O texto do guia deste blog para a participação da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) na Eurocopa que ainda corre já indicava, antes mesmo da bola rolar: havia a forte impressão de que a fase que impulsionou as Leoas Laranjas a serem uma das melhores equipes nacionais do futebol feminino mundial havia acabado. Não só pelos questionamentos sobre o trabalho de Mark Parsons no treinamento da equipe - alguns corretos, outros exagerados -, mas pela má fase enfrentada por várias das jogadoras que formaram a base vitoriosa, com ápice entre 2017 e 2019.
Sob esse ponto de vista, a participação da equipe holandesa foi exatamente a que se esperava. Trata-se de um time digno, com nomes talentosos, que não faz feio. Mas que perdeu terreno para outras seleções europeias, no equilíbrio cada vez maior que vive o futebol feminino da atualidade. E que tinha, de fato, nas quartas de final o seu teto de desempenho. Passar delas seria uma surpresa elogiável. Logo, a eliminação para a França era previsível. E de modo geral, as neerlandesas não têm nada de que se envergonhar. Não passaram vexame. De mais a mais, houve pontos positivos.
As preocupações são de outra ordem. Começando com o crescimento das desconfianças sobre a capacidade de Mark Parsons para conduzir a transição por que a seleção dos Países Baixos passa, atualmente - e que terá outro capítulo importante no dia 6 de setembro, em uma espécie de "decisão" contra a Islândia, na última rodada das eliminatórias europeias da Copa de 2023. E se completando pela dificuldade cada vez maior de certos nomes, habitualmente titulares, em manterem alto desempenho em campo com o passar do tempo. Tudo isso se viu, mais ou menos, no que foi visto nos quatro jogos feitos na Inglaterra.
Assim como se viu que a Holanda, apesar dos pesares, tem condições de retomar um bom desempenho em campo. Mais do que isso: tem nomes plenamente prontos para assumirem destaque nessa transição, ganhando cada vez mais oportunidades na seleção. A Euro só ressaltou que a hora dessas mudanças está tardando. E passando. Isso ficará bem claro na abordagem de cada uma das jogadoras que atuaram no torneio continental de seleções.
Van Domselaar entrou na Euro apenas como uma reserva promissora no gol da Holanda. Saiu dela como, talvez, a melhor da competição (Andrew Kearns/Camera Sport/Getty Images) |
Goleiras
16 - Daphne van Domselaar (4 jogos, 5 gols sofridos): Mesmo com a Holanda eliminada, é possível dizer que Van Domselaar protagonizou uma história de "Cinderela" nesta Euro. Sim, ela já vinha de atuações notáveis no Twente bicampeão holandês de mulheres. Mas até o torneio começar, era só uma reserva. Se alguém dissesse a ela, aos 17 anos, quando torcia pela seleção no estádio De Grolsch Veste, na final da Euro 2017, que ela seria uma impressionante titular na Euro seguinte, talvez recebesse uma risada incrédula como resposta. Foi exatamente o que aconteceu. Entrando com grande pressão aos 21 minutos da estreia contra a Suécia, após a lesão de Van Veenendaal, a goleira poderia se queimar em definitivo, no caso de falhas. Desde aquele momento, provou exatamente o contrário: que vivia fase mais confiável até do que a titular. Foram várias qualidades, mostradas principalmente no jogo da eliminação: agilidade debaixo das traves, imponência nas saídas de gol, segurança na postura, defesas salvadoras (como esquecer as duas intervenções contra a Suíça, logo após sofrer o empate?!). Van Domselaar ganhou, independentemente da derrota. São muitos os que pedem sua permanência entre as titulares da Holanda. E quando se leem comentários de suas colegas sobre "o futuro da geração ser promissor", é quase automático vir à cabeça a imagem da goleira concentrada em campo e sorridente fora dele. Com todo o merecimento: Van Domselaar entrou na Euro como coadjuvante. Sai como o grande destaque holandês na Euro.
