Uma coisa é seleção, outra coisa é o futebol interno. Poucos países ensinam tanto isso, no futebol feminino do mundo, como a Holanda (Países Baixos). A seleção de mulheres neerlandesas pode ter escorregado um pouco desde os tempos de alta entre 2017 e 2019, mas segue sendo respeitável - e a prova disso foi a atuação muito digna na Copa do Mundo, quando fez jogo duro até na eliminação nas quartas de final, para a futura campeã Espanha. Já seu campeonato nacional... claro que é obrigação ser respeitoso, mas também é claro que a Vrouwen Eredivisie (em holandês, "Eredivisie de Mulheres") não tem o mesmo nível técnico de outras ligas europeias. Talvez nunca tenha. E quem diz isso claramente é o grande símbolo do futebol de mulheres que a Holanda tem na atualidade: Vivianne Miedema. Ela repete a quem quiser ouvir: qualquer jogadora holandesa que deseje evoluir e chegar a grandes estágios, precisará deixar o país natal depois de um tempo, para se firmar num centro mais competitivo. Ainda assim, o torneio se firmou o suficiente para ser item lembrado do calendário do futebol no Reino dos Países Baixos. E terá a edição 2023/24 começando nesta sexta-feira, com dois jogos.
Além do mais, alguns itens o tornam merecedor de respeito. Em primeiro lugar, no mínimo, há boa vontade dos clubes e da federação com o futebol feminino. Quando nada, porque esta temporada traz duas novidades, com os retornos das equipes femininas de AZ e Utrecht, elevando o número de participantes a 12. Claro que fazem sentido ponderações como as de Sarina Wiegman, outro estandarte holandês da modalidade: mais equipes não significam necessariamente um campeonato mais equilibrado. Contudo, tendo em vista a estrutura que AZ e Utrecht oferecem, é possível supor que, daqui a algum tempo, eles tenham times melhores. Assim como outros clubes - Fortuna Sittard, Feyenoord, ADO Den Haag, Heerenveen, Zwolle. E, quem sabe, isso diminua o "duopólio" que Ajax e Twente vivem: desde 2015/16, quando a Vrouwen Eredivisie deixou de ser disputada junto com o campeonato da Bélgica e voltou a ser de um país só, apenas os clubes de Amsterdã e Enschede foram campeões. E nem assim participam com frequência da fase de grupos da Liga dos Campeões...
Também vale a pena notar que o Campeonato Holandês feminino começa a viver algo que já é comum no masculino, há muito tempo: trata-se de uma liga que dá muito espaço a jovens jogadoras, que dá experiência e importância valiosa a elas. A própria Holanda se beneficia disso. Que o digam os nomes que acabaram de sair do país para centros mais competitivos. Indicada à "Bola de Ouro" feminina da revista France Football, a goleira Daphne van Domselaar rumou do Twente para o Aston Villa, na Super League inglesa, talvez a liga de melhor nível técnico no mundo. Também do Twente saiu Fenna Kalma, um fenômeno goleador, artilheira das duas últimas temporadas da Vrouwen Eredivisie - e Fenna Kalma foi para o Wolfsburg-ALE, o vice-campeão europeu. Melhor ainda fez Esmee Brugts: a talentosa ponta, das revelações da Copa feminina, recebeu a aposta do Barcelona, o poderoso vencedor da Liga dos Campeões. Algumas seguem na Holanda, mas já têm data para sair: a zagueira Caitlin Dijkstra (Twente) se vai para o Wolfsburg logo que a temporada acabar, assim como a meio-campista Wieke Kaptein (Twente), rumando para o Chelsea-ING. E muita gente que esteve nas boas campanhas da Holanda em torneios de base - o quarto lugar no Mundial sub-20 do ano passado, a semifinal na Euro sub-19 - estará na Eredivisie. Femke Liefting, Lisan Alkemade, Marit Auée, Samantha van Diemen, Rosa van Gool, Ziva Henry, Chimera Ripa, Tiny Hoekstra... todas elas, candidatas a chegarem à seleção principal em pouco tempo.
Então, é hora de apresentar os doze clubes da Eredivisie feminina. Todos eles, cheios de sementes do amanhã do futebol feminino na Holanda.
