sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Guia da Eredivisie 2020/21: certas coisas nunca mudam

Ninguém foi o dono desta salva de prata dada ao campeão holandês: a pandemia impediu o fim da Eredivisie 2019/20. Impedirá de novo? (Divulgação/KNVB)

O Campeonato Holandês da temporada 2019/20 estava atraente. Certo, como quase sempre ocorre, o Ajax era um dos times a disputar o título. Só que o AZ aparentava ter consertado os problemas de constância do seu desempenho. Ganhara os dois jogos dos Ajacieden, no turno e no returno - com destaque para a atuação categórica nos 2 a 0 em Amsterdã, na 26ª rodada, empatando em pontos com o Ajax na liderança e buscando seu primeiro título desde 2009, fazendo crer num final eletrizante de Eredivisie. Até porque, seis pontos atrás dos dois, estava o Feyenoord: uma sequência longa de invencibilidade (incluindo dez vitórias) levara o Stadionclub a poder sonhar levemente com o segundo título holandês em quatro anos. 

De quebra, a equipe de Roterdã ainda estava na final da Copa da Holanda, na qual enfrentaria o Utrecht - que também fazia bonito na Eredivisie, sendo presença regular na zona de repescagem por um lugar na Liga Europa. Até acima do Utrecht, estava o Willem II, considerado até então a surpresa mais agradável da temporada, se impondo até diante dos grandes (vencera PSV e Ajax) com um time veloz e ofensivo. Mesmo na disputa para fugir da zona de repescagem/rebaixamento, ainda que RKC Waalwijk e ADO Den Haag parecessem condenados, a vaga na repescagem de acesso/descenso prometia outro drama. Fortuna Sittard, Zwolle, Twente, VVV-Venlo: vários clubes sofreriam até a salvação, ou não.

Mas no meio do caminho tinha (e tem) uma pandemia, tinha (e tem) uma pandemia no meio do caminho. E nunca nos esqueceremos dela e de seus efeitos, na vista de nossas retinas tão fatigadas. 

Para o futebol da Holanda (Países Baixos), os efeitos começaram no dia 12 de março, quando o Campeonato Holandês foi interrompido - poucos dias depois do primeiro caso de COVID-19 ser descoberto no país, na cidade de Groningen. Então, ainda se sonhava com o retorno da Eredivisie antes do fim da temporada 2019/20, dentro das restrições que se fizeram necessárias. Mas o governo neerlandês (leia-se o premiê Mark Rutte e o ministro da Saúde, Hugo de Jonge) puseram fim a essas perspectivas, decretando que eventos públicos de grande porte estavam proibidos no país, até 1º de setembro. Para piorar, a resolução do que seria da temporada 2019/20 foi mal feita. A federação empurrou a decisão para os clubes, que estavam obviamente constrangidos em definirem os destinos dos "pares", fizeram uma votação confusa... e o que começou errado terminou errado: à revelia da votação, a federação definiu encerrar a temporada sem campeões, nem rebaixados. Claro, a decepção foi grande. Mas havia coisas mais importantes do que os rumos de um torneio de futebol. 

E elas ainda estão aí, seis meses depois, quando o Campeonato Holandês 2020/21 vai enfim começar, neste sábado. Clubes como Feyenoord e Ajax já abrirão espaço, com restrições, para alguns torcedores irem aos estádios (o Ajax, por exemplo, pretende ter 15 mil pessoas na Johan Cruyff Arena). E não é só: diretor da Eredivisie CV, entidade que comanda a liga, Jan-Paul de Jong anunciou para outubro a ampliação da capacidade dos estádios, até prevendo que os torcedores possam ficar a menos de 1,5m de distância - o habitual, nestes tempos de distanciamento social. De Jong justificou drasticamente: "Mais um ano de estádios sem público, e seria o fim do futebol profissional na Holanda (Países Baixos)". 

Algo que colide com um fato puro e simples: o fantasma da COVID-19 ainda está vivo e forte naquele país. Tão forte que, nesta semana, após alguns meses, o número de infectados pelo novo coronavírus nos Países Baixos voltou a passar de mil (nesta quinta, dia 10, foram 1270 infectados). Ou seja: dependendo da progressão da "segunda onda", logo a Eredivisie 2020/21 pode ser interrompida, como a passada foi. E Hugo de Jonge, ministro da Saúde, já se opôs à ideia de aumentar o público: "Conversamos com a federação, temos uma linha, e dela não nos podemos afastar".

