Há muito tempo Justin Bijlow recebe confiança. Passou por falhas. Passou pelas dúvidas com as lesões. Superou tudo isso para ir à Copa, como aposta da Laranja para o futuro (Divulgação/KNVB Media) |
Ficha técnica
Nome: Justin Bijlow
Posição: Goleiro
Data e local de nascimento: 22 de janeiro de 1998, em Roterdã
Clubes na carreira: Feyenoord (desde 2017)
Desempenho na seleção: 6 jogos e 4 gols sofridos, desde 2021
Torneios pela seleção: nenhum
Justin Bijlow tem trajetória curta como goleiro, ainda. Porém, até agora, extremamente bem construída para um jogador apontado como futuro integrante da seleção masculina da Holanda (Países Baixos) a longo prazo: frequentou todas as equipes de base da Laranja, do sub-16 ao sub-21 masculino. Há até um aspecto bonito em sua trajetória: Bijlow é titular do Feyenoord, clube em que começou e para o qual torce. Entretanto, mesmo ainda com pouca idade, o goleiro já teve alguns motivos para sofrer. Pior: para atrair desconfianças. Porém, superou todas elas. E se perdeu a titularidade com que começou na terceira passagem de Louis van Gaal pela seleção batava, fez por merecer a convocação para a primeira Copa de sua carreira.
Antes mesmo de ser jogador, Bijlow é o que se poderia chamar de "ras-Feyenoorder" - em tradução livre para o português, um "torcedor roxo" do Feyenoord. Em primeiro lugar, nasceu e cresceu em Roterdã. Depois, com apenas cinco anos de idade, o pequeno Justin chegou a Varkenoord, o centro de treinamentos do Feyenoord onde os times de base também são preparados. Junto a ele, estava seu irmão Joël, que também tentou a carreira como jogador, por volta de 2008: "Ele é oito anos mais velho, e era o meu exemplo quando eu era garoto. Como ele, eu queria jogar pelo Feyenoord". Joël precisou parar com a tentativa no futebol, por problemas no joelho.
Já Bijlow pôde continuar. Passou por todos os times de base do Feyenoord. A partir de 2014, o grande salto na carreira ficou mais próximo: foi quando o goleiro teve sua primeira passagem por seleções inferiores da Holanda, começando a atuar pela equipe sub-16 da Laranja. Mais dois anos, e o jovem ficou bem mais próximo de realizar o sonho do irmão - e, de resto, toda a sua família: entrou para o grupo de jogadores do time principal do Stadionclub. Nisso, a evolução pelas seleções de base crescia. Da sub-16, Bijlow já fora para o time sub-17 da Holanda, ainda em 2014; e no ano seguinte, foi para a equipe sub-19.
Em 2017, viriam duas sensações distintas para o jovem. Uma delas, ruim. Bijlow era titular na seleção holandesa sub-19 que chegou às semifinais da Euro da categoria, naquele ano, na Geórgia. Porém, na partida contra Portugal, ele falhou no gol de Gedson Fernandes, o único do jogo, que levou os lusos à decisão do torneio. Mas a outra sensação foi a melhor possível para um jogador-torcedor do Feyenoord: já parte do grupo do time principal, Bijlow esteve no gramado de De Kuip para comemorar o título holandês da temporada 2016/17, após 18 anos de jejum, ao lado do goleiro titular Brad Jones e do reserva imediato Kenneth Vermeer. Lembrança que o arqueiro fez questão de ostentar na pele: tatuou numa canela a salva de prata, com os dizeres "14 de maio de 2017", a data daquela conquista do Feyenoord, na última rodada do Campeonato Holandês, fazendo 3 a 1 no Heracles Almelo.
Em seu perfil no Instagram, Bijlow exibiu a tatuagem feita pelo título holandês do Feyenoord em 2016/17: mais uma prova do amor sentido pelo clube em que joga (Reprodução) |
Iniciada a temporada 2017/18, Bijlow seguiu com seu crescimento. Pela seleção, migrou para a equipe sub-21, a Laranja Jovem, considerado o último estágio antes da seleção principal. Mais importante: pelo Feyenoord, o jovem recebeu uma chance na primeira rodada do Campeonato Holandês. Como tanto Brad Jones quanto Vermeer estavam lesionados, Bijlow atuou no triunfo por 2 a 1 sobre o Twente, estreando na equipe principal. Temporada corrida, Brad Jones ainda jogou como titular, mas o então novato terminou atuando nos 90 minutos do clássico contra o Sparta Rotterdam (vitória por 3 a 1, na 33ª rodada) e a partida contra o Heerenveen (vitória por 3 a 2, na 34ª e última rodada). De quebra, nesta vitória da última rodada, Bijlow ainda pegou um pênalti. Era um sonho realizado, que levava até a memórias do torcedor que virou jogador, em entrevista à revista ElfVoetbal, em 2018: "Agora, como jogador, quando eu olho para a Vak V [setor do estádio De Kuip], ainda vejo algumas caras conhecidas".
Bijlow estava pronto. E o técnico do Feyenoord, Giovanni van Bronckhorst, decidiu: em 2018/19, o jovem seria o novo goleiro titular da equipe, após a saída de Brad Jones. E o começo foi o mais promissor possível: na Supercopa da Holanda que abriu a temporada, o Feyenoord (campeão da copa) venceu o PSV campeão da Eredivisie, nos pênaltis. E em seu primeiro jogo como titular absoluto, o goleiro de 20 anos pegou as cobranças de Pablo Rosario e Jorrit Hendrix. Era um início auspicioso. Que, no entanto, foi interrompido aos poucos. Primeiro, com mais uma lembrança dolorosa ao goleiro-torcedor que sempre foi: um "frango" sofrido justamente num Klassieker contra o Ajax, que venceu por 3 a 0 na 10ª rodada do Campeonato Holandês. Segundo, com a primeira de várias lesões: em janeiro de 2019, uma fratura no pé tirou Bijlow da segunda metade daquela temporada. Seriam só 16 jogos pela Eredivisie, e um jogo fugaz pela Liga Europa.
