Frank de Boer está mais liberado para dar sua cara à seleção. Mas tem muitos problemas nestas datas FIFA (BSR Agency) |
Quando Frank de Boer assumiu a seleção masculina da Holanda (Países Baixos), muito se comentou que sua contratação se dera porque ele se mostrara disposto a seguir a linha de trabalho que Ronald Koeman deixara na Laranja. Há algumas semanas, perguntado sobre isso pelos jornalistas Maarten Wijffels e Mikos Gouka, do diário Algemeen Dagblad, o próprio Koeman se mostrou farto disso: "Falam que a seleção precisa prosseguir na minha linha. Isso me enche um pouco o saco. Sim, é bom que a união siga, mas agora eles têm outro técnico, com outra visão. Aconselharia Frank a se focar". Pois bem: é exatamente assim que a Laranja tentará superar seus desafios nestas próximas datas FIFA - começando nesta quarta-feira, no amistoso contra a Espanha, em Amsterdã, e continuando para tentar voltar à semifinal da Liga das Nações, nas duas rodadas finais: contra Bósnia (próximo domingo, em Amsterdã) e Polônia (na quarta, 18, em Chorzow).
Se fosse só jogar as partidas, a situação neerlandesa seria mais fácil. Porém, do 1 a 1 com a Itália até agora, muitas coisas aconteceram. A maioria delas, influindo negativamente na seleção. Para começo de conversa, uma ausência presente, marcante, dolorosa: três dias depois de jogar contra a Azzura pela Oranje, capitaneando a equipe como habitual, Virgil van Dijk se viu com o ligamento cruzado anterior rompido no Everton x Liverpool do Campeonato Inglês. Não jogará pela seleção, nem nestas datas FIFA, nem nas próximas, e talvez fique de fora da Euro 2021-que-era-2020. Numa defesa já combalida pela falta de Matthijs de Ligt, ainda se recuperando de cirurgia na clavícula, era talvez o pior cenário, a perda mais lamentável que poderia acontecer no grupo de convocados habituais.
Claro, o impacto de não ter o sustentáculo da zaga, a voz de comando dentro de campo, ainda pesa entre os 23 convocados. A começar por alguém que viveu o mesmo drama que Van Dijk: Memphis Depay. Recuperado do problema em seu joelho, o atacante foi sincero à FOX Sports holandesa: "Quando vi a falta [do goleiro Jordan Pickford em Van Dijk], eu usei umas palavras que não posso falar agora. Como pode? Machucar alguém daquela maneira? É maluco para mim". À NOS, Memphis estendeu as óbvias condolências - e seu apoio - ao zagueiro: "Eu sei como ele se sente. Falei com ele, acho que todos aqui fizeram o mesmo. É muito duro que tenha acontecido, mas sei que ele é mentalmente forte, e que isso o fará mais forte ainda".
Porém, Van Dijk não foi a única ausência na lista desde que ela foi anunciada, na sexta-feira passada, originalmente com 25 convocados. Para começo de conversa, o novo capítulo dos problemas foi o mais temerário: nesta terça, Tonny Vilhena (que voltava às convocações) testou positivo para o novo coronavírus. Foi imediatamente desligado do grupo que treina no centro da federação, na cidade de Zeist, mas deixou a pergunta previsível: como ficam os 23 jogadores que tiveram contato com ele? Antes de Vilhena, já viera uma pequena lesão que tirou Steven Bergwijn de combate, uma leve gripe que forçou o corte de Mohamed Ihattaren...
Krul, Bizot (de costas), Drommel... e continua a desconfiança sobre os goleiros da seleção masculina (BSR Agency) |
Mas pouca coisa simboliza tão bem o azar vivido pela seleção da Holanda quanto o ocorrido com os goleiros. Titular sob Frank de Boer (pelo menos por enquanto), Jasper Cillessen sofreu uma lesão muscular no sábado. Foi cortado, e seu substituto, prontamente anunciado: Justin Bijlow, subindo de produção no Feyenoord, presença frequente nos goleiros da seleção sub-21. Pois a infelicidade do jovem Bijlow (21 anos) veio logo no domingo: uma lesão no tornozelo sofrida no aquecimento pré-jogo entre Feyenoord e Groningen, pelo Campeonato Holandês, e Bijlow também foi cortado. Restou a Frank de Boer chamar Joël Drommel, outro jovem arqueiro, do Twente.
Tais lesões ressuscitaram o assunto da falta de confiança nos arqueiros à disposição da seleção principal, hoje em dia. Para tentar minorar a desconfiança, os dois principais nomes da camisa 1 serão postos à prova: Marco Bizot - se recuperando no AZ, após mau começo de temporada - estreará pela Laranja contra a Espanha, ao passo que Tim Krul será o nome debaixo das traves nos jogos da Liga das Nações. Capacidade, ambos já provaram que têm. E diante do que Frank de Boer comentou sobre as condições de Cillessen, com ou sem lesão ("É esperar como ele volta. Espero que volte jogando. Se ele ficar no banco, e ficar assim por quatro meses..."), os jogos podem ser chances para que um ou outro tome a camisa 1 da seleção e não largue mais. Já para Drommel, só estar na seleção adulta já é um feito, para um goleiro que chegou a ser multado pela federação no ano passado, ao largar a seleção sub-21 para ficar no Twente. "Eu nem me toquei ainda do significado", exultou o arqueiro ao site do clube em que atua.
Resta a Frank de Boer apostar em voltas - como Davy Klaassen, retornando à seleção após três anos, graças às atuações seguras no meio-campo do Ajax, ao qual mal voltou e já virou titular absoluto. Ou apostar numa postura mais ofensiva do que a vista contra a Itália. Na entrevista coletiva desta terça, o treinador apregoou: voltará a escalar a seleção com três atacantes, já contra a Espanha. "A Itália jogou contra nós com Barella quase como um segundo atacante, de tão avançado. Então, para [Frenkie] De Jong não ficar sobrecarregado, cinco na defesa. Será desnecessário contra a Espanha”. Resta, também, esperar que nomes importantes e promissores se deem melhor do que vêm se dando em seus clubes - e De Boer citou o exemplo de Donny van de Beek, numa reserva incompreendida para muitos no Manchester United: "Ele está bem lá. É difícil, mas ainda acho que ele jogará tempo suficiente". E finalmente, esperar que os destaques ajudem: Stefan de Vrij - o único zagueiro confiável, fora os lesionados -, Georginio Wijnaldum - o capitão, na ausência de Van Dijk -, Frenkie de Jong ("Posso jogar na zaga se o treinador quiser, mas sou um meio-campista"), Memphis Depay ("Sempre quero mostrar meu melhor lado: se é como centroavante, é como centroavante, se é na esquerda, tudo bem").
Afinal, se Ronald Koeman hoje tem sua cabeça focada no Barcelona e disse para a seleção holandesa deixar essa história de "linha Koeman" de lado, Frank de Boer assumiu na coletiva: "Então, agora, é a versão De Boer 1.0". Resta à seleção, ainda sem vitórias sob o novo técnico, esperar que seja uma versão de qualidade do programa, sem necessitar de atualizações demais, muito menos de formatações.
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