Sem outros destaques ofensivos, Van de Velde é uma remanescente em quem o ADO Den Haag confia (Eric Verhoeven/Soccrates/Getty Images) |
ADO Den Haag
Cidade: Haia
Equipe feminina fundada em: 2007
Estádio: Cars Jeans Stadion (capacidade para 15.000 torcedores)
Apelidos: Hagenaren (nome dado aos habitantes e nativos da cidade de Haia)
Títulos: 1 Campeonato Holandês (três Copas da Holanda)
Patrocínio: Girl Power Radio (webrádio)
Técnicos: Alex Scholte e Stephan Vos
Destaque: Chloë vande Welde (meio-campista)
Fique de olho: Vanessa Susanna (atacante)
Temporada passada: 5º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: terminar entre os quatro primeiros
O time de Haia frequenta habitualmente as primeiras posições do campeonato, logo após a dupla "inatingível" formada por Ajax e Twente. Só que, inegavelmente, passará por um solavanco: afinal de contas, após três anos, o técnico Sjaak Polak deixou o time feminino do Den Haag. Além do mais, nada menos do que três destaques ofensivos também rumaram para outros clubes: a dupla Liz Rijsbergen-Jaimy Ravensbergen agora está no Twente, e Kirsten van de Westeringh voltará da séria lesão no ligamento cruzado anterior do joelho vestindo a camisa do Feyenoord. Se serve de consolo para os auriverdes, a dupla de técnicos já trabalhava junto à equipe feminina - Alex Scholte chegou a ser auxiliar de Sarina Wiegman, até, nos primeiros passos dela como treinadora. Além do mais, há nomes que podem minorar o solavanco citado acima, como a experiente goleira Barbara Lorsheyd (pré-convocada para a Copa de mulheres recém-jogada) e a meio-campista Chloë vande Welde. Enfim, mesmo perdendo destaques, o ADO Den Haag parece pronto para fazer outra campanha decente.
Romée Leuchter é o destaque técnico do Ajax. E tem tudo para se confirmar como um dos grandes nomes do Campeonato Holandês, ajudando o atual campeão (Laurens Lindhout/Soccrates/Getty Images) |
Ajax
Cidade: Amsterdã
Equipe feminina criada em: 2012
Estádio: De Toekomst (capacidade para 2.250 torcedores)
Apelidos: Ajacieden (nome dado a torcedores e jogadores do clube); Amsterdammers
Títulos: 3 Campeonatos Holandeses (cinco Copas da Holanda)
Patrocínio: ABN-Amro (banco)
Técnica: Suzanne Bakker
Destaques: Romée Leuchter (atacante)
Fique de olho: Tiny Hoekstra (atacante) e Rosa van Gool (meio-campista)
Temporada passada: Campeão
Copas europeias: Liga dos Campeões (enfrentará o Dinamo BSPUC-BLR, na primeira fase preliminar)
Objetivo: Título
O Ajax sonhava tanto com o título holandês... e enfim o conseguiu. Mesmo que ele só tenha ficado mais próximo na penúltima rodada, após a vitória contra o Twente no jogo direto, ter enfim o título da Vrouwen Eredivisie foi uma massagem no ego Ajacied. O investimento pesado na modalidade teve, enfim, resultado. E tem tudo para continuar tendo. É certo que a defesa do time de Amsterdã teve duras perdas, com as saídas da goleira Lize Kop (Leicester City-ING) e da zagueira Lisa Doorn (Hoffenheim-ALE), ambas titulares absolutas. Só que há nomes capazes de preencherem as lacunas - Dionne van der Wal e Regina van Eijk disputarão posição no gol, e Isa Kardinaal já desponta como jovem promissora. Além do mais, convém não ignorar que Sherida Spitse, capitã que dispensa apresentações, pode ser escalada na defesa, como já é na seleção holandesa de mulheres. Do meio-campo para a frente, então... o poderio do Ajax é quase inigualável para o nível do país: Quinty Sabajo, Nadine Noordam, Chasity Grant, Tiny Hoekstra, uma forte candidata a revelação na ponta-de-lança Rosa van Gool (sobrenome sugestivo...), o destaque absoluto que é Romée Leuchter (tendo de reforçar seu talento após a ausência até inesperada na Copa do Mundo), reforços úteis na volante norte-americana Lily Yohannes e na atacante Bente Jansen. Se já era favorito mesmo quando o Twente levava a taça da liga, agora o Ajax o é ainda mais.
