sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os holandeses na Copa: Luuk de Jong


Por muitas vezes, Luuk de Jong atraiu a desconfiança de torcida e imprensa. Algumas vezes, com razão. Mas também venceu essa desconfiança muitas vezes. E ir à Copa, até inesperadamente, é uma delas (Divulgação/KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Luuk de Jong
Posição: Atacante
Data e local de nascimento: 19 de novembro de 1990, em Aigle (Suíça)
Clubes na carreira: De Graafschap (2008 a 2009), Twente (2009 a 2012), Borussia Mönchengladbach-ALE (2012 a 2014), Newcastle-ING (2014, por empréstimo), PSV (2014 a 2019 e desde 2022), Sevilla-ESP (2019 a 2021) e Barcelona-ESP (2021 a 2022)
Desempenho na seleção: 38 jogos e 8 gols, desde 2011
Torneios pela seleção: Euro 2012 (nenhum jogo), Euro 2020 (dois jogos) e Liga das Nações (2019/20, 2020/21)

Por muito tempo, Luuk de Jong foi - talvez ainda seja - o "patinho feio" dos convocáveis para a seleção masculina da Holanda (Países Baixos). Nem a capacidade que mostrou para fazer gols em alguns clubes, nem o esforço, nem a experiência, nada disso fez com que Luuk de Jong virasse um atacante confiável em termos de Laranja, para torcida e imprensa dos Países Baixos. Em parte, até, isso se deveu por deméritos do atacante, ao longo de sua carreira. Ainda assim, periodicamente, Luuk consegue viver boas fases. Por causa delas, pela entrega em campo e pela trajetória longa, conseguiu superar uma lesão muscular neste começo de temporada. Conseguiu superar até o fato de nem ter sido convocado para a seleção, nos últimos tempos. E emplaca a convocação para a primeira Copa da carreira.

O esporte não só é questão de família para Luuk de Jong, mas também justifica seu nascimento na cidade suíça de Aigle: seus pais, George de Jong e Loekie Raterink, jogavam vôlei, em times do país helvético. Sem contar o irmão mais velho de Luuk, que também terminou seguindo carreira no futebol: Siem de Jong, atualmente no De Graafschap (segunda divisão). Mesmo com a vivência na Suíça, Luuk é plenamente holandês, de sangue e passaporte - pelas leis suíças, mesmo nascendo no país, só poderia ter o passaporte de lá caso permanecesse em seu território até os 14 anos. 

Não foi o que aconteceu: quando ele tinha 4 anos, a família retornou à Holanda - mais precisamente, à cidade de Achterhoek. Pois foi por lá que Luuk se iniciou no futebol, pelo típico caminho dos jogadores holandeses: começou jogando num clube amador da região (o DZC'68), e alguns anos depois foi visto por um olheiro, aprovado e integrado a um clube profissional. No caso, o De Graafschap, onde chegou em 2001.

Não bastasse a formação futebolística no clube da cidade de Doetinchem, De Jong tinha vínculos com o esporte até mesmo na escola em que estudava: o Rietveld Lyceum também fora local de estudo para Guus Hiddink e Klaas-Jan Huntelaar, outros nomes que haviam passado pelo De Graafschap. E o dito cujo nem precisou esperar muito nas categorias de base para ter chance no time: em 7 de novembro de 2008, Luuk saiu do banco para os últimos 12 minutos da derrota contra o NAC Breda (2 a 0, 10ª rodada do Campeonato Holandês 2008/09). Mais algumas rodadas, e veio a primeira titularidade (contra o Willem II, na 18ª rodada). Mais quatro rodadas, e o primeiro gol - no 2 a 2 contra o Twente. De quebra, já era convocado para a seleção sub-19 da Holanda.

O De Graafschap só escapou do rebaixamento na repescagem de acesso/descenso, mas o atacante alto e até habilidoso de então já não ficaria nos Superboeren. Os interessados faziam fila em Doetinchem: Twente, Utrecht, Ajax, PSV, Groningen... e De Jong escolheu o primeiro da lista, também o primeiro a abrir negociações. Para a temporada 2009/10, De Jong já era jogador do Twente. Em termos de seleção, as coisas também mudavam: da sub-19 para a sub-21.

