sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Os holandeses na Copa: De Roon


De Roon pode aparecer mais em seu perfil engraçado no Twitter do que em campo. Mas sua voluntariedade o torna nome muito valioso dentro do grupo (Divulgação/KNVB Media)

Ficha técnica

Nome: Marten de Roon
Posição: Meio-campista
Data e local de nascimento: 29 de março de 1991, em Zwijndrecht
Clubes na carreira: Sparta Rotterdam (2010 a 2012), Heerenveen (2012 a 2015), Atalanta-ITA (2015 a 2016 e desde 2017) e Middlesbrough-ING (2016 a 2017)
Desempenho na seleção: 30 jogos, desde 2016
Torneios pela seleção: Liga das Nações (2018/19, 2020/21, 2022/23), Euro (2020+1)

(Versão revista e ampliada do texto de apresentação para o guia deste blog na Euro 2020+1)

Há muitos jogadores conhecidos na seleção masculina da Holanda. Marten de Roon não é um deles. Mas essas frases bem humoradas (típicas, aliás, do ar espirituoso que o jogador dá ao seu perfil no Twitter, com piadas e autoironias o tempo todo, sem agressividade nenhuma) não querem dizer que o meio-campista não tenha utilidade dentro da Laranja. Muito ao contrário: nos últimos quatro anos, discretamente, De Roon mostrou grande capacidade na marcação, tornando-se figura muito útil na seleção. Pode até ter perdido espaço e nem ser titular, mas não só teve lugar garantido entre os convocados à Copa, como é forte candidato a sair do banco para entrar sempre que for preciso ser mais defensivo no meio-campo.

Após começar a bater bola no amador ASWH (Altijd Sterker Worden Hendrik-Ido-Ambacht), próximo à sua cidade natal, De Roon entrou nas categorias de base do Feyenoord, ainda na fase final da infância. Lá ficou por seis anos. Mas seria em outro clube de Roterdã que o nativo de Zwijndrecht teria a porta aberta para a carreira nos campos: o Sparta Rotterdam, onde chegou em 2006. No clube do bairro de Spangen, De Roon terminou sua formação nas categorias de base. Teve até uma chance em seleção inferior - um jogo pela equipe sub-18 da Holanda, e outros três pela seleção sub-19, todos em 2009.

Finalmente, em 27 de março de 2010, veio a estreia do volante pelo time principal do Sparta Rotterdam: De Roon saiu do banco durante o jogo contra o Twente, já na 29ª rodada do Campeonato Holandês da temporada 2009/10. O Sparta caiu para a segunda divisão ao fim da temporada, mas o jogador ficou no Kasteel. E se consolidou, nas duas temporadas seguintes, como um nome regular e confiável na marcação, dentro do meio-campo. A ponto de atrair muito interesse dentro do futebol dos Países Baixos: AZ, Heracles Almelo, Heerenveen... E coube a este último clube levar De Roon logo no fim do contrato com o Sparta Rotterdam, no meio de 2012. 

No Heerenveen, sob o comando de Marco van Basten, De Roon demorou um pouco para se tornar indispensável. Mas a partir da metade da temporada 2012/13, cresceu e tomou a titularidade no clube das camisas alviazuis com folhas de lírio para não mais perdê-la. Em 2013/14, então, De Roon ficou ainda mais prestigiado: já com novo técnico no Heerenveen (Dwight Lodeweges, que o treinou interinamente na seleção), não só prosseguiu titular absoluto no meio-campo, como foi escolhido o capitão do time. E até se entrosou bem com um nome no meio do Fean, Joey van den Berg: este cuidava dos desarmes, com mais força, enquanto De Roon apostava na capacidade com a saída de bola. Finalmente, na temporada 2014/15, o meio-campista foi um dos principais nomes do Heerenveen que quase teve vaga na Liga Europa - perdeu-a para o Vitesse, na final da repescagem holandesa.

No Heerenveen, De Roon consolidou seu estilo marcador no meio-campo (Pro Shots)

A constância das atuações fez com que De Roon chamasse a atenção da Atalanta - e antes da temporada 2015/16, ele chegou ao clube italiano. Já na primeira temporada em Bérgamo, o holandês demonstrou a sua principal qualidade em campo: continuidade. Não era um goleador (só um gol), nem um criador de jogadas (só um passe para gol), mas raramente perdia um jogo (36 das 38 partidas da Atalanta no Campeonato Italiano) e mantinha firme a posse de bola (em média, 60,9 toques na bola por jogo). Mesmo que a Atalanta fosse um time de meio de tabela, então - terminou a Serie A 2015/16 na 11ª posição -, De Roon se destacou. E já deu mais um salto: a contratação pelo Middlesbrough, que voltava à primeira divisão inglesa.

No Boro, o holandês seguiu constante (33 jogos). Até marcou mais gols (4). E se aprimorou nos desarmes. Tudo isso, enfim, o levou à seleção holandesa: em 13 de novembro de 2016, o volante teve a sua estreia na Laranja, contra Luxemburgo, vindo do banco para os últimos dois minutos de jogo. Porém, só durou uma temporada na Inglaterra: o Middlesbrough caiu novamente para a segunda divisão, e teve de vender o volante.

Sorte da Atalanta: já então sob o comando do técnico Gian Piero Gasperini, que desejava um estilo mais ofensivo em campo, o clube trouxe De Roon de volta, para a temporada 2017/18. Àquela altura, já havia mais alvos na temporada: além do Campeonato Italiano, a Atalanta tinha uma Liga Europa para disputar. E De Roon esteve nisso tudo. Mais focado no lado direito do meio, seguiu titular da Atalanta, tanto na Serie A quanto na Europa League. E a melhora de seus índices com a bola nos pés indicava como aquela Atalanta estaria diferente.