AZ
Cidade: Alkmaar
Equipe feminina criada em: 2007, reativada em 2023
Estádio: AFAS Trainingscomplex/Sportcomplex Kalverhoek (Wijdewormer)
Apelidos: Alkmaarders
Títulos: 3 títulos holandeses (1 Copa da Holanda)
Patrocínio: Zemovi (fabricante de carros elétricos)
Técnico: Mark de Vries
Destaque: Femke Liefting (goleira)
Fique de olho: Isa Colin (meio-campista)
Temporada passada: não disputou o campeonato
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: ficar entre os seis primeiros
Após onze anos de inatividade, um dos maiores campeões femininos do futebol no Reino dos Países Baixos tira as teias de aranha para reativar seu time de mulheres. E conta com uma tremenda capitã para comandar o projeto: após encerrar uma carreira que a tornou símbolo respeitável do futebol feminino no país, Stefanie van der Gragt começa imediatamente o desafio de ser a diretora da modalidade no clube de Alkmaar, onde começou a jogar, em 2007. Então, os investimentos dos Alkmaarders serão grandes, a ponto de torná-lo um candidato a surpresa, como já é no futebol masculino? Menos, menos... boa parte do grupo de jogadoras é egressa do VV Alkmaar, clube amador da cidade que deu lugar ao "concidadão" mais famoso - e que era um constante frequentador das últimas posições do Campeonato Holandês de mulheres (foi o lanterna da Eredivisie passada). Pelo menos, há algum entrosamento. Há jogadoras talentosas aqui e ali, como a jovem goleira Femke Liefting, titular da Holanda semifinalista da Euro sub-19 recém-disputada. E se faltava experiência, Van der Gragt foi atrás dela, trazendo grande surpresa: fez Desirée van Lunteren, lateral direita campeã europeia em 2017 e vice-campeã mundial em 2019 com a Holanda, reativar a carreira após um ano de "aposentadoria". E tentar ajudar o AZ a se estabilizar de novo, após tanto tempo de ausência. Que seja bem vindo...
Após um tempo fora, Sabrine Ellouzi está de volta ao Excelsior. E será referência num time que ainda vive dificuldades (Divulgação/excelsior.nl) |
Excelsior
Cidade: Roterdã
Equipe feminina criada em: 2017
Estádio: Van Donge & De Roo (capacidade para 4.500 torcedores)
Apelido: Kralingers (de Kralingen, o bairro da cidade de Roterdã onde fica o Excelsior)
Títulos: nenhum
Patrocínio: Spieren voor Spieren (organização beneficente para ajudar crianças com problemas musculares congênitos)
Técnico: Richard Mank
Destaque: Sabrine Ellouzi (atacante)
Fique de olho: Chelsea Homan (atacante)
Temporada passada: 9º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último
Da divisão que há no Campeonato Holandês feminino - clubes mais profissionalizados e clubes que ainda têm o que evoluir -, o Excelsior está no segundo grupo. O clube de Roterdã sofre em campo, com algumas ingenuidades na defesa, e também fora dele, com o esforço dentro do departamento de futebol feminino. A ponto do técnico Richard Mank também ser o diretor da modalidade dentro dos Kralingers. Mas nem tudo são dificuldades. Uma contratação trouxe entusiasmo à equipe: sem muito espaço no Feyenoord, o "primo rico", a atacante tunisiana Sabrine Ellouzi voltou para o Excelsior. E será a referência técnica de um time que tem outros nomes vindos do Feyenoord (a defensora Robine de Ridder e a meio-campista Kim Hendriks). E está mais animado para tentar fugir das últimas posições
A promissora atacante Van de Westeringh é um dos nomes que o Feyenoord trouxe para fazer uma campanha um pouco melhor que a anterior (Divulgação/Feyenoord.nl) |
Feyenoord
Cidade: Roterdã
Equipe feminina fundada em: 2021
Estádio: Varkenoord (capacidade para 2.000 torcedores)
Apelidos: Stadionclub (em holandês, "o clube do estádio" - referência a De Kuip, considerado o mais tradicional estádio do país); Feyenoorders; Rotterdammers