E a mudança trouxe grandes frutos. 2009/10 foi simplesmente a grande temporada da história do Twente, com o clube se sagrando campeão holandês pela primeira e única vez em sua história. De Jong ficou na reserva do trio Bryan Ruiz-Blaise Nkufo-Miroslav Stoch, mas teve sua utilidade: em 12 jogos pela Eredivisie, fez dois gols. Na Copa da Holanda, em que o Twente obteve o vice-campeonato, Luuk fez quatro gols em cinco jogos. E até na fase de grupos da Liga Europa ele colaborou: quatro jogos, um gol.

Luuk de Jong surgiu como um atacante de mais técnica no Twente - e com isso começou a ter seu espaço (Getty Images)

Mas Luuk de Jong só explodiu no Twente em 2010/11. Ainda um atacante versátil, já começou marcando o gol do título da Supercopa da Holanda, contra o Heerenveen. Depois, pela Eredivisie (o Twente só perdeu o título para o Ajax na última rodada), Luuk foi enfim o titular absoluto - e fez 12 gols em 32 jogos. Pela Copa da Holanda, mais um troféu com o Twente. E em torneios continentais, a coisa foi honrosa: pela Liga dos Campeões, um gol na vitória contra o Werder Bremen (2 a 0, fora de casa, na fase de grupos). E com o Twente indo à Liga Europa e chegando às quartas de final, destaque nas oitavas de final, com dois gols marcados nos 3 a 0 sobre o Zenit-RUS, no jogo de ida. De quebra, além dos gols, De Jong foi quem mais deu passes para gol no Twente, naquela temporada (13). O prêmio por tudo aquilo veio ainda durante a temporada: sua primeira convocação para a seleção principal da Holanda, num amistoso contra a Áustria, em fevereiro de 2011.

Em 2011/12, jogando tanto como ponta-de-lança, numa posição parecida à do irmão Siem no Ajax (quando Co Adriaanse treinava o Twente), quanto como atacante (com a volta de Steve McClaren ao Twente, na segunda metade da temporada), Luuk de Jong era o nome do Twente - foi vice-goleador naquele Campeonato Holandês, com 25 gols. Na Liga Europa, ajudou o time a chegar às oitavas de final. Pela seleção sub-21, vaga garantida. E na seleção principal, ainda que no banco, também: o primeiro gol (em 6 de setembro, contra a Finlândia, pelas eliminatórias da Euro 2012), presença frequente nas convocações... e finalmente, aos 22 anos, a convocação para a Euro. Luuk ficou no banco nos três jogos do vexame da Laranja - e talvez por isso, tenha escapado praticamente ileso.

De Jong já ficara grande demais para o Twente. Tão logo a Euro acabou, o clube de Enschede recebeu algumas propostas - e aceitou a do Borussia Mönchengladbach, por 15 milhões de euros, a maior transferência da história do Twente. Era uma grande chance... mas De Jong não aproveitou. Mesmo titular dos Potros na maioria da temporada, poucos gols: 6 pelo Campeonato Alemão (17 jogos), 2 na Liga Europa (em 4 jogos). Com Arjen Robben e Robin van Persie voltando a brilhar na seleção holandesa - bem como Huntelaar, reserva imediato -, o espaço na Laranja se diminuiu para Luuk, que ficou distante dela com Louis van Gaal no comando. Atuar por seleção, só na Euro sub-21: foi titular na edição de 2013, quando a Laranja Jovem chegou às semifinais, até marcando um gol. Em 2013/14, a coisa foi pior ainda: na reserva do Borussia Mönchengladbach, nenhum gol em treze jogos, na primeira metade da temporada. Emprestado ao Newcastle na segunda metade da temporada, continuou sem balançar as redes - e no banco dos Magpies, jogou menos: oito partidas.