1 - Sari van Veenendaal (1 jogo): Está certo que, desde antes da Euro, a titular habitual e capitã da Holanda já andava distante da forma que a fez ser eleita a melhor do mundo segundo a FIFA, em 2019, com atuações algo hesitantes no PSV. Mas Van Veenendaal não merecia o abrupto fim que teve em sua participação no torneio continental. Mesmo em má fase técnica, sempre teve coragem e ascendência sobre a defesa. Sempre arriscou. Numa dessas vezes, logo na estreia contra a Suécia, foi buscar uma bola aérea... e teve azar: chocou-se com duas colegas de time, Lynn Wilms e Stefanie van der Gragt, e levou a pior, com o ombro seriamente atingido. Tentou seguir mais alguns minutos, mas teve mesmo de ser substituída por Van Domselaar. Saiu do campo para o corte, já durante a Euro, com a excessiva gravidade da lesão. E enquanto a substituta é uma das jogadoras mais badaladas da competição, Van Veenendaal amarga um questionamento maior do que nunca sobre sua posição como goleira titular da Holanda. Compreensível, pelo que já (não) vinha mostrando. Injusto, por não se saber o que poderia ser de Van Veenendaal como goleira na Euro. Faz parte do futebol...
(1 - Jacintha Weimar: integrada à delegação após o corte de Van Veenendaal, não jogou)
23 - Barbara Lorsheyd: não jogou
Laterais
4 - Merel van Dongen: não jogou
5 - Lynn Wilms (4 jogos): A lateral direita viveu momentos mais e menos temerários na Euro. Nos mais temerários, deu razão a quem temia sua fragilidade defensiva: ou demorava para voltar, ou ficava desprotegida demais pela falta de ajuda de quem jogava mais à frente. Foi o que aconteceu, principalmente, no primeiro tempo contra a França, quando Delphine Cascarino foi francamente superior na disputa direta. Nos menos temerários, Wilms mostrou alguma coragem para avançar com a bola nos pés, e errou menos do que nomes mais experientes na seleção. No todo, segue sem ser absoluta na lateral direita, mas não fez muito feio. Até pela falta de concorrência à altura, deverá manter a titularidade. O que não quer dizer que não precise melhorar.
18 - Kerstin Casparij (3 jogos): Diante de tanta insegurança defensiva como a da seleção feminina da Holanda, Casparij foi uma das jogadoras mais acionadas para tentar ajudar. Conseguiu fazer isso ao vir do banco, contra Portugal e Suíça, valendo pela sua versatilidade: poderia tanto ajudar na lateral esquerda (como contra Portugal, quando substituiu Olislagers e diminuiu os problemas que a Holanda tinha por ali) como no miolo de zaga (como contra a Suíça, quando entrou no lugar de Aniek Nouwen). Já valeu para começar jogando contra a França. Porém, Casparij desperdiçou sua grande chance: foi outra a ceder excessivos espaços a quem deveria marcar - no caso, Kadidiatou Diani, que teve campo livre na direita para ser um dos destaques das quartas de final. Enfim, a lateral poderia ter ido melhor. Mas a possibilidade de ajudar a Holanda em mais posições - talvez até como uma meio-campista mais marcadora - a mantém como nome previsível para as próximas convocações.
19 - Marisa Olislagers (2 jogos): Chega a ser curioso como uma jogadora pôde ter aparições tão distintas, em apenas duas participações. Na estreia contra a Suécia, Olislagers veio do banco para a lateral esquerda, tentando melhorar um setor que fora a principal fonte de problemas para a Holanda no primeiro tempo. Conseguiu: recuada, a meio-campista foi mais combativa, conteve melhor Kosovare Asllani, ajudou a equipe a se estabilizar no jogo. E com a preferência manifesta de Dominique Janssen por jogar como zagueira, mais a lesão de Aniek Nouwen, foi escalada desde o começo contra Portugal, na lateral esquerda. Poderia ser a catapulta definitiva para se tornar titular de vez. Deu errado: Olislagers foi vítima constante da habilidade de Andréia Silva, a jogada do gol de empate português foi feita em seu setor, a fragilidade holandesa na esquerda só foi estancada com a entrada de Casparij. A jogadora da camisa 19 não entraria mais em campo na Euro. Poderia ter despontado como candidata à titularidade mais constante; ficou onde já estava, como opção.
