domingo, 10 de setembro de 2023

Dureza necessária

A Holanda sofreu muito contra a Irlanda. Mas Weghorst, com seu gol, sinalizou: a Laranja teria maturidade para conseguir vitória importante (KNVB Media)

Em 12 de outubro de 1983, a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) enfrentou a Irlanda, em Dublin, pelas eliminatórias da Euro 1984. Teve grandes dificuldades naquele jogo, viu o time da casa fazer 2 a 0... mas ali uma nova geração começou a se afirmar, porque Ruud Gullit fez dois gols, Marco van Basten marcou outro, Ronald Koeman ajudou, e a Holanda virou aquele jogo para 3 a 2. Acabou nem indo àquela Euro, mas aquela virada sinalizou que a geração que surgia poderia dar muitas alegrias. Nem é o caso da Laranja ter uma nova geração agora, mas a vitória de virada sobre os irlandeses neste domingo - 2 a 1 -, após um jogo difícil, trouxe a boa sensação de que a equipe atual tem maturidade e técnica para ir à Euro. E precisava do desafio que teve no estádio Aviva para confirmar.

A princípio, quase que o desafio pareceu insuperável. A aposta em jogar com três zagueiros, que deu certo contra a Grécia, já começou mal contra o Eire. Trocar passes, na defesa, com lentidão, para manter a bola, rendeu susto já nos primeiros segundos de jogo, quando Frenkie de Jong errou, Matt Doherty aproveitou para tentar o chute, e só Mats Wieffer  (titular, no lugar de Marten de Roon) evitou o pior, afastando para escanteio. Bem, talvez seja melhor dizer que Wieffer adiou o pior: ele veio no escanteio da sequência, quando Virgil van Dijk desviou a bola com a mão. Pênalti marcado, Adam Idah bateu, 1 a 0. Era um pesadelo laranja. Que tinha riscos de piora a cada bola aérea (aqui e ali, o goleiro Mark Flekken mostrou insegurança), a cada bola perdida no meio-campo (além do erro inicial, Wieffer começou lento demais, sem ajudar Frenkie de Jong como se esperava), a cada pressão de Idah ou de Chiedozie Ogbene, os dois jogadores que mais traziam capacidade técnica na Irlanda (Eire).

Pelo menos, um único momento de brilho bastou para acalmar a Laranja. Momento que veio de dois destaques na vitória contra a Grécia: Cody Gakpo fez lançamento brilhante em profundidade, Denzel Dumfries entrou veloz e livre na área, e foi derrubado pelo goleiro Gavin Bazunu. Outro pênalti - e outro gol, porque Gakpo bateu firme para o 1 a 1, no primeiro pênalti da seleção holandesa cobrado por outro nome que não Memphis Depay desde 2017. A situação melhorava um pouco. Mas só um pouco: a defesa holandesa continuava atraindo sustos, com erros constantes (como um de De Jong, aos 33', no qual Ogbene dominou a bola e bateu - Aké evitou o gol) e a lentidão insistente do miolo (Van Dijk quase foi superado por Ogbene na corrida, num momento, e só não houve coisa pior porque o atacante irlandês cometeu falta). E na hora de ir ao ataque, os espaços até apareciam, com Xavi Simons tentando criar e alguns passes em profundidade. Porém, eles iam parar com Donyell Malen, outro titular do dia. E Malen perdia as chances, como aos 25' e a 41' - dois chutes dele rebatidos por Bazunu. Alguma mudança era necessária.

Flekken parecia orar, no gol da Holanda - e as falhas no primeiro tempo foram tantas que davam motivos para isso (Pro Shots)

E Koeman mudou bem. Trouxe o 4-3-3 velho de guerra de volta, com as entradas de Tijjani Reijnders e Wout Weghorst. Com Reijnders no lugar de Wieffer, o meio-campo passou a ficar mais com a bola já no começo do segundo tempo. E com Weghorst, o ataque teve uma referência, que participava mais do jogo ao fazer o pivô para trocar passes. Era a velocidade que a Laranja precisava mostrar mais em campo. Já teve a chance da virada aos 52', quando Xavi Simons completou uma triangulação para fora. Na próxima oportunidade, aos 56', não houve erro: Frenkie de Jong deu um lançamento daqueles esperados para sua visão de jogo, Denzel Dumfries cruzou (seu terceiro passe para gol, nos últimos quatro gols da seleção!), e Weghorst mostrou a presença de área que tem com a seleção para o 2 a 1.

A partir daí, a Holanda dominou mais. Teve chances até de ampliar a vantagem, aos 62', num cruzamento de Dumfries afastado por Shane Duffy. E mesmo ao recuar e correr mais riscos de ver o empate da Irlanda, o sufoco ficou mais na ameaça do que em necessidade de defesas de Mark Flekken. O trio Matthijs de Ligt-Van Dijk-Aké conseguiu controlar as tentativas do time da casa em Dublin. E afinal, veio a vitória.

Vitória que deixa a situação da Holanda mais tranquila. Nos quatro jogos que tem pela frente nas eliminatórias da Euro 2024, poderá receber os irlandeses em casa, ainda terá a fragílima Gibraltar pela frente... e se vencer esses dois jogos, deverá encaminhar seu lugar na Alemanha, no ano que vem. Capacidade para não se complicar, tem. E mostrou isso neste domingo, quando precisou passar por um jogo duro, saindo dele com o melhor resultado possível.

Eliminatórias da Euro 2024
Irlanda 1x2 Holanda
Data: 10 de setembro de 2023
Local: Aviva Stadion (Dublin)
Juiz: Irfan Peljto (Bósnia)
Gols: Adam Idah, aos 4', Cody Gakpo, aos 19', e Wout Weghorst, aos 56'

Irlanda
Gavin Bazunu; Nathan Collins, Shane Duffy e John Egan (Jamie McGrath, aos 73'); Matt Doherty (Festy Ebosele, aos 87'), Alan Browne (Will Smallbone, aos 74'), Josh Cullen e James McClean (Ryan Manning, aos 64'); Jason Knight (Sinclair Armstrong, aos 87') e Chiedozie Ogbene; Adam Idah. Técnico: Stephen Kenny

Holanda
Mark Flekken; Matthijs de Ligt, Virgil van Dijk e Nathan Aké; Denzel Dumfries, Mats Wieffer (Tijjani Reijnders, aos 46'), Frenkie de Jong e Daley Blind (Wout Weghorst, aos 46'); Donyell Malen (Teun Koopmeiners, aos 68'), Cody Gakpo (Noa Lang, aos 81') e Xavi Simons (Steven Berghuis, aos 89'). Técnico: Ronald Koeman

3 comentários:

  1. Na realidade o lance do primeiro gol foi um erro do Flekken com o Frenkie de Jong. Wieffer foi o salvador.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Verdade. O flekken jogou pro de jong no fogo.

      Excluir
    2. Vocês têm toda a razão. Já corrigido. Obrigado!

      Excluir