No Borussia Mönchengladbach, De Jong começou a conhecer as dificuldades. E no Newcastle também (Getty Images)

Era preciso tomar fôlego. Desvalorizado e desprestigiado, Luuk de Jong fez isso voltando ao país natal: o PSV o trouxe, por 5,5 milhões de euros. Deu muito certo: em 2014/15, já mais estabelecido como "homem-gol", deixando de lado a versatilidade do começo da carreira, De Jong foi uma das caras do título holandês da equipe de Eindhoven - com 20 gols, foi o vice-goleador da Eredivisie, só perdendo para o colega de time Memphis Depay. De quebra, ainda ao longo de 2015, De Jong recuperou algum espaço na seleção holandesa: voltou a ser convocado, entrando em dois jogos, vindo do banco em ambos. Já era alguma coisa.

E ao longo daqueles anos, De Jong se consolidou como a grande referência ofensiva que o PSV teve na área. A começar por 2015/16, uma de suas melhores temporadas: novamente vice-artilheiro do Campeonato Holandês (26 gols, sua melhor marca até então), capitão do PSV após a saída de Georginio Wijnaldum, um dos destaques do time que voltou a fazer os Boeren irem ao mata-mata da Liga dos Campeões, só parando nos pênaltis contra o Atlético de Madrid, futuro vice, pelas oitavas de final. No time de Eindhoven, o meio da área de ataque era dele - ainda mais se as jogadas fossem aéreas (foram 61% dos duelos pelo alto ganhos). Pela seleção, mesmo reserva, até marcou dois gols em três jogos pela Holanda.

A coisa continuou semelhante nas temporadas seguintes. Mesmo numa temporada menos inspirada (como 2016/17: só oito gols em 32 jogos, até jogando ao lado do irmão Siem, então emprestado ao PSV), o técnico Phillip Cocu seguiu apostando em De Jong. Na seleção, mesmo sem ser o titular absoluto, continuou presente numa convocação ou noutra, entrando aqui e ali. Até porque o brilho no clube, uma hora, voltava e tornava novas chamadas inevitáveis. Foi o que aconteceu em 2017/18: mais um título holandês no PSV, mais um desempenho razoável como referência de ataque (12 gols em 28 jogos), o nome de finalização que servia para tabelas com Gastón Pereiro e Hirving Lozano, gol no jogo do título (3 a 0 no clássico contra o Ajax). De quebra, seguiu no radar das convocações holandesas para a seleção: três jogos.

De volta ao país natal, de volta aos gols: como goleador de área, Luuk de Jong foi um dos símbolos de uma época vitoriosa do PSV (Getty Images)

E 2019 foi o ano da "explosão madura" de Luuk. Na última temporada pelo PSV, 2018/19, enfim goleador do Campeonato Holandês - ainda que dividindo o posto com Dusan Tadic, foram 28 gols em 34 jogos. Na Liga dos Campeões, ainda que o PSV tivesse caído na fase de grupos, houve tempo para três gols nas seis partidas. Em suma: o respeito fora reconquistado na Holanda (Países Baixos). Restava mostrar num centro mais competitivo que De Jong não era o fracasso visto em Borussia Mönchengladbach e Newcastle. E ele tomou o caminho do Sevilla, no meio de 2019. Pela seleção, ainda naquele ano, era o "reserva imediato" do ataque, para a hora do abafa, pela capacidade no jogo aéreo - foi assim que, entre os sete jogos feitos pela Laranja, De Jong marcou um importante gol, desempatando o difícil jogo contra a Irlanda do Norte, pelas eliminatórias da Euro 2020.

De lá para cá, a roda-viva de Luuk de Jong seguiu. No Sevilla, em 2019/20, no pré-pandemia, a crise: só seis gols em 35 jogos, pelo Campeonato Espanhol. Já num cenário pandêmico, após uma complicação disciplinar (o atacante fez um churrasco durante o bloqueio total de circulação na Espanha, sendo multado por isso), a recuperação inesperada: na retomada da Liga Europa, dentro da "bolha" de Lisboa, De Jong foi o nome de mais um título do Sevilla - um gol na semifinal contra o Manchester United, dois gols na decisão contra a Internazionale. E na temporada atual, voltou a imergir pelos Rojiblancos: só 4 gols em 31 jogos no Espanhol, indo para a reserva na reta final da temporada.

