os Ajacieden insistiam, tocavam a bola, mas tinham o espaço bloqueado para passes em profundidade, fracassavam ao tentar acelerar o jogo. Enquanto isso, os visitantes da Espanha mostravam alguma capacidade para perturbar a defesa do time da casa - que até resistia, mas oferecia algum espaço, além de perder divididas perigosas no meio.

Coube a uma dessas divididas originar o gol valencianista, aos 24': Edson Álvarez viu a bola escapar após disputa com Carlos Soler, e a bola sobrou para um dos três dos Ches que poderia fazer algo: Dani Parejo. Este passou a Kevin Gameiro. E mesmo diante de espaço fechado para chutar, o francês teve a inteligência de notar que Rodrigo estava livre na direita da área - e em condição legal, já que Joël Veltman acreditara no chute de Gameiro (o zagueiro assumiu que foi iludido, após o jogo). Aí, Rodrigo bateu no alto, sem chances para Onana. Numa rara chance, o Valencia tinha conseguido o que desejava: a vantagem no placar.

Rodrigo era um dos nomes que poderia levar o Valencia a conseguir a notável vitória. E ele levou, ao ser eficiente e aproveitar uma das únicas chances (BSR Agency)
A partir dali, só interessava aos visitantes continuarem fechando os espaços para o Ajax. E conseguiam isso, graças às atuações estupendas dos quatro nomes da defesa. Nas laterais, Daniel Wass e José Luis Gayà impediam os avanços de Nicolás Tagliafico e Noussair Mazraoui; no miolo de zaga, Gabriel Paulista e Mouctar Diakhaby eram absolutos ao evitarem as tentativas de jogo aéreo. Ficava clara a falta que fazia o lesionado Quincy Promes - ainda mais com a atuação ruim de Noa Lang. Ficava ainda mais clara a dependência de Hakim Ziyech e Van de Beek, os únicos a tentarem coisas na frente, tanto com lançamentos rebatidos como com chutes - como o inesperado arremate de Ziyech, rebatido pelo goleiro Jaume Doménech (substituto do lesionado Jasper Cillessen), aos 37'.

Mas a defesa do Valencia mostrava a dedicação esperada num jogo importante desses - como Gayà provou, na bola que tirou em cima da linha, aos 44'. Ficava claro: o Ajax teria de forçar mais para o empate que o classificaria, diante da vitória do Chelsea sobre o Lille. Até por isso, Sergiño Dest veio a campo para tornar o time mais veloz, após o intervalo. Para isso, no entanto, seguiam faltando chutes a gol. No começo do segundo tempo, Doménech evitou que Dest finalizasse, aos 47'. Um minuto depois, outro chute de Ziyech trouxe perigo, mas saiu sem muito rumo.

Assim seguiu o jogo: o Ajax tinha a bola, procurava espaço, mas o Valencia não o dava. Cada vez menos se arriscava no ataque, mas quando tentou, quase fez com Rodrigo, aos 55', em chute colocado. O tempo se esgotava, os jogadores começavam a ficar nervosos, e o desespero (incomum para os Ajacieden, como mostraram as exageradas tentativas de briga com os jogadores valencianistas) crescia. A ponto de as entradas infrutíferas de Klaas-Jan Huntelaar e Siem de Jong fazerem o time tentar as bolas altas para a área, em busca do empate. Quase deu certo uma vez - por falha de Doménech, quase veio o empate aos 89', mas Daniel Wass afastou a bola da área, e o arqueiro do Valencia se recuperou para defender o chute de Martínez. Um raro chute: o Ajax tocou, tocou... mas bater a gol, mesmo, bateu apenas três vezes em 90 minutos.

E veio a eliminação, premiando o esforço notável e a precisão maior do Valencia na defesa. E mostrando também como o Ajax tem dificuldades quando lhe tiram o espaço em campo. Dificuldades crônicas, para um time tão cioso e tão apegado a um estilo de jogo. O preço a se pagar é suportável: há a Liga Europa com perspectivas razoáveis, há o Campeonato Holandês em disputa... enfim, mesmo que a queda decepcione, segue tudo bem com o Ajax. Mas também ficou tudo errado, com a torcida entristecida pela eliminação desta terça - uma eliminação sentida, mas justificável.

Liga dos Campeões - fase de grupos

Ajax 0x1 Valencia

Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Data: 10 de dezembro de 2019
Árbitro: Clément Turpin (França)
Gol: Rodrigo Moreno, aos 24'

Ajax
André Onana; Noussair Mazraoui (Sergiño Dest), Joël Veltman, Daley Blind e Nicolás Tagliafico (Siem de Jong); Edson Álvarez, Donny van de Beek e Lisandro Martínez; Noa Lang (Klaas-Jan Huntelaar), Dusan Tadic e Hakim Ziyech. Técnico: Erik ten Hag

Valencia
Jaume Doménech; Daniel Wass, Gabriel Paulista, Mouctar Diakhaby e José Luis Gayà; Ferran Torres (Eliaquim Mangala), Dani Parejo, Francis Coquelin e Carlos Soler; Rodrigo Moreno e Kevin Gameiro (Manu Vallejo). Técnico: Albert Celades

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