Títulos: nenhum
Patrocínio: Prijsvrij (agência de viagens)
Técnica: Jessica Torny
Destaques: Maxime Bennink (atacante) e Jacintha Weimar (goleira)
Fique de olho: Kirsten van de Westeringh (atacante)
Temporada passada: 7º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: terminar entre os quatro primeiros
Após a digna estreia no futebol feminino em 2021/22 (5ª colocação), o Feyenoord já viveu um pouco mais de dificuldades no campeonato passado. A técnica Jessica Torny teve lá suas dificuldades ao começar o trabalho, após chegar das passagens pelas comissões técnicas de seleções femininas neerlandesas (treinou a Holanda 4ª colocada no Mundial sub-20 de mulheres, no ano passado) - Torny chegou a terminar 2022 sem ver o Stadionclub vencer sob seu comando. Ainda assim, conseguiu formar uma base com alguns nomes confiáveis na equipe de Roterdã. A começar pelo gol, onde Jacintha Weimar tem liderança sobre o grupo, tem alguma segurança e tem a experiência de ter estado na Copa feminina com a Holanda. Seguindo pelo meio-campo, onde Cheyenne van de Goorbergh e Zoï van de Ven oferecem técnica. No ataque, Maxime Bennink se responsabiliza pelos gols com a promessa Ziva Henry (titular da Holanda na Euro sub-19). E os reforços da temporada aumentam o otimismo. No meio-campo, a experiente Sisca Folkertsma, de volta ao país natal após passagem pelo Bordeaux-FRA; no ataque, outra candidata a revelação do futebol holandês - Kirsten van de Westeringh, já regular na seleção sub-21, que recebeu a aposta do Feyenoord mesmo voltando de um rompimento de ligamento cruzado anterior no joelho. Os Rotterdammers tomaram impulso para melhorarem a campanha.
Tessa Wullaert merece atenção no ataque. Assim como o time feminino do Fortuna Sittard, como um todo (Joris Verwijst/BSR Agency/Getty Images) |
Fortuna Sittard
Cidade: Sittard
Equipe feminina fundada em: 2022
Estádio: Fortuna Sittard Stadion (capacidade para 12.000 torcedores)
Apelidos: FSC, Fortunezen
Títulos: nenhum
Patrocínio: Azerion (fabricante de games para computador)
Técnico: Roger Reijners
Destaque: Tessa Wullaert (atacante)
Fique de olho: Hanna Huizenga (atacante)
Temporada passada: 3º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: terminar entre os cinco primeiros
O Fortuna Sittard foi a surpresa mais agradável do Campeonato Holandês feminino em 2022/23 - terceiro colocado logo na estreia, à frente de equipes de mulheres mais tradicionais (ADO Den Haag, Heerenveen) ou de mais investimento (PSV, Feyenoord). E pelo menos a princípio, as Fortunezen mostram capacidade de repetir a dose nesta temporada. Para começo de conversa, o principal destaque da equipe segue firme e forte em Sittard: maior nome atual da seleção da Bélgica - talvez de toda a história das "Diabas Vermelhas" -, a atacante Tessa Wullaert chegara para fazer gols, e é isso mesmo que está fazendo. Tem a seu lado, no ataque, outra promessa holandesa: Hanna Huizenga, destaque da participação das Leoas Laranjas na Euro sub-19 de mulheres. Há outra belga que colabora com experiência: a goleira Diede Lemey. Há outra holandesa com capacidade de evoluir na carreira: a ala esquerda Alieke Tuin, costumeiramente lembrada por Andries Jonker nas convocações da seleção feminina. Há mais jogadoras de relativa qualidade: a zagueira Samantha van Diemen, a meio-campista islandesa Maria Catharina Olafsdóttir Gros, a meio-campista Dana Foederer. Comandando todas elas, um técnico conhecedor do futebol feminino: Roger Reijners, comandante da Holanda na primeira participação dela numa Copa do Mundo (2015). Enfim, o clube de Sittard tem as condições para provar que a estreia muito positiva não foi apenas sorte de principiante.