O Feyenoord liberou uma pequena quantidade de público para jogos em seu estádio. Pelo menos, enquanto a pandemia deixar (ANP)

Pelo menos, agora a federação já está mais preparada para casos extremos como o atual. Em reunião com os clubes profissionais (ou seja, primeira e segunda divisões), a KNVB decidiu os rumos a serem tomados. Caso a Eredivisie seja interrompida antes de todos os 18 clubes terem jogado a metade das 34 partidas da temporada regular, o campeonato será encerrado sem campeões nem rebaixados/promovidos, e a resolução das vagas nas competições europeias será feita em função do ranking holandês na UEFA. Caso a interrupção venha com todos os clubes tendo passado da metade dos jogos, campeões, rebaixados e promovidos serão definidos só em caso de posição inquestionável (por exemplo: se um clube estiver muito à frente na primeira posição, será campeão, mas se a disputa pelo rebaixamento ainda estiver indefinida, ninguém cai e ninguém sobe), com vagas nos torneios continentais disputadas em função das posições na tabela, naquele momento. Finalmente, se a liga for interrompida com 85% das rodadas já disputadas, aí sim, campeões, rebaixados e promovidos serão definidos em função das colocações naquele momento, bem como os classificados aos torneios europeus. 

E agora, são três as perspectivas para um clube neerlandês jogar competições continentais. Há a Liga dos Campeões (o campeão da Eredivisie já terá lugar direto na fase de grupos; o vice-campeão irá para a segunda fase preliminar). Haverá a Liga Europa, para a qual só irá o campeão da Copa da Holanda. E haverá... a Liga das Conferências da Europa, torneio criado pela UEFA para começar em 2021/22: o terceiro colocado de 2020/21 irá para a terceira fase preliminar da Conference League, e para a segunda fase preliminar vai o vencedor da "repescagem" (play-offs) entre o 4º e o 7º colocados da Eredivisie. Pois é: a "repescagem" para definir uma vaga em torneio europeu continua. Assim como as regras do rebaixamento: último e penúltimo colocado caem direto, antepenúltimo terá a "segunda chance" na repescagem com os times da segunda divisão. 

Entre os times que sonham com o título, o PSV, remodelado sob o comando de Roger Schmidt, sonha ser mais ofensivo para voltar a disputar a sério a Eredivisieschaal. O Feyenoord está regular, mas melhor estruturado do que estava em 2019/20. A pré-temporada do AZ foi preocupante (somente uma vitória), mas bem ou mal, as revelações devem seguir em Alkmaar por mais uma temporada. O Willem II e o ambicioso Utrecht são, novamente, candidatos a surpresas.  Sem contar o Groningen, que atrai uma pergunta: o que fará Arjen Robben em seu retorno aos gramados? Mas é fato: o Ajax desponta como o mais forte. Contratou melhor, tem mais dinheiro, e fez uma pré-temporada de respeito, como único dos 18 clubes da primeira divisão da Holanda (Países Baixos) que não perdeu nenhum amistoso de preparação. 

Certas coisas nunca mudam. Nem mesmo com a pandemia. 

Bem, pelo menos a exibição dos jogos na televisão brasileira mudará um pouco: nesta última temporada do contrato atual de direitos de transmissão, há a novidade da FOX Sports, que passará a dividir as transmissões com os canais ESPN, parceiros de Grupo Disney que agora são.

Mas também não muda o guia da Eredivisie feito por este blog(ueiro) a cada temporada. Fica o convite para a leitura das perspectivas do Campeonato Holandês 2020/21, em cada clube.

2 comentários:

  1. Corrigindo:

    O terceiro colocado de 2020/21 irá para a terceira (e não segunda) fase preliminar da Conference League, e para a segunda (e não terceira) fase preliminar vai o vencedor da "repescagem" (play-offs) entre o 4º e o 7º colocados da Eredivisie.

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