Luuk de Jong voltou às vacas magras no Sevilla. Mas teve pelo menos um grande momento nos Rojiblancos: ser o destaque do título da Liga Europa em 2019/20, com dois gols na final (Getty Images)

Pela Laranja, já sob Frank de Boer, De Jong até se tornou titular do ataque em 2020, mas sem gols feitos. Já no começo de 2021, o atacante veio do banco contra a Turquia, nas eliminatórias da Copa - e deixou um gol, na derrota por 4 a 2. Bastou para ser titular nas rodadas seguintes da qualificação, contra Letônia e Gibraltar: vieram mais dois gols, um em cada jogo. Já foi o suficiente para o atacante assegurar presença na convocação para a Euro. Todavia, o crescimento de Wout Weghorst na reta final antes do torneio acabou tirando seu espaço entre os titulares. E a primeira passagem do atacante pela Laranja num grande torneio terminou sendo esquecível. Primeiro, por jogar pouco: só na fase de grupos, só dois minutos (mais acréscimos) contra a Ucrânia, só seis minutos contra a Áustria. Depois, pela lesão no joelho, sofrida num treino, que provocou o seu corte.

Luuk de Jong chegou ao Barcelona sob fortíssima desconfiança. De fato, em números, a passagem foi mediana. Mas sua dedicação em campo o fez sair do clube pela porta da frente (Siu Wu/picture alliance/Getty Images)

Após a Euro, Luuk de Jong surpreendeu. Perdendo espaço no Sevilla, sua saída do clube andaluz era até esperada. O inesperado foi o seu destino: por empréstimo, Luuk de Jong passaria a temporada 2021/22 no Barcelona. Àquela altura, muitos foram duros no julgamento: a chegada do atacante era um símbolo da decadência do clube catalão - afinal, para tais opiniões, tratava-se de um jogador de nível técnico abaixo do esperado para atuar pelo Barça, que lambia as feridas da saída de Lionel Messi. De fato, Luuk mostrou pouco nos Blaugranas: três jogos pela Liga dos Campeões, quatro jogos na Liga Europa, nada de gols. Mesmo no Campeonato Espanhol, onde foi mais titular (seis jogos, dos 21 em que atuou por La Liga 2021/22), foram apenas seis gols feitos - cinco de cabeça, para não deixar dúvidas sobre seu ponto forte. Mesmo assim, de "saco de pancadas" quando a temporada começou, Luuk de Jong terminou merecendo algum respeito da torcida. Mostrou esforço inegável sempre que entrou em campo. Teve sua ajuda na reação barcelonista que, pelo menos, levou ao vice-campeonato espanhol. E fez pelo menos um gol marcante: o da vitória por 3 a 2 no Levante, na 31ª rodada, marcado aos 90' + 2.

A volta a Eindhoven: no PSV, Luuk é mais Luuk (ProShots/Icon Sport/Getty Images)

Empréstimo ao Barcelona terminado, espaço no Sevilla inexistente, Luuk de Jong precisava de um novo espaço na temporada 2022/23, se quisesse voltar às convocações para a seleção da Holanda. Afinal, nunca foi lembrado por Louis van Gaal desde a volta deste. A solução? Retornar para o lugar em que foi mais feliz na carreira: o atacante voltou ao PSV, para ser o líder de um time predominantemente jovem. Já começara razoavelmente, mas uma lesão muscular sofrida contra o Rangers-ESC, na volta dos play-offs da Liga dos Campeões, o tirou de alguns jogos.

Mas De Jong voltou. Já impôs respeito: foram ... gols pelo Campeonato Holandês. E eles já bastaram para convencer Van Gaal de que sua utilidade segue intacta para alguns momentos, abrindo caminho para a primeira Copa da carreira. Como em tantas outras situações, quem sabe não seja o começo de um destaque inesperado...

(ANP/Maurice van Steen/Getty Images)


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