Janneke Ennema é um nome mais velho (só um pouco, a bem da verdade) a tentar ajudar o Heerenveen a melhorar em 2023/24 (Orange Pictures) |
Heerenveen
Cidade: Heerenveen
Equipe feminina criada em: 2007
Estádio: Sportpark Skoatterwâld (capacidade para 3.000 torcedores)
Apelidos: Fean (corruptela de "Hearrenfean", nome do time no idioma frísio - falado na província de Frieslândia, onde fica a cidade de Heerenveen), Frísios, Time da Frísia, "De Superfriezen" ("os superfrísios")
Títulos: nenhum
Patrocínio: Ausnutria (empresa de alimentos infantis à base de leite de cabra)
Técnico: Hans Schrijver
Destaque: Janneke Ennema (atacante)
Fique de olho: Lyanne Iedema (atacante)
Brasileiras no grupo de jogadoras: nenhuma
Temporada passada: 8º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último
É até curioso que o técnico de maior idade no Campeonato Holandês feminino - Hans Schrijver tem 64 anos, completados em 21 de agosto - comande um time não só conhecido por ser um celeiro de talentos (para ficar em dois exemplos, Vivianne Miedema e Fenna Kalma surgiram no clube da Frísia), mas também por ter o grupo atual bastante jovem. Tão jovem que deverá sofrer com alguns nomes um pouco mais crescidos que saíram e que eram titulares na temporada passada, como Nina Nijstad e Nayomi Buikema. Restou promover nomes mais novos ainda - tão novos que a defensora Hester Algra é a jogadora mais nova entre as inscritas na Vrouwen Eredivisie (completou 16 anos em 2 de agosto passado). Há nomes que aumentam um pouco mais a idade, como a atacante Janneke Ennema, 27 anos. Ainda assim, é com a juventude de Algra, das zagueiras Merel Bormans e Fenna Meijer, da meio-campista Danisha Theocharis, da atacante Jet van Beijeren, que o Fean espera uma campanha um pouco melhor do que a de 2022/23, quando ficou só em 8º lugar, perdendo espaço para equipes mais novas, como o Fortuna Sittard. É ver se essa juventude ainda é insuficiente.
Vinda da participação na Copa com a Nova Zelândia, "Indy" Riley é um nome que tentará ajudar um PSV decepcionante a se reencontrar (Divulgação/PSV) |
PSV
Cidade: Eindhoven
Equipe feminina criada em: 2012
Estádio: Sportcomplex De Herdgang (capacidade para 2.500 torcedores)
Apelidos: Boeren (em holandês, "fazendeiros" - referência ao grande número de fazendas e áreas verdes na região onde fica Eindhoven); Eindhovenaren (nativos de Eindhoven)
Títulos: nenhum Campeonato Holandês (uma Copa da Holanda)
Patrocínio: Brainport Eindhoven (conglomerado formado por cinco empresas de Eindhoven)
Técnico: Roeland ten Berge
Destaques: Joëlle Smits (atacante)
Fique de olho: Shijona Martina (atacante)
Temporada passada: 4º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: Título
A queda do PSV é constante: vice-campeão em 2020/21, terceiro colocado (e distante da dupla Ajax-Twente) em 2021/22, quarto colocado na Vrouwen Eredivisie passada. Mais do que isso: o clube de Eindhoven sequer se aproxima das disputas, mesmo com nível de investimento considerável para os padrões do futebol feminino do país - ainda mais tendo como embaixadora alguém do simbolismo de Sari van Veenendaal. Para piorar, a temporada começa com a importante baixa de Esmee Brugts, talvez o único motivo para sorrir ao se ver o que as Boeren apresentaram em campo em 2022/23. Já que era necessário mudar, então, as alterações começaram pelo técnico: após auxiliar René Hake no Go Ahead Eagles, no futebol masculino, Roeland ten Berge voltou à modalidade de mulheres, na qual já trabalhou (Zwolle e Heerenveen). Ten Berge teve algumas contratações: a lateral Nina Nijstad (presente na seleção sub-21 da Holanda), a defensora Suzanne Giesen (vinda do Twente), a atacante neozelandesa Indiah-Paige "Indy" Riley (titular da seleção anfitriã da Copa recém-encerrada). Resta a nomes experientes, como as meio-campistas Siri Worm e Inessa Kaagman, ou a destaques técnicos, como a atacante Joëlle Smits, ajudarem o PSV feminino a encontrar um rumo em campo. Do jeito atual, não se pode ficar.
