segunda-feira, 31 de maio de 2021

Segunda divisão - análise: justiça seja feita

O Cambuur liderava a segunda divisão em 2019/20, quando a pandemia interrompeu o futebol. Teve de se reanimar, e fez justiça com as próprias mãos: campeão e promovido à Eredivisie de modo inquestionável (Pro Shots)

Poucos clubes lamentaram tanto a interrupção do futebol na Europa, durante a temporada 2019/20, quanto Cambuur e De Graafschap. Tiveram razões para isso: quando a segunda divisão da Holanda foi interrompida, após 29 rodadas (faltando dez para o final), o time de Leeuwarden liderava, os Superboeren vinham em segundo lugar, e ambos estavam muito bem encaminhados para retornarem à primeira divisão. Tiveram de engolir o adiamento, deixarem de lado os recursos contra a federação... e esperarem pela Eerste Divisie 2020/21. Ela chegou. E mostrou a justiça sendo feita, para contentamento do Cambuur - e descontentamento do De Graafschap.

No caso do Cambuur, após a frustração com o recurso na Justiça dos Países Baixos contra a federação, restou apostar na continuidade: Henk de Jong continuou sendo o técnico no clube auriazul, o atacante Robert Mühren seguiu como grande destaque do time, continuou a aposta numa base que mesclasse experiência em clubes médios/pequenos da Eredivisie (Doke Schmidt, Calvin MacIntosch, Issa Kallon... todos eles já atuaram na primeira divisão) com certos privilégios aos destaques (no ataque, por exemplo, Kallon e Jarchinio Antonia vinham pelas pontas, criando as jogadas para Mühren finalizar). Deu muito certo. Já no primeiro período, entre a 1ª e a 9ª rodadas, o Cambuur foi o melhor time, garantindo desde então um lugar na repescagem de acesso/descenso. 

Mas nem isso seria necessário: a equipe mostrou melhorar à medida que a segunda divisão transcorria. Foi também a melhor do segundo período (entre 10ª e 19ª rodadas). A partir da 20ª rodada, engatilhou sequência invicta de nove jogos, com sete vitórias, e o título virou questão de tempo. A comemoração começou na 34ª rodada, com goleada em casa no Helmond Sport (4 a 1), e foi confirmada com os 4 a 2 no time B do AZ, fora de casa. De quebra, nem o relaxamento pós-título trouxe tropeços: foram mais quatro vitórias e um empate. Com 92 pontos, quinze à frente do vice-campeão, o Cambuur ostenta um título inquestionável, voltando à elite do futebol da Holanda após cinco anos. Personificado em Robert Mühren: goleador da temporada, sendo simplesmente o segundo nome com mais bolas na rede numa só temporada da Eerste Divisie - 38 gols, em 38 jogos. Só não mostrará isso na Eredivisie: Mühren ficará na segunda divisão, contratado que foi pelo Volendam.

Alicerçado na excelente defesa (destaque para o goleiro Gorter, de verde), o Go Ahead Eagles embalou, surpreendeu o De Graafschap e conseguiu o melhor prêmio: o acesso (Pro Shots)

Se o Cambuur nadou de braçada durante praticamente toda a temporada da segunda divisão, o De Graafschap pareceu por muito tempo destinado a completar a história que fora interrompida em 2019/20. Desde a oitava rodada, o time de Doetinchem se alternou entre a segunda e a terceira posições (ocupando a quarta, na 14ª e na 18ª rodadas). Mesmo em meio a uma equilibrada disputa com o Almere City - e quem mais quisesse entrar no meio, como ensaiaram NAC Breda, NEC, Volendam... -, os Superboeren se amparavam na experiência do zagueiro Ted van de Pavert e nos gols da dupla Daryl van Mieghem-Ralf Seuntjens para serem o melhor clube do terceiro período, entre a 20ª e a 28ª rodadas, e chegarem à reta final na vice-liderança.

Mas o Go Ahead Eagles veio. Devagar e sempre. Após começo estacionado no meio da tabela, a equipe aurirrubra de Deventer entrou nos eixos. Nem tanto pelo desempenho ofensivo, mas sim por dois nomes de destaque na defesa: o zagueiro Sam Beukema (já contratado pelo AZ) e o goleiro Jay Gorter. Eles simbolizaram uma façanha do Kowet: 25 jogos sem gols sofridos, recorde histórico na segunda divisão neerlandesa. Uma derrota justamente para o De Graafschap - 1 a 0, na 33ª rodada - pareceu acabar com o sonho da volta à primeira divisão. Que nada: nas cinco rodadas seguintes, o adversário de Doetinchem emperrou - quatro empates e uma derrota. 

O Go Ahead Eagles empilhou cinco vitórias. E terá razões para se lembrar da última rodada. Cumpriu sua parte na busca do acesso, vencendo o Excelsior fora de casa (1 a 0). Mas teve de esperar pelo resultado de De Graafschap x Helmond Sport, iniciado no mesmo horário, interrompido pela chuva aos 38 minutos do primeiro tempo. O jogo voltou, o De Graafschap foi incompetente para fazer gols, os jogadores do Go Ahead Eagles acompanharam o segundo tempo sentados no gramado em Roterdã... e o 0 a 0 completou o êxtase do Kowet: vice-campeão pelo melhor saldo de gols (ambos tiveram 77 pontos), retornado à Eredivisie. De certa forma, justiça também, premiando a solidez da equipe treinada por Kees van Wonderen. Pior para o De Graafschap, já eliminado na primeira fase da repescagem de acesso/descenso, perdendo de virada para o Roda JC (3 a 2).

O NEC foi bastante inconstante na temporada regular da Eerste Divisie. Sem problemas: na hora necessária, usou da eficiência para voltar à Eredivisie via repescagem (Pro Shots)

Aliás, "injustiça" mesmo, só se viu na repescagem: mesmo inconstante por toda a temporada, sétimo colocado após as 38 rodadas regulares, o NEC apostou no chamado "cateNECcio": proteção à defesa e eficiência nos contra-ataques puxados por Jonathan Okita. Foi assim que superou o Almere City, goleando na primeira fase dos play-offs (4 a 0); que sobrepujou facilmente o Roda JC (3 a 0); e, finalmente, foi assim que entristeceu o NAC Breda - fora de casa, o NEC teve Okita fazendo 2 a 1 no último minuto, para garantir a volta à Eredivisie, após quatro anos.

Injustiça? Melhor seria dizer competência. De todos os três promovidos.

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