quarta-feira, 26 de maio de 2021

Os 26 holandeses na Euro: Wijnaldum

 
Sem Van Dij, Wijnaldum é o grande candidato a assumir o papel de líder da seleção holandesa na Euro 2020 (Pro Shots/onsoranje.nl)

Ficha técnica
Nome: Georginio Gregion Emile Wijnaldum
Posição: Meio-campista 
Data e local de nascimento: 11 de novembro de 1990, em Roterdã 
Clubes na carreira: Feyenoord (2007 a 2011), PSV (2011 a 2015), Newcastle-ING (2015 a 2016) e Liverpool-ING (desde 2016)
Desempenho na seleção: 73 jogos e 22 gols, desde 2011
Torneios pela seleção: Copa do Mundo (2014 - 7 jogos, 1 gol) e Liga das Nações (2018/19, 2020/21)

Num dos primeiros anos de sua carreira, ainda jovem, ainda jogando pelo Feyenoord, Georginio Wijnaldum se abalou tanto com vaias da torcida à equipe, durante uma partida, que saiu de campo chorando após o apito final. Agora, muitos anos depois, "Gini" não chora mais. Ao contrário: capitão da seleção da Holanda durante a lesão de Virgil van Dijk, um dos mais firmes e regulares jogadores da Laranja dentro e fora de campo nos últimos anos, outro raro nome a ter estado num grande torneio por ela, o meio-campista é presença fundamental. Salvo lesão ou acidente, será titular absoluto na Euro. E se Van Dijk não conseguir voltar, seguirá com a braçadeira.

Nascido em Roterdã, filho de pais de ascendência surinamesa, Wijnaldum só assumiu o sobrenome materno após a separação deles - antes, era conhecido como Georginio Boateng. Até mesmo no Sparta Rotterdam, onde se iniciara no futebol, ainda criança - bem como seu irmão, Giliano Wijnaldum, também formado no mesmo clube, também jogador, atualmente no amador CION (de quebra, há mais parentes futebolistas dos Wijnaldum-Boateng: Rajiv van La Parra, meio-irmão de ambos, e Royston Drenthe, primo). Georginio ficou no bairro do clube de Spangen até 2004, quando fez a transição para o clube em que terminaria sua formação nas categorias de base: o Feyenoord.

E a partir dali, as coisas começaram a correr rapidamente para Wijnaldum. Já em 2005, além do time juvenil do Feyenoord, ele começou a figurar nas seleções de base holandesa, fazendo os primeiros jogos pela equipe nacional sub-15. Em 2007, a primeira experiência com o grupo principal do Feyenoord, numa viagem de intertemporada à Turquia, em janeiro. Não demorou muito e, em 8 de abril de 2007, Wijnaldum estreava pelo time principal do Feyenoord, contra o Groningen, pela 31ª rodada do Campeonato Holandês. Tal partida já indicava duas coisas. A primeira: o jovem que ainda ostentava dreadlocks no cabelo seria um símbolo de uma geração que surgia em meio a um momento de muitos dramas no Feyenoord (o Groningen goleou, 4 a 0). A segunda: Wijnaldum "pulava" etapas com seu talento. Tanto que aquela partida fez dele o jogador mais jovem a estrear na história do clube no Campeonato Holandês, com 16 anos e 148 dias. Terminou jogando mais duas partidas, naquela temporada. Além do mais, Wijnaldum ainda participou da Euro sub-17 antes de migrar para a seleção holandesa sub-19 também naquele 2007. 

Naquele tempo, ainda era escalado na posição em que fora formado: ponta-de-lança, mais avançado - era comum ver "Gini" recuar para buscar a bola, antes de ir para a área atacar. Tanto que, na temporada 2007/08, com mais jogos pelo Feyenoord na Eredivisie (dez), ele marcou seu primeiro gol no clube, nos 6 a 0 contra o Heracles Almelo, pela 13ª rodada. A ascensão seguia: em 2008/09, Wijnaldum não só estreou pelo Feyenoord em competições continentais (na ida contra o Kalmar-SUE, pelos play-offs da fase de grupos da Copa da UEFA), como marcou gol (na volta, com o Feyenoord vencendo por 2 a 1 e indo à fase de grupos). E foi titular absoluto do Stadionclub no Campeonato Holandês - 33 jogos, quatro gols. De quebra, ainda foi chamado para a seleção B que a federação holandesa mantinha naquela época.

Wijnaldum já mostrava talento no Feyenoord. Porém, a má fase do clube o abalou - a ponto de explodir em lágrimas após uma derrota, em 2010 (ANP)

Uma lesão ainda o atrapalhou no começo da temporada 2009/10, mas Wijnaldum seguiu como nome certo no Feyenoord. Nas seleções de base, deu o passo decisivo antes da principal: recebeu a primeira convocação para a equipe sub-21 da Holanda. E sua vitalidade no meio-campo e no ataque fazia dele nome frequente em listas de nomes promissores do futebol europeu da época. O único problema era a péssima fase que o clube de De Kuip vivia naqueles anos, simbolizada na maior goleada sofrida em sua história no Campeonato Holandês, em 2010/11, logo num clássico - 10 a 0 para o PSV, na 10ª rodada, em outubro de 2010. Entre tantos jovens que o clube revelava - Stefan de Vrij, Bruno Martins Indi, Terence Kongolo, Leroy Fer, Luc Castaignos... -, Wijnaldum era aquele de quem mais se esperava. Pela vinculação umbilical ao clube, parecia sentir mais a má fase. Prova disso foi a história que abre este texto: ainda na temporada 2010/11, o Feyenoord caiu para o De Graafschap, na 20ª rodada, em pleno De Kuip (1 a 0). A torcida, obviamente, vaiava. E Wijnaldum saiu do campo às lágrimas após o fim do jogo, amparado por Luc Castaignos.

Coube a Wijnaldum aliviar, indiretamente, as aflições do Feyenoord. Porque o Stadionclub, em necessidades financeiras, aceitou a oferta do PSV: por cinco milhões de euros, em agosto de 2011, o ponta-de-lança desembarcava em Eindhoven (não sem antes doar uma quantia substancial ao clube de origem, para melhorias e manutenção no centro de treinamentos de Varkenoord, local em que o Feyenoord cuida das categorias de base). Num cenário mais estável, o ponta-de-lança floresceu de vez. Enfim, estreou pela seleção principal, entrando nos últimos quatro minutos contra San Marino, em setembro de 2011, pelas eliminatórias da Euro - e ainda marcou seu gol nos 11 a 0, a maior goleada da história da seleção masculina da Holanda. Teve mais uma chance em minutos finais, na derrota para a Alemanha, em novembro daquele ano. Ainda ficaria de fora da Euro, mas já era titular absoluto da Laranja Jovem, a seleção sub-21. 

Num PSV mais tranquilo, enfim Wijnaldum despontou e justificou as expectativas (Pro Shots)

E Wijnaldum chegou ao PSV como titular absoluto. Melhorou seus números (32 jogos pelo Campeonato Holandês, com 8 gols), e até celebrou títulos, como a Copa e a Supercopa holandesas. Mas tinha problemas: era escalado na ponta-direita, posição na qual tinha problemas, com o sueco Ola Toivonen como ponta-de-lança preferencial. Em 2012/13, com a chegada de Luciano Narsingh aos Boeren, exatamente para a ponta-direita, nem isso restou: "Gini" começou a temporada no banco. Sequer era lembrado na seleção. Uma infelicidade de Toivonen mudou isso: em outubro de 2012, o sueco lesionou o joelho, ficando fora do resto da temporada. Já sem os dreadlocks que eram sua característica visual, Wijnaldum voltou a ser titular no PSV - e onde rendia mais. Foi melhorando com a reta final da temporada, voltando a ser até goleador (14 gols pelo Campeonato Holandês, sua melhor marca até então). Consolidou a volta à boa fase na Euro sub-21: foi um dos principais nomes da Holanda semifinalista. E terminou voltando à seleção principal, num amistoso contra Portugal, em agosto. Já servia para voltar ao radar de Louis van Gaal.

Na temporada 2013/14, efetivado como técnico do PSV, Phillip Cocu deu o impulso decisivo a Wijnaldum: não só o manteve como titular, como fez dele capitão da equipe de Eindhoven. Nem mesmo uma lesão lombar, que o fez perder a maior parte da temporada (foram só 11 jogos e 4 gols pelo Campeonato Holandês), tornou Wijnaldum menos confiável. Numa temporada apagada do PSV, foi um dos únicos destaques. Recebeu prêmio de Louis van Gaal: a convocação para a Copa de 2014. De certa forma, uma aposta temerária: Wijnaldum praticamente não jogara pela Laranja, nos dois anos anteriores. Mas a aposta foi paga com juros: Wijnaldum começou a Copa na reserva, mas entrou ainda no primeiro jogo, contra a Espanha, para ajudar Nigel de Jong no meio-campo. A mesma coisa, contra a Austrália. Mostrando mais confiabilidade do que Jonathan de Guzmán, o titular habitual, "Gini" ganhou a vaga de vez contra o Chile, no último jogo da fase de grupos. Com a qualidade técnica aliada ao esforço na marcação (tarefa que nem era sua especialidade), melhorou a segurança no meio-campo holandês, fazendo boa Copa - que teve um prêmio adicional no fim: foi dele o último gol nos 3 a 0 sobre o Brasil, na decisão do 3º lugar daquele Mundial.

Wijnaldum começou a Copa de 2014 na reserva da Holanda. Entrou no primeiro jogo para não sair mais (Clive Rose/Getty Images)

Enfim, após patinar, Wijnaldum virava na seleção o que já era no PSV: titular absoluto. E a temporada 2014/15 foi a comprovação disso. Convertido no meio-campista que se mostrara durante a Copa, "Gini" foi o capitão e líder dos Boeren, jogou todas as partidas do Campeonato Holandês, mostrou seu lado goleador (de novo, 14 gols), foi um dos símbolos de um PSV novamente campeão nos Países Baixos após sete anos, foi eleito pelo jornal De Telegraaf o Jogador da Temporada. Estava claro: o agora meio-campista chegara àquele ponto em que estava grande demais para a Eredivisie. 

Aí entrou o Newcastle: por 20 milhões de euros, em julho de 2015, Wijnaldum rumou para o clube inglês. Nos Magpies, encontrou muitos compatriotas (Tim Krul, Daryl Janmaat, Siem de Jong). E se fez fundamental também no clube: mesmo numa temporada dramática, encerrada com o Newcastle sucumbindo afinal ao rebaixamento, talvez tenha sido o maior destaque - esteve em todas as partidas do Campeonato Inglês, fez 11 gols, deu cinco passes para gol, se consolidou como um meio-campista dos mais completos. Pela seleção, mesmo com a Holanda mergulhando em depressão com a ausência na Euro 2016, ajudou nas eliminatórias: indo e vindo do banco, fez um gol na qualificação. 

Mesmo numa temporada em que o Newcastle foi rebaixado na Inglaterra, Wijnaldum teve boas atuações - e isso lhe rendeu para o resto da carreira (Getty Images)

A partir de 2016, Wijnaldum já podia se considerar titular absoluto da seleção da Holanda: começou jogando em todas as partidas da Laranja naquele ano. Mesmo com o Newcastle rebaixado, seguiu valorizado. A prova disso foram os 30 milhões que o Liverpool pagou aos Magpies para levar o holandês, pouco antes da temporada 2016/17. Se foi menos ofensivo (6 gols, 9 passes para gol), Wijnaldum seguiu continuamente constante: já sob Jürgen Klopp, foi titular absoluto nos Reds. Melhor ou pior, seguiu aprimorando o trabalho defensivo, além das ajudas habituais ao ataque. Pela Holanda, em meio a tantas inconstâncias de escalação durante novo fracasso em eliminatórias, para a Copa de 2018, foi um dos únicos a ter atuado em todas as partidas da qualificação.

Mas seria a partir de 2018/19 que Wijnaldum ganharia novo fôlego. Na seleção, outros tiveram mais protagonismo, mas ele fez um do gols numa vitória marcante - os 2 a 0 na França, pela Liga das Nações, triunfo que consolidou a reação vivida pela Holanda. No Liverpool, basta dizer que o meio-campista deu vazão ao velho lado ofensivo para ser o nome de um dos grandes momentos da história dos Reds: nos 4 a 0 sobre o Barcelona, na volta das semifinais da Liga dos Campeões, reagindo após os 3 a 0 sofridos na ida para ir à final, marcou dois gols e foi um dos melhores da partida em Anfield. Não impressiona, portanto, que Wijnaldum tenha sido um dos nomes mais celebrados no título europeu do Liverpool, por ter vivido todo o caminho até ali.

Wijnaldum nem precisava fazer mais nada no Liverpool, após ser decisivo na histórica semifinal de Champions contra o Barcelona, em 2019. Mas fez: jogou bem, nos cinco anos pelos Reds (Getty Images)

E nem impressiona, de certa forma, que dali Wijnaldum tenha ganho corpo para ocupar um papel de liderança na seleção. Dentro de campo, se faltava um homem-gol confiável à Holanda, o meio-campista assumia o papel, tanto indo à área quanto nos chutes de fora, outra qualidade. Com Ronald Koeman treinando, foi decisivo, por exemplo, nos 2 a 1 contra Belarus (os dois gols dele) e nos 5 a 0 contra a Estônia (três gols), pelas eliminatórias da Euro. Sob Frank de Boer, teve sua colaboração na Liga das Nações, com três gols - e até já nas eliminatórias da Copa de 2022, com um gol contra Gibraltar. Fora de campo, Wijnaldum tem sido um dos nomes que mais se manifesta em relação a questões raciais - nem tanto em manifestações, como faz Memphis Depay, mas sim comentando em entrevistas. Para completar: mesmo em meio à pandemia, Wijnaldum foi um dos pilares do Liverpool que, enfim, encerrou 30 anos de jejum, se sagrando campeão inglês. Pelo menos até este 2021: após cinco anos, o meio-campista deve deixar o clube - já se fala em transferência para o Barcelona.

Por tudo isso, Wijnaldum fez por merecer a braçadeira de capitão que ostenta na seleção. Mesmo com a volta de Van Dijk, segue sendo um nome fundamental para a Holanda. Tem tudo para confirmar isso na Euro. O jovem fragilizado do Feyenoord virou sinônimo de experiência.

(Pro Shots)


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