Três rodadas no grupo G das eliminatórias europeias da Copa de 2022. Três partidas contra os adversários mais capacitados pela vaga no Mundial do próximo ano, um seguido do outro - começa contra a Noruega (nesta quarta-feira, fora de casa, em Oslo), segue contra Montenegro (no próximo sábado, em Eindhoven) e termina contra a Turquia (terça, dia 7, em Amsterdã). Os turcos lideram o grupo; noruegueses e montenegrinos têm seis pontos. É a mesma pontuação da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) - que, além do mais, já foi derrotada pela Turquia na estreia, em março passado. Ou seja: se a Laranja quer voltar a uma Copa, após oito anos, precisa levar, no mínimo, seis pontos, e será tanto melhor se puder levar nove contra os rivais diretos, ainda mais por ter duas partidas em casa. É um tremendo desafio. Ainda mais após a esquecível participação na Euro, que começou razoável, mas terminou decepcionante - com Frank de Boer como a vítima, demitido.
A sorte neerlandesa é que o único técnico nativo considerado capaz de pegar o touro bravio pelos chifres aceitou voltar ao comando para a reta final das Eliminatórias. O clima na Holanda, para quem acompanha a seleção, é este: ainda que haja desconfianças sobre ele estar defasado (não treinava há cinco anos), ainda que seu estilo personalista incomode uns e outros, Louis van Gaal é considerado capaz de resolver os problemas e conduzir a seleção masculina à Copa. Foi pelo sonho de fazer dela campeã mundial, afinal, que Van Gaal aceitou deixar o sossego de sua casa de veraneio no Algarve, em Portugal, para voltar ao trabalho. E o próprio sabia disso. Sua entrevista coletiva de apresentação, no dia 17 passado, já deixou clara sua autoconfiança. Começando pela apresentação gozadora: "É um prazer encontrar os meus velhos amigos da imprensa". Continuando com a declaração mais repercutida: "Se eu fosse da federação, também teria me convidado. Quem faria diferente?". E concluindo com a meta que o fez, afinal, aceitar treinar a Laranja pela terceira vez: "Minha meta pessoal é ser campeão do mundo. Mas não é por mim mesmo. Faço isso para ajudar o futebol holandês".
Para tanto, Van Gaal atuou em duas frentes. Na comissão técnica, cercou-se de velhos conhecidos: como nos trabalhos para a Copa de 2014 (e na própria Copa), terá novamente Danny Blind como auxiliar técnico, e Frans Hoek como treinador de goleiros. Já na convocação de 25 jogadores para as três partidas, o treinador exibiu uma de suas tradicionais facetas: abriu alas para novatos promissores, mesmo sem experiência nas convocações. Basta olhar o gol: de nome conhecido ali, só Tim Krul. Os outros dois são Justin Bijlow (23 anos, Feyenoord) e Joël Drommel (24 anos, PSV), considerados arqueiros promissores, mas praticamente novatos na Oranje - é a primeira convocação de Bijlow, e Drommel só aparecera na convocação das partidas da Liga das Nações, no fim de 2020.
Mais? Nas laterais, há tanto Devyne Rensch, 18 anos, já ganhando espaço paulatinamente no Ajax pela direita, e Tyrell Malacia, 22 anos, titular na Holanda semifinalista da Euro sub-21, dono da lateral esquerda no Feyenoord. Ambos ainda encantados só pela convocação. Por exemplo, quando se apresentou no centro de treinamentos de Zeist, Rensch comentou: "Eu estava tomando café da manhã no Ajax [quando soube da convocação]. Achei que era para a Laranja Jovem [apelido da seleção sub-21], mas não vi "jovem" no e-mail que recebi". Isso para não citar três nomes já mais conhecidos, presentes na Euro passada, também chamados mas já candidatos a serem titulares: Ryan Gravenberch, Teun Koopmeiners e Cody Gakpo.
Bastou começar a temporada no Liverpool que Van Dijk já voltou à Laranja - mantendo a capitania no grupo (ANP)
O que não quer dizer que Van Gaal prescindiu da experiência - até porque sua preferência na convocação foi por chamar gente que já estivesse em ritmo acelerado de jogo, mesmo com a temporada ainda começando. Denzel Dumfries ficou fora da lista preliminar porque ainda acertava sua transferência para a Internazionale, mas uma vez desembarcado em Milão e com minutos de jogo, o lateral direito titular figurou na lista final. Assim como Steven Bergwijn, mostrando alguma reação no Tottenham. Enfim, todos os destaques estão lá: Stefan de Vrij, Matthijs de Ligt, Frenkie de Jong, Georginio Wijnaldum, Memphis Depay... e o mais conhecido de todos, talvez o nome que mais falta fez na Euro 2020. Após 317 dias sem vestir a camisa laranja, Virgil van Dijk está de volta.
E Van Dijk - mantido como capitão da seleção - já voltou tendo de se ver com alguns boatos. Antes mesmo de ser convocado, o zagueiro já reagira contrariado no Twitter a informações de imprensa, segundo a qual ele era um dos jogadores que não só fora contrário à volta de Van Gaal já após a saída de Ronald Koeman, como também não gostara muito quando o retorno foi confirmado. Presente na entrevista coletiva desta terça, Virgil foi só elogios: "Ele tem uma carreira maravilhosa como treinador. Traz muita experiência, e traz coisas extras com ele. Todo mundo está com vontade, muito determinado”.
Van Gaal retribuiu: “Eles me deixaram claro que também querem colaborar. Achei maravilhoso. Sempre pergunto aos jogadores o que eles querem - e a nossa conversa não foi só sobre a visão deles, mas também sobre a personalidade”. Combina um pouco com o que se diz de seu comportamento, considerado um pouco mais ameno no trato com os jogadores, mesmo fazendo questão do comando total.
O que não quer dizer que Van Gaal seja menos exigente. De Ligt teve a prova ao ouvir: “Ficou provado [na Euro] que ele não consegue jogar na direita da zaga”. E nem que os jogadores terão muita voz no esquema, mesmo preferindo abertamente o 4-3-3: “Gosto de escolher o esquema que mais se adequa ao grupo. Infelizmente nem sempre será esse [4-3-3]”. Qual será? Van Gaal não quis revelar: “Não quero que meu colega norueguês [Stale Solbakken, técnico da Noruega] saiba mais do que ele já sabe”. Medo? Que nada. A prova disso foi o que o treinador holandês falou sobre o mais capacitado nome da Noruega - claro, Erling Haaland: “É só evitarmos que a bola chegue até ele, e o problema estará resolvido”.
Enfim, chegou a hora. Van Gaal foi desejado, assumiu a seleção com carta branca, mas sabe e reconheceu na apresentação: “Se a Noruega ganhar, ninguém mais vai me querer”. Mais um motivo que deixa claro: agora, nas eliminatórias da Copa, para a Holanda, é proibido errar.
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