20 - Dominique Janssen (4 jogos): Janssen chegou à Euro compreendendo: embora já tivesse até se chateado por querer jogar na zaga, seguiria atuando sem problemas na lateral esquerda holandesa. Contudo, escalada assim na estreia contra a Suécia, a camisa 20 enfrentou sérias dificuldades: lenta, fracassou ao tentar conter Asllani nos avanços. Por coincidência, a lesão de Nouwen abriu espaço para que Janssen jogasse onde preferia. E... as dificuldades continuaram. Contra Portugal, a zagueira cometeu o pênalti que rendeu o primeiro gol luso, e mostrou dificuldade no posicionamento nas bolas aéreas. Continuou em maus lençóis contra a Suíça, mesmo podendo ir de novo para a zaga após Nouwen ser substituída. E finalmente, nas quartas de final, Janssen falhou no posicionamento, foi lenta... e cometeu o pênalti sobre Diani, que abriu o caminho para o 1 a 0 francês da eliminação. Mesmo jogando todos os 390 minutos de bola rolando para a Holanda na Euro, a defensora perdeu boa parte do crédito para poder jogar onde vai melhor, por sua insegurança em campo.
Zagueiras
2 - Aniek Nouwen (3 jogos): habitualmente, a defensora do Chelsea era quem mais causava temores sobre suas falhas na Euro. Temores justificados, pelo menos na partida de estreia da Holanda: Nouwen tomou um drible por baixo das pernas de Asllani, e deixou seu espaço totalmente livre para Jonna Andersson entrar e fazer 1 a 0 para a Suécia. Pouco depois, todavia, veio o lance que minorou a pressão sofrida por ela: a lesão no tornozelo que o tirou do jogo - e ameaçou tirá-la da Euro. Nouwen escapou do corte, jogou contra a Suíça... e passou pela Euro relativamente ilesa, só entrando no segundo tempo da prorrogação contra a França, quando o dano já estava feito. É possível dizer sobre Nouwen: as coisas poderiam ter sido bem piores para ela nesta Euro. Sai dela como entrou, para o bem e para o mal.
3 - Stefanie van der Gragt (4 jogos, 1 gol): Van der Gragt era contestada faz tempo, como toda a defesa da Holanda o é. E seu desempenho nos quatro jogos pela Euro não impressionou. Então, ela jogou mal? Longe disso. Pode não ser o caso de dizer que a zagueira experiente brilhou, mas seu esforço na competição foi acima de qualquer suspeita. Para começo de conversa, além de Janssen e Spitse, Van der Gragt foi uma das únicas jogadoras a ter atuado em todos os minutos das Leoas Laranjas na Euro. E resistiu a muita coisa. Até fisicamente. Na estreia contra a Suécia, aguentou o triplo choque aéreo com Van Veenendaal e Wilms, sentiu dores, foi atendida... e continuou. O seu momento de alegria na Euro, marcando o segundo gol contra Portugal, foi eclipsado por ser atingida no rosto justamente quando cabeceava a bola para as redes: sequer pôde comemorar. Participou de outro gol na Euro, cabeceando para o primeiro gol neerlandês contra a Suíça - mas o gol foi (corretamente) creditado como contra, para Anna-Maria Crnogorcevic. Finalmente, contra a França, se não marcou gols na acepção da palavra, Van der Gragt deu a prova definitiva de sua dedicação, evitando dois tentos certeiros das adversárias logo no primeiro tempo, bloqueando a bola em cima da linha. Enfim, entre as veteranas da Holanda, a zagueira é quem mais sai de cabeça erguida. O que lhe falta em segurança, às vezes, sobra em entrega. Merece até mais respeito de quem a critica.
15 - Caitlin Dijkstra: não jogou
Meio-campistas
6 - Jill Roord (4 jogos, 1 gol): Roord poderia ter sido o grande destaque da Holanda nesta Euro. Pelo menos na estreia, justificou isso: junto a Miedema, a meio-campista foi a grande responsável pela reação e pelo empate contra a Suécia - não só pelo gol, mas por armar as jogadas com perigo. Ganhou certa ascendência, ao provar em campo o que já indicava: que era bem mais capacitada jogando como "camisa 10" do que na ponta-direita do ataque. Da estreia até o final da participação holandesa na Euro, Roord caiu um pouco, é verdade: foi inferior no resto da fase de grupos, contra Portugal e Suíça. E até virou alvo de críticas, após entrevista ao diário De Volkskrant na qual opinava sobre Mark Parsons, dando a impressão (meio distorcida pela mídia) de que desdenhava do técnico da seleção ("Ele gosta de falar com a gente nos detalhes, e isso desinteressa a metade de nós. Eu acho interessante [o que ele fala], mas às vezes fico rindo, pensando 'por que é que ele quer saber isso?'"). Porém, a verdade é que Roord mostrou valor técnico para ser titular absoluta na seleção. Tanto que, se a deixou inicialmente no banco contra a França, Mark Parsons trouxe a camisa 6 de volta ao time já no intervalo, após tamanho domínio francês no meio. Poucas provas de utilidade a uma equipe poderiam ser mais claras. No rescaldo, Roord sai ganhando. Pouco, mas sai.
8 - Sherida Spitse (4 jogos): Cada vez mais, Spitse coloca o time dos Países Baixos numa espécie de dilema. Por um lado, sua experiência é indispensável: a meio-campista de 32 anos foi uma das três únicas holandesas a jogar todos os 390 minutos de partida na Euro. Por outro, está cada vez mais claro que sua capacidade de aguentar a intensidade atual de jogo está prejudicada. Diante de seleções velozes e até mais fortes fisicamente, Spitse sofreu demais, quase sempre ficando para trás nos desarmes, na marcação, em tudo. Não à toa, costumeiramente teve de apelar para faltas. Por quê, então, não foi substituída? Porque a meia ainda tem suas utilidades. A começar pelas bolas paradas: deve-se lembrar que foi de dois escanteios seus que a Holanda abriu 2 a 0 contra Portugal, e mesmo contra a França, suas cobranças de tiros de canto foram fontes dos raríssimos ataques holandeses. Isto é: o final de Spitse na seleção feminina se aproxima cada vez mais - até por algumas concorrentes de talento -, mas... ela ainda está aí. Enquanto puder trazer valor técnico ao time, ficará. E Spitse (ainda) pode.
10 - Daniëlle van de Donk (4 jogos, 1 gol): Ficava até injusto exigir que Van de Donk, voltando de uma séria lesão num tendão do tornozelo, mostrasse plena forma na Euro. Ainda assim, a jogadora ofensiva pareceu sofrer com a incerteza sobre seu posicionamento em campo. Ora era escalada como meio-campista centralizada, para criar jogadas de ataque, ora ia para a ponta esquerda. E poucas vezes tinha a bola para render: precisava dar o primeiro combate ao meio-campo adversário. Assim, Van de Donk ficou aquém do que poderia ter sido. Mas esporadicamente, mostrou lampejos de que ainda pode ser importante na seleção holandesa. O mais brilhante deles, obviamente, o belíssimo gol da vitória contra Portugal. Enfim, "Daantje" foi mais uma a naufragar dentro da seleção. Mas merece escapar de críticas mais amargas. Foi mal em campo, mas nem tanto assim.
