quarta-feira, 29 de maio de 2024

O guia da Holanda na Euro 2024: vai que...

A seleção da Holanda se prepara para a Euro 2024: mesmo com um bom time, a Laranja ainda está abaixo das favoritas. Quem sabe não se iguale a elas no decorrer do torneio... (ProShots/Divulgação)

A seleção masculina da Holanda (Países Baixos) chega à 11ª participação de sua história em Eurocopas - só Alemanha e Espanha jogaram mais vezes o torneio europeu de seleções - passando uma impressão de que mudou, mas continua igual. Desde a participação razoável na Copa do Mundo passada, algumas coisas melhoraram na Laranja. Por exemplo, a maior variedade de jogadores de qualidade no meio-campo, que dependia demais de Frenkie de Jong no Catar. Contudo, a situação geral da equipe nacional neerlandesa segue a mesma de 2022: a Holanda é uma boa seleção, tem bons jogadores, provavelmente não passará vergonha na Euro 2024, tem no grupo D uma chave acessível (se a França é favorita, Polônia e Áustria são plenamente superáveis)... mas parece faltar à Oranje, como o país natal a conhece, uma cara de seleção que pode chegar ao segundo título europeu. É uma perfeita seleção de "segunda prateleira": boa, mas ainda lhe falta algo para ser favorita. Caberá aos jogadores tentar provar que ela pode chegar lá, a partir da fase de grupos - desde a estreia, contra a Polônia (domingo, 16 de junho, às 10h de Brasília, na cidade de Hamburgo), passando pelo esperado reencontro contra a França (sexta, 21 de junho, às 16h de Brasília, em Leipzig) e terminando contra a Áustria (terça, 25 de junho, às 13h de Brasília, em Berlim).

Poderia até ser pior. Basta lembrar os problemas que a Holanda - e, por consequência, o trabalho do técnico Ronald Koeman - tiveram e continuam tendo. O principal deles: ausências. Raramente Koeman pôde escalar o que tem de melhor na Laranja, desde o começo de seu trabalho de volta à seleção, em janeiro do ano passado. Começou por uma virose gastrointestinal, que tirou pelo menos quatro titulares dos jogos contra França e Gibraltar, nas duas primeiras rodadas das eliminatórias da Euro, em março de 2023 - alguns voltaram, como Cody Gakpo, outros não. Continuou pelas renitentes lesões no músculo posterior da coxa de Memphis Depay, que o tiraram das partidas decisivas da Liga das Nações passada, e também das rodadas das eliminatórias da Euro, contra Grécia e Irlanda, em setembro passado. Nas rodadas derradeiras da qualificação, contra Irlanda e Gibraltar, em novembro de 2024, De Jong faltou de novo, com entorse no tornozelo - assim como Matthijs de Ligt, penando com o joelho, e Micky van de Ven, também com problemas musculares. Nos amistosos de março passado, contra Escócia e Alemanha, novamente o tornozelo perturbou De Jong, além de impedir uma convocação esperada: Joshua Zirkzee, destaque absoluto na ótima campanha do Bologna no Campeonato Italiano (11 gols e quatro passes para gol), estava na lista para os amistosos, mas um problema muscular o impediu.

Todavia, os Países Baixos não podem reclamar somente do azar com sua seleção masculina. Afinal de contas, o primeiro jogo sob o comando de Ronald Koeman já mostrou um preocupante 4 a 0 sofrido para a França, na qualificação para a Euro. Na segunda rodada, contra Gibraltar, mesmo vencendo (3 a 0), a Laranja saiu perdendo - ter 52 chutes a gol e marcar somente três, contra aquela que talvez seja a mais frágil seleção da Europa, foi desempenho, no mínimo, ineficiente. Contudo, o sinal de alerta se acendeu de vez há quase um ano, em junho de 2023, na Liga das Nações. Jogando em casa, os neerlandeses esperavam o primeiro título após 35 anos, contra Croácia, Itália e Espanha. Pois foram os piores entre os quatro finalistas: pior do que sofrer 4 a 2 dos croatas na semifinal em Roterdã (em De Kuip, até a torcida perdeu, com os fervilhantes croatas cantando mais do que os holandeses o tempo todo), ou mesmo tomar 3 a 2 da Itália na decisão de 3º/4º lugares, em Enschede, foi ver que a Holanda tinha uma equipe frouxa taticamente, deixando muitos espaços, quase sempre sendo superada com facilidade. Certo, não se tratava da melhor seleção europeia, mas não era para tanta fragilidade. Era algo tão preocupante que trazia até temores de ausência na Euro 2024.

Ronald Koeman apregoou querer ter um time diferente do pragmatismo da Copa de 2022. Mas os maus resultados o fizeram dar um passo atrás. E o time ficou mais seguro (ProShots/Icon Sport/Getty Images)

Aí, pelo menos, Ronald Koeman voltou atrás em relação a algumas ideias que tinha no início. Se voltou à seleção preconizando que ela tinha de ser mais ofensiva, obedecer ao seu clássico estilo tático, jogar com quatro na defesa, Koeman começou o segundo semestre voltando a fazer a equipe jogar com três zagueiros, como na Copa do Mundo, apostando que os laterais pudessem se valer da velocidade para serem opções de ataque - ainda mais com Denzel Dumfries, na direita - e até ajudarem atacantes, como Cody Gakpo. Assim a Holanda voltou a passar alguma segurança. De volta às eliminatórias da Euro, em setembro de 2023, já bastou para ter sua melhor atuação no ano (os 3 a 0 soberanos sobre a Grécia, em Eindhoven, no dia 7) e para superar um ambiente difícil e vencer de novo (2 a 1, de virada, na aguerrida Irlanda, em Dublin, no dia 10). Em outubro, se novamente foi impossível superar a França (derrota por 2 a 1 em Amsterdã, com dois gols de Mbappé), de novo a Laranja resistiu a um ambiente adverso, praticamente garantindo a classificação ao fazer 1 a 0 na Grécia em Atenas (Weghorst perdera um pênalti no primeiro tempo, mas Van Dijk converteu outro, no minuto final). E em novembro, bastou vencer na penúltima rodada - 1 a 0 na Irlanda, em Amsterdã - para assegurar a vaga, tornando a última rodada ainda mais um "amistoso de luxo" do que já seria (6 a 0 em Gibraltar, na cidade portuguesa de Faro-Loulé). Havia brilho? Não. Mas tampouco houve muitos sustos. De quebra, pela esquerda, também surgia um ala tão rápido quanto Dumfries na direita: Quilindschy Hartman, do Feyenoord.

Para o bem e o mal, foi assim também nos amistosos de março deste 2024. Para o bem, porque a Holanda até camuflou problemas: no dia 22, chegou a ter problemas na defesa contra a Escócia no 1º tempo, em Amsterdã, até Tijjani Reijnders abrir o placar - e, na reta final, o time disparar para uma goleada até enganosa (4 a 0). Para o mal, porque no amistoso mais exigente, contra a Alemanha, quatro dias depois, em Frankfurt, a Laranja até saiu na frente da arquirrival - e país-sede da Euro. Mas logo tomou o empate, perdeu muitas chances de gol, viu os germânicos terem mais condições de pressionarem no ataque, até conseguirem a virada por 2 a 1. Nada humilhante, nada de envergonhar, a Holanda até jogou decentemente (e sofreu o segundo gol alemão numa bola que passou pouco da linha). Mas... nada que passasse uma impressão de injustiça.

E é assim que a Holanda chegou para o centro de treinamentos da federação, na cidade de Zeist, ainda com 18 jogadores: passando a impressão de ser "apenas" boa, mas abaixo das favoritas ao título. Para piorar, com a lista de machucados em crescimento contínuo. Quilindschy Hartman, a descoberta na lateral esquerda? Já estava fora da Euro desde março, com grave lesão no joelho (rompimento de ligamento cruzado). Joshua Zirkzee? Sofreu lesão muscular nas últimas rodadas do Campeonato Italiano. Mats Wieffer? Também com problemas na parte posterior da coxa, já nem jogou as últimas rodadas do Campeonato Holandês pelo Feyenoord, ficando fora da pré-convocação. Marten de Roon? Seu choro ao sofrer o problema muscular na final da Copa da Itália, defendendo a Atalanta contra a Juventus, foi um sintoma do que seria confirmado na sua apresentação em Zeist: De Roon teria de ficar fora da Euro. Quinten Timber? Ainda foi pré-convocado, mas chegou, fez apenas trabalhos físicos isolados, e foi cortado. Memphis Depay? Ainda voltando de mais um problema muscular no Atlético de Madrid. Frenkie de Jong? O drama maior: com nova entorse no tornozelo, sofrida semanas atrás pelo Barcelona, De Jong, um dos indispensáveis da Laranja, tentou até o fim, mas teve o corte anunciado no dia 10 de junho, seis dias antes da estreia. E Teun Koopmeiners completou a sequência aziaga: seria titular no amistoso derradeiro da preparação, contra a Islândia... mas no aquecimento, após um chute, sentiu dores musculares na virilha, sendo mais um cortado dos 26 convocados para a Euro.

Mesmo com toda a inconstância, mesmo com tantas lesões... a Holanda continua sendo uma seleção razoável. Faltam-lhe craques realmente decisivos - até por isso, Ronald Koeman deu preferência a nomes experientes na convocação. Falta a impressão de que ela pode chegar longe. Ela está abaixo das favoritas. Ainda assim, há muitas seleções medianas que começam a embalar em torneios eliminatórios e acabam indo além das expectativas. Vai que a Laranja consiga fazer isso, na Alemanha onde ganhou a Euro, há 36 anos...

A provável escalação da Holanda na Euro (buildlineup.com)

Para saber mais sobre os convocados, clique nas posições para ver descrições detalhadas deles

1-Bart Verbruggen (Brighton-ING)
13-Justin Bijlow (Feyenoord)
23-Mark Flekken (Brentford-ING)

22-Denzel Dumfries (Internazionale-ITA)
12-Jeremie Frimpong (Bayer Leverkusen-ALE)
17-Daley Blind (Girona-ESP)
20-Ian Maatsen (Borussia Dortmund-ALE)

4-Virgil van Dijk (Liverpool-ING)
3-Matthijs de Ligt (Bayern de Munique-ALE) 
5-Nathan Aké (Manchester City-ING)
2-Lutsharel Geertruida (Feyenoord)
15-Micky van de Ven (Tottenham-ING)
6-Stefan de Vrij (Internazionale-ITA)

7-Xavi Simons (RB Leipzig-ALE)
14-Tijjani Reijnders (Milan-ITA)
8-Georginio Wijnaldum (Al Ettifaq-SAU)
16-Joey Veerman (PSV)
24-Jerdy Schouten (PSV)
26-Ryan Gravenberch (Liverpool-ING)

11-Cody Gakpo (Liverpool-ING)
10-Memphis Depay (Atlético de Madrid-ESP)
9-Wout Weghorst (Hoffenheim-ALE)
18-Donyell Malen (Borussia Dortmund-ALE)
19-Brian Brobbey (Ajax)
21-Joshua Zirkzee (Bologna-ITA)
25-Steven Bergwijn (Ajax)

Ronald Koeman (técnico)
Erwin Koeman (auxiliar técnico)
Dwight Lodeweges (auxiliar técnico)
Michael Reiziger (auxiliar técnico)
Patrick Lodewijks (treinador de goleiros)

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