segunda-feira, 7 de setembro de 2020

É boa mas não são duas

A Itália foi bem mais rápida, assumiu o destaque... e deixou a Holanda de Van Dijk para trás, bem para trás (European Press Agency)

A seleção (masculina) da Itália vive sob desconfiança constante, desde a ausência na Copa de 2018. A da Holanda (Países Baixos) também, após as ausências na Euro 2016 e também no Mundial de dois anos atrás. Mas a Laranja conseguiu minorar as desconfianças de lá para cá, porque tem uma boa geração que desabrochou: Virgil van Dijk, Matthijs de Ligt, Frenkie de Jong, Memphis Depay, Steven Bergwijn... só que a Itália também tem uma geração capaz de fazer uma seleção decente. E a Azzurra lembrou isso, da pior maneira possível para os holandeses, sobrepujados até com facilidade no 1 a 0 transalpino em Amsterdã, na segunda rodada da Liga das Nações da UEFA.

Para a partida, o técnico Dwight Lodeweges fez uma alteração pedida por muitos: enfim, Donny van de Beek começaria um jogo como titular, com Georginio Wijnaldum destinado para a ponta-direita, "sacrificando" Steven Bergwijn, iniciando entre os reservas. Poderia ter sido ofensivamente atraente... se desse certo. Porque a Itália começou a partida na Johan Cruyff Arena muito bem definida no que desejava fazer. Primeiro, manteve mais a posse de bola. Se tinha mais a bola, trocava mais passes. E se trocava mais passes, não só impedia os Países Baixos de jogarem como gostam (principalmente em relação a destaques neerlandeses, como Frenkie de Jong), mas também conseguia atacar mais. E estar mais atenta às falhas holandesas - como a que Joël Veltman cometeu na saída de bola, aos 12', dando ao meio-campista Nicolò Barella espaço para dominar e arrematar, para fora (com desvio). Barella, por sinal, já despontava como destaque, chegando com velocidade ao ataque.

Mais perigoso ainda era ver que, na esquerda, com Van de Beek e Wijnaldum - ou mesmo Marten de Roon no lugar de qualquer um dos dois - tendo de acompanhar Manuel Locatelli. Com dois meio-campistas perdendo na marcação e Hans Hateboer mal escalado (o ala da Atalanta vai bem melhor no apoio do que na marcação, coisa que teria de fazer como lateral), havia espaço à farta na esquerda para a Itália atacar. E a dupla Leonardo Spinazzola-Ciro Immobile percebeu isso. Spinazzola, aos 17', cruzando para Nicolò Zaniolo tentar um gol de voleio (para fora); Immobile, aos 19', quando chutou cruzado, perto do gol.

Sem espaço nem tempo para impor a pressão na marcação nem para atacar, a Holanda estava presa. No primeiro tempo, só um lance digno de nota - aos 32', quando Wijnaldum recebeu de Nathan Aké, trouxe a bola até a entrada da área e chutou rasteiro, para Gianluigi Donnarumma pegar. De resto, a superioridade da Itália era clara. Lorenzo Insigne se uniu a Spinazzola, Barella e Immobile como destaque, chutando novamente perto do gol, aos 35'. Nem mesmo a lesão (aparente e lamentavelmente grave) no joelho de Zaniolo, forçando a primeira alteração da Azzurra já aos 42', minorou o ânimo e a superioridade italianos. Que chegaram ao 1 a 0 no fim do primeiro tempo, em jogada que exemplificou como os dois times estavam em velocidades diferentes: a defesa holandesa foi totalmente envolvida pela troca de passes de Immobile e Insigne, e Aké só viu Barella subir sozinho na pequena área para fazer 1 a 0, de cabeça.

Memphis Depay tentou, como sempre tenta. Mas a defesa italiana se aguentou bem (Pro Shots)


Pelo menos no começo do segundo tempo, a Itália continuou francamente superior. Teve pelo menos duas chances boas para ampliar. Uma por erro holandês, aos 53', quando Hateboer errou na saída de bola e Immobile dominou (Hateboer conseguiu voltar à área a tempo e desarmou o "Chuteira de Ouro" na hora certa); outra por mérito italiano, momentos depois (Insigne arriscou chute de fora, e Cillessen espalmou bem). Até que os italianos cansaram, passando a apostar mais nos contra-ataques - natural, num cenário de longa inatividade.

Só por isso a Holanda melhorou. Já aos 55' o empate poderia ter vindo, num desvio de Van de Beek espalmado por Donnarumma. Depois, tentando reeditar a escalação e o jeito de jogar contra a Polônia, Bergwijn veio ao lugar de Van de Beek (meio despercebido neste jogo). Memphis Depay seguiu chamando a responsabilidade, com domínios e chutes (como aos 61', que passou por cima, perto do travessão). Mas a criatividade da Holanda não ia muito longe: nem a entrada de Denzel Dumfries na lateral direita - um pouco melhor do que Hateboer -, nem a força de Luuk de Jong no jogo aéreo, nem a já previsível ida de Virgil van Dijk ao ataque no "abafa final", nada disso perturbou a vitória da Itália. Que até perdeu chances de ampliar - como aos 67' e nos acréscimos, ambas com Moise Kean.

Porque a Itália pode até ter empatado contra a Bósnia, mas tem um time tão promissor quanto a Laranja. Que é capacitada, mas ainda não é uma seleção tão forte quanto possa parecer. Trocando em miúdos: a Holanda é boa, sim. Mas não são duas.

Liga das Nações da UEFA - Liga A - Grupo 1

Holanda 0x1 Itália
Data: 7 de setembro de 2020
Local: Johan Cruyff Arena (Amsterdã)
Árbitro: Felix Brych (Alemanha)
Gols: Nicolò Barella, aos 45'  + 1

Holanda
Jasper Cillessen; Hans Hateboer (Denzel Dumfries), Joël Veltman, Virgil van Dijk e Nathan Aké (Luuk de Jong); Marten de Roon, Donny van de Beek (Steven Bergwijn) e Frenkie de Jong; Georginio Wijnaldum, Memphis Depay e Quincy Promes. Técnico: Dwight Lodeweges

Itália
Gianluigi Donnarumma; Danilo D'Ambrosio, Giorgio Chiellini, Leonardo Bonucci e Leonardo Spinazzola; Nicolò Barella, Jorginho e Manuel Locatelli (Bryan Cristante); Nicolò Zaniolo (Moise Kean), Ciro Immobile e Lorenzo Insigne (Federico Chiesa). Técnico: Roberto Mancini

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