Bijlow, no exato momento da falha contra o Ajax, na Eredivisie 2018/19: era só o começo de momentos difíceis (VI Images/Getty Images) |
Começava ali uma série de lesões, dificultando que Bijlow conseguisse uma longa sequência como titular do Feyenoord. Na temporada 2019/20, interrompida pela pandemia de COVID-19, uma fratura no cotovelo (um mês parado) e uma pancada (mais quatro dias fora) - e a volta, somente na segunda metade da temporada, após a saída de Kenneth Vermeer para o Los Angeles FC, atuando em sete jogos, até a suspensão da Eredivisie.
Porém, foi na reta final de 2020 que ocorreu a lesão mais lamentada por Bijlow. Futebol retomado na Holanda (Países Baixos), ele voltou a ser titular no Feyenoord. Começara bem a temporada, mostrando suas principais qualidades: agilidade debaixo dos três paus, e reflexos muito apurados.. Com isso, em novembro daquele ano, o goleiro recebera a primeira convocação para a seleção da Holanda. Já se preparava para a primeira experiência na Laranja principal... quando, no aquecimento para o jogo contra o Groningen, pela 8ª rodada do Campeonato Holandês, lesionou um dedo do pé. A série "Feyenoord: dat ene woord" (traduzida como "Feyenoord: por dentro do time", disponibilizada pela plataforma de streaming Star Plus no Brasil) mostrou Bijlow chutando uma porta e uma parede do vestiário, irritado, após o aquecimento. Afinal, previa o corte da convocação. Que veio. Assim como mais uma ausência: o goleiro só voltaria aos campos em fevereiro de 2021.
Neste aquecimento, Bijlow sofreu a lesão que impediu sua primeira convocação para a seleção da Holanda. Ela demoraria um pouco mais (ANP Sport/Getty Images) |
Pelo menos, ao voltar, já na reta final do Campeonato Holandês, Bijlow enfim recuperou a sequência que tanto buscava. Foi o suficiente para ser convocado e jogar a reta final da Euro sub-21 do ano passado, na qual a Holanda foi semifinalista. Também começou jogando na temporada 2021/22. Foi o suficiente para confirmar a confiança de um nome que poderia lhe ajudar, dar a aposta conhecida: Frans Hoek, de volta ao cargo de treinador de goleiros da seleção principal com o retorno de Louis van Gaal. A conselho de Hoek, Van Gaal convocou Bijlow para as datas FIFA de setembro de 2021, nas eliminatórias da Copa. E o goleiro completou o "caminho da seleção": após todas as equipes de base, chegou à Laranja adulta, estreando em 2 de setembro de 2021, no 1 a 1 com a Noruega, em Oslo. Jogando nas três partidas, tomou dois gols, e deu alguma confiança de que poderia ter sequência. Mais do que isso: fez defesa salvadora no 1 a 0 contra Letônia, fora de casa, pela sexta rodada.
Após a trajetória nas seleções de base, Bijlow enfim chegou à seleção adulta em 2021. E começou indo muito bem, antes de mais lesões (ANP Sport/Getty Images) |
Só que as lesões indesejadas voltaram. Primeiro, um problema muscular na virilha fez com que Bijlow fosse cortado, durante as datas FIFA de novembro do ano passado: só atuou no 2 a 2 com Montenegro, na penúltima rodada das eliminatórias, o último de seus seis jogos pela Holanda. Já em 2022, com o Feyenoord evoluindo no Campeonato Holandês e, principalmente, na Conference League, Bijlow sofreu em março deste ano: uma fratura no pé causou o seu corte da convocação de Van Gaal para os amistosos do fim do mês. Pelo menos, aí veio a compensação: a recuperação foi bastante acelerada, e o goleiro voltou a tempo de jogar a principal partida do Feyenoord em cinco anos - a final da Conference League, contra a Roma. É certo que a derrota doeu. Mas foi outro ponto em sua relação estreita com o clube que tanto ama.
Mas a temporada 2022/23 voltou com polêmicas. Mesmo livre das lesões, ativo no Feyenoord, Bijlow voltou sem muito ritmo de jogo. Ficou de fora das partidas da Liga das Nações - nas partidas de setembro, sequer foi convocado. Queixou-se, à ESPN holandesa: "Sei que não estou na melhor forma, mas não acho que estou num momento menor". Tomou a réplica de Van Gaal: "Qual a diferença entre não estar na melhor forma e estar num momento menor? A autocrítica é esquisita na maioria dos jogadores".
Enfim, a chamada para treinar pênaltis (um dos pontos fortes), na mesma convocação, foi um sinal de paz. As lesões também deram uma trégua, eliminando uma desconfiança forte. As rodadas mais recentes do Campeonato Holandês trouxeram uma volta à boa fase. E pela sequência que teve, Bijlow recebeu a convocação para a Copa. A titularidade ficou mais difícil. Contudo, tal presença é mais um marco forte em termos de seleção. E em termos de futuro.
(Geert van Erven/BSR Agency/Getty Images) |
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