Samya Hassani voltou ao Telstar cheia de histórias para contar, como integrante da histórica campanha de Marrocos na Copa do Mundo (Divulgação/sctelstar.nl) |
Telstar
Cidade: Velsen
Equipe feminina criada em: 2022
Estádio: BUKO Stadion (capacidade para 3.260 torcedores)
Apelidos: De Witte Leeuwinnen ("As Leoas Brancas", derivação de "Witte Leeuwen", "leões brancos", apelido do time masculino)
Títulos: nenhum
Patrocínio: Sportcity (rede de academias)
Técnico: Marelle Worm
Destaque: Samya Hassani (atacante)
Fique de olho: Isa Gomez (meio-campista)
Temporada passada: 10º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último
É até engraçado que um clube tão modesto no futebol feminino da Holanda tenha um nome que esteve na campanha de Marrocos na Copa do Mundo feminina, uma das grandes histórias que se viram em Austrália/Nova Zelândia. Mas é isso mesmo: a atacante Samya Hassani pode ter ficado no banco em todos os minutos da campanha marroquina no Mundial de mulheres, mas no Telstar é titular. E é um raro destaque, no time que teve a defesa mais vazada do Campeonato Holandês passado (67 gols sofridos), quando estreou no futebol feminino. Quem sabe o costume de jogar junto entre as atletas de defesa - a goleira Kelly Steen, a lateral direita Puck Donker, a zagueira Felice Hermans -, mais alguns reforços (Kim Remijnse, Nikki Ridder), minorem essa fragilidade no Telstar.
Twente
Cidade: Enschede
Equipe feminina criada em: 2007
Estádio: Het Diekman (capacidade para 2.500 torcedores)
Apelidos: Tukkers (gíria para nativos do Twenthe, região da província de Overijssel onde fica a cidade de Enschede)
Títulos: 8 Campeonatos Holandeses (três Copas da Holanda, uma Supercopa da Holanda e duas BeNeLigas)
Patrocínio: Roetgerink (vestuário e sapataria)
Técnico: Joram Pot
Destaque: Renate Jansen (meio-campista/atacante)
Fique de olho: Wieke Kaptein (meio-campista) e Liz Rijsbergen (atacante)
Temporada passada: Vice-campeão
Copas europeias: Liga dos Campeões (enfrentará o Levante-ESP, na primeira fase preliminar)
Objetivo: Título
Foram pelo menos duas saídas fundamentais: Daphne van Domselaar e Fenna Kalma, símbolos da fase campeoníssima das últimas temporadas, com o tricampeonato holandês feminino (2018/19 a 2021/22 - 2019/20 terminou sem campeão). Era possível pensar que as Tukkers, talvez a grande potência do futebol holandês de mulheres, iriam baquear para a temporada atual. Nada mais longe da verdade, como revelou a goleada por 5 a 2 no Ajax, que rendeu o título da Supercopa feminina. Porque o Twente tratou de se reforçar com jogadoras promissoras, que já frequentam as seleções de base. No gol, chegou Daniëlle de Jong, que terá em Enschede o espaço que ainda não tinha no PSV; no ataque, uma dupla de promessas do ADO Den Haag, Liz Rijsbergen e Jaimy Ravensbergen, já veio com boas chances de ser titular no Twente - Rijsbergen, aliás, foi o grande destaque na Supercopa. Além do mais, se Van Domselaar e Kalma deixam saudades, boa parte da base do time que domina as disputas femininas nos Países Baixos ainda veste o uniforme vermelho. Há Kim Everaerts e Marisa Olislagers, nas laterais; há Caitlin Dijkstra (se despedindo nesta temporada - irá para o Wolfsburg-ALE depois dela) e Marit Auée, na zaga; há Wieke Kaptein (outra que terá time novo em 2024/25 - no caso da jovem Kaptein, o Chelsea-ING) e Renate Jansen, no meio-campo; há Anna-Lena Stolze, no ataque. Enfim, o Twente perdeu nomes importantes, sim. Mas sua base está conservada para tentar voltar a ser campeã, após a dura perda do campeonato feminino para o Ajax. E como ter uma base melhor do que reforçá-la com talentos jovens?