12 - Victoria Pelova (4 jogos, 1 gol): A participação da meio-campista veio numa ascensão que parecia promissora. Na estreia contra a Suécia, a camisa 12 substituiu Van de Donk, dando ao ataque o dinamismo que Miedema e Roord já não conseguiam mais dar. Contra Portugal, novamente vinda do banco, Pelova ajudou até mais recuada, substituindo Damaris Egurrola na reta final, diante de uma seleção de Portugal que prometeu (e nem cumpriu tanto) pressionar em busca do empate. Mas foi contra a Suíça que a meio-campista viveu seu ápice na Euro: entrando no lugar de Roord, aos 64', teve papel fundamental na criação de jogada, acelerou um ataque que estava sofrível na partida em Sheffield, participou dos dois gols de Romée Leuchter, e fez o seu. Bastou para que Pelova merecesse a escalação como titular contra a França, nas quartas de final, substituindo Lieke Martens. De longe, era a maior oportunidade que ela tivera para mostrar seu valor na seleção, até então. Não deu certo: tanto pela inatividade do ataque holandês na partida em Rotherham, quanto pela postura tímida de Pelova com a bola nos pés, na ponta esquerda em que jogou. O que não quer necessariamente dizer que a ponta-de-lança sai em baixa da Euro. Sua titularidade nunca pareceu tão perto. Parece questão de aproveitar melhor as chances que não aproveitou. Ainda.
14 - Jackie Groenen (3 jogos): É verdade que as críticas sobre o desempenho de Groenen na Euro devem ser muito cuidadosas e ponderadas: trata-se, afinal, de uma jogadora que sofreu com a COVID-19 no meio da refrega. Além do mais, jogando contra a Suécia, a meio-campista teve atuação promissora: se sofreu no primeiro tempo, a camisa 14 exibiu a conhecida capacidade nos desarmes durante a etapa final, e até ajudou com técnica no ataque - foi ela, com um estiloso giro, quem iniciou a jogada do gol de empate no 1 a 1. Veio o teste positivo, e depois dele, embora rapidamente recuperada, ela sofreu. Não só ficou mais concentrada na marcação, no meio-campo, como chegava atrasada nas jogadas, na maioria das vezes. A má atuação contra a França deixou isso claro: irreconhecível, Groenen cometeu várias faltas, e fracassou ao tentar evitar que a defesa sofresse. Ao fim e ao cabo, por um fator externo dos mais sérios, a má fase que a jogadora vive em clubes chegou à seleção. É esperar que Groenen recupere sua forma para a sequência do trabalho. Precisará.
21 - Damaris Egurrola (3 jogos, 1 gol): No seu primeiro grande torneio com a seleção que escolheu para defender, Damaris seguiu mais no banco do que em campo. Mas do pouco que jogou, já deu impressão bastante promissora. Basta lembrar de sua atuação contra Portugal, ainda mais nos primeiros minutos de jogo: abriu o placar de cabeça, foi segura no meio-campo, com lançamentos longos e firmeza na marcação. Depois, jogou pouco: apenas segundos contra a Suíça, e os cinco minutos finais da prorrogação contra a França. O que a fez escapar de críticas, que foram diretamente a Mark Parsons, exatamente por (ainda) não apostar tanto em Damaris. Que jogou pouco, mas já mereceu elogios nesta Euro. Nem tanto pelo que fez, mas pelo que indicou que pode fazer.
