sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os holandeses na Copa: Malacia

 
Com velocidade e esforço - e ofensividade, se necessário -, Malacia conquistou a torcida do Feyenoord. E também conquistou a vaga na Copa, mostrando precocidade (Divulgação/KNVB Media)

Ficha técnica
Nome: Tyrell Johannes Chicco Malacia
Posição: Lateral esquerdo
Data e local de nascimento: 17 de agosto de 1999, em Roterdã
Clubes na carreira: Feyenoord (2017 a 2022) e Manchester United-ING (desde 2022)
Desempenho na seleção: 6 jogos, desde 2021
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2021/22)

Tyrell Malacia pode ser considerado um xodó, por todo lugar em que ele passou na sua curta carreira no futebol. Para a torcida do Feyenoord, é uma excelente memória: nasceu futebolisticamente no clube, mostrou talento, se destacou em momentos marcantes, deixou o Stadionclub pela porta da frente. No Manchester United em que está, mesmo oscilando aqui e ali, atrai opiniões otimistas. Até mesmo na seleção da Holanda, ambiente supostamente mais exigente, Malacia tem saído a contento: tanto nas partidas, tomando a lateral esquerda sem se intimidar com adversários de bom nível, quanto nos treinos - esta finalização, num trabalho em setembro, mereceu elogio aberto de Louis van Gaal. A qualidade técnica favoreceu este bem querer que se criou sobre o nativo de Roterdã. E por isso, o sorridente Malacia vai à Copa com chances de se tornar até titular da Laranja.

Não é só o caso de dizer que Malacia é uma cria do Feyenoord. Vai além: poucos jogadores da seleção são tão vinculados a Roterdã quanto o lateral. Nascido e criado num bairro do subúrbio da cidade, ele começou no futebol ainda criança, no RVV DHZ. Pouco depois, passou para mais um clube amador, o Overmaas. Ambos ficavam no complexo esportivo de Varkenoord, onde treinam as categorias de base do... Feyenoord. E em 2008, enfim, Malacia tomou o rumo previsível para um Rotterdammer: foi para os times inferiores do Stadionclub. Lá se desenvolveu, lá achou sua posição na lateral esquerda, lá começou também a ser notado pelas seleções de base da Holanda - começando em 2014, com a primeira convocação para a seleção sub-16, e continuando no ano seguinte, com a ida para o sub-17 da Laranja.

Malacia (à esquerda) teve seu primeiro jogo pelo Feyenoord logo numa Liga dos Campeões. E não decepcionou. Era só o começo da passagem promissora no clube que o revelou (VI Images/Getty Images)

Na temporada 2017/18, Malacia chegaria ao time principal do Feyenoord precocemente: tanto por sua qualidade, quanto pelas várias lesões que acometiam Ridgeciano Haps e Miquel Nelom, os outros laterais esquerdos do grupo. E sua estreia pelo Stadionclub já seria suficientemente útil para fazê-lo cair nas graças da torcida. Está certo que, àquela altura, 6 de dezembro de 2017, última rodada da fase de grupos da Liga dos Campeões, o Feyenoord já estava eliminado, na lanterna de sua chave. Ainda assim, se desejava uma vitória na despedida contra o Napoli, em casa. E Malacia foi escalado na lateral esquerda, atuando os 90 minutos do triunfo solitário que o time conseguiu em De Kuip (2 a 1, com virada nos acréscimos). Mais uma semana, e ele fazia sua primeira partida pelo Campeonato Holandês, no empate em 1 a 1 com o Heerenveen, pela 16ª rodada. E sua passagem pelo time sub-19 Feyenoorder, que jogava a Liga Jovem da UEFA, estava encerrada: a partir dali, ele ficaria no grupo principal para não sair mais. Aliás, mesmo apenas começando (11 jogos pela Eredivisie), Malacia já teve um título para comemorar: a Copa da Holanda.

Durante a Euro sub-21 de 2021, Malacia virou titular da Holanda para não sair mais. Outra prova da confiabilidade precoce que passava para os times (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

No começo de 2018/19, Malacia ainda ficou na reserva de mais um título do Feyenoord - a Supercopa da Holanda. Contudo, pouco depois, quando a Eredivisie começou, era ele o dono da lateral esquerda do Feyenoord. A partir dali, o jovem teve tempo para mostrar suas qualidades. Na defesa, o esforço e a velocidade para perseguir atacantes que lhe renderam o apelido de "Pitbull". No ataque, avanços também rápidos - que lhe renderam os três primeiros gols no time principal, e pelo menos uma atuação marcante (na 29ª rodada da Eredivisie, num 3 a 0 sobre o VVV-Venlo, quando fez um gol e foi considerado o melhor em campo, mesmo vindo do banco, substituindo Ridgeciano Haps). O Feyenoord ficou sem títulos então, Malacia ainda não se podia dizer titular - foram 17 partidas no Holandês, mais duas na fugaz aparição do clube na Liga Europa -, mas a temporada 2018/19 dera sinais mais fortes de que a titularidade viria, mais cedo ou mais tarde. Tanto que, em 2019, Malacia entrou de vez para as convocações da Laranja Jovem, a seleção sub-21.

Demorou: quando a temporada seguinte começou, ainda com o Feyenoord treinado por Jaap Stam, Malacia ficava mais no banco de reservas. Mas em novembro, Stam caiu, Dick Advocaat chegou, o Stadionclub começou a reagir... e o jovem voltou a campo, com mais uma lesão de Haps, o titular anterior. Menos propenso a lesões, Malacia se tornou titular do Feyenoord para não mais deixar o time. Só a pandemia de COVID-19, e a consequente interrupção da Eredivisie, bloquearam seu crescimento. Que continuou sem freios na temporada 2020/21, a sua primeira como titular absoluto do Feyenoord: mesmo num mau momento do Stadionclub, que precisou disputar os play-offs por vaga na Conference League e caiu na fase de grupos da Liga Europa, Malacia foi presença certa na lateral esquerda. Sua velocidade e sua ofensividade chamavam a atenção. A ponto de isso lhe render uma virada na carreira, flagrada pela aparição na Euro sub-21, disputada no meio de 2021. Malacia começou no banco de Mitchel Bakker, na fase de grupos, em março. Entrou no último jogo dela, contra a Hungria. Não saiu mais: foi titular no caminho da Laranja Jovem, até as semifinais.

Na campanha do vice-campeonato do Feyenoord na Conference League, Malacia confirmou suas qualidades: rapidez no apoio, esforço e dedicação na marcação. Bastou para estar na seleção do torneio (Rico Brouwer/Soccrates/Getty Images)

Era um sinal. Consolidado na temporada 2021/22. Primeiro, porque Malacia recebeu espaço nas convocações de Louis van Gaal, na volta deste à seleção adulta - e teve a primeira aparição na Laranja, jogando os 90 minutos dos 4 a 0 sobre Montenegro, na quinta rodada das eliminatórias da Copa, em setembro de 2021. Segundo, porque o jovem deu provas definitivas de como era confiável no Feyenoord: evoluindo na marcação, "válvula de escape" sempre valiosa no ataque (quatro passes para gol), raras lesões (32 dos 34 jogos na Eredivisie), um dos protagonistas no vice-campeonato da Conference League (foi incluído na seleção da competição pela UEFA)... com tudo isso, Malacia consolidou o carinho da torcida do clube em que nasceu futebolisticamente. A prova definitiva de que merecia atenção veio nos dois amistosos da Holanda, em março de 2022, contra Dinamarca e Alemanha. Enfrentando dois adversários notáveis, Malacia jogou os 13 minutos finais contra os dinamarqueses. Começou como titular contra a Alemanha, saindo só aos 74'. E não decepcionou: se houve fragilidade da Holanda, não foi pela lateral esquerda.

Malacia esperava a transferência para o Lyon. Terminou "promovido" ao Manchester United, onde ainda tem altos e baixos, usando a camisa 12 que evoca as memórias da torcida do Feyenoord (Geoff Caddick/AFP/Getty Images)

Rumo a esta temporada 2022/23, com atuações tão promissoras, Malacia foi um dos principais alvos de transferências. Acabou dando salto até maior do que o esperado: também precisando vendê-lo, o Feyenoord estava praticamente acertado com o Lyon... mas o Manchester United, com Erik ten Hag iniciando seu trabalho, atravessou a negociação e, a pedidos do técnico, levou o lateral esquerdo para Old Trafford. Jogando com a camisa 12 no clube inglês (homenagem a Het Legioen, como é chamada a fanática torcida do Feyenoord - que só aplaudiu mais o jovem pelo gesto ao clube que deixava), Malacia ainda vive altos e baixos. Se já teve atuações elogiadas e partidas até pela campanha do United na Liga Europa, sua participação nos 6 a 3 sofridos do arquirrival Manchester City (9ª rodada da Premier League) chegou a receber nota 1 de um jornal inglês. No entanto, a torcida dos Diabos Vermelhos segue paciente com ele.

Na seleção, Malacia já está naquela lista de jogadores que só esperam uma chance para entrar e não sair mais dos titulares. Pela Liga das Nações, foram três jogos. E as ingenuidades típicas da inexperiência (como cometer pênalti no fim do jogo contra o País de Gales) foram compensadas não só pela vitalidade, como também por uma versatilidade que já se apresenta: no 1 a 0 contra a Bélgica, que confirmou a vaga da Laranja nas semifinais da Nations League, Malacia entrou no intervalo para ser experimentado como terceiro zagueiro, pela esquerda. Saiu-se sem problemas. E já recupera na seleção o apelido ganho no Feyenoord: a dedicação na marcação o fez voltar a ser chamado de "Pitbull", herdando o apelido de... Edgar Davids, atualmente auxiliar de Louis van Gaal.

O que só aumenta a ótima impressão que se tem das possibilidades de Malacia. Para a Copa. E principalmente, para o futuro da seleção masculina da Holanda.

(Maurice van Steen/ANP/Getty Images)

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