Van der Most deixou para trás uma carreira toda no Ajax, acreditando no início do time feminino do Utrecht (Divulgação/fcutrecht.nl) |
Utrecht
Cidade: Utrecht
Equipe feminina criada em: 2023
Estádio: Sportcomplex Zoudenbach (1.000 lugares), em Utrecht
Apelidos: Utregs
Títulos: nenhum
Patrocínio: T-Mobile (empresa de telefonia e comunicações)
Técnica: Linda Heibling
Destaque: Eshly Bakker (atacante)
Fique de olho: Liza van der Most (lateral direita)
Temporada passada: não jogou
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: não terminar em último
O outro clube que retorna à liga neerlandesa do futebol de mulheres (os Utregs voltam após nove anos) teve mais ambições nas contratações em campo do que no banco. A técnica que chega, Linda Heibling, mantinha o futebol como "hobby", treinando uma equipe feminina num clube amador (na cidade holandesa de Ede) enquanto trabalhava como contadora de uma concessionária automotiva. Enfim trabalhando para valer no que lhe ocupava as horas de folga, Heibling terá uma equipe até experiente, em termos de Vrouwen Eredivisie. No grupo de jogadoras, o melhor exemplo está em Liza van der Most: a lateral direita - presente no vice-campeonato mundial da Holanda na Copa de 2019, como reserva - aceitou deixar para trás doze anos no Ajax em que se formou, como jogadora, para ter mais ritmo de jogo. O Utrecht ainda pegou outras jogadoras dos clubes restantes da liga, aqui e ali: a meio-campista Marthe Munsterman (outra egressa do Ajax), a atacante Eshly Bakker (Ajax), a atacante Lotte de Keijzer (Excelsior). E assim, tentará começar sua trajetória no futebol feminino sem fazer feio.
A meio-campista Nayomi Buikema chega a um time do Zwolle que já está entrosado, para tentar manter a estabilidade - e até subir um pouco na tabela (Divulgação/PEC Zwolle) |
Zwolle
Cidade: Zwolle
Equipe feminina criada em: 2010
Estádio: Mac³Park (capacidade para 13.250 torcedores)
Apelidos: Zwollenaren, Dedos Azuis (em holandês, "Blauwvingers")
Títulos: nenhum
Patrocínio: AKM Media (empresa de elementos multimídia)
Técnico: Olivier Amelink
Destaque: Evi Maatman (atacante)
Fique de olho: Nayomi Buikema (meio-campo)
Temporada passada: 6º colocado
Copas europeias: nenhuma
Objetivo: ficar entre os quatro primeiros
Tão jovem quanto o Heerenveen, o Zwolle tem um pouco mais de experiência em algumas jogadoras. Para citar exemplos, há as meio-campistas Nayomi Buikema (esta, recém-chegada) e Danique Noordman, presentes na Holanda semifinalista da Euro sub-19. O ataque do time alviazul também tem lá suas qualidades, com Evi Maatman, reserva que virou titular ao preencher muito bem a lacuna deixada pela ausência de... Marushka van Olst e Naomi Hilhorst, que seguem nas Zwollenaren ainda assim. De certa forma, é a mesma coisa nos outros setores do time: a equipe de Olivier Amelink continua com muitos nomes conhecidos da temporada passada - a goleira Tess van der Flier, as defensoras (Maud Rutgers, Mayke Lindner, Jeva Walk, Imre van der Vegt), todas elas num time que está no meio do caminho, como indica o sexto lugar na temporada passada. Nem está secundando o topo, como o ADO Den Haag, nem pena nas últimas posições e na estrutura pequena como Excelsior e Telstar. Devagar e sempre, o Zwolle busca partir de vez para o lado de cima dessa gangorra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário