De Vrij já viu melhores fases pela seleção. Ainda assim, pela experiência, pela segurança e até pelo respeito ganho junto a Van Gaal, é a alternativa preferencial na zaga (Divulgação/KNVB Media) |
Ficha técnica
Nome: Stefan de Vrij
Posição: Zagueiro
Data e local de nascimento: 5 de fevereiro de 1992, em Ouderkerk aan den Ijssel
Clubes na carreira: Feyenoord (2009 a 2014), Lazio-ITA (2014 a 2018) e Internazionale-ITA (desde 2018)
Desempenho na seleção: 59 jogos e 3 gols, desde 2012
Torneios pela seleção: Copa de 2014 (7 jogos, 1 gol), Liga das Nações (2018/19, 2020/21, 2022/23), Euro (2020+1)
(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Euro 2020+1)
No futebol, as coisas mudam muito rápido. E o momento, de fato, é o que importa. Se a Copa do Mundo fosse em 2021, Stefan de Vrij seria titular absoluto da seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Afinal, era titular da Internazionale campeã italiana, era garantia de segurança, garantia de experiência. Bem, justiça seja feita: o zagueiro continua sendo tudo isso. Todavia, a concorrência pela titularidade na defesa da Laranja cresceu de nível. Por isso, ele está na reserva. Mas é algo que pode mudar a qualquer momento: com a admiração (inconfessa, mas sabida) que Louis van Gaal tem por seu estilo de jogo, e com as credenciais que traz como um dos únicos jogadores desta seleção laranja a ter jogado uma Copa do Mundo, De Vrij pode muito bem voltar a ser titular a qualquer momento. Afinal, consistência não falta em toda a carreira do zagueiro que tem em tocar piano sua principal distração extracampo.
De Vrij começou no futebol muito precocemente: já aos cinco anos de idade, jogava relativamente a sério no VV Spirit, da cidade natal. Cinco anos depois, tomou o caminho do Feyenoord, aprovado por olheiros. E no clube de Roterdã, fez toda a sua formação nas categorias de base. Bem como nas seleções inferiores da Holanda: chegou à equipe sub-16 em 2007, à sub-17 no ano seguinte...
E em 2009, foi a vez do zagueiro achar a vaga para começar a aparecer no grupo principal do Feyenoord. Em 6 de dezembro de 2009, contra o Groningen, pelo Campeonato Holandês, De Vrij substituiu o já experiente volante Denny Landzaat para ter seus primeiros minutos no time principal do Feyenoord. De certa forma, seu caminho vestindo laranja também começou naquele ano: De Vrij foi titular nas três únicas partidas da má campanha holandesa pelo Mundial Sub-17. Ainda na temporada 2009/10 da Eredivisie, chegou a ser titular num clássico contra o Ajax. E nos quatro jogos em que atuou pelo Feyenoord, fez até um gol - no dia 2 de maio de 2010, última rodada daquela liga, na goleada por 6 a 2 sobre o Heerenveen.
Na temporada seguinte, 2010/11, já foram mais jogos pelo Feyenoord: 30, dos 34 na campanha da Eredivisie. E se começou como reserva, se até foi titular no ponto mais baixo da história do clube de Roterdã (os 10 a 0 do PSV, em outubro de 2010), De Vrij recebeu a aposta decisiva também durante aquele Holandês: no começo de 2011, o técnico Mario Been fez dele titular definitivo na zaga do Feyenoord, no lugar do brasileiro André Bahia.
De Vrij rateou no começo, mas ganhou força para se tornar uma revelação no Feyenoord a partir de 2012 (Pro Shots) |
Saiu Mario Been, chegou Ronald Koeman, e De Vrij continuou titular ao lado de Ron Vlaar na defesa Feyenoorder. Na temporada 2011/12, fez pelo menos um gol marcante: contra o Ajax, em plena Amsterdam Arena, no clássico terminado em 1 a 1. Numa campanha que reabilitou a autoestima do Feyenoord com o vice-campeonato, o jovem de 20 anos foi titular em grande parte dela, com 30 partidas. E a solidez demonstrada foi percebida por ninguém menos que Louis van Gaal: na primeira partida deste comandando a seleção holandesa (derrota por 4 a 2 para a Bélgica, num amistoso, em agosto de 2012), De Vrij teve seus primeiros minutos na Laranja, jogando todo o segundo tempo. A mesma coisa aconteceu num amistoso contra a Alemanha, em novembro daquele ano.
Se 2012 foi o ano do despontar definitivo, 2013 foi a afirmação de De Vrij. Foi titular absoluto no Feyenoord. Firmou-se cada vez mais nas convocações de Louis van Gaal para a seleção holandesa - dos oito jogos da Laranja naquele ano, jogou em sete, todos como titular. E na falta de uma seleção, o zagueiro esteve em duas: também foi nome certo na escalação da seleção sub-21 semifinalista da Euro da categoria, naquele ano. Estava claro: De Vrij estava praticamente garantido na Copa de 2014. Justificou a convocação com a regularidade na campanha pelo Holandês da temporada 2013/14, em que o Feyenoord mais uma vez se sagrou vice-campeão: atuou em 32 dos 34 jogos, só perdendo minutos em dois deles (foi expulso contra o Twente, na 2ª rodada, e substituído contra Heracles Almelo, na 11ª).
Na Copa de 2014, com a remodelação do esquema da Holanda para três zagueiros, De Vrij foi o nome a ser firme na defesa e ousado no ataque. Tanto que fez o terceiro gol, nos históricos 5 a 1 sobre a Espanha. E atuou em 553 dos 630 minutos da campanha que rendeu o terceiro lugar elogiável aos holandeses (só foi substituído contra a Espanha). O jovem zagueiro saiu da Copa como um dos jovens que melhor impressão causou. Até a Van Gaal, que intimamente comemorou a aposta feita desde 2012. Uma história exemplifica isso: pouco antes da decisão de 3º e 4º lugar do Mundial, contra o Brasil, o técnico neerlandês perguntou ao zagueiro se ele sabia de seu papel tático na partida. De Vrij respondeu, com detalhes: teria de acompanhar Hulk na direita, sem esquecer a atenção com Oscar, no meio-campo. Van Gaal apenas deu dois amistosos tapas em seu ombro, dizendo: "Se você quiser, será um ótimo treinador". À sua maneira, era um tremendo elogio.
Numa Holanda predominantemente jovem na Copa de 2014, De Vrij foi um dos que melhor se saiu, com regularidade e segurança na zaga (Jeff Gross/Getty Images) |
Tamanha regularidade bastou para que De Vrij saísse da Copa já cortejado para transferências. Aceitou a proposta da Lazio: por 7 milhões de euros, foi para o clube italiano em agosto de 2014. E só lá teve o seu primeiro problema físico considerável: se continuou sendo nome certo na zaga laziale em 2014/15 (foram 30 jogos pelo Campeonato Italiano), De Vrij teve uma séria lesão no joelho, logo no começo da temporada 2015/16. Foram só seis jogos pela Lazio no Campeonato Italiano. Perturbado pelas dores, teve más atuações na reta final da gigantesca decepção que foram as eliminatórias da Euro 2016 para a Holanda. Para piorar, mesmo lesionado, foi considerado apto a jogar pela comissão médica holandesa - causando pequena crise entre a federação e a Lazio.
O zagueiro só se submeteu a operação em novembro. E só voltou aos campos em maio de 2016. Pelo menos, logo restabeleceu sua importância na zaga da Lazio: na temporada 2016/17, voltou a ter presença massiva no Campeonato Italiano (foram 31 jogos e 2 gols). Servia como esteio do compatriota Wesley Hoedt. Voltava a ser imponente nas divididas: foram 62% dos duelos ganhos contra os adversários em campo. Até mesmo marcou seu primeiro gol - contra o Chievo, na terceira rodada.
Na Lazio, De Vrij foi importante - mas penou com lesão no joelho (Angelo Corconi/AP) |
Em 2017, coroou seu retorno à forma. Não só foi parte importante de uma boa temporada 2017/18 da Lazio, com o quinto lugar no Italiano e a chegada às quartas de final da Liga Europa, como também retomou lugar na disputa por posição dentro da seleção, participando de três partidas nas eliminatórias da Copa de 2018. Novamente a Holanda ficou fora de um grande torneio, mas De Vrij demorou pouco para superar os concorrentes que haviam sido testados (Jeffrey Bruma, Karim Rekik ou o próprio colega de clube Wesley Hoedt) e voltar a estar firme como uma das primeiras opções.
Em 2018, De Vrij mudou de ares - de certa forma, dando um salto na carreira: da Lazio, foi para a Internazionale. E no clube de Milão, continuou se consolidando como um dos bons zagueiros na Serie A: já chegou se firmando entre os titulares, ileso a reformulações graduais dentro da Inter. É certo que cometeu uma falha decisiva - foi do holandês o erro no gol do Eintracht Frankfurt, que eliminou a Inter na Liga Europa da temporada 2018/19. Mas ele seguiu respeitado pela torcida interista.
Numa Inter mais estável, De Vrij deslanchou, virando um dos bons zagueiros do Campeonato Italiano (Getty Images) |
O problema é que perdeu espaço na seleção: após começar jogando nas primeiras partidas sob o comando de Ronald Koeman, Van Dijk e De Ligt acabaram se entrosando melhor ao longo de 2018 e 2019. E De Vrij começou ali a ouvir uma queixa costumeira, nestes últimos anos: mesmo titular na Inter, mesmo sendo considerado merecedor de uma vaga na zaga da Holanda, mesmo tendo uma experiência que a maioria dos colegas de seleção não tinham (uma Copa do Mundo), tinha de se contentar com o banco de reservas.
A lesão de Van Dijk, sofrida em 2020, mudou isso: De Vrij, enfim, teve o espaço aberto para dividir o miolo da defesa com De Ligt. Só não foi titular nas rodadas iniciais das eliminatórias da Copa de 2022 por um resultado positivo de teste para o novo coronavírus. Recuperado, foi peça-chave na Inter que superou dez anos de jejum para ser campeã italiana. E na falta de Van Dijk, ele foi o nome mais experiente da zaga da Holanda na Euro. Só não jogou o segundo tempo contra a Macedônia do Norte, na fase de grupos, quando a Laranja já estava classificada: de resto, esteve em campo. Às vezes, até avançava, pela direita. Certo, a eliminação holandesa foi decepcionante. Mas De Vrij manteve seu papel respeitável.
Tanto que nem a mudança de técnicos fez com que ele perdesse sua titularidade na seleção, no restante de 2021 - e das eliminatórias da Copa. Até porque estava de volta aquele que lhe dera a primeira chance na equipe nacional dos Países Baixos: Louis van Gaal. Pois bem: na campanha de qualificação para o Mundial, De Vrij só não esteve na partida que garantiu a vaga no torneio, contra a Noruega - e só porque se lesionou nos minutos finais do empate contra Montenegro, na penúltima rodada. De resto, foi em 2021 o que já havia sido em 2014: nome certo para o treinador estruturar a defesa da seleção.
Porém, em 2022 De Vrij teve mais dificuldades. Mesmo seguindo absoluto na zaga da Internazionale, mesmo com bom índice de bloqueio de jogadas (1,1 interceptação por jogo, em números do SofaScore), o holandês viu a Inter perder o título italiano e cair nas oitavas de final da Liga dos Campeões. Além do mais, na reta final da temporada 2021/22, o zagueiro sofreu uma lesão na panturrilha, justamente nas datas FIFA de março. Quando a Holanda teria amistosos contra Dinamarca e Alemanha. Pois Matthijs de Ligt jogou bem, Nathan Aké também... e De Vrij viu a concorrência crescer. Mostrou força na Liga das Nações, em junho: foi titular no 2 a 1 em País de Gales (quando também ostentou a braçadeira de capitão) e no 2 a 2 com a Polônia. Mas os testes de Van Gaal fizeram De Vrij ir à reserva na reta final da fase de grupos: ele sequer saiu do banco no 2 a 0 contra a Polônia, e só jogou 24 minutos no 1 a 0 contra a Bélgica.
Ainda assim, tudo parece bem. De Vrij já estava garantido na Copa desde sempre. E mesmo que a dupla Jurriën Timber-Nathan Aké seja a opção preferencial de momento para ladear Van Dijk na zaga, no fundo, quem acompanha a seleção masculina da Holanda (Países Baixos) sabe: velho conhecido de Van Gaal, De Vrij estará a postos. Como sempre esteve, desde 2014.
(Peter Lous/BSR Agency/Getty Images) |
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