terça-feira, 26 de setembro de 2023

Segunda chance

O gol de Renate Jansen fez mais do que dar à Holanda uma vitória muito útil contra a Inglaterra, na Liga das Nações; deu à ela uma chance de recomeçar no torneio (KNVB Media)

Como é até habitual, a seleção feminina da Holanda (Países Baixos) oscilou neste começo de Liga das Nações que marcou as datas FIFA de mulheres neste mês de setembro. Porém, ao contrário de outras vezes, o começo foi ruim e o final foi positivo. Se a derrota inesperada para a Bélgica parecia o começo de uma campanha melancólica, já diminuindo de cara as chances de semifinal - e de vaga no torneio olímpico -, a vitória contra a Inglaterra também foi uma surpresa. Uma surpresa alegre, que recoloca na disputa um time que mostrou firmeza para seguir a reação indicada na Copa do Mundo (se consertar determinadas desatenções).

A firmeza era indicada até pela falta de grandes mudanças. Só a defesa passaria por alterações. Uma, até previsível: Caitlin Dijkstra ocupou a lacuna aberta pela saída definitiva de Stefanie van der Gragt (homenageada após a vitória contra as inglesas - assim como Kika van Es e Sari van Veenendaal) no miolo de zaga. A outra foi um pouco mais problemática: entre as três goleiras convocadas, tanto a titular Daphne van Domselaar quanto a reserva imediata Lize Kop chegaram com problemas físicos. Problemas que as impediriam de ir para a estreia contra as belgas. Só restou "promover", às pressas, Daniëlle de Jong - chamada à equipe sub-21 -, trazer a veterana Barbara Lorsheyd e abrir a possibilidade de Jacintha Weimar estrear, enfim, pela seleção. Era algo relativamente temerário: Weimar começou mal a temporada pelo Feyenoord, tendo sido expulsa logo na partida de abertura da temporada (4 a 1 para o Utrecht), saindo de campo às lágrimas após o cartão vermelho. Mas não havia muito o que fazer.

E a princípio, nem parecia que a goleira da Holanda seria uma posição tão preponderante contra a Bélgica. Porque a seleção laranja (jogando de azul na cidade de Leuven) teve mais a posse de bola. Bem mais. Rondava costumeiramente a área das "Chamas Vermelhas", apelido da seleção feminina belga. Mesmo deixando espaços, a Bélgica não os aproveitava - e ainda perdeu a melhor jogadora até então, Hannah Eurlings, machucada. Porém, chances de fato, foram pouquíssimas no primeiro tempo - só dois chutes de Daniëlle van de Donk, aos 37' e aos 45' + 2. E vinham sendo pouquíssimas na etapa final também. Até que um chute de Jill Roord, aos 60', após Lieke Martens cruzar e Lineth Beerensteyn ajeitar, deu o 1 a 0 à Holanda. Parecia o momento decisivo.

Não foi. Porque a desatenção crônica que a seleção feminina da Holanda costuma ter foi vista no momento seguinte. A Bélgica deu a saída de bola, Jassina Blom recebeu, cruzou da esquerda, Laura Detruyer dividiu a bola com Dijkstra, ela veio devagar... e foi para as redes de Weimar. Era o empate inesperado. Que deixou as belgas mais animadas, embora sem perturbar muito a Holanda. Só que as visitantes estavam desorganizadas. Na tentativa de mais um gol, Andries Jonker deixou a equipe com três atacantes (Pelova, Fenna Kalma no lugar de Martens, Katja Snoeijs no lugar de Beerensteyn) nos últimos minutos... mas nos acréscimos, mesmo com um chute fraco de Detruyer, defensável, Weimar preferiu espalmar para escanteio. Bastou: Tessa Wullaert cobrou, Weimar tentou afastar, socou errado ("Atingi a belga", lamentou a goleira à emissora NOS), e a Bélgica tinha o 2 a 1. Resultado do qual a Holanda se lamuriou: tinha dominado, tinha mais a bola... mas tinha faltado o gol. A reclamação de sempre.

Weimar (uniforme verde) recebeu a primeira chance no gol da Holanda, com as ausências. Acabou sendo o destaque negativo na surpreendente derrota para as belgas (Broer van den Boom/BSR Agency/Getty Images)

Contra uma Inglaterra experientíssima de tudo, vice-campeã mundial, favorita à vaga olímpica no grupo, uma derrota poderia tirar as chances que já eram consideradas poucas. Eis que a luz se fez. Em primeiro lugar, porque Daphne van Domselaar, recuperada do que eram problemas musculares na coxa (depois se soube), voltaria às titulares - à guisa de proteção da opinião pública, Weimar sequer ficou no banco. Em segundo lugar, porque a Holanda pareceu "escolher o jogo". Contra uma adversária mais difícil, em casa, se impôs. Pelas alas - Victoria Pelova (muito bem) na direita, Esmee Brugts na esquerda -, avançou e evitou o domínio inglês. Por elas a bola chegou ao ataque. E lá, o duo Lieke Martens-Jill Roord foi muito bom. A confiança crescia. Aos 30', até Caitlin Dijkstra se animou para atacar, forçando Mary Earps a trabalhar. E aos 37', a pressão que a Holanda impunha na marcação forçou um erro de Alex Greenwood. Daniëlle van de Donk (totalmente impedida - a Liga das Nações não tem VAR) ajeitou, e Martens finalizou com estilo para o 1 a 0. O gol foi irregular, mas não deixava de ser justo. E quando a Inglaterra chegou, Van Domselaar comprovou por quê faz diferença no gol, com duas defesas em sequência, aos 43' (Lauren Hemp e Lucy Bronze).

Só que Sarina Wiegman percebeu a inferioridade inglesa. Colocou Chloe Kelly no intervalo. Tão logo o segundo tempo começou, as Lionesses é que se mostraram melhores nas laterais. O empate já poderia ter vindo aos 57', mas Van Domselaar fez outra ótima defesa em finalização de Hemp. Mas aos 64', não houve jeito: cruzamento, finalização eficiente de Alessia Russo, 1 a 1. De novo sem conseguir achar muito espaço, de novo com alguns erros de Lineth Beerensteyn (bola na trave no primeiro tempo, bola para fora no segundo), com Mary Earps impedindo um chute de Pelova aos 65', parecia que o empate abalaria mais a Holanda. Só que uma habitual coadjuvante resolveu: já que Snoeijs ficou de fora do jogo - dores na mão -, Renate Jansen substituiu Beerensteyn. E no minuto final, coube à veterana ajeitar o passe de Martens, correr com a bola até a entrada da área e bater forte, no ângulo de Mary Earps, para o 2 a 1 da vitória.

Vitória que reanimou a Holanda. Que trouxe uma boa sensação: pegando duas vezes a Escócia, lanterna do grupo, em outubro, ela conseguiu a segunda chance na Liga das Nações. A ver se a aproveita, sem as desatenções de agora.

Liga das Nações feminina da UEFA - Liga A - Grupo 1

Bélgica 2x1 Holanda
Data: 22 de setembro de 2023
Local: Den Dreef (Leuven)
Árbitra: Frida Klarlund (Dinamarca)
Gols: Jill Roord, aos 60', Marie Detruyer, aos 61', e Jassina Blom, aos 90' + 3

BÉLGICA
Nicky Evrard;  Féli Delacauw (Janice Cayman, aos 76'), Sari Kees, Laura de Neve (Sarah Wijnants, aos 87') e Laura Deloose;  Tine de Caigny,  Kassandra Missipo e Justine Vanhaevermaet; Marie Detruyer (Welma Fon, aos 76'), Tessa Wullaert e Hannah Eurlings (Jassina Blom, aos 35'). Técnico: Yves Serneels

HOLANDA
Jacintha Weimar; Caitlin Dijkstra, Sherida Spitse (Kerstin Casparij, aos 85') e Dominique Janssen; Victoria Pelova, Jackie Groenen, Daniëlle van de Donk e Esmee Brugts; Jill Roord (Damaris Egurrola Wienke, aos 85'); Lieke Martens (Fenna Kalma, aos 85') e Lineth Beerensteyn (Katja Snoeijs, aos 76'). Técnico: Andries Jonker


Holanda 2x1 Inglaterra
Data: 26 de setembro de 2023
Local: De Galgenwaard (Utrecht)
Árbitra: Ivana Martincic (Croácia)
Gols: Lieke Martens, aos 34', Alessia Russo, aos 64', e Renate Jansen, aos 90'

HOLANDA
Daphne van Domselaar; Caitlin Dijkstra, Sherida Spitse e Dominique Janssen; Victoria Pelova (Wieke Kaptein, aos 77'), Jackie Groenen (Damaris Egurrola, aos 84'), Daniëlle van de Donk e Esmee Brugts (Lynn Wilms, aos 77'); Jill Roord; Lieke Martens e Lineth Beerensteyn (Renate Jansen, aos 84'). Técnico: Andries Jonker

INGLATERRA
Mary Earps; Lucy Bronze, Jessie Carter, Millie Bright, Alex Greenwood e Rachel Daly (Chloë Kelly, aos 46'); Georgia Stanway, Katie Zelem e Ella Toone; Lauren Hemp e Alessia Russo (Lauren James, aos 81'). Técnica: Sarina Wiegman


Nenhum comentário:

Postar um comentário