sábado, 3 de dezembro de 2022

O lado bom do pragmatismo

Agora, sim: Holanda enfim jogou bem na Copa, neutralizou os Estados Unidos com um bom plano tático, e alcançou as quartas de final que se esperava para elas (MB Media/Getty Images)

Desde o começo desta Copa do Mundo, a seleção da Holanda (Países Baixos) desejava buscar suas vitórias com pragmatismo, com eficiência, sem correr mais riscos além dos inevitáveis. Na fase de grupos, acabou exibindo a face criticável disso: atuações lentas, problemáticas, com alguns sofrimentos desnecessários, sem nunca convencer quem viu seus jogos. Só restava a Virgil van Dijk, líder inconteste do grupo de convocados, esperar: "Quem sabe o mata-mata nos desperte". Pois despertou. Contra os Estados Unidos, a Laranja foi pragmática do jeito certo: calma, eficiente, neutralizando os principais jogadores do Team USA, e aproveitando suas chances para conseguir a vitória por 3 a 1 - e a vaga nas quartas de final da Copa.

A rigor, tal tranquilidade já era visível na escalação: afinal de contas, Louis van Gaal repetia a escalação que iniciara a vitória contra o Catar, com Marten de Roon liberando mais Frenkie de Jong no ataque, e Memphis Depay iniciando o jogo no ataque ao lado de Cody Gakpo. Só que ela quase foi surpreendida pessimamente: logo aos 3', Timothy Weah passou a Christian Pulisic, que, livre na esquerda, chutou cruzado para grande defesa de um Andries Noppert que, cada vez mais, justifica a pesada aposta de Van Gaal (e do treinador de goleiros Frans Hoek) nele como goleiro titular. Continuava a lentidão de Denzel Dumfries e de Daley Blind na marcação pelas laterais. E, no meio-campo, perdia-se excessivamente a bola.

Mas nada disso causou problemas. Se avançava bastante, se tentava impor a velocidade habitual em suas partidas (com Sergiño Dest na direita, principalmente), a seleção dos Estados Unidos dava o espaço que a Holanda não tivera em suas partidas. Bastou encaixar uma jogada, aos 10', quando ainda sofria, para o 1 a 0: após 17 passes trocados, Cody Gakpo recebeu lançamento, passou, Dumfries cruzou, Memphis Depay fez o seu primeiro gol na Copa. De lá até o fim do primeiro tempo, a Laranja sofreu um pouco (Weah fez Noppert trabalhar aos 43', com chutes de fora), mas tinha os cruzamentos neutralizados pelas ótimas atuações de Virgil van Dijk e, principalmente, Nathan Aké. Anulava Pulisic e McKennie, responsáveis pelas jogadas ofensivas. Assustava outras tantas vezes - como num chute de Blind, aos 18', além das constantes perseguições a Tim Ream e Walker Zimmerman, que tiveram dia ruim no miolo de zaga. E o segundo gol provou isso, como se fosse uma "cópia" do primeiro: nos acréscimos, Dumfries recebeu, cruzou, Blind chegou pelo meio e finalizou, bola na rede.

Os criticados foram exaltados: Dumfries e Blind, contestados nas laterais, tiveram tremenda atuação em seus lados (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

O placar deixava o jogo à feição para a Holanda. E Van Gaal notou isso: no intervalo, as entradas de Teun Koopmeiners e Steven Bergwijn buscavam deixar o ataque holandês mais rápido, para aproveitar os espaços que os adversários norte-americanos certamente deixariam em busca do gol. Pois bem: houve inúmeras ocasiões para que o terceiro gol viesse. Principalmente no começo da etapa complementar. Aos 48', num toque fraco de calcanhar de Frenkie de Jong (outra boa atuação, em que pesem algumas perdas de bola); aos 50', num desvio de Memphis Depay após Dumfries cruzar; aos 71', numa ótima sequência de defesas de Matt Turner. Funcionava a formação de ataque habitual na Liga das Nações - Gakpo mais atrás, Memphis e Bergwijn na frente.

Só que os Estados Unidos, aqui e ali, sinalizavam que ainda viviam no jogo. Mesmo que o meio-campo fosse bem neutralizado - nem Tyler Adams nem Weston McKennie mostravam as atuações da fase de grupos -, havia chutes aqui e ali: Pulisic aos 53', McKennie no minuto seguinte. A entrada de Haji Wright dava mais força e altura, contra uma defesa que resistia nos cruzamentos. Alguns atos de desleixo da Holanda traziam perigo desnecessário - como aos 75', quando Memphis Depay errou recuo de bola, Wright driblou Noppert, mas Dumfries afastou em cima da linha. Porém, no escanteio subsequente, o gol norte-americano, num lance de sorte de Wright - a bola bateu em seu calcanhar e encobriu Noppert.

Poderia ter aumentado o drama. Mas a Holanda não deixou: pouco depois, os seus melhores aspectos na partida apareceram. Manutenção da posse de bola no campo de ataque, na troca de passes entre De Jong, Memphis Depay e Blind. E as chegadas ofensivas dos laterais - Blind cruzou, Dumfries chegou de voleio, 3 a 1. 

A Holanda pode ser eliminada, nas quartas de final da próxima sexta. Mas já não passará vergonha nesta Copa do Mundo. Afinal, era o seu "teto" nos prognósticos. E de mais a mais, hoje ela mostrou em campo o lado bom do pragmatismo.

COPA DO MUNDO FIFA 2022 - OITAVAS DE FINAL

Holanda 3x1 Estados Unidos

Data: 3 de dezembro de 2022
Local: Khalifa International Stadium (Al Rayyan)
Árbitro: Wilton Pereira Sampaio (Brasil)
Gols: Memphis Depay, aos 10', Daley Blind, aos 45' + 1, Haji Wright, aos 76', e Denzel Dumfries, aos 81'

HOLANDA
Andries Noppert; Jurriën Timber, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Matthijs de Ligt, aos 90' + 3); Denzel Dumfries, Marten de Roon (Teun Koopmeiners, aos 46'), Frenkie de Jong e Daley Blind; Davy Klaassen (Steven Bergwijn, aos 46'); Memphis Depay (Xavi Simons, aos 82') e Cody Gakpo (Wout Weghorst, aos 90' + 3). Técnico: Louis van Gaal

ESTADOS UNIDOS
Matt Turner; Sergiño Dest (DeAndre Yedlin, aos 75'), Walker Zimmerman, Tim Ream e Antonee Robinson (Jordan Morris, aos 90' + 2); Tyler Adams, Yunus Musah e Weston McKennie (Haji Wright, aos 67'); Tim Weah (Brenden Aaronson, aos 67'), Jesús Ferreira (Giovanni Reyna, aos 46') e Christian Pulisic. Técnico: Gregg Berhalter

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