Diante das perspectivas dos clubes holandeses nesta terceira rodada da fase de grupos da Liga Europa, pode-se dizer que, outra vez, vieram surpresas. O AZ até buscou repetir a história da vitória contra o Napoli, mas afinal fraquejou contra a Real Sociedad, fora de casa. O PSV repetiu algo já vivido nesta Europa League - mas repetiu o pior que poderia repetir, repetiu o que se vira na estreia contra o Granada espanhol: uma vantagem promissora virou uma goleada preocupante sofrida para o PAOK, na Grécia. De quem menos se esperava - o Feyenoord, abatido após a goleada para o Wolfsberger austríaco - veio a surpresa: o Stadionclub se reanimou no torneio, talvez tenha reanimado até sua própria temporada no aspecto geral, ao vencer o CSKA Moscou e ir à segunda posição do grupo K.
O Feyenoord demorou para embalar diante do CSKA Moscou. Mas quando embalou, construiu uma vitória que lhe devolveu a vida na Liga Europa (Twitter/Feyenoord) |
O cenário geral antes do Stadionclub jogar era de um certo desânimo. Primeiro, como já dito, por ter caído duramente na rodada passada. Segundo, por causa das lesões que ainda perturbam o reduzido grupo do time de Roterdã: sim, o goleiro Justin Bijlow e o destaque Steven Berghuis retornaram a campo, mas ainda seguem em recuperação Nicolai Jorgensen, a opção Róbert Bozeník, Leroy Fer... Terceiro, pelo que se viu nos primeiros 45 minutos: o Feyenoord só fez o goleiro Igor Akinfeev trabalhar sério na reta final, com um chute de Berghuis afastado em cima da linha. Porém, não só as chances foram escassas em De Kuip, como se um time tentou mais rondar o ataque, foi o CSKA, fazendo Bijlow trabalhar vez por outra.
Tudo isso mudou no segundo tempo. Berghuis continuou sendo ativo no ataque, mas passou a ter mais auxílio para jogadas, com o crescimento de produção de Orkun Kökcü. Pela esquerda, se nem conseguia atacar com eficiência nem defender com segurança na primeira etapa, Ridgeciano Haps enfim melhorou ofensivamente nos 45 minutos finais. Com mais rapidez, o Feyenoord foi mais perigoso. E os "erros" de arbitragem que prejudicaram o time na semana passada beneficiaram nesta. Afinal, Haps parecia impedido no primeiro gol, aos 63', completando triangulação na pequena área. E Lutsharel Geertruida certamente estava à frente no terceiro gol do Feyenoord, aos 72'. Mas sem VAR na fase de grupos da Liga Europa, ficou o dito pelo não dito. De mais a mais, o belo gol de Kökcü que ampliara a vantagem, aos 71', deixava claro como o time da casa crescera. O gol contra acidental de Marcos Senesi atrapalhou um pouco, mas nada que colocasse em risco a vitória que voltou a alimentar esperanças em De Kuip. Até em termos de Campeonato Holandês.
O PSV fez um primeiro tempo tão seguro que ainda está procurando compreender os porquês da queda brusca: PAOK aproveitou e goleou (Reuters) |
Esperanças foi tudo que o PSV deu a quem viu o primeiro tempo do jogo em Tessalônica, contra o PAOK. Recuperado do novo coronavírus, Pablo Rosario foi aprovado para retornar ao time titular dos Eindhovenaren - e fez ótimo primeiro tempo. De quebra, a defesa dos Boeren repeliu com facilidade os ataques do time grego. E os atacantes da equipe holandesa eram perigosos nos contra-ataques, facilitados pela ótima atuação de Mohamed Ihattaren. Simbolizada pelo lance que ajudou o time a abrir o placar, aos 21': passando a bola com o calcanhar, Ihattaren deixou Donyell Malen livre. Malen só parou porque foi derrubado na área, e Eran Zahavi cobrou para o 1 a 0. Em vantagem no placar, sem correr riscos, o PSV parecia firme para vencer. Só parecia.
Porque os jogadores que vieram do banco no PAOK tornaram o ataque da equipe da casa mais veloz. Porque a alteração no PSV (Adrian Fein, no lugar de Rosario) tirou a força de marcação no meio. Porque Ryan Thomas, improvisado na lateral direita, teve um segundo tempo para se esquecer. E principalmente, porque a defesa se desorganizou em tudo: nas bolas paradas, nos contra-ataques... Cenário perfeito para o PAOK fazer o que fez: transformar a desvantagem em goleada, em apenas 21 minutos do segundo tempo. Aos 47', Stefan Schwab estava livre para aproveitar rebote da defesa e fazer 1 a 1; aos 55', o mesmo com Andrija Zivkovic, que recebeu da esquerda para virar o jogo; aos 58', Christos Tzolis (vindo do banco, um dos principais homens a mudar o jogo) teve toda liberdade para avançar, chutar e fazer 3 a 1; e Zivkovic, finalmente, marcou o quarto, aos 66'. Só resta ao PSV se preocupar: em terceiro lugar no grupo E, será melhor vencer ao reencontrar o PAOK na quarta rodada, em Eindhoven. E tendo em mente o que o zagueiro Jordan Teze alertou: "O que aconteceu no segundo tempo não pode acontecer".
O AZ se fechou na defesa contra a Real Sociedad. Ainda assim, perdeu. Mas sem o goleiro Bizot, poderia ter sido bem pior (Getty Images) |
Se o PSV desmoronou de uma hora para outra no segundo tempo, o AZ vendeu caríssimo a derrota para a Real Sociedad. Desde o começo do jogo no Anoeta, em San Sebastián, ficou claro que o time basco é que mandaria no jogo. E os visitantes de Alkmaar se concentrariam em duas coisas: se defenderem, e caso fosse possível e houvesse eficiência num contra-ataque fugidio, conseguir o gol da vitória, repetindo o que se fez contra o Napoli. Pelo menos no primeiro tempo, quase deu certo. Porque, pelo menos uma vez, os Alkmaarders se arriscaram no ataque, num chute de Owen Wijndal aos 37'. E principalmente, porque Marco Bizot voltou a ter uma atuação daquelas que justificam suas convocações para a seleção da Holanda: o goleiro do AZ fez pelo menos três ótimas defesas - e quando não defendia, tinha sorte, como ao ver Portu atrapalhando Alexander Isak de finalizar para o gol vazio, aos 32'.
Bizot continuou sendo preponderante no começo da etapa complementar: pegou chutes de Portu (46'), Mikel Oyarzábal (51'), os escanteios da Real Sociedad se avolumavam sem vazar a meta... até que, aos 58', um chute torto de Mikel Merino acabou virando um "cruzamento", que Portu completou na pequena área para o gol vazio. Bizot lamentou o 1 a 0: se estivesse atento, talvez tivesse pego a bola. Em desvantagem, o AZ até chegou mais ao ataque, com alguns nomes vindos do banco - como Zakaria Aboukhlal (convocado para a seleção de Marrocos), que teve boa chance, aos 75'. De quebra, Bizot evitou um placar maior da Real Sociedad. E se serve de consolo, no empate triplo de Napoli, Real Sociedad e AZ na primeira posição do grupo F - todos com seis pontos -, o AZ lidera o grupo, por ter melhor saldo de gols. Caso haja um empate na quarta rodada, contra a equipe espanhola, os Alkmaarders seguirão bem para a classificação à segunda fase.
Mas estava claro: as derrotas de PSV e AZ poderiam prejudicar a situação da Holanda no coeficiente. Até que o Feyenoord, de quem menos se esperava, animou tudo.
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