terça-feira, 29 de novembro de 2022

Preguiça premiada

Só Gakpo salva - e se salva: o atacante da Holanda se tornou um dos goleadores da Copa com o gol contra o Catar, e novamente foi o lado bom de mais uma atuação em que a Laranja venceu e nada mais (Alberto Pizzoli/AFP/Getty Images)
 
Agora que a fase de grupos da Copa do Mundo terminou para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos), já se pode falar sem medo: ela fica do lado das decepções do torneio, até aqui. E o jogo derradeiro do grupo A, contra o Catar, confirmou isso (se é que havia alguma dúvida): a Laranja continuou pouquíssimo criativa, lenta, até preguiçosa. Entretanto, diante de um anfitrião quase inofensivo, ela teve tranquilidade para conseguir a vitória esperada: 2 a 0, garantindo a liderança da chave e a vaga nas oitavas de final. Mas também deixando inalterada a impressão ruim que se tem dela, até agora.

Impressão quase piorada no primeiro lance de perigo do jogo no estádio Al-Bayt. Que foi... do Catar, graças a outra desatenção da Holanda na posse de bola: Frenkie de Jong permitiu o desarme aos 3', Hassan Al-Haydos dominou e chutou de fora da área, mas Andries Noppert defendeu. Logo depois, no entanto, a Laranja mostrou até alguma rapidez maior nas tabelas. E comprovou isso aos 12', quando Frenkie de Jong tabelou com Davy Klaassen, passou a Daley Blind, e o lateral (abaixo do que pode, mas nada tão ruim quanto dizem) cruzou - a defesa bloqueou, mas Denzel Dumfries enfim tentou algo no ataque - um chute pego por Meshaal Barsham. Pouco depois, aos 15', Memphis Depay quase marcou, de voleio, aproveitando o chute de Frenkie de Jong, desviado em Klaassen.

Dumfries sofreu novamente com a marcação, tomando alguns sustos de Akram Afif ou de Homam Ahmed (foto) (Catherine Ivill/Getty Images)

Só que o brilho, a vantagem, o gol surgiu daquele que já está se acostumando agradavelmente a virar destaque da Holanda na Copa: Cody Gakpo. De certa forma, num jeito parecido com seu gol contra o Equador: domínio de bola, tabela rápida com Klaassen, chute da entrada da área - agora, rasteiro, no canto esquerdo, tornando-o um dos goleadores da Copa (três gols, ao lado do equatoriano Enner Valencia e do francês Kylian Mbappé). Ainda assim, a Laranja continuava sofrendo. Menos na esquerda, onde Nathan Aké e Daley Blind não cumpriam o papel mas brilhavam; mais na direita, em que Denzel Dumfries seguia dando espaço demais a Akram Afif, ou a Homam Ahmed, ou a quem quer que aparecesse por ali. E a desatenção com a posse de bola prosseguia - como no chute de Ismail Mohammad, aos 29', após erro de Klaassen no domínio. Se não tomassem jeito, os neerlandeses poderiam sofrer de novo, como contra o Equador.

O Catar, contudo, não era o Equador. Tentava algo nas laterais, mas raramente fazia Noppert trabalhar. E muito mais ingênuo na defesa, logo permitiu o segundo gol holandês, em outra rara jogada rápida com muitas participações: Dumfries ajeitou, Klaassen cruzou da direita, Memphis Depay cabeceou, Barsham rebateu, mas Frenkie de Jong estava a postos para aproveitar e fazer o 2 a 0 - seu primeiro gol pela Holanda, após três anos. A partir dali, o jogo estava vencido. O Catar só reapareceu a sério aos 79', num cruzamento de Homam Ahmed, rebatido por Noppert.

A Holanda? Até teve um gol anulado - Steven Berghuis fez aos 68', poucos minutos após entrar em campo, mas a jogada foi revogada pelo VAR (Gakpo tocara a bola com a mão, na origem da jogada). Todavia, seguiu decepcionando. Até mesmo nas alterações, Louis van Gaal decepcionou. Ao invés de dar chances a novatos que poderiam ser úteis, no último (único, até) jogo mais tranquilo da campanha na Copa - pediam-se Xavi Simons, Noa Lang, ou até Jeremie Frimpong -, entraram em campo nomes já vistos na campanha: o supracitado Berghuis, Vincent Janssen, Teun Koopmeiners, Wout Weghorst. Só Kenneth Taylor, vindo a campo nos minutos finais, destoou um pouco.

E veio a classificação. Um prêmio à preguiça - ou à eficiência da Holanda, dependendo do ponto de vista. O que se sabe, agora, é o que Frenkie de Jong preconizou, na zona mista, após a partida, à emissora NOS: "Foi um pouquinho melhor, mas ainda há muito a melhorar". E o que Memphis Depay alertou: "Agora saímos dos grupos. O mata-mata é que é o negócio sério". Se quiser cumprir as expectativas e não ser vítima de uma zebra nas oitavas de final (e corre riscos), a Holanda terá de jogar bem mais às 12h do sábado que vem, contra os Estados Unidos, novamente no estádio Khalifa International. Não é sempre que a preguiça é premiada...

COPA DO MUNDO FIFA 2022 - GRUPO A

Catar 0x2 Holanda

Data: 29 de novembro de 2022
Local: Al-Bayt (Al-Khor)
Árbitro: Bakary Gassama (Gâmbia)
Gols: Cody Gakpo, aos 26', e Frenkie de Jong, aos 49'

CATAR
Meshaal Barsham; Ismaeel Mohammad (Musaab Khidir, aos 85'), Pedro Miguel "Ró-Ró", Boualem Khoukhi, Abdelkarim Hassan e Homam Ahmed; Abdulaziz Hatem (Ahmad Alaeldin, aos 85'), Hassan Al-Haydos (Ali Assadalla, aos 64') e Assim Madibo (Karim Boudiaf, aos 64'); Almoez Ali (Mohammed Muntari, aos 64') e Akram Afif. Técnico: Felix Sánchez

HOLANDA
Andries Noppert; Jurriën Timber, Virgil van Dijk e Nathan Aké; Denzel Dumfries, Marten de Roon (Teun Koopmeiners, aos 83'), Frenkie de Jong (Kenneth Taylor, aos 86') e Daley Blind; Davy Klaassen  (Steven Berghuis, aos 66'); Cody Gakpo (Wout Weghorst, aos 83') e Memphis Depay (Vincent Janssen, aos 66'). Técnico: Louis van Gaal

Nenhum comentário:

Postar um comentário