Atacantes
7 - Lineth Beerensteyn (4 jogos): Embora sempre atuando, embora até titular algumas vezes, Beerensteyn decepcionou pela seleção, como poucas vezes até agora. Primeiramente, sucumbiu às fragilidades ofensivas que a Holanda teve na Euro: raramente teve a bola para jogar. Além disso, quando teve chances, a atacante fracassou ao tentar ser a referência do ataque. Principalmente quando Miedema precisou se ausentar, isolada pela COVID. Beerensteyn começou titular contra Portugal e Suíça, mas nunca conseguiu ser figura decisiva nessas partidas - por exemplo, apareceu mais pelo pênalti revogado pelo VAR, contra a Suíça, do que pelo que tenha jogado. Com a lesão que causou o corte de Lieke Martens e a preferência de Mark Parsons por deixar Jill Roord no banco a princípio, Beerensteyn começou jogando novamente contra a França. E novamente teve papel ofensivo quase nulo, num ataque já quase nulo por natureza. Foi a primeira vítima, sendo substituída por Roord logo no intervalo do tempo normal. E diante da ascensão das atacantes novatas, ela escorregou na "fila de espera" do ataque holandês. Se quiser continuar sendo a reserva preferencial do ataque, precisará melhorar daqui por diante. Um bom começo na Juventus, clube a que está chegando, pode ajudar.
9 - Vivianne Miedema (2 jogos): "O meu torneio foi uma porcaria", lamentou a principal jogadora da seleção, em entrevista à ESPN dos Países Baixos, logo após a eliminação para a França. Não é para tanto: mais uma vitimada pela COVID-19 dentro da delegação neerlandesa, a atacante demorou mais a se recuperar. Quando voltou, contra a França, de fato, o desgaste cobrou seu preço: lenta e imprecisa na única finalização que teve, no segundo tempo dos 90 minutos, "Viv" esteve visivelmente abaixo do que todos sabem que ela pode atuar. E ainda assim, mesmo num cenário decepcionante, Miedema manteve em alta sua imagem. Basta lembrar: em plena forma, contra a Suécia, a atacante foi considerada a grande responsável pela reação que levou ao empate no segundo tempo, criando a jogada do gol, se movimentando, mantendo a posse de bola, criando jogadas, sendo uma tremenda ameaça para as suecas. Fora de campo, cada vez mais, Miedema reafirmou o papel de liderança que começou a praticar no grupo: tanto nas críticas, ao condenar encontros indiscriminados da delegação pós-jogo (que, afinal, facilitaram as infecções pelo coronavírus), passando por ganhar a braçadeira de capitã com o corte de Van Veenendaal, quanto nos exemplos. O maior deles: mesmo claramente fora do seu melhor, Miedema suportou os 120 minutos de jogo contra a França, sem substituições. Trata-se de um caso raro: um destaque que decepcionou na Euro, mas manteve cada quinhão do respeito e da imagem que tem para o futebol feminino da Holanda - talvez, para o futebol feminino mundial.
Lieke Martens já vinha sendo muito criticada - e sofrendo com lesões - antes mesmo da Euro começar. Pois as críticas aumentaram, com as péssimas atuações (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images) |
11 - Lieke Martens (3 jogos): Se Miedema conseguiu manter a imagem que tem com torcida e imprensa, com Lieke Martens a paciência acabou nesta Euro. É até duro, mas correto: a atacante foi considerada o grande símbolo da participação relativa e previsivelmente decepcionante da Holanda na Euro. Primeiro, já chegou à competição baleada, pelas lesões que a perturbam nos últimos anos. Quando as partidas começaram, Martens repetiu a via-crúcis das últimas aparições pela seleção: lenta, previsível, facilmente marcada pelas adversárias, quase sempre insistindo nas jogadas pelo meio ao invés de seguir pelas pontas. Confrontada com as críticas crescentes, respondia que "aqui não é o Barcelona", mas era justo lembrar: só se esperava tanto dela porque é uma jogadora que já mostrou talento repetidas vezes. E desta vez, Lieke só teve um lampejo de importância técnica no passe para Van de Donk fazer o gol do 3 a 2 contra Portugal. Para piorar, a lesão no pé, que forçou seu corte da Euro logo após a fase de grupos. Algo absolutamente involuntário, mas que "combinou" tortuosamente com a participação digna de ser esquecida que Martens teve no torneio continental. Dos destaques que impulsionaram a Holanda no futebol feminino mundial, nenhuma outra precisa se reabilitar tanto dentro de campo quanto ela.
13 - Renate Jansen: não jogou
17 - Romée Leuchter (2 jogos, 2 gols): Tal qual Damaris Egurrola, Leuchter jogou pouco mas impressionou muito bem nesta Euro. De última opção para o ataque, atrás de nomes mais experientes como Renate Jansen e Lineth Beerensteyn, Leuchter entrou no time em um momento tenso: o jogo contra a Suíça, empatado em 1 a 1, com a Holanda até em maior perigo de tomar o gol (que poderia ser o da eliminação). Pois a jovem apareceu no meio da área, mostrou força física e a capacidade de finalização conhecida da Eredivisie feminina. Marcou dois gols, para aliviar a seleção e afastar o medo do vexame. E a partir dali, Leuchter virou o símbolo da nova geração promissora, entre as jogadoras de linha. Teve apenas os 15 minutos finais da prorrogação contra a França, numa tentativa de "abafa" em busca do empate. Mas ficou claro: ela voltará nas próximas convocações. E se continuar marcando gols pelo Ajax, certamente estará mais perto de ser a opção preferencial caso Miedema não possa jogar. A jovem atacante foi outra a sair ganhando da Euro.
22 - Esmee Brugts (3 jogos): Brugts é até mais jovem do que Leuchter (apenas 18 anos), mas teve antes a oportunidade de estrear na Euro. Diante da inapetência e da má fase física de Lieke Martens, Brugts também passou boa impressão a partir dos sete minutos em que jogou contra Portugal: manteve a posse de bola, soube esfriar o jogo, deu até algum trabalho às defensoras portuguesas. Contra a Suíça, consolidou a boa impressão no 4 a 1: junto a Leuchter e Pelova, formou o trio de novatas que conduziu a Holanda ao alívio da vitória e da classificação. E mesmo jogando somente 48 minutos contra a França (os 18 últimos do tempo normal, mais os 30 da prorrogação), Brugts já ganhou razões para poder sonhar com mais chances na seleção feminina da Holanda, daqui por diante. Com porte físico longilíneo, velocidade e boa manutenção da posse de bola, tem tudo para virar uma opção cada vez mais válida de jogadas pelas pontas.
Mark Parsons (técnico)
O treinador anglo-americano chegava à Euro tendo uma chance para conseguir mitigar a sombra intensa que o trabalho de Sarina Wiegman tinha sobre o seu - tão intensa que o fazia sofrer críticas até pesadas demais. Ou então, a Euro poderia ser a confirmação de que o trabalho de Parsons tem inconstâncias demais para uma seleção que pretende se manter entre as melhores do futebol feminino no mundo. Aconteceu a segunda hipótese. Por mais que o treinador manifeste o desejo de ver um time intenso em campo, o que se viu nos quatro jogos da Euro foi exatamente o inverso: uma equipe lenta, com sofrimento crônico na recomposição defensiva, quase sempre cedendo espaços para o contragolpe adversário. Além do mais, se Parsons é um comandante leal, sempre elogiando e incentivando as jogadoras - até publicamente -, acaba tendo no "excesso de lealdade" exatamente um dos motivos mais frequentes de críticas: demorou para tirar do time nomes experientes sem bom rendimento, como Van de Donk ou Martens, e para dar chances reais à nova geração, personificada principalmente em Van Domselaar (que conseguiu jogar por um golpe do destino). As desconfianças venceram - ainda mais depois de alfinetadas recebidas na imprensa. Mark Parsons evoca na seleção feminina as lembranças que Frank de Boer teve na seleção masculina: um técnico questionado desde o começo, às vezes até exageradamente... mas que não se ajuda, com opções erradas. Pode ficar pior, se a Holanda precisar disputar a repescagem nas eliminatórias da Copa de 2023...
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