Se a Holanda novamente demonstrou inseguranças na Euro feminina, as novatas afastaram o temor da eliminação - com Leuchter (foto) simbolizando isso (Andrew Kearns/Camera Sport/Getty Images) |
"Nunca vivi tantas emoções num só torneio", refletiu Jackie Groenen, em entrevista publicada pelo diário Algemeen Dagblad neste domingo. De fato, até agora, a participação da seleção feminina da Holanda (Países Baixos) nesta Euro tem sido uma montanha-russa. Com várias turbulências. E a partida contra a Suíça, encerrando a fase de grupos, foi extremamente exemplar sobre isso. Com as crônicas falhas defensivas - e os erros no ataque -, as Leoas Laranjas chegaram a bordejar perigosamente o que seria uma eliminação vexatória. Mas a entrada de algumas jogadoras mais novas vicejou a equipe. Que deslanchou na reta final, conseguindo por fim avançar às quartas de final, mas sem diminuir nem um pouco a impressão pessimista que existe em relação à ela.
Impressão que se fortaleceu desde que o primeiro tempo começou em Sheffield. No começo, a Suíça teve mais a bola, pressionando uma defesa holandesa frágil no miolo de zaga e lenta nas laterais. E até criou chances de gol - como aos 13', num chute de Sandy Mäendly que fez a goleira Daphne van Domselaar trabalhar. De quebra, num ataque neutralizado pela boa postura defensiva da Suíça, só Lineth Beerensteyn tinha alguma velocidade para tentar o gol. Mas a titular, no lugar da ainda ausente Vivianne Miedema, perdia suas chances - como aos 19', quando chutou fraco após dois dribles.
Até mesmo quando acertava, num avanço aos 21', Beerensteyn perdia o prêmio final: ao cair na disputa com a goleira Gaëlle Thalmann, o pênalti foi inicialmente marcado, mas o VAR anulou compreensivelmente a decisão inicial - afinal, Thalmann sequer havia tocado em Beerensteyn antes da queda. Começava aí uma sequência de defesas que fez a arqueira helvética despontar como uma das melhores jogadoras da partida. Aos 24', num cruzamento de Lieke Martens; aos 27', num chute de Jackie Groenen, em jogada ensaiada após falta de Sherida Spitse; aos 34', num cabeceio de Martens. Porém, no geral, a Holanda se mostrava sem muita velocidade na frente: tanto Martens quanto Daniëlle van de Donk, ambas nas pontas do ataque, quase sempre traziam a bola para o meio, antes de finalizarem. E quase sempre, a Suíça bloqueava tais tentativas. Sem contar a fragilidade defensiva...
A Suíça fez o gol de empate - e em determinados momentos, por muito pouco não superou irremediavelmente a Holanda (Alex Lifesey/UEFA/Getty Images) |
Tudo isso poderia ter melhorado no segundo tempo, quando Stefanie van der Gragt mostrou novamente sua qualidade no jogo aéreo - e contou com sorte: após cabecear a bola cruzada por Spitse, viu Ana-Maria Crnogorcevic tentar afastar, mas cometer o gol contra do 1 a 0 holandês. Que nada: no primeiro contra-ataque em que Lynn Wilms cedeu espaço, novamente, veio o cruzamento de Ramona Bachmann para Géraldine Reuteler empatar, só quatro minutos depois. Pior: aos 56', Bachmann fez outra jogada, e Coumba Sow só não virou o jogo por duas defesas que, definitivamente, consolidaram a ótima aparição de Van Domselaar como goleira holandesa nesta Euro. Por mais que a Holanda tivesse chances - um cabeceio de Roord, aos 62' -, a Suíça estava mais perto da vitória, diante de uma adversária lenta. Tinha chances - algumas, até despretensiosas, como um voleio de Crnogorcevic, aos 68', espalmado por Van Domselaar. Mudanças eram necessárias.
Elas vieram. Se a alteração de Jill Roord para a entrada de Victoria Pelova foi controversa, mesmo com Pelova tendo novamente boa atuação, as vindas de Esmee Brugts e, principalmente, Romée Leuchter se revelaram decisivas. Já era conhecida a capacidade de Brugts, trazendo mais velocidade e até mais força física do que uma Martens, outra vez e infelizmente, decepcionante. Mas Leuchter, segunda maior goleadora do Campeonato Holandês da temporada passada, se mostrou uma ótima referência na área. Começou a mostrar isso num chute (impedido) aos 78', com ótima defesa de Thalmann. E se transformou na estrela da vitória, ao fazer o 2 a 1, aos 84', num cabeceio em que aproveitou falha da goleira suíça. De quebra, iniciou uma arrancada ofensiva da Holanda na reta final. Brugts chutou na trave, aos 85'; Pelova, que já tivera chance aos 82', marcou o terceiro gol aos 89', com validação retardada alguns minutos pelo VAR (havia suspeita de desvio de Van der Gragt para a impedida Pelova, mas depois se viu que havia sido uma suíça); e finalmente, Leuchter fez o quarto gol. Apenas o seu segundo pela equipe neerlandesa de mulheres. Poucas ocasiões poderiam ser mais importantes.
Em tese, a goleada poderia motivar definitivamente a Holanda. Mas a realidade mantém os defeitos em alta - algo que pode ser altamente prejudicial contra a França, adversária das quartas de final, no sábado, como reconheceu Van de Donk, ao lamentar perder o primeiro lugar do grupo C ("A verdade é que estou desapontada", citou à ESPN do país). Enquanto a Suécia goleou Portugal (5 a 0) e é a primeira colocada, a defesa holandesa segue frágil no miolo de zaga e lenta nas laterais. O meio-campo, também desgastado, já não consegue impedir as chegadas adversárias. E o ataque concentra demais as jogadas pelo meio. Tudo isso torna os jogos da Holanda emocionantes, para o bem e para o mal. E a expectativa é de que o encontro com a França seguirá tendo muitas emoções. Até demais.
Euro feminina 2022 - fase de grupos - Grupo C
Suíça 1x4 Holanda
Data: 13 de julho de 2022
Local: Bramall Lane (Sheffield)
Juíza: Iuliana Demetrescu (Romênia)
Gol: Ana-Maria Crnogorcevic (contra), aos 49', Géraldine Reuteler, aos 53', Romée Leuchter, aos 84' e aos 90' + 5, e Victoria Pelova, aos 89'
Suíça
Gaëlle Thalmann; Noelle Maritz, Viola Calligaris, Luana Bühler (Rahel Kiwic, aos 57') e Eseosa Aigbogun (Julia Stierli, aos 58'); Lia Wältl (Sandrine Mauron, aos 83') e Sandy Mäendly (Svenja Fölmli, aos 58'); Ana-Maria Crnogorcevic, Coumba Sow (Riola Xhemaili, aos 72') e Géraldine Reuteler; Ramona Bachmann. Técnico: Nils Nielsen
Holanda
Daphne van Domselaar; Lynn Wilms, Stefanie van der Gragt, Aniek Nouwen (Kerstin Casparij, aos 64') e Dominique Janssen; Jackie Groenen, Jill Roord (Victoria Pelova, aos 64') e Sherida Spitse; Daniëlle van de Donk (Damaris Egurrola Wienke, aos 90' + 6), Lineth Beerensteyn (Romée Leuchter, aos 74') e Lieke Martens (Esmee Brugts, aos 74'). Técnico: Mark Parsons
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