De certa forma, se abria ali a grande fase da carreira do volante. Porque, se só atuara em um jogo pela seleção da Holanda em 2017, sua boa fase o levou a ser experimentado por Ronald Koeman na escalação da Laranja, a partir do amistoso contra Portugal, em 26 de março - vitória holandesa, 3 a 0. Ali De Roon começou a se mostrar um jogador discreto e confiável. Tão confiável que Koeman o tornou titular absoluto da seleção a partir dali. 

De Roon chegou à Atalanta, teve a experiência frustrada no Middlesbrough... e só decolou quando voltou a Bérgamo (VI Images)

O que só progrediria ao longo da temporada 2018/19. Pela Atalanta, De Roon mostrou-se cada vez mais preciso na saída de bola (só pelo Campeonato Italiano, foram 88% de acerto nos passes). Ajudando demais na meia-direita, foi nome certo na escalação do time que conseguiu a façanha de levar a Dea pela primeira vez à Liga dos Campeões. O bom nível de equilíbrio entre marcação e apoio consolidava De Roon também na seleção: enquanto Frenkie de Jong circulava por todo o campo e Georginio Wijnaldum era mais do ataque, o volante cuidava da marcação - e tal entrosamento fez dele titular na maioria dos jogos da Holanda em 2019, incluindo a final da Liga das Nações.

De lá para cá, a situação seguiu a mesma. Pelo menos, na Atalanta: De Roon fez parte da campanha elogiável na Liga dos Campeões, em 2019/20, e segue como nome frequente na escalação do time azul e negro de Bérgamo - quase sempre, cabe a ele roubar as bolas e iniciar as jogadas de ataque. Na seleção, o volante até continuou com bastante espaço mesmo após a saída de Ronald Koeman e a chegada de Frank de Boer: jogou a maioria das partidas da Holanda em 2020.

Isso mudou um pouco em 2021: uma atuação ruim contra a Turquia, na estreia das eliminatórias da Copa, fez De Roon perder a vaga para Davy Klaassen, em boa fase no Ajax. Ainda assim, garantido na Euro, o volante foi titular em três dos quatro jogos na campanha, só sendo poupado contra a Macedônia do Norte, quando a Holanda já estava classificada às oitavas de final nas quais seria eliminada. Além do mais, seu "anticarisma" foi útil para amenizar as tensões da campanha decepcionante: no perfil oficial da seleção masculina no YouTube, De Roon "apresentou" algumas brincadeiras com os companheiros - como esta, com De Jong e De Ligt -, e ainda fez um vídeo com um dia de folga na Euro, quando a delegação se divertiu num jogo de boliche.

A utilidade de De Roon na marcação o fez titular da Holanda na Euro ( Alex Gottschalk/DeFodi Images/Getty Images)

Na Atalanta, De Roon seguiu com a realidade a lhe mostrar a pecha de "coadjuvante". Basta citar um caso pitoresco ocorrido em setembro do ano passado: o meio-campo fez parte de uma promoção do clube, na qual pagaria as camisas que fossem compradas por torcedores que pedissem seu nome na personalização... e ninguém as comprou. Tudo bem: como sempre, De Roon se saiu com um gracejo. Além do mais, o que se viu no campo compensou: foram 30 jogos e três gols na temporada 2021/22 do Campeonato Italiano, titular absoluto da "Dea" (apelido da Atalanta), sem contar o poder de marcação. Em média, nos números do SofaScore, foram 2,3 carrinhos por jogo - e desde a temporada 2017/18, sua chegada ao Campeonato Italiano, ninguém roubou mais bolas (1.142) e nem deu mais carrinhos que desarmaram (246) do que De Roon.

Na seleção, sob Louis van Gaal, De Roon perdeu espaço jogando: foram só dois jogos no segundo semestre de 2021, ambos pelas eliminatórias da Copa, ambos vindo da reserva (jogou os 17 minutos finais nos 4 a 0 contra Montenegro, e os 16 finais da vitória contra a Noruega que pôs a Holanda no Mundial). Neste 2022, só dois jogos: os dois derradeiros antes da Copa, pela Liga das Nações, contra Polônia (2 a 0, substituindo De Jong) e Bélgica (1 a 0 - este, como titular). O que aumentou as perspectivas de que ele estaria entre os 26 convocados.

E De Roon está entre os 26 da Copa. Como coadjuvante - e ele é o primeiro a reconhecer, mas também lembrando da sua utilidade, em entrevista à revista Voetbal International: "Eu entendo que Frenkie [De Jong] é o titular. Eu não sou Frenkie, mas eu acho que posso acrescentar algo, caso ele não esteja. Por exemplo, ajudar a segurar uma vantagem". Outra de suas utilidades - sua aceitação no grupo de jogadores - foi ressaltada por Van Gaal: "Eu também preciso de jogadores que falem a língua do técnico no vestiário. E eu lembrei a ele o exemplo de Dirk Kuyt na Copa de 2014: eu levei Kuyt à Copa exatamente por isso".

Portanto, pode-se esperar de Marten de Roon muito esforço dentro de campo na Copa. E, se possível, alguma autogozação no Twitter.

(Michael Bulder/NESImages/DeFodi